domingo, 28 de novembro de 2010

GUSTAVO FRANCO NA HISTÓRIA.

GUSTAVO FRANCO , economista e presidente do Banco Central entre 97 e 99, hoje, num artigo especial para a FOLHA DE S. PAULO:

Sou filiado ao PSDB desde a campanha presidencial de Mario Covas, e fui eleitor de José Serra, como fui de Geraldo Alckmim, a despeito desses candidatos terem me deixado a impressão de que o projeto político tucano perdeu nitidez. É verdade que, como dizia Machado de Assis, "basta ser partido para não ser inteiro", e que o PSDB sempre acomodou muita diversidade, e por isso mesmo ficou associado à imagem do muro, não o de Berlim, mas o da hesitação.

Nada diferente de outras agremiações, exceto talvez das mais radicais e sectárias.

Não obstante, o PSDB, sempre considerado um "partido de quadros", como se isso o afastasse das causas populares ou da efetividade em governar, produziu ideias e ações que encantaram o país: o "choque de capitalismo", o Plano Real, a conciliação entre estabilidade e crescimento, entre políticas sociais e sustentabilidade fiscal, o combate ao corporativismo e à corrupção através da disseminação de valores como meritocracia e transparência, no contexto de uma democracia de mercado.

Era o projeto de um estado regulador e ativista, porém sem ultrapassar os limites dados pela responsabilidade fiscal, conceito que inventamos e colocamos em operação ainda que sem explorar suas últimas consequências.

A linguagem podia parecer liberal, foi esta a "acusação", descabida, é claro, mas quem se importa com o rótulo, ainda mais dado pelo adversário? A social-democracia que os tucanos traziam, e cuja expressão mais clara era a estabilidade da moeda, definia um projeto tão simples quanto inovador: num país de privilégios e igrejinhas, onde a parte "vertebrada" da sociedade estava embriagada de patrimonialismo, revolucionário era reorganizar a economia a partir de regras universais, onde a lei era a mesma para todos, e a moeda despolitizada.

É claro que estou falando do "meu PSDB", e que outros filiados podem ter ideias diferentes. Na verdade, acho que foram as outras correntes de pensamento no partido que passaram a prevalecer especialmente a partir da campanha de 2002, quando nos afastamos do Plano Real, das reformas e dos valores acima mencionados, menos por se apequenar diante da crítica, que pelas ideias do candidato que escolhemos.

O fato é que nossa candidatura em 2002 foi de oposição, em 2006 nosso candidato vestiu um casaco das estatais, e nas eleições de agora nosso candidato falou de privatização constrangido e "acusando" Lula de privatizar também (em concessões de exploração de petróleo), como quem diz que os partidos são todos iguais em vilania. E todo o resto? As bombas desmontadas, os programas sociais pioneiros, o Plano Real? FHC, nosso presidente de honra, mal foi lembrado. Com raras exceções, a campanha sequer mencionou que FHC trouxe uma inflação de 7.260% para 1,6% anuais em cerca de 4 anos, nada menos que uma cura milagrosa, cujos efeitos se fazem sentir ainda hoje.

Os que entendem de política dizem que a economia foi decisiva nessa eleição, pois bem, se assim é, estamos dentro do meu território e posso oferecer o meu diagnóstico: o PT governou, ganhou 80% de aprovação, e prometeu governar com as políticas econômicas do PSDB, mantendo religiosamente o tripé responsabilidade fiscal (superavit primário), metas de inflação e câmbio flutuante.

E o PT deriva praticamente todo o seu capital político dos sucessos na economia, a ponto de compensar sua inépcia administrativa e os escândalos. Fomos nós que introduzimos a fórmula da boa política econômica, e depois nos afastamos da nossa criação bem sucedida, apenas para ver nosso candidato resmungar sobre juros altos, desindustrialização e "populismo cambial".

Não há problemas em perder eleição, pois assim é a democracia e o futebol. Ninguém vai ganhar todas. Difícil é perder jogando um futebol que não é o nosso, ver o nosso candidato sem uma identidade partidária, que talvez tivéssemos construído com o devido debate partidário. Quem é o partido que trata da saúde, emprego, segurança, os temas vagos que estão na múltipla escolha do questionário de telemarketing que os marqueteiros mostram para a população?

Resposta: todos. E ao mesmo tempo nenhum, pois se todos são a favor da virtude, onde está a diferença? O que nos distingue deles? Será que ganhamos tantos votos por conta dessas platitudes, ou por que as pessoas sabem sobre a economia, ou sobre quem fez o que, muito mais do que se pensa?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

DILMA ESCOLHE MANTEGA.

VINICIUS TORRES FREIRE, colunista da FOLHA DE S. PAULO, analisa a manutenção de GUIDO MANTEGA no Ministério da Fazenda da presidente DILMA ROUSSEFF.

Guido Mantega no comando do Ministério da Fazenda do governo Dilma Rousseff pode dar a impressão de que tudo ficará como dantes no quartel da economia, mas ainda não é possível dizê-lo. É agora possível dizer apenas que a presidente eleita aprova mais uma política Mantega do que uma política Antonio Palocci. Mas não seria preciso ver Mantega reconduzido ao posto para afirmar tal coisa. Dilma entrou em conflito com o paloccismo quando ainda ministra. Mas a recondução do ministro diz muito pouco sobre o futuro da política econômica de Dilma. A indefinição permanecerá até a presidente eleita tomar a decisão, crucial, do que fará a respeito do gasto federal. As demais políticas serão decorrência dessa decisão, da qual depende o futuro da taxa de juros, do câmbio e do investimento. Em segundo plano, mas ainda importante, serão as decisões sobre o comando do Banco Central: nomes e modus operandi. Não se trata apenas de saber se Henrique Meirelles ficará na presidência do BC ou se será substituído pelo seu segundo, Alexandre Tombini, atual diretor de Normas. O nome apenas do novo presidente BC também não diz muito. Meirelles aos poucos mudou o modo de gerir o BC e de escolher seus quadros. Em seu "primeiro reinado", teve diretores mais próximos do mercado ou daquilo que se entende como "economistas padrão". No terço final do governo Lula, Meirelles nomeou diretores mais pragmáticos. Por determinação de Lula, houve menos conflito político entre BC e Fazenda. Seja nomeado Meirelles, Tombini ou um terceiro, importa muito saber que tipo de pressão haverá do governo sobre o BC e que tipo de coordenação haverá entre Fazenda e autoridade monetária. E coerência na política econômica foi coisa que quase inexistiu nos anos Lula, o que custou caro ao país.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

REPÚBLICA FEMININA E VORAZ - parte II

Continuando nosso post abaixo, quanta mudança de Deodoro até Lula.

REPÚBLICA FEMININA E VORAZ - parte I

Que diria Deodoro da Fonseca que no dia em homenagem da Proclamação da República estivéssemos com uma mulher presidente de um governo que a cada dia aumenta os impostos dos brasileiros.
Diante disso, neste feriado temos mais é que rir com o humor dos jornais cearenses O POVO e DIÁRIO DO NORDESTE, diretamente de FORTALEZA. A outra charge está no post acima.

PIB BRASIL 1980 - 2011

Em 1980 o Brasil registrava um PIB nominal de US$ 163 bilhões e era a 12ª economia no mundo.

Para 2011 o PIB previsto será de US$ 2.193 bilhões, a 7ª economia mundial, uma variação nominal de 1.245%.

Será que a qualidade de vida da população e a distribuição da renda melhoraram na mesma proporção?

domingo, 14 de novembro de 2010

Tenente-Coronel Nascimento, o PIB e o IDH no Brasil.

Atualmente em cartaz no Brasil, com um público já próximo de quase 10 milhões de pessoas, o filme Tropa de Elite 2 já é o mais visto do ano e o segundo filme de maior público na história brasileira. E o que tem a ver o tenente-coronel Roberto Nascimento (mais uma vez um extraordinário desempenho do ator Wagner Moura), com o PIB – Produto Interno Bruto e o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil?

Tudo. No filme desenha-se um dos principais problemas brasileiros: a corrupção. Afinal, em recente estudo o Brasil ocupa o 69º lugar no ranking dos 178 países menos corruptos, empatado com a envelhecida Cuba dos irmãos Castro. O tenente-coronel Nascimento combate com firmeza e coragem a corrupção que existe no país, interligando polícia e políticos numa conexão que somente causa prejuízos ao Brasil. Não é toa que em vários locais nos quais o filme é exibido, o público ovaciona quando Nascimento espanca um político corrupto.

Com tantos problemas econômicos que perduram no Brasil – juros altos, real valorizado, contas públicas deficitárias, necessidade de manter a inflação sob controle, dentre outros - e que se não enfrentados trarão graves problemas ao governo da nova presidente Dilma Rousseff, a corrupção é uma tragédia no cotidiano brasileiro, desde os menores problemas pessoais até a sua disseminação entre os altos poderes da república.

Diante disso, valorizar a importância que atualmente o Brasil é a 8ª economia do mundo, ao lado da elite americana, chinesa, japonesa, indiana e alemã, é totalmente incoerente e infeliz quando é divulgada a lista de IDH de 169 países. O Brasil está lá na 73ª posição, muito distante de nações como a Noruega, Austrália Nova Zelândia, Estados Unidos, Irlanda e observando pelo retrovisor o Zimbábue, a República Democrática do Congo, o Níger, o Mali e a Burkina Faso.

Em mundo ainda em crise, com as grandes economias enfrentando problemas internos e até externos como a “guerra cambial”, existe a necessidade que a própria sociedade brasileira reavalie afinal qual o país que deseja ser. Acabou a era de o Brasil ser o país do futuro. Esse futuro é agora. E nada será possível quando o Relatório de Monitoramento de Educação para Todos de 2010, da UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura informa que a qualidade da educação no Brasil é baixa, principalmente no ensino básico. O índice de repetência no ensino fundamental brasileiro (18,7%) é o mais elevado na América Latina e fica expressivamente acima da média mundial (2,9%). O alto índice de abandono nos primeiros anos de educação também alimenta a fragilidade do sistema educacional do Brasil, onde 13,8% dos brasileiros largam os estudos já no primeiro ano no ensino básico. A própria UNESCO avalia que o Brasil poderia se encontrar em uma situação melhor se não fosse a baixa qualidade do seu ensino.

Enquanto a explosiva mistura de corrupção e falta de educação estiver distribuída por toda a sociedade e sem um forte combate por parte de um verdadeiro e real tenente-coronel Nascimento, macroeconomicamente podemos ser até uma potência mundial, com acesso ao G-20 e até com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU – Organizações das Nações Unidas, mas seremos eternamente um país que não leva ao seu povo a qualidade de vida que existe nos países de 1º mundo.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...