sexta-feira, 11 de março de 2011

Os sinais que vêm do mercado.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, alerta hoje na FOLHA DE S. PAULO para “os sinais que vêm do mercado.”
Uma das qualidades de uma economia de mercado é a transparência com que eventuais problemas que ocorrem são percebidos. Isso permite que sejam tratados antes que se tornem graves ou crônicos.
Sistemas econômicos com pouca presença das forças de mercado acabam sendo surpreendidos -de tempos em tempos- por crises muito mais graves do que as que atingem economias abertas. Os acontecimentos recentes no Egito e em outros países do Oriente Médio são uma prova disso.
Mas quem reconhece as vantagens de uma economia de mercado deve entender também que ela está sujeita a certas desfuncionalidades criadas por essa liberdade de escolha. Se o Egito nos lembra a primeira alternativa, a crise financeira que atingiu a Europa e os Estados Unidos nos mostra a outra.
Por isso, sou defensor convicto de uma economia de mercado com forte presença do Estado na sua regulação e fiscalização. Temos no Brasil de hoje um dos exemplos mais bem-sucedidos dessa combinação de mercado com uma regulação que busca evitar distorções que derivam da maximização dos lucros pelo setor privado.
O sistema de telefonia brasileiro é um dos mais eficientes do mundo, do ponto de vista da competição, ao mesmo tempo em que a universalização compulsória de seus serviços o obriga a ir além de seus interesses meramente comerciais.
Na contramão da experiência brasileira temos o caso mexicano, em que a privatização do monopólio público levou o proprietário dessa empresa ao posto de homem mais rico do mundo.
Essas minhas reflexões estão relacionadas com a questão dos gargalos que estão se formando -já há algum tempo- na infraestrutura econômica no Brasil. Na semana passada, fui testemunha de um deles. Ao chegar de uma viagem ao exterior, nas primeiras horas da manhã do domingo de Carnaval, pude observar o estado da área de estacionamento do aeroporto de Guarulhos. Um verdadeiro caos, com automóveis estacionados nos lugares mais incríveis por falta de espaço.
Com meu raciocínio de engenheiro ainda intacto, imaginei o que aconteceria caso a Infraero realizasse uma licitação para um -ou mais- edifício-garagem naquela área. Seriam fixados no edital de licitação alguns parâmetros, como o número de vagas a serem implantadas e o prazo para sua construção, deixando a tarifa como a variável de sucesso no leilão. Poderia também ser determinada uma participação da Infraero na receita de exploração da concessão.
Embalado por meus pensamentos, imaginei que o mesmo procedimento poderia ser feito -inclusive ao mesmo tempo- em outros aeroportos pelo Brasil. Temos hoje um volume de capitais privados suficiente para financiar os investimentos necessários a esse ambicioso projeto.
O governo ficaria com o controle das operações aéreas, com as atividades ligadas à segurança e ao controle e com a fiscalização dos concessionários para garantir as cláusulas de proteção do consumidor dos serviços aeroportuários. Já o concessionário privado ficaria responsável pelos custos do investimento -pois isso será de seu interesse- e a operação dos serviços, evitando até as tradicionais tentativas de superfaturamento.
A Infraero -e o Tesouro- não teria de investir nenhum tostão e ainda teria um fluxo garantido de receita para financiar a operação em pequenos e médios aeroportos espalhados pelo Brasil.
Ainda nos meus sonhos, via essa mesma equação -tão simples como eficiente- sendo levada a outros setores, como o das estradas de rodagem, o dos portos. Embora com um grau de complexidade maior, seria possível também estender esse sistema de parceria público-privada para o importante setor de ferrovias, principalmente as vinculadas ao sistema logístico do país. Nesse caso, o papel do BNDES seria crucial, como já foi no caso da Ferronorte.
Mas, infelizmente, caí na real, quando um amigo com quem conversava me lembrou da campanha de Lula em 2006 e da demonização das privatizações do período FHC.

Mais um voo de galinha!

Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ, foi presidente do BNDES, escreveu o texto abaixo para o VALOR ECONOMICO.
Qualquer criança do interior sabe o que é voo de galinha. Curto, barulhento ao voltar para o chão. Vendo o gráfico de evolução do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 1980 a 2010, não consigo afastar a imagem do voo de galinha. Em 30 anos, a maior taxa de crescimento do PIB foi no primeiro ano do general Figueiredo (9,2%), colhendo iniciativas da era militar. Figueiredo encolheria a economia à mediocridade absoluta, sendo que a galinha dá um pulo nos seus anos finais, crescendo 5,4% em 1984 e 7,8% em 1985. Qualquer um desses é maior que o Pibão, como foi denominado o crescimento de 7,5% no ano de 2010.
O governo Sarney, apesar do brilho do Plano Cruzado, assistiu a uma despencada para um PIB negativo em 1988. Após a Constituição, um pequeno voo de galinha e a economia do país se contrai com a posse de Fernando Collor. Vai lá pra baixo. O período é de mediocridade absoluta, salvo em práticas de apropriação de bens públicos.
No intervalo Itamar, FHC se credenciava e, em 1994, eleito presidente, praticaria por dois mandatos um crescimento médio do PIB (2,3% ao ano), superior apenas ao do Haiti. O crescimento rastejante acompanhou-se de dois pequenos pulos da galinha. O governo Lula, cuja média foi um pouco menos medíocre - 4% ao ano -, termina com o Pibão de 7,5% de 2010... Precedido pelo mergulho de - 0,6% no ano anterior. Tudo leva a crer que assistiremos a mais um voo de galinha, pois não será sustentado o aumento do gasto público e a reposição da ideia de desenvolvimento permanece encabulada.
Quero cotejar esses 30 anos de esvoaçar cacarejante, no nível de chão de galinheiro, com médias históricas anteriores. Média de 1951/1960: 4,3% ao ano. Média do regime militar: 6% ao ano. Em termos de participação no PIB mundial, a economia brasileira caiu de 3,91% em 1980, para 2,92% em 2010 (estimativa do professor Reinaldo Gonçalves). Com seu esvoaçar precário, o Brasil somente poderá ganhar posições se alguns países europeus quebrarem.
O melhor dado de 2010 foi a pequena elevação da taxa de investimento de capital fixo. Foi uma taxa robusta de crescimento em relação a 2009, quando houve uma contração de 10,3% do investimento. Entretanto, o Brasil continua um pigmeu em relação a uma China, que pratica uma taxa de investimento de 40% do PIB, ou de uma Índia, acima de 30%. O Brasil tem uma taxa de 18,4% do PIB em 2010.
Com a inflação seguindo indexada a itens como a eletricidade, o povão é punido pelos altos preços do que o Brasil exporta, e que se refletem internamente nos alimentos e pela dificuldade de geração de novos empregos e elevações salariais. O investimento privado fica inseguro ante o anúncio de cortes de gasto público e persistência dos problemas de infraestrutura. A componente inquietante é reforçada quando se tem presente o crescimento do crédito em relação ao PIB e à visível curva ascendente da inadimplência de 2009: 5,9% para 8% em 2011.
É evidente que uma política de redução dos investimentos públicos e de elevação da taxa de juros alimentarão a taxa de inadimplência. Para as famílias endividadas, o importante é a multiplicação de empregos e uma tendência altista de salários - o oposto do que Dilma persegue. O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn advertiu que o risco da economia brasileira é o superaquecimento. Em 4 de março, a presidente Dilma disse que está muito consciente dessa questão. Suas declarações preconizando cortes de gasto público e rápida elevação da taxa Selic surgem como variação bastante conhecida de que, crescendo mais de 4%, a tendência do Brasil é inflação. Com juros hiperelevados, a tendência da empresa brasileira é ao rentismo, ou seja: ampliar aplicações financeiras e não realizar investimentos produtivos.
Enquanto o FMI aplaude a política econômica da presidente Dilma, parece haver um coro trágico limitando o crescimento brasileiro a 4% ao ano. As sugestões se acumulam. Afirmam ser o problema brasileiro a qualidade da mão de obra, ao invés do comportamento da elite dirigente globalizada, ou seja, o problema educacional restringe o desenvolvimento brasileiro. Sou professor e conheço de perto as brutais deficiências do sistema educacional brasileiro. Gosto de pensar que a tarefa da educação é a reposição de uma nova geração melhor qualificada que a geração que a formou. O bom mestre quer que o discípulo o supere. A nação exige que cada geração esteja melhor preparada para a futura civilização nacional. O investimento produtivo gera os empregos e a educação faz avançar o processo civilizatório.
O Brasil instalou em tempos de Juscelino o complexo metal mecânico e o eletroeletrônico sem qualquer estrutura de ensino profissional. O operariado brasileiro se qualifica trabalhando. É tão ávido em manter o bom emprego e nele prosperar que se autoqualifica. A qualidade do povo brasileiro é fantástica, pois sobrevive numa das economias com pior distribuição de renda do mundo e péssimo sistema educacional. Pratica, em escala espetacular, a geriatria que mantém funcionando máquinas, veículos, tratores muitos anos após as matrizes terem retirado de linha as peças de substituição.
Tratores com 30 anos de serviço e caminhões estradeiros com 17 anos em média fazem prova das dezenas de milhares de oficinas artesanais. A criatividade brasileira, principalmente nas seções de manutenção, é reconhecida pelos empresários industriais. O jovem necessita emprego e oportunidade de trabalho e isto não lhe é fornecido pela política econômica. Se o Brasil tiver cursos de alta qualificação sem gerar os empregos correspondentes, será introduzida uma nova commodity nas exportações nacionais - o próprio brasileiro.

terça-feira, 8 de março de 2011

DILMA ROUSSEFF IN THE GUARDIAN.

A teenage socialist guerrilla who withstood imprisonment and torture, Rousseff is the first female president of Brazil. Aged 63, she is said to be a tough, no-nonsense manager, who won power by promising economic stability, to reduce poverty and improve education and healthcare. She also promised to improve the lot of women, saying in her inaugaration speech: "I would like for fathers and mothers to look into their daughters' eyes today and tell them: 'Yes, women can.'" She vowed that nine of her 37 ministers would be women – a record for Brazil. (Although critics noted she not only ignored women's issues during her election campaign, but that the twice-divorced grandmother also publicly reversed her position on the legal right to an abortion to placate the religious right and underwent several rounds of plastic surgery to gain her place.)

The daughter of a Bulgarian immigrant her childhood was affluent until the death of her father when she was just 14 when her life changed dramatically. The family struggled financially and Rousseff became involved with socialist and workers groups - eventually joining Palmares Armed Revolutionary Vanguard, which seized foreign diplomats for ransom and shot foreign torture experts sent to train the generals' death squads (although Rousseff says she never used any weapons herself.) She was captured and tortured. After her release she returned to University, had a daughter with her second husband and started working for the government, eventually becoming finance chief of Porto Alegre, the state capital. In 2000 she threw her lot in with Lula and his Partido dos Trabalhadores, or Workers' Party.

O jornal britânico "The Guardian" colocou a presidente brasileira Dilma Rousseff em sua lista das cem mulheres mais inspiradoras da atualidade, publicada nesta terça-feira.

Na lista, que é publicada no Dia Internacional da Mulher, Dilma aparece na categoria "Política" ao lado de outras dez personalidades, como a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, e a ativista birmanesa Aung San Suu Kyi.

O jornal descreve a presidente brasileira como "uma guerrilheira socialista adolescente que enfrentou prisão e tortura" e que é considerada uma "administradora dura e pragmática".

O texto cita ainda a promessa de Dilma de melhorar as condições de vida das mulheres e de ter mulheres no comando de nove dos 37 Ministérios de seu governo, um número recorde na história do Brasil.

No entanto, o "The Guardian" fala também sobre as críticas de que, durante a campanha presidencial, Dilma ignorou assuntos relacionados à mulher e reverteu publicamente sua posição sobre o aborto para acalmar os religiosos, além de que teria, segundo os críticos, feito diversas cirurgias plásticas para "ganhar o seu lugar".

"Ela já está enfrentando um grande teste --as enchentes recentes que mataram centenas e enterraram cidades inteiras", diz o jornal.

The 25 Best Financial Blogs - TIME

From Paul Krugman to Freakonomics to the Consumerist, we compiled a list of the most influential (and useful) finance blogs out there and then asked some of the best-known bloggers to review one another's work.

segunda-feira, 7 de março de 2011

A revista PIAUÍ é ótima!!!

Direto da redação da PIAUI, excelente matéria do correspondente em Havana.

HAVANA - A apresentadora Hebe Camargo anunciou mudanças radicais no seu programa. "Chamei o Zé Dirceu para ser meu consultor artístico”, anunciou ela numa entrevista coletiva na qual usava uniforme verde-oliva, coturno e boina. “Esse homem mudou a minha maneira de enxergar as desigualdades que assolam o mundo. Além de ser uma gracinha, é claro". E concluiu em tom profético: "Depois que rompi com Silvio Santos, me sinto preparada para romper com o capitalismo".

O próximo programa será transmitido ao vivo de Cuba. O tradicional sofá da apresentadora será aposentado e os convidados Oscar Niemeyer, Leonardo Boff e Wagner Tiso sentarão no chão. A cada 10 minutos, haverá um número baseado na leitura de O Capital. No final, Fidel Castro fará um discurso de dezesseis horas. "Já mandei confeccionar um vestidinho militar numa cooperativa de costureiras em São Bernardo", explicou a apresentadora.

Presente à coletiva, disfarçado de repórter da Hora do Povo, José Serra se levantou e foi embora quando a Internacional Comunista foi executada pelas Meninas Cantoras da Bulgária.

domingo, 6 de março de 2011

A VISAO DE REINALDO GONÇALVES SOBRE O GOVERNO LULA.

GENEBRA - Clóvis Rossi, hoje na FOLHA DE S. PAULO, comenta sobre o artigo do Reinaldo Gonçalves e a economia nos tempos de LULA. Boa leitura e muita reflexão...
Reinaldo Gonçalves é professor titular de economia internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos raros acadêmicos de esquerda que não se deixou cooptar por uma boquinha no governo ou até por menos, como um convite para jantar com os poderosos de turno.
Fez o que deve ser o papel do intelectual: mergulhou nos dados do IBGE e do Fundo Monetário Internacional para desafiar a propaganda governamental sobre as incríveis façanhas do governo Lula.
Montou tabelas que mostram o seguinte, em resumo apertado:
1 - Os 4% de crescimento médio do governo Lula colocam-no apenas em 19º no campeonato nacional de progresso econômico, entre os 29 presidentes desde a proclamação da República.
Perde, por exemplo, para Itamar Franco e José Sarney.
2 - Quando começou o governo Lula, o Brasil representava 2,9% do PIB mundial. Quando terminou o governo Lula, o Brasil representava 2,9% do PIB mundial. Portanto, estagnou na competição global. E ficou longe dos 3,91% de 1980.
3 - Em matéria de variação comparativa do PIB, no período 2003/ 2010, o Brasil fica em humilhante 96º lugar, entre 181 países. Está no meio da tabela e abaixo até da média mundial de crescimento, que foi, no período, de 4,4%.
4 - Em matéria de renda per capita, a do Brasil evoluiu de US$ 7.547 para US$ 10.894, entre 2003 e 2010. Mas a sua posição no ranking mundial só piorou. Estávamos em 66º lugar e caímos para 71º.
Só para cutucar o cotovelo dos "argentinofóbicos", a renda per capital da Argentina é cerca de 50% maior que a do Brasil, com seus US$15.064. E ela melhorou, do 61º lugar para o 51º.
Não quer dizer com toda a numeralha que o governo Lula foi um desastre. Ao contrário. Mas tampouco foi o milagre que a sua propaganda apregoa. Simples assim.
Este blog disponibiliza para quem deseja ler o texto original, o link
http://www.joserobertoafonso.com.br/attachments/article/1668/reinaldo.pdf. De nossa parte, acreditamos que possam existir equívocos no trabalho do Professor Reinaldo Gonçalves, mas é importante que o mesmo seja debatido para não ficarmos sempre na história do NUNCA ANTES NESTE PAÍS...

I ENCONTRO NACIONAL DOS BLOGUEIROS DE ECONOMIA.

Este blog foi convidado para participar do I Encontro Nacional dos Blogueiros de Economia, o qual agradecemos com carinho. Porem, devido a compromissos ja assumidos aqui na floresta amazonica, acreditamos que nao sera possivel a nossa presenca e a oportunidade de conhecer colegas pelos quais temos uma satisfacao enorme de compartilhar deste mundo virtual.
Abaixo o programa do encontro, um momento muito importante para todos que tentam divulgar ECONOMIA atraves da Internet.
Para quem estiver em Sao Paulo dia 25.03.2011 o convite é imperdível.
Programa do Encontro

Abertura (13:30)

Carlos Eduardo Gonçalves , Cláudio D. Shikida, Cristiano M. Costa

Painel Temático I (13:40)

O Papel dos Blogs no Debate sobre Política Econômica Carlos Eduardo Gonçalves, Alexandre Schwartsman, Felipe Salto Vídeo: Adolfo Sachsida

Coffee-Break (15:00)

Painel Temático II (15:10)

A Blogosfera e o Jornalismo Econômico: Complementares ou Substitutos? Cristiano M. Costa, Leonardo Monasterio, Silvio Crespo, Thais Herédia Vídeo: Rodrigo Constantino

Coffee-Break (16:20)

Instituto Millenium (16:35)

Painel Temático III (16:50)

Os Blogs na Sala de Aula: A Disseminação do Conhecimento Cláudio D. Shikida, Ronald Hillbrecht, Márcio Laurini, Mauro Rodrigues Vídeo: Roseli Silva

Encerramento (18:00)

Carlos Eduardo Gonçalves , Cláudio D. Shikida, Cristiano M. Costa.

A THE ECONOMIST DESTA SEMANA.

Quando acreditamos que o final de uma crise está próximo, vem aí revoluções pelo mundo árabe e 1001 bombas prestes a explodir a economia.

sábado, 5 de março de 2011

Alexandre Schwartsman

Leio na FOLHA DE S. PAULO que o Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, deixou o Santander, onde ocupava o cargo de economista-chefe.
Schwartsman, colunista da Folha, é um dos maiores críticos à condução da política econômica. Polemizou diversas vezes com pessoas ligadas ao governo por conta dos gastos públicos. Será substituído por Mauricio Molan.
O Santander ainda trocou o comando do varejo, chefiado por José Paiva, vindo do antigo Noroeste, comprado em 1998. No lugar, assume José Berenguer, estrela do mercado de capitais, que comandava a área de atacado, uma das mais lucrativas. Será o primeiro cargo dele no varejo.
Como leitor habitual do Alexandre e ciente de seu saber economico, nao quero nem imaginar que o seu desligamento tenha sido por questoes politicas quando de uma recente discordancia entre ele e o Presidente da Petrobras. SE essa possibilidade existe, realmente eh de deixar qualquer um desapontado com o Brasil. Tambem como antigo cliente do Santander, lamento profundamente a sua saida. De qualquer maneira, Alexandre Schwartsman eh um excelente profissional e com certeza tem muitas ideias na cabeca de como melhorar este pais.
Um grande abraco e muito sucesso em suas novas escolhas.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Castelar e a atual situacao economica.

Armando Castelar Pinheiro, pesquisador do IBRE/FGV e professor do IE/UFRJ, escreveu no VALOR ECONÔMICO de hoje sobre o nível de atividade em 2011.

Esta semana foi pródiga de indicadores sobre uma questão que vem desafiando os analistas: a economia brasileira está desacelerando? Como mostrou o Valor Econômico de segunda-feira, há aqueles que apostam que sim, mas também os que entendem que essa desaceleração é localizada e, em especial, insuficiente para trazer a inflação de volta para a meta de 4,5%.

Os dados das contas nacionais divulgados ontem confirmaram a expansão de 7,5% em 2010 e o ritmo mais moderado do quarto trimestre, ainda que com alguma aceleração em relação ao período anterior. O destaque no trimestre foi a expansão do consumo das famílias, de 10,4% em termos anualizados, e dos serviços, de 4,1%; a principal frustração foi o desempenho relativamente modesto da formação bruta de capital fixa, com a taxa de investimento caindo para 18%, contra média de 18,4% no ano. A taxa de poupança, de 16,5% no ano, foi outra vez muito baixa.

O Produto Interno Bruto (PIB) este ano vai crescer menos que em 2010, quando a economia se recuperou da queda sofrida em 2009. O mercado prevê alta de 4,3%, já menor que os 4,6% de quatro semanas atrás, mas há quem duvide que chegue a tanto, seja pelas limitações de oferta, seja pelo enfraquecimento da demanda.

A estatística explica uma parte dessa desaceleração: não apenas a base de comparação é menos favorável, como o carrego estatístico é menor: 1,1 ponto percentual em 2011, contra 3,7 pontos em 2010. A política econômica explica outra parte: ano passado, as políticas fiscal e de crédito público foram amplamente expansionistas e a Selic, de 3,8% em termos reais, ficou abaixo do neutro. Este ano o governo promete aumentar menos o gasto e os juros devem ser mais altos (6% reais, pelas previsões de mercado).

As medidas de natureza macroprudencial adotadas em dezembro - aumento de compulsórios e da exigência de capital para empréstimos mais longos às pessoas físicas - vão desencorajar a expansão do crédito. Em especial, a média diária de concessões de crédito para as pessoas físicas caiu 0,7% em janeiro, com quedas mais pronunciadas para a aquisição de veículos (-27,2%) e outros bens (-24,6%); para o crédito pessoal também houve redução, mas menor (-1,7%). Essas contrações vieram na esteira de um desempenho já ruim em dezembro.

O setor automobilístico, que liderou a expansão da indústria em 2010, deve sofrer mais com essas medidas. A PIM-PF, publicada dois dias atrás, registrou alta de 0,2% na produção industrial em janeiro, mas mostrou uma queda na produção de veículos automotores de 3,2%. Por outro lado, os bens de consumo duráveis registraram a mais forte expansão no mês (6%), aumentando 1,8% na média trimestral, contra uma queda de 0,2% para a indústria.

Nada indica, portanto, que o consumo doméstico esteja desacelerando fortemente. De fato, dados da Fenabrave para fevereiro mostram um recorde de venda de veículos novos no mês, com alta de 11% sobre janeiro. Nas palavras do seu presidente, "no balcão, não estamos sentindo restrição no crédito pelos agentes financeiros".

O contraste entre a evolução das vendas e da produção foi uma marca da economia no último lustro: as vendas do comércio cresceram a uma média de 8,3% ao ano, o triplo dos 2,8% observados para a produção industrial. O bom desempenho do mercado de trabalho vem sustentando a alta do consumo, seja diretamente pelo aumento da renda, seja pelo estímulo que dá à concessão de crédito. A valorização do real, ao baratear itens de consumo como carros e eletrodomésticos, também contribuí para isso.

Os dados para o mercado de trabalho em janeiro foram ambíguos. O desemprego está em nível historicamente muito baixo e a massa salarial cresce em ritmo forte: nos doze meses até janeiro, esta subiu 8,4% acima da inflação, puxada tanto pela alta do emprego como do rendimento médio. Por outro lado, a taxa de desemprego aumentou em janeiro, para 6,1%: ainda que a alta seja normal nesse mês, seu valor pode ser considerado alto (0,8 ponto percentual, contra metade disso um ano antes). Por outro lado, ela é 1,1 ponto percentual mais baixa que um ano antes, basicamente a mesma queda que de 2009 para 2010.

Assim, para além da desaceleração do PIB, 2011 pode ser caracterizado pela dicotomia entre os desempenhos da produção industrial, de um lado, e do consumo e das vendas domésticas de outro. A variável chave a acompanhar será a dinâmica do mercado de trabalho e, em especial, por quanto tempo será possível manter esse ritmo de expansão na massa salarial.

Se o PIB aumentar 4,3% este ano, principalmente se puxado pelos serviços, o emprego deve crescer mais que a população economicamente ativa, ainda que o baixo desemprego limite o espaço para isso. Os rendimentos reais também devem continuar subindo em ritmo forte, ainda que talvez não tanto quanto nos últimos doze meses (5,3%). Nesse cenário, demanda e oferta de crédito devem seguir firmes, mesmo que a juros mais altos. Obviamente, uma questão diferente é se isso se sustenta no médio prazo, dado o nível aparentemente alto de comprometimento da renda das famílias com empréstimos.

ECONOMIA BRASILEIRA.

FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores, escreveu hoje na FOLHA DE S. PAULO sobre o atual momento econômico. Quando se divulgam os dados do PIB, o leitor pode facilmente se perder numa selva de números. Correndo o risco de desanimar os corajosos exploradores que chegaram até aqui, confesso que também vou apresentar alguns números, na esperança de que ajudem a esclarecer como anda a atividade econômica.

Os dados do IBGE revelam os seguintes aspectos:

a) o PIB cresceu bastante em 2010 como um todo (7,5%), mas pouco na segunda metade do ano (quando a produção foi apenas 1,6% maior do que no 1º semestre); b) o período de menor dinamismo foi o 3º trimestre, quando várias indústrias de bens duráveis (como a automobilística) seguraram a produção para reduzir estoques, o que limitou a alta do PIB, sobre o 2º trimestre, a 0,4% (ou 1,6% ao ano);

c) no 4º trimestre, o PIB se acelerou moderadamente, superando o do 3º trimestre em 0,7% (pouco menos de 3% ao ano); d) ao longo do ano, a demanda interna se desacelerou aos poucos, mas cresceu bem mais do que a produção.

Contraste os números de PIB que acabou de ler com os seguintes, relativos à demanda interna (que é a soma de consumo das famílias, do governo e investimento): no ano, a demanda interna cresceu 8,7%; no 2º semestre, ela foi 3,4% maior do que no 1º; e do 3º para o 4º aumentou 1,6% (ou 6,4% ao ano).

Esse "descolamento" persistente entre a demanda e a produção se traduziu, naturalmente, em forte alta da importação de bens e serviços. O volume de importações subiu 36,2% (ante 11,5% do volume de exportações), e elas abocanharam uma fatia bem maior do mercado brasileiro de manufaturados.

A queda do saldo comercial só não foi dramática porque, mais uma vez, os preços daquilo que exportamos subiram muito mais do que os das importações.

Falemos de 2011. Se o PIB se mantiver estagnado -ou seja, se repetir, nos quatro trimestres, o patamar verificado no trimestre final de 2010-, ao encerrar-se o ano ele terá crescido 1,1%. É um "carregamento estatístico" bem menor do que os 3,4% que 2009 "legou" a 2010.

A LCA considera que neste 1º trimestre a economia está crescendo em ritmo similar ao do final de 2010. A política econômica, preocupada com a inflação, desde fins de 2010 está se mobilizando para induzir uma desaceleração adicional da demanda interna.

Parece provável que as autoridades tenham êxito - com "ajuda" do forte encarecimento dos alimentos -, limitando a expansão do PIB no ano a algo como 3,6%.

quinta-feira, 3 de março de 2011

No Brasil PIB, Juros e Inflação até que dá samba!!!

Neste período onde o Rei Momo é quem manda no Brasil, dia seguinte a nova elevação da taxa básica de juros de 11,25% para 11,75%, a sociedade toma conhecimento que a economia brasileira cresceu à taxa de 7,5% em 2010 em comparação com 2009. O Produto Interno Bruto - PIB atingiu R$ 3,675 trilhões e, finalmente, deixamos o 0,6% negativo de 2009 bastante atrás. O exuberante indicador é o maior desde 1986 e encerra com perfeição a era do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se de uma excelente recuperação econômica, já esperada pelos analistas de mercado e governo, mas contém o fato desse crescimento incluir fortes investimentos do governo, bem como comparar-se sobre o pífio desempenho de 2009.

Como no Carnaval coexistem momentos de alegrias e tristezas, na economia não poderia ser diferente. Enquanto muitos estão felizes com o excepcional aumento no PIB, outros estão bastante preocupados com um eventual retorno da inflação. Para 2011 o mercado já prevê uma taxa de inflação de 5,8%. Considerando que em 2009 a inflação foi de 5,91%, a maior registrada no país desde 2004 e, em janeiro deste ano, o índice subiu 0,83%, a maior alta desde abril de 2005, existe uma luz amarela no final do túnel. Como qualquer economia que deseja manter-se, sem graves problemas estruturais, entre as maiores do mundo, o Brasil trabalha com o regime de metas de inflação, sendo o Banco Central responsável por manter a taxa de inflação em 4,5% ao ano, com margem de 2% para mais ou menos. Com o consumo mantendo-se nas atuais condições, o país corre um sério risco de retornar ao universo inflacionário, com perdas para todos os extratos da sociedade, principalmente os de baixa renda.

Fato é que com o ingresso de milhões de novos consumidores ao mercado, ávidos por produtos básicos que vão da linha branca até a industria automotiva e que faz a festa das empresas produtoras, o consumo aumentou substancialmente, resultando num preocupante aumento da taxa de inflação, já em níveis superiores ao centro da meta. Diante disso, o governo age através do Banco Central com a elevação da taxa de juros visando frear essa demanda que estava reprimida, bem como comunica ao mercado sua intenção de cortar cerca de R$ 50 bilhões nos seus gastos públicos. Muitos analistas entendem que essa seja a meta mais difícil de cumprir devido os componentes políticos envolvidos, o que no Brasil sempre é, na maioria das vezes, em benefício de setores mais organizados.

Mesmo que os efeitos da elevação da taxa de juros não sejam de curtíssimo prazo, essa sinalização já provoca uma redução no consumo, apesar do Brasil atualmente apresentar um nível de desemprego um pouco superior a 6%, um dos mais baixos da história. Neste momento é importante que a economia ajuste-se aos padrões de macro estabilidade, uma vez que temos uma excessiva carga tributária, uma preocupante dependência das nossas exportações para a China, uma logística que não favorece a produção, uma legislação anacrônica e uma presença estatal em setores privados que há anos deveriam ter sido privatizados. Para o economista Antonio Correa de Lacerda Se você combina corte de gastos com aumento de juros, com restrição da demanda e com o cenário internacional turbulento, você pode jogar a economia no chão.O desafio do Brasil é diminuir um pouco o ritmo de crescimento da economia, porém manter acelerado o ritmo de investimentos. É isso que vai garantir a sustentabilidade no futuro.”

Nesse ponto espera-se que os investimentos do governo através do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC e as monumentais obras que deverão ser construídas para sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, efetivamente produzam condições para a manutenção de um bom ritmo de crescimento, previsivelmente inferior ao PIB 2010, mas melhor do que o resultado de outros países desenvolvidos. De qualquer maneira, conservadoramente, o próprio governo já trabalha com um PIB para 2011 na média em 5%, crescimento esse aceitável diante das enormes demandas ainda existentes na sociedade brasileira e do risco do retorno da inflação. Que no Carnaval de 2012, os números também dêem samba.

TAXA DE JUROS.

MARCELO L. MOURA, professor associado do Insper e doutor em economia pela Universidade de Chicago, escreveu no VALOR sobre o aumento de ontem na taxa de juros .
Se acreditarmos no que diz a teoria econômica, a decisão do comitê de política monetária do Banco Central de aumentar a taxa de juros de curto prazo deveria elevar o custo de empréstimo das empresas e restringir o crédito para consumidores.
Esse aumento provocaria queda no investimento e em compras de bens duráveis, como casas, automóveis e eletrônicos, entre outros. Vale aqui a lógica pura e simples de que, se a demanda cai, o lado da oferta responde, reduzindo a produção e o ritmo de elevação dos preços.
A pergunta que nos cabe fazer é: por que o combate da inflação no Brasil requer doses tão elevadas de juros?
A pergunta é ainda mais relevante se olharmos para outros países emergentes, que crescem a um ritmo maior e que possuem inflação mais baixa.
A resposta passa por entender as condições nas quais a política monetária funciona bem.
Existem pelo menos duas: que a economia não sofra outros choques e que a taxa básica de juros reflita diretamente o custo de tomar dinheiro emprestado.
A economia não sofrer outros choques significa que não devem ocorrer outras políticas do governo que estimulem a demanda, anulando, assim, parte do efeito da política monetária.
Embora o governo tenha ações nessa área, sendo a mais relevante a do anúncio de um corte de R$ 50 bilhões do Orçamento, a verdade é que, na prática, o gasto do governo aumenta acima da inflação ano após ano.
Mesmo se acreditarmos no cumprimento da promessa de corte, o Orçamento que fica é ainda cerca de 7% acima do valor do ano passado, o qual já representava um nível elevado de gastos. Contando uma história longa em poucas palavras: a política fiscal joga contra a política monetária.
A segunda condição é que exista uma relação direta e forte entre taxa básica de juros e custo do empréstimo.
Essa hipótese é também questionável no Brasil. Aí entra o papel do governo via BNDES, concedendo crédito com juros subsidiados.
Também entra o fato de que, para as pessoas físicas, os juros são tão elevados que apenas pequena parcela da população toma empréstimos no sistema financeiro, seja na forma de financiamentos imobiliários, crédito direto ao consumidor, uso do rotativo no cartão de crédito ou cheque especial.
Com empresas que pouco são afetadas no seu custo de empréstimo e poucos consumidores se financiando, o efeito também será limitado.
Dito isso, cabe agora ao governo assumir uma posição mais clara de coesão de políticas que visem controlar a inflação de forma mais eficiente. É como pedir que os 11 jogadores tentem fazer gol no mesmo lado do campo. Será que é tão difícil perceber? Para o mercado, pelo menos, não é o que parece.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Macro.

Foi imenso o fracasso da ideia que existiriam "leis" quase naturais que determinariam a melhor forma de organização do sistema econômico e que elas poderiam ser "descobertas" e "exploradas" para sugerir à sociedade como construí-la.

Teve como resultado lamentável a descrença que hoje cobre a economia, pensada como "ciência" pelos economistas que sentem inveja da física. É preciso separar o joio do trigo. Trata-se de voltar à velha e modesta economia política (a criança) e jogar fora a água do banho (a econofísica)...

A discussão metodológica é interminável e a ideológica insuperável! O fundamental é reconhecer: 1º) que na economia política, ao contrário da física, o agente (o átomo) reage, pensa, tem limites éticos fixados em sua cultura, imita o comportamento dos outros, tem memória e escolhe e 2º) que os parâmetros do espaço econômico são instáveis e suas condições estruturais, como consequência do aprendizado e da experiência, modificam-se com imensa velocidade quando comparadas aos do mundo físico.

Para dar um exemplo de como o comportamento dos agentes muda com a experiência, altera o espaço econômico e leva ao envelhecimento precoce da "teoria econômica", lembremos que em setembro de 1997, na sua reunião anual, o FMI garantiu que o livre movimento de capitais era fundamental: 1º) para melhorar a eficiência alocativa e acelerar o desenvolvimento econômico mundial; 2º) para aumentar a oportunidade de diversificação dos portfólios, o que beneficiaria os investidores e 3º) que da mesma forma que a liberdade de comércio, a liberdade do movimento de capitais aumentaria a produtividade da economia e a eficiência do seu sistema financeiro.

E terminou triunfalmente: "Esses não são conceitos abstratos. Sugerem as oportunidades para que todos os países aqui representados possam beneficiar-se do acesso à ampla liberdade de movimento de capitais".

Pois bem, no dia 6 de janeiro de 2011, Caroline Atkinson, diretora do Departamento de Relações Externas do FMI, numa entrevista, em resposta a uma pergunta de como aquela instituição via as medidas de controle do movimento de capitais impostas recentemente pelo Brasil, afirmou: "Vemos essa atitude como medidas macroprudenciais destinadas a fortalecer o sistema bancário do Brasil diante do enorme afluxo de capitais. Elas podem ser apropriadas e são parte da caixa de ferramentas disponíveis".

Medidas macroprudenciais se destinam à primeira tarefa dos bancos centrais: manter hígido o sistema financeiro.

Podem, sim, subsidiariamente, ajudar no controle da inflação. Ah, o poder de uma palavra! Tudo agora é "macroprudencial".

Por quem os juros sobem.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, alerta mais uma vez alerta os seus leitores em seu blog www.maovisivel.blogspot.com e na sua coluna na FOLHA DE S. PAULO, sobre a situação dos juros no Brasil.

Hoje, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deve decidir por mais uma rodada de elevação da taxa de juros básica da economia. Não tenho dúvida de que, até entre os meus 18 leitores, há mais de uma alma se perguntando por que, afinal de contas, se a taxa de juros no Brasil já é tão alta, seria necessário elevá-la ainda mais.

A resposta simples é porque a inflação, não apenas a corrente, mas, principalmente, a esperada, se encontra acima da meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.

De fato, a inflação nos últimos 12 meses se encontra ao redor de 6%, enquanto o consenso de mercado e as projeções do próprio Banco Central sugerem que a inflação em 2011 e em 2012 deve superar a meta, caso a Selic não suba.

Mas a resposta simples é insuficiente. Uma mente mais inquisitiva poderia perguntar se uma taxa de juros mais elevada é mesmo um tratamento eficaz contra a aceleração da alta dos preços.

Por exemplo, se a inflação resulta de preços de alimentos, por conta da elevação dos preços mundiais de commodities agrícolas, como se ouve aqui e acolá, que bem poderia fazer o aumento da taxa de juros?

A verdade, contudo, é que a inflação decorre de fenômenos bem mais amplos do que os preços de alimentos. O núcleo de inflação (que retira os preços de alimentos, assim como tarifas públicas) indica que os preços estariam aumentando a um ritmo de 6,5% ao ano.

Destaco adicionalmente que o IPCA medido de 16 de janeiro a 15 de fevereiro revela que mais de 73% dos itens não alimentícios sofreram aumento no período, ante 69% em janeiro, revelando que o processo inflacionário se encontra bastante difundido.

E, antes que alguém alegue que se trata de problema sazonal, noto que essa medida de difusão é a mais alta para o mês desde 2003, merecendo a duvidosa honra de ser a segunda maior para o mês de fevereiro desde o estabelecimento formal do regime de metas para a inflação.

Dito isso, se as causas da aceleração inflacionária vão além do comportamento do preço de alimentos, quais são elas? Ainda que setores menos comprometidos com a estabilidade de preços insistam em "problemas estruturais" ou "conflitos distributivos" (que, misteriosamente, se exacerbam apenas quando a economia cresce em ritmo forte), a verdade é que a inflação varia essencialmente em linha com o grau de pressão sobre a capacidade produtiva da sociedade.

Quando o mercado de trabalho aperta, o nível de utilização de capacidade na indústria sobe e os (muitos) gargalos da infraestrutura (como os recentes "apagões") pipocam mais que o David Beckham, os custos unitários se elevam e as condições de demanda permitem seu repasse generalizado.

Sob essas circunstâncias, não há alternativa para conter o processo inflacionário que não passe pela redução da pressão sobre a capacidade produtiva e, goste-se ou não da conclusão, isso requer que o crescimento fique, por algum tempo, abaixo do potencial.

Isso poderia ter sido evitado se o combate à inflação tivesse sido iniciado mais cedo, promovendo a convergência do crescimento para seu potencial (o chamado "pouso suave") ainda em 2010, mas esse leite já se encontra devidamente derramado.

É bom que se diga, também, que essa desaceleração poderia se dar preservando o consumo e o investimento privados, desde que o governo tomasse para si o fardo de reduzir seu dispêndio.

Obviamente, quando o responsável pelo caixa afirma que "os gastos públicos não têm impacto inflacionário no Brasil", fica claro que essa não é a prioridade, ainda mais depois de um "corte" de despesas que, na verdade, implica seu aumento com relação ao observado em 2010.

Assim, leitor, quando perguntar por quem os juros sobem, saiba que eles não sobem por ti, mas por quem desperdiçou (e, parece, desperdiçará) todas as oportunidades de lidar com o problema antes que isso se tornasse necessário

terça-feira, 1 de março de 2011

INSIDE JOB

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, escreve no VALOR ECONÔMICO de hoje, via CORECON RJ, texto sobre o "Inside Job", documentário que considera imperdível.

O sempre instigante Eu& Fim de Semana publicado nas edições de sexta-feira do Valor, ofereceu a seus leitores uma entrevista do economista Lawrence Summers. Summers, entre outras proezas, ficou conhecido por declarações polêmicas. Recomendou o incentivo à deslocalização de indústrias poluidoras para os países da periferia. Reitor de Harvard, Summers decretou a incapacidade da inteligência feminina em lidar com as complexidades das "hard sciences".

Observei Summers no café do pavilhão onde se realizava a reunião do Fórum Mundial Davos, em 1993. Entre um gole de café e outro, Summers iniciou um sermão aos circunstantes sobre políticas econômicas nos países em desenvolvimento. As lições de Summers sucederam uma tertúlia sobre a economia mexicana que, segundo os participantes da mesa, navegava de velas enfunadas rumo à prosperidade. Não faltaram reverências e salamaleques ao então presidente Salinas de Gortari e a seu ministro da Fazenda, Pedro Aspe.

Sentados na plateia, o professor Carlos Antonio Rocca e este locutor que vos fala, entre estarrecidos e irritados, ouvíamos os julgamentos peremptórios que fluiam do debate entre os sabidos da academia e financistas mais sabidos ainda. As opiniões iam da celebração incondicional do modelo mexicano às referências derrisórias ao Brasil. Digo estarrecidos porque, naquele momento, o México apresentava um déficit em transações correntes de 8% do Produto Interno Bruto (PIB), déficit fiscal elevado e a dolarização galopante de sua dívida interna, infestestada de Tesobonos.

Em dezembro de 1994, o México quebrou vítima de uma "parada súbita" e só sobreviveu com o socorro do Tesouro Americano e do Fundo Monetário Internacional (FMI), providência destinada a salvar os bancos de Tio Sam. Summers, então subsecretário do Tesouro de Clinton capitaneou a operação de salvamento.

Não havia como escapar da impressão de que Summers era encarnação mais acabada do personagem de Molière, o "idiot savant", cheio de si, como tantos outros que se abrigam sob o manto hoje prestigioso dos estudos da economia. (Evito a expressão ciência econômica para evitar que o ego já inflado dos sabichões sofra um processo fatal de inchaço e implosão).

Pois Summers é um dos personagens centrais do imperdível documentário "Inside Job" de Charles Ferguson que, na madrugada de ontem, levou o Oscar na sua categoria. O título do filme foi traduzido para o português como "Trabalhos Internos" - é lamentável a falta de imaginação do tradutor, que provavelmente não viu o filme. "Inside Job" é uma expressão idiomática. Um amigo, mais versado do que eu no idioma de Shakespeare, sugeriu "Trabalhos Promíscuos".

O documentário mostra que Summers faturou uma nota preta ao ministrar palestras remuneradas pelos senhores do Universo sobre as maravilhas da desregulamentação financeira. Entre suas idas e vindas ao governo, dedicava-se a assessorar instituições financeiras mediante farta remuneração. Não sei se ele está no rol de 19 economistas investigados no estudo do seu colega Gerald Epstein, da Universidade de Massachusetts Amherst.

O estudo trata do conflito de interesses entre a atividade acadêmica, a ocupação de funções no Estado e as atividades de consultoria, quando os personagens não advertem a opinião pública a respeito de suas ocupações e pertinências. Essa confusão de papéis está gerando um movimento entre os economistas americanos para a adoção de um código de ética.

Não se trata de limitar as atividades profissionais dos economistas, mas sim de tornar claro ao público que as opiniões podem estar viciadas e deformadas pela infiltração de interesses estranhos à independência acadêmica e à função pública.

Enquanto secretário do Tesouro de Clinton, Lawrence Summers trabalhou intensamente para a aprovação no Congresso dos Estados Unidos do Gramm-Leach-Bliley Act. Essa lei derrotou a legislação dos anos 1930, o Glass-Steagal Act, que separava os bancos de depósito, os bancos de investimento, seguradoras e instituições voltadas para o financiamento imobiliário e "fundeadas" na poupança das famílias.

Os mercados financeiros contemporâneos lograram capturar os controles da economia e do Estado, mediante o incrível aumento do seu poder social e político. As transformações ocorridas no sistema financeiro desataram a livre e brutal concorrência no capitalismo da grande empresa e das grandes instituições financeiras.

A expressão grande demais para falir esconde mais do que revela. Nos últimos anos, a securitização e a alavancagem construíram uma teia de relações de débito e crédito entre as grandes instituições espalhadas pelo mundo. Os bancos de investimento e os demais bancos sombra aproximaram-se das funções monetárias dos bancos comerciais, abastecendo seus passivos nos "mercados atacadistas de dinheiro" ("wholesale money markets"), amparados nas aplicações de curto prazo de empresas e famílias. Não por acaso, a dívida intrafinanceira como proporção do PIB americano cresceu mais rapidamente do que o endividamento das famílias e das empresas. Esse fenômeno corresponde ao controle da riqueza social pelas instituições privadas, o que torna impossível a omissão dos bancos centrais quando um elo da cadeia se rompe.

O depoimento mais constrangedor, entre tantos de "Inside Job", é prestado pelo economista Frederick Mishkin. Ex-membro do Federal Reserve, Mishkin não consegue explicar porque às vésperas do colapso dos bancos da Islândia produziu um relatório que assegurava a estabilidade do sistema financeiro do país, mediante o estipêndio de US$ 124 mil.

ENCONTRO DOS BLOGUEIROS DE ECONOMIA

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...