sábado, 6 de abril de 2013

Invasão à Casa Branca - Olympus has fallen.

Para quem curte a América, um filme para reflexão. 




Discutindo pobreza... na Argentina!


Em recente matéria no ESTADÃO, economistas questionam dados de pobreza... na Argentina.
O governo da presidente Cristi­na Kirchner sustenta que a pro­porção de pobres na Argentina está no nível mais baixo das últi­mas quatro décadas: apenas 5,4% da população, ou 2,2 mi­lhões de pobres. Segundo o go­verno Kirchner, a Argentina não tinha uma pobreza tão baixa des­de 1974, quando o presidente Juan Domingo Perón - chamado de "o protetor dos trabalhado­res" - estava prestes a morrer.
No entanto, os dados elabora­dos pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos, não são le­vados a sério por economistas, sindicatos e entidades universi­tárias, que acusam o organismo estatístico de falsificar os núme­ros - especialmente os da infla­ção - desde janeiro de 2007.
A Universidade Católica Ar­gentina (UCA) - que elabora há vários anos um índice paralelo - indicou, porém, em seu novo re­latório que a pobreza assola atualmente 26,9% dos argenti­nos. Essa proporção quintuplica o número de pobres admitido pe­la Casa Rosada. Em vez dos 2,2 milhões de pobres oficiais da pre­sidente Cristina, o país, segundo a UCA, teria 11 milhões.
O anúncio do índice da UCA teve ampla repercussão neste ano na Argentina, principalmen­te, pelo fortalecimento político e social que a Igreja Católica está tendo no país graças à recente entronização do cardeal Jorge Bergoglio, um portenho do bair­ro de Flores, como o novo papa Francisco.
Enquanto que para o Indec a pobreza caiu de 6,5% em 2011 para 5,4% em 2012, para a UCA a proporção subiu de 21,9% para 26,9% no mesmo período. A pro­porção de indigentes também apresenta enormes disparida­des. Para o governo são 600 mil indigentes em toda a Argentina, enquanto que para a entidade acadêmica são 2,2 milhões.
Segundo relatório da UCA, a pobreza estrutural persiste na Argentina, "apesar dos enormes esforços em matéria de gasto so­cial, pois 20% dos lares recebem algum programa social".
Para o monsenhor Jorge Lozano, presidente da Pastoral So­cial, "existe um estancamento na situação social". Segundo ele, "se não existe esperança para os pobres, tampouco existirá espe­rança para os ricos".
Em 1974, a Argentina era o pa­raíso da classe média na América Latina. Na época, contava com menos de 6% de pobres. Mas a sequência de ajustes e crises eco­nômicas provocaram uma dispa­rada na proporção de pobres, que em 1995 constituíam 20% da população.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Muita água em Brasília, seca no Nordeste: R$ 2 bilhões resolve?



Enquanto Brasília mostra ao Brasil o elevado debate sobre questões políticas, o Nordeste  continua morrendo de fome e de sede. Neste momento, cadê o debate para resolver o assunto, em estudo desde o tempo do Imperador Dom Pedro II? 

Sobra investimento para quem tem poder e falta água para o povo nordestino.   

Até quando?

O governo investirá R$ 2 bilhões em ajuda aos 1415 municípios nordestinos. Parece que esta história não é nova. O Brasil melhorou, mas ainda não merece receber alta médica.    

No nosso O POVO de hoje, direto de Fortaleza, Clayton traduz o nosso forte apelo para a região.
    


quarta-feira, 3 de abril de 2013

A economia brasileira na análise de Gustavo Franco no Estadão.


Gustavo Franco, hoje no ESTADÃO. A conferir:
É claro que dá para mexer em ambas as coisas (crescimento e inflação) independentemente. Se houvesse uma relação linear entre crescimento e inflação, precisaríamos de 25 anos de recessão para ter reduzido a inflação de 6.000% para 2% no período de 1994 até 1998. Não tem relação entre uma coisa e outra. E nem necessariamente as políticas ortodoxas são de sacrifício que implicam em dor e sofrimento para a economia. É uma pequena armadilha retórica de que os ortodoxos são contra o crescimento. Todos são pró desenvolvimento. A questão é a receita. Escolher entre estabilidade e crescimento é um falso problema. É conversa de quem não entende de economia.
Tudo depende do que seja determinante para o crescimento. Se o determinante é a sustentabilidade fiscal do Estado, políticas heterodoxas de aumento do gasto público tendem a reduzir o crescimento. E é curioso porque foi exatamente isso que ocorreu nos últimos anos. No governo Dilma, as condições fiscais pioraram e o crescimento caiu. Houve uma deterioração na confiança empresarial em relação ao equilíbrio das contas públicas. A conclusão é que a receita supostamente desenvolvimentista heterodoxa foi um fracasso.
O Brasil precisa retomar as reformas que parou, precisa ter políticas macroeconômicas responsáveis, e ter uma agenda de ações para retomar a confiança do setor privado e aumentar o investimento privado. Ainda que isso possa fazer parte da retórica governamental, as ações não vão nessa direção. Há percepção de intervencionismo crescente e de aversão a privatizações, concessões e investimento quando o setor privado tem o controle do processo. Todas essas posturas são negativas para o crescimento. O crescimento é provocado pelo investimento. No Brasil, as pessoas relutam em acreditar numa coisa muito simples: investimento é acumulação de capital. Portanto, as políticas tem que ser amistosas ao capital. Se o governo é hostil ao capital, não vai ter investimento, nem crescimento. É simples assim.
Para termos um crescimento acelerado, digno de pertencer aos BRICS, precisamos de taxas de investimento bem maiores. O crescimento amparado apenas pelo consumo, como tem sido nos últimos tempos, é de fôlego curto. Esse crescimento se exauri a medida que as famílias vão ficando mais endividados - o que também é perceptível nos últimos tempos. O crescimento com base no consumo vem perdendo força nos últimos tempos. E o investimento não vem crescendo, vem caindo há vários trimestres seguidos. Tecnicamente temos uma recessão no investimento. . Já temos vários trimestres de crescimento negativo do investimento. É um sinal de que o setor empresarial está insatisfeito com o governo, e isso não é algo que você vai capturar com os empresários. Hoje ninguém fala essas coisas porque o governo é dado a represálias. Por outro lado, as ações falam por si. O investimento é a melhor e mais simples manifestação de bom humor do mundo empresarial. E esse pessoal não está satisfeito com o que está vendo.
A inflação tem sido muito mais camarada do que eu esperaria dados os fundamentos fiscais da economia. Existe certa rigidez nominal dos preços, que tem impedido a inflação de ser maior. O melhor instrumento para combater a inflação é a política fiscal. A redução no gasto público substituiria a elevação dos juros com vantagem. Seria melhor para a economia que houvesse uma percepção de maior responsabilidade fiscal, quase que uma mudança de regime em direção a uma política fiscal sadia, ao invés de uma política anticíclica, keynesiana, e todos esses nomes que o governo inventou para a gastança. Se isso não ocorrer, teremos uma solução de qualidade inferior que vai ser a subida dos juros. Já deveríamos ter aprendido a lição de que é muito melhor combater a inflação atacando sua causa, que é a política fiscal, do que tentar comprimi-la via política monetária, que cria efeitos colaterais maiores e piores.
A intensidade do aperto monetário necessário hoje tem a ver com a dosagem. Não tenho como responder a esse pergunta com precisão. As autoridades - com razão - não querem retomar aos patamares de juros do passado, mas também não querem os patamares de inflação do passado. O problema é que não vai dar jogo com essa política fiscal.
Ao jogar a responsabilidade para o Banco Central e achar que a política fiscal não muda, estamos jogando fora o bebê junto com a água do banho. Deveríamos nos concentrar na política fiscal e não no que o BC vai fazer. O problema está no ministério da Fazenda, na Presidência da República. É aí que a inflação está sendo criada.
O aperto fiscal é o que vai tornar sustentável a taxa de juros baixa. É que vai fazer as pessoas acreditarem que as contas do governo fecham. Hoje só alguém muito sonhador e chapa branca acredita que o aumento do gasto público tem um impacto relevante sobre o investimento. Não tem porque o dinheiro do governo é pouco. É muito mais importante o setor privado crescer de forma sadia do que o setor público investir diretamente, o que, aliás, não consegue porque não tem capacidade administrativa.
O governo tem que deixar o investimento não do setor privado convictamente. Quando o governo faz coisas em acredita, tudo funciona melhor. Quando não acredita, faz mal feito e pela metade. E talvez esse seja um drama do qual a não conseguimos sair. É preciso fazer políticas amistosas para o capital, e, se o governo não consegue fazer por uma questão de fígado, então nunca vai dar certo. Não vamos ter crescimento nessa administração. Será preciso eleger um governo mais amistoso ao capital para ter acumulação de capital e investimento no Brasil." 

terça-feira, 2 de abril de 2013

Coreia - tão perto, tão longe: socialista x capitalista? A escolha é sua.


Dois países e dois modelos políticos e econômicos com resultados contrastantes:


Coreia do Norte
Coreia do Sul
População
24.600.000
49.800.000
PIB em dólares
40 bilhões
1,1 trilhão
PIB per capita em dólares
1.800
32.400
Acesso a saneamento básico - % da população
59% 
100%
Exportações em bilhões
4,7
548
 Fonte: Exame.

Se ainda existe dúvida onde está a luz, vide a imagem abaixo:


segunda-feira, 1 de abril de 2013

O homem não é racional?


SAMY DANA, Ph.D em business, professor da FGV e coordenador do núcleo de cultura e criatividade GV Cult, publicou na FOLHA uma análise do gasto por impulso, onde mostra que não somos racionais como nos livros de economia.  
No último dia 20, o Sistema de Proteção ao Crédito (SPC) anunciou uma elevação de 6,65% no nível de inadimplência em fevereiro de 2013, em comparação com o mesmo período de 2012.
Podem explicar isso o incessante incentivo do governo ao consumo (ainda que a poupança clame por socorro), o crédito fácil oferecido a taxas de juros exorbitantes e a famigerada inflação.
Por falar nela, no dia 28, o Banco Central anunciou a projeção do IPCA para 2013: 5,7%, valor bem acima dos 4,5% esperados em 2012.
A conjuntura em que o consumidor se encontra é bastante desfavorável. Por que, então, o brasileiro, ciente de sua impossibilidade de sanar dívidas, não para de comprar?
Há muitos fatores envolvidos no consumo que os livros clássicos de economia não explicam. O homem que vive neles é perfeitamente racional. Mas a realidade mostra que fatores psicológicos são, muitas vezes, os mais relevantes nas decisões financeiras.
Estudiosos buscam entender essas motivações subjetivas. As explicações mais comuns estão relacionadas às emoções e influência exercida pela sociedade.
Em pesquisa recente do SPC e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, foram levantadas as causas que levam homens e mulheres a comprar por impulso: principalmente estresse, ansiedade e vida profissional.
Entre as mulheres, o estímulo ao consumo se vincula à baixa autoestima, em 49% dos casos, e à tensão pré-menstrual, em 32%. Já para os homens, as principais causas são ansiedade (45%) e problemas no trabalho (38%).
Não é fácil controlar impulsos. Gastar mais do que se pode não há de sanar nenhuma dor. Mas é o que a pesquisa mostra que estamos fazendo.
Conhecer e controlar o seu comportamento de consumo, especialmente em momentos emocionais vulneráveis, parece ser a chave da questão.

Desafios para a política monetária.


Carlos Thadeu de Freitas Gomes, chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e Marianne Lorena Hanson, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), escreveram neste texto para o Valor Econômico, os desafios para a política monetária, onde destacam que é fundamental ancorar as expectativas inflacionárias dentro do regime de metas .  
Durante muito tempo, acreditou-se que o sistema de metas de inflação não só era o conjunto de regras de política monetária mais eficaz para manter a inflação sob controle, como também era capaz de promover a estabilidade macroeconômica como um todo, suavizando os ciclos econômicos. De fato, desde sua adoção e consolidação por boa parte dos bancos centrais pelo mundo, na década de 1990, experimentou-se um longo período de crescimento moderado e estabilidade de preços.
O sistema de metas de inflação foi introduzido pela primeira vez pelo Banco Central da Nova Zelândia, em 1988. Ele consiste em um conjunto de regras que visa criar uma âncora de política monetária baseada nas expectativas dos agentes. Ao se comprometer exclusivamente com uma meta para a inflação e ajustar a taxa de juros para o alcance dessa meta, a política monetária atua diretamente sobre as expectativas, e a demanda agregada converge para o pleno emprego no longo prazo. A transparência na comunicação e a credibilidade da autoridade monetária são premissas essenciais para esse modelo.
No entanto, no período de "grande moderação" que precedeu a crise financeira mais aguda desde a grande depressão, o sistema não foi capaz de impedir desequilíbrios macroeconômicos relacionados ao endividamento excessivo de famílias, empresas e governos, além da sobrealavancagem do sistema financeiro, que culminaram no colapso do mercado de crédito nos países desenvolvidos.
O arcabouço de regras rígidas do sistema de metas de inflação também não fornecia instrumentos para tratar das consequências dessa crise. Os canais tradicionais de política monetária deixaram de funcionar, a taxa de juros foi rapidamente trazida para patamares próximos de zero e outros instrumentos foram criados para prover expansão monetária - as políticas de "quantitative easing" (QE).
Adicionalmente, para lidar com os efeitos das políticas monetárias quantitativas e de taxa de juros reais negativas, foi necessária a adoção de políticas macroprudenciais por países com diferenciais de juros e de crescimento, como o Brasil, que foram afetados com forte influxo de capitais e valorização de ativos.
Países com elevado patamar de endividamento também tiveram que adotar políticas macroprudenciais - por meio de instrumentos regulatórios - para lidar com desequilíbrios financeiros. Nesse contexto, sem essas medidas, a política monetária tradicional pode estimular desequilíbrios nos fluxos de capitais, no mercado de crédito e no preço de ativos e moedas.
A política monetária teve que se adaptar em tempos de crise. Com o risco iminente de uma prolongada recessão e a manutenção de taxas de desemprego em patamares muito elevados, as metas para inflação foram colocadas de lado. A crise atual de endividamento público engessa a política fiscal e coloca a política monetária ainda mais em evidência, colocando-a a serviço, inclusive, da própria redução da dívida, por meio da repressão financeira. Os bancos centrais da zona do euro e dos Estados Unidos saíram na frente e sinalizaram que aceitam uma taxa de inflação maior, para não comprometer a recuperação econômica.
O presidente do Banco Central do Canadá, Mark Carney, sugeriu, recentemente, a adoção de metas para o Produto Interno Bruto (PIB) nominal em substituição às metas de inflação. Outras propostas incluem a mudança para uma meta de nível de preços que absorva choques positivos e represente um custo menor para o nível de atividade.
No Brasil, a política monetária também foi flexibilizada para combater os efeitos adversos da liquidez excessiva proveniente da expansão monetária sem precedentes dos países centrais. Para conter os efeitos do forte influxo de capitais sobre os preços dos ativos, o mercado de crédito e o câmbio, uma política monetária tradicional anticíclica, ao aumentar o diferencial de juros, poderia agravar o problema.
Contudo, apesar de o uso de políticas macroprudenciais - tais como requerimentos de capitais, barreiras aos fluxos de capitais, intervenções no mercado de câmbio, entre outros - ter tido sucesso ao evitar a fragilidade financeira e reduzir volatilidades nocivas, não conseguiu impedir os efeitos dos choques externos sobre preços e atividade.
Embora o PIB tenha crescido apenas 0,9% em 2012, a taxa de desemprego atingiu patamares historicamente baixos. Ou seja, mesmo com a atividade mais fraca, a inflação de salários não deixou de ser uma preocupação. O aumento no custo de produção de um bem devido à elevação dos salários acaba sendo, ao menos em parte, repassado para os preços, realimentando o processo inflacionário.
Há uma dinâmica favorável no país, principalmente no que diz respeito ao consumo das famílias, apoiada no espaço que ainda existe para a ampliação do crédito e no bônus fiscal gerado pelo desaperto monetário. Se isso é bom por um lado, por outro, pode implicar taxa de inflação mais elevada à frente. Adicionalmente, é preciso lembrar que alguns reajustes de preços estão sendo postergados. No curto prazo, esses adiamentos seguram a inflação mas, no médio prazo, têm efeito contrário. A elevada inércia inflacionária remanescente no país e a vulnerabilidade externa latente aumenta o custo de uma inflação mais alta.
Logo, é fundamental ancorar as expectativas inflacionárias dentro do regime de metas, mesmo que isso, temporariamente, afete a recuperação da atividade econômica, permitindo a sua sustentabilidade no longo prazo. A flexibilização da política monetária teve a sua importância num contexto de grandes desequilíbrios externos e atividade fraca. Agora, mesmo que seja reconhecida a necessidade de repensá-la à luz dos episódios recentes, a política monetária precisa retornar a sua função mais importante, que é estabilizar as expectativas inflacionárias.

domingo, 31 de março de 2013

Economistas e a economia brasileira hoje.


Excelente matéria do ESTADÃO sobre a atual situação econômica brasileira. 

Os críticos dizem que, com sorte, seis economistas reunidos chegam a sete soluções para o mesmo problema. A resposta para o dilema do baixo crescimento e da inflação alta no Brasil, porém, aponta quase um só caminho. Seis dos principais economistas brasileiros, de correntes de pensamento diferentes, convidados pelo 'Estado' a refletir sobre o assunto, chegaram ao mesmo diagnóstico.

Da Casa das Garças, reduto tucano, à Unicamp, de onde saíram os principais condutores da política econômica do governo, incluindo a presidente Dilma, a resposta é quase unânime. Para reanimar o crescimento, o governo precisa estimular o setor privado a investir, e, para domar a inflação, é preciso subir os juros e cortar gastos do setor público.

É claro que há divergência sobre como fazer isso. Mas, surpreendentemente, apenas Luiz Carlos Bresser-Pereira - professor emérito da Fundação Getúlio (FGV) e ministro nos governos Sarney e FHC - é contra a alta de juros.

Essa discussão ganhou ainda mais relevância na semana passada, depois da polêmica provocada por uma declaração da presidente Dilma. "Não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a redução do crescimento econômico", disse, durante encontro dos Brics na África do Sul. "Esse receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença, ele é complicado, você entende?"

O Brasil vive uma situação complexa e paradoxal. Nos últimos dois anos, o crescimento médio do PIB foi de apenas 1,8%. Ao mesmo tempo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) bateu em 6% no acumulado em 12 meses até fevereiro, e só não ultrapassou o teto da meta de inflação (6,5%) por conta de manobras, como o corte do preço da energia e os pedidos aos prefeitos para não reajustar a passagem de ônibus.

Em 2012, a taxa de desemprego ficou em 4,6%. O País está em pleno emprego, o que significa demanda aquecida. A produção industrial, no entanto, caiu 2,7% no ano passado.

Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, fundador e diretor da Casa das Garças, não minimiza os desafios, mas diz que o governo tem hoje todos os instrumentos para lidar com a situação. "Só precisa decidir utilizá-los de maneira adequada", diz. Ele defende uma política "eficaz" de concessões de obras de infraestrutura.

A conclusão de Luiz Gonzaga Belluzzo, professor emérito da Unicamp, fundador da Facamp, e um dos conselheiros de Dilma, é parecida. "Se o governo quer apoiar o crescimento através do investimento, certamente não pode ser leniente com a inflação", diz. Belluzzo, no entanto, acredita que um aperto monetário leve será suficiente para recuperar a credibilidade do BC e conter as expectativas de inflação.

Gustavo Franco, ex-presidente do BC e hoje sócio da Rio Bravo Investimentos, afirma que o aumento dos juros é uma solução de "qualidade inferior" e que o grande problema da economia brasileira é a "gastança" do governo. "Já deveríamos ter aprendido a lição que é muito melhor combater a inflação atacando a sua causa, que é a política fiscal."

Para Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, o Brasil precisa de uma "inversão total" da política fiscal com contração dos gastos correntes, que permitiria, ao mesmo tempo, controlar a inflação no setor de serviços e manter juros baixos e câmbio depreciado para ajudar a indústria.

Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC e sócio da A.C. Pastore Associados, diz que o pleno emprego é um sinal inequívoco de que não existe um problema de demanda. "O País não investe em infraestrutura e, por isso, não cresce. O governo fica tentando resolver injetando mais demanda na economia e deixando a inflação subir", resume.

Para Bresser-Pereira, os empresários não investem porque o câmbio continua apreciado, apesar da recente desvalorização promovida pelo governo Dilma. "O câmbio é o interruptor da economia, que liga ou desliga a demanda para as empresas."

Pelos sinais mais recentes, como os pacotes de concessão de obras de infraestrutura, parece que a equipe econômica de Dilma chegou à mesma conclusão que esses economistas. Mas ainda há muitas dúvidas sobre a convicção e a eficiência com que as autoridades estão implementando as medidas necessárias. Em breve, o BC terá de decidir se sobe ou não os juros e com que intensidade. Será um bom teste.

Deficit é mais um sinal de alerta na política fiscal.


Em recente artigo na FOLHA, ROGÉRIO MORI, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EESP), analisa a atual política fiscal.

Cada vez mais a política econômica do governo parece perder consistência do ponto de 
vista macroeconômico e se perder em meandros, carecendo de um foco mais claro.

Até poucos anos atrás, a política macroeconômica brasileira era pautada por um sólido regime de metas para inflação, tendo como pilares o ajuste das contas públicas e um regime de taxa de câmbio flutuante. Não sem razão, os fundamentos da economia brasileira foram bem avaliados internacionalmente.

A recente realidade dos fatos mostra que esse tripé tem se esfacelado gradualmente.

A política monetária não tem mais reagido de forma coerente com os desvios da inflação em relação à meta estabelecida.

As recorrentes altas das projeções de inflação para 2013 têm feito o Banco Central dar sinais mais concretos de um aperto monetário coerente com a convergência da inflação de volta para o centro da meta.

Nem a recente desoneração de produtos da cesta básica trouxe o esperado alívio no ritmo da alta dos preços, e a trajetória dinâmica inflacionária segue inalterada.

O resultado das contas do governo central de fevereiro representa mais um sinal de alerta para mais um tripé que vai se esfarelando aos poucos, o da política fiscal.

O surpreendente deficit de R$ 6,4 bilhões em fevereiro ficou bem acima do que era esperado para o período.

Uma análise simplista dos fatos poderia dizer que esse é um evento pontual e não indica maiores razões para preocupações. No entanto, uma avaliação sob um espectro mais amplo revela que esse é mais um ponto em um quadro de deterioração fiscal que vem se desenhando há algum tempo no país.

Nesse contexto, ainda estão vívidas na memória de todos as manobras fiscais realizadas pelo governo no final do ano passado para fechar suas contas de forma um pouco mais positiva.

Ainda no campo fiscal, deve se considerar que a atividade econômica tem se recuperado de maneira lenta, o que tem impactado negativamente a arrecadação neste ano. Por fim, a já mencionada desoneração de itens da cesta básica também terá custos para os cofres públicos.

O somatório desses elementos revela um quadro fiscal preocupante em 2013. Será este mais um pilar da política econômica que se vai?

terça-feira, 26 de março de 2013

Inflação versus Desemprego by Sachida.


Hoje no VALOR ECONÔMICO, o artigo de Delfim Netto cita excelente trabalho de três economistas do IPEA, dentre eles, o Sachida. Parabéns!     
O furo é, certamente, mais embaixo. A revista "Economia Aplicada" (16 (3) 2012:475-500) que acaba de ser publicada, traz um competente artigo de três economistas do Ipea (Mario Mendonça, Adolfo Sachsida e Luis Medrano), "Inflação versus Desemprego: Novas Evidências para o Brasil" onde se procura estimar a Curva de Phillips Novo-Keynesiana para o Brasil. Trata-se de trabalho cuidadoso que utiliza dados mensais de janeiro de 2002 a março de 2012 submetidos a um hábil tratamento econométrico. Analisam, também, um subperíodo de janeiro de 1995 a março de 2012. A curva construída inclui como variável dependente a taxa de inflação do ano e como variáveis "explicativas" a inflação do ano anterior, a estimativa de inflação para o ano seguinte, uma variável que represente o "custo marginal" (de fato a taxa de desemprego) e outra que represente um choque de oferta (de fato, a taxa de câmbio).
As principais conclusões do excelente trabalho são as seguintes:
1) um único resultado permaneceu robusto aos diversos experimentos: a expectativa de inflação e a inflação passada têm relevância na dinâmica do processo inflacionário. O papel das expectativas parece aumentar no período mais recente;
2) com relação ao desemprego, seu impacto de curto prazo sobre a inflação depende do conjunto de variáveis representativas ("próxies") adotadas. Na maior parte dos casos essa relação foi negativa, como era esperado. Já no longo prazo esse efeito torna-se difícil de ser captado, dando a impressão de ser nulo ou pouco relevante na formação do processo inflacionário. De qualquer forma e em qualquer dos casos, o efeito real da taxa de desemprego sobre a inflação foi próximo de zero;
3) o processo inflacionário brasileiro parece não guardar relação próxima com a Curva de Phillips Novo-Keynesiana. Isso é de especial relevância porque a grande maioria dos "macromodelos" da economia brasileira assume formatos parecidos com ela ao descrever a inflação.
É por isso e muito mais que, quando sugere cautela antes de apressar-se a aumentar a taxa de juro real, mas demonstra disposição de fazê-lo se necessário, a autoridade monetária brasileira está mais afinada com o mundo real do que os seus críticos.

segunda-feira, 25 de março de 2013

O colapso do investimento no Brasil.


Hoje, recebi do professor Carlos Pio o artigo que Cláudio R. Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios e diretor no país do International Growth Center (London School of Economics e Oxford University), escreveu no VALOR ECONÔMICO, o qual compartilho abaixo.

A baixa taxa de investimento no Brasil, associada à (quase) estagnação da produtividade, vem progressivamente solapando a competitividade da economia brasileira e seu potencial de crescimento no médio e longo prazo. Na última década, a economia passou por dois ciclos de investimento: um longo, iniciado no segundo trimestre de 2004 e interrompido no terceiro trimestre de 2008 pela Grande Recessão; e um curto, partindo no segundo trimestre de 2009, atinge seu pico em 2010, e se esgota dois anos após seu início (segundo trimestre de 2011, quando a taxa de crescimento do investimento cai abaixo de 3% frente ao trimestre anterior).

A trajetória recente do investimento aponta para seu colapso, no sentido de não apenas ter perdido impulso, mas de ter se contraído em termos absolutos: a formação bruta de capital fixo em 2012 cai 4% (frente a 2011) e a taxa de investimento no ano se reduz a 18,1% (19,3% em 2011). Esse desempenho tem algumas explicações tópicas, a exemplo da contração conjuntural na demanda de caminhões com a adoção de um novo padrão de consumo de diesel, novos motores e preços mais elevados. Contudo, em anos recentes, e principalmente desde 2011, foi introduzido um conjunto de mudanças tributárias e no custo de capital que levou a uma queda efetiva no custo de investimento. Ademais, incentivos fiscais, a ampliação do crédito e o aumento real dos salários favoreceu o consumo, enquanto que compras públicas ampliaram o mercado para máquinas e equipamentos. Sob a premissa de que o "vazamento" da demanda doméstica em volumes crescentes vem retirando dinamismo do mercado, o governo introduziu medidas de proteção, e intervenções no mercado de cambio levaram à desvalorização do real. No seu conjunto seriam medidas que estimulariam o investimento - a queda de seu custo e a ampliação da demanda.

Como, portanto explicar o desempenho do investimento à luz do amplo conjunto de incentivos voltados à sua ampliação e à expansão da produção? E porque o novo regime tem sido incapaz de constituir uma efetiva política de apoio à indústria de transformação?

A decisão de investimento é formada por um conjunto de informações objetivas a respeito da economia e dos mercados, e por percepções subjetivas do ambiente de negócios e de eventos futuros que afetam o ânimo investidor (ou o "espírito animal", conforme Keynes). Sem necessariamente tentar hierarquizar a importância relativa de cada fator, os resultados obtidos em 2011-2012 sugerem que os incentivos diretos e indiretos ao investimento foram sobrepujados por um conjunto relevante de fatores.

Primeiro, a perda de competitividade da economia brasileira, agravado pelo contexto de baixo crescimento da economia mundial. Com a possível exceção da produção assentada em recursos naturais (as chamadas "commodities"), e alguns segmentos da indústria de transformação, o país vem deixando de ser uma plataforma competitiva de exportação de bens e serviços, e crescentemente de produção de bens transacionáveis. Não há um fator determinante, mas a maior fragilidade se explica por uma combinação de infraestrutura precária, baixos níveis educacionais e de qualificação, inflação de custos em serviços, e pressão tributária - o país sendo um ponto fora da curva em termos de carga tributária para o nível de renda per capita.

Segundo, e com impacto direto sobre a decisão de investir, o "capex" (gastos de capital) dos projetos - e os tempos de execução - vem se elevando nos últimos anos. Nos anos pré-crise, esse fenômeno se explica pela escassez e elevação dos preços dos bens de capital, porém crescentemente pelo componente de serviços, num contexto de custos unitários do trabalho em acentuada elevação no Brasil.

Terceiro, houve uma deterioração da qualidade da política econômica. No plano macro, há dificuldades de acomodar de forma simultânea a expansão do consumo (inclusive do governo) e do investimento, o que se expressa nas tensões inflacionárias a partir de 2010, e nas dúvidas se o governo continua compromissado com o sistema de metas e seus fundamentos. As tentativas de encobrir a redução do superávit primário com manobras fiscais heterodoxas e de comprimir artificialmente a inflação, e os ruídos dissonantes de diferentes esferas do governo quanto à política cambial, minaram sua credibilidade. Na realidade, a expansão do consumo acentuou tensões que desaguam no mercado de trabalho (e no aumento do déficit em conta corrente), e corroem a competitividade da economia. Porém "esfriar" o mercado de trabalho seria apagar o ponto brilhante da economia brasileira, que vem premiando a base da pirâmide com ganhos reais (e possivelmente desproporcionais ao incremento da produtividade).

Finalmente, o hiperativismo no plano das políticas industriais e comerciais agrava a percepção de que, apesar da vontade de estimular a economia no seu conjunto e o setor industrial em particular, corre-se atrás de um alvo móvel - seja pelo diagnóstico errôneo, seja pelas falhas de execução. Em qualquer dos casos, a volatilidade das políticas resultou na perda de confiança dos agentes quanto ao rumo da economia. Na medida em que o ato de investir é uma aposta no futuro, a falta de visibilidade quanto à trajetória da economia, combinada com elementos objetivos relativos à perda de competitividade explica em grande medida o colapso do investimento no país.

A perplexidade europeia.


Bresser-Pereira, hoje na FOLHA e sua análise sobre a crise europeia.

A crise financeira da zona do euro foi relativamente superada, mas a crise econômica continua profunda. A crise financeira soberana do euro de 2010 decorreu da crise bancária global de 2008 que levou os Estados a se endividarem para socorrer os bancos.

Ela foi superada quando o presidente do Banco Central Europeu garantiu que compraria no mercado secundário os títulos da dívida soberana dos países.

Entretanto a crise econômica da zona do euro continua sem solução. A economia da Europa como um todo está estagnada, porque as taxas de câmbio implícitas ou internas dos países do Sul se apreciaram em relação às dos países do Norte e as suas empresas deixaram de ser competitivas.

O conceito de taxa de câmbio interna é relativo ao valor e não ao preço de mercado da taxa de câmbio. O valor da taxa de câmbio não decorre das variações na oferta e na procura de moeda estrangeira, que fazem com que a taxa de câmbio de mercado flutue em torno do seu valor, mas é o valor que deve ter a taxa de câmbio para tornar competitivas as empresas existentes no país. O valor da taxa de câmbio depende da relação entre aumento da produtividade e dos salários em um país (o "custo unitário do trabalho") em relação aos demais países.

Em 2003 o então premiê da Alemanha, Gerhard Schröeder, através da iniciativa Agenda 2010, promoveu a flexibilização das leis trabalhistas e, ao mesmo tempo, celebrou um acordo entre empresas e sindicatos segundo o qual os salários deixariam de ser aumentados proporcionalmente à produtividade, em troca de segurança no emprego.

Como os países do Sul não fizeram o mesmo, seu custo unitário do trabalho subiu em relação à Alemanha, a taxa de câmbio interna se apreciou, as empresas perderam competitividade e se endividaram, as famílias também se endividaram, e isso se traduziu em grandes deficit em conta corrente, não obstante as contas públicas continuassem equilibradas (exceto na Grécia).

Para resolver a crise econômica é preciso reequilibrar os custos unitários do trabalho, ou seja, reduzir salários. A forma normal de fazer isso seria cada país recuperar sua capacidade de depreciar a taxa de câmbio - uma solução que distribui por toda a sociedade o custo do ajustamento necessário e o faz em um instante -, mas que exige uma reforma monetária que, de forma planejada, descontinue o euro.

Como os europeus não têm coragem para fazer isso, uma alternativa seria uma inflação que reduzisse os salários reais ao mesmo tempo em que os países do Norte da Europa aumentassem seus salários, mas a Alemanha não aceita perder competitividade em relação à China e aos Estados Unidos. A terceira alternativa é a que está sendo adotada: é a "austeridade", ou seja, a redução dos salários através da recessão e do desemprego. É uma solução desumana cujo peso cai sobre os assalariados e as pequenas empresas. É a solução contra a qual os cidadãos europeus, perplexos, protestam nas ruas e nas eleições, mas, afinal, é a solução possível enquanto não perderem o respeito quase religioso que desenvolveram em relação à sua moeda única.

domingo, 24 de março de 2013

FHC na ÉPOCA fala também sobre economia.


FHC fala também sobre economia em entrevista na ÉPOCA desta semana.

ÉPOCA – O que há de errado na economia do país?
FHC –
 Todo mundo reiterou que, no governo Lula, houve continuidade na política econômica. Até a crise de 2008, sim. Com a crise, a política anticíclica adotada foi correta. Aí o governo pressentiu que havia uma espécie de licença para fazer o que quisesse. E isso se agravou nos anos Dilma, com a volta da ideia de que você pode fechar mais a economia, apoiar certas empresas, promover uma política industrial apoiando certas áreas. Voltamos a uma visão nacional-estatista. A política fiscal foi abandonada, como se fosse uma persistência do que eles chamavam de neoliberalismo. Essa incompreensão do que acontecia no mundo já ocorrera antes. Nos anos 1990, quando se tratava de ajustar a economia para lidar com a globalização, eles entendiam que era uma questão de ideologia, o tal neoliberalismo. Não foi só o PT, mas quase todo mundo, por uma posição mais antiquada que propriamente ideológica. Confundiram uma mudança do sistema produtivo, com novas tecnologias e novos métodos de transporte, com ideologia. Meu governo ajustou a economia brasileira à situação do globo. Agora, também está havendo um equívoco de percepção. Quando houve a crise de 2008, eles disseram: “Então vamos voltar. A crise nos dá o direito de fazer o que nós queríamos ter feito antes”.

ÉPOCA – Voltar para onde?
FHC –
 Para um Brasil anterior a 1990. Estamos agora na realidade do Ernesto Geisel (presidente brasileiro entre 1974 e 1979). No momento em que o mundo vai sair da crise, o Brasil está voltando nas suas concepções quanto ao desenvolvimento da economia. Isso me preocupa. Novamente, os Estados Unidos sairão na frente, sobretudo com a revolução energética que estão fazendo.

ÉPOCA – Neste momento, Dilma está voltando atrás em algumas políticas e começou com algumas privatizações.
FHC –
 Pela força das circunstâncias. Ela é capaz de entender o erro. Vê o número e se assusta. Mas aí, quando vai consertar, tem de fazer coisas que não são da alma dela. Então, tem uma inconsistência. Ela não fala que é privatização, nem fala que é concessão. Fala que é PPP(Parceria Público-Privada). Ela até recuperou uma ideia da Idade Média, o lucro justo. Entendo essa reação, o capitalismo é irritante. Qualquer pessoa sente raiva disso aí. Mas essa é a lógica do sistema – tem de acumular mais, senão não cresce. O capitalismo não é justo. Quem tem de ser justo não é o mercado, é o Estado. Se você é neoliberal, deixa por conta do mercado e comete injustiças. Se você não é, usa o Estado para tentar evitar que o capitalista arrase tudo.

ÉPOCA – Por que o brasileiro é tão relutante em reformar o Estado?
FHC –
 O livro do Raymundo Faoro Os donos do poder diz que isso vem de longe. Claro que Faoro exagera. Fala que tudo é o Estado, a corporação, o privilégio, desde Portugal. Não é bem assim. Há uma luta permanente entre mais e menos Estado. E ganha sempre o lado do mais Estado. De certa maneira, meu período foi quase um ponto fora da curva. A gente estava modernizando o Estado e aceitando algumas regras do mercado. Agora, o Estado ficou mais resistente. Quanto mais você vai para lugares de menor desenvolvimento no Brasil, mais tem Estado. Mas as pessoas não percebem algo também verdadeiro: quando o Estado intervém demais, aumenta a concentração. A concentração de renda, provavelmente, cresceu muito recentemente.

ÉPOCA – Mas há duas maneiras de o Estado intervir. No desenvolvimentismo, ele subsidia empresas e cria estatais. A partir dos anos 1990, o Estado passou a tratar mais de saúde, educação e políticas sociais. Essa mudança é inexorável ou voltaremos ao passado?
FHC –
 Acho que não. Sabe por quê? No meio dessa mudança, está a democracia. Com a Constituição de 1988, foi desenhado um futuro social-democrata. Nenhum governo pode olhar apenas para a economia. O que tentou resolver só a economia foi o Fernando Collor – e não deu certo. Os governos têm de olhar para os dois lados. Tem de olhar para educação, saúde, reforma agrária. Há uma massa demandante, que tem voto. No fundo, qual a base ideológica do governo Dilma? É o desenvolvimentismo. É crescer o PIB. O meio ambiente atrapalha. A regulação atrapalha. É um pouco a volta do capitalismo selvagem. Ela parece não perceber que o crescimento do PIB não depende só do governo, mas tem ciclos. Infelizmente, tocou a ela um ciclo mau. Como tocou a mim também. Ao Lula, tocou um ciclo bom.

ÉPOCA – Como será esse embate entre essas forças contraditórias?
FHC –
 A linha de força aponta na direção de que esses elementos de corporativismo perderão força. Levaremos mais tempo para fazer o que poderíamos fazer mais depressa. Mas temos caminhos. Temos uma sociedade forte. Somos mais ricos em termos relativos e mais fortes que nossos irmãos aqui da região. Temos um sistema empresarial vigoroso. A ideologia não prevalece sobre a realidade. Ela atrapalha.

ÉPOCA – O governo Dilma elegeu como prioridade, até para efeito de propaganda, a erradicação da miséria. Mas não é uma vergonha um país como o Brasil ainda ter tantos analfabetos?
FHC –
 O Brasil vem numa conquista progressiva da redução da miséria. Segundo o (economista) Ricardo Paes de Barros, a virada começou em 1999. Foi resultado da estabilização, em alguma medida da melhoria da educação e de outras políticas. Claro que um pouco disso também é jogo de palavras. Tem muita miséria ainda. Sobretudo, o emprego oferecido é de baixa qualidade. Com a ascensão da China, não houve o cuidado necessário com o desenvolvimento tecnológico e a indústria. Ela passou de 28% do PIB, nos anos 1980, para 20% no meu governo. Agora caiu para 12%. Isso é uma coisa preocupante, pela qualidade do emprego que a manufatura gera, apesar de extração de petróleo, da produção de soja também dependerem de saber.

ÉPOCA – Por que nossa classe política resiste a entender que o valor da economia moderna não está, necessariamente, no produto em si, mas no conhecimento que o gera? Parece que tudo se resolve com mais dinheiro, mais emprego, mais fábrica, mais máquina...
FHC – Tem razão. Pega a indústria do petróleo. Do jeito que estava indo, não ia mal não. Estava criando, também, base tecnológica. A Petrobras tem geólogos, cria gente preparada, exporta tecnologia. A grande revolução agrícola brasileira dependeu de quatro fatores: Embrapa, tecnologia, empresários e mudanças no sistema de financiamento. Estas últimas fui eu que fiz. Foi uma luta danada, para separar a agricultura da dívida do Banco do Brasil. A base foi a capacidade tecnológica da Embrapa para aproveitar solos antes não usados, desenvolver sementes e técnicas de plantio. A ideia de economia primária ou secundária é antiga. Em lugar de se preocupar com os 12% da indústria no PIB, devíamos nos preocupar com o resto. Qual o coeficiente tecnológico da indústria? Essa é a chave da questão. E isso leva à educação de novo. O governo percebeu isso. Criou o programa Ciência sem Fronteiras. Mas, entre perceber e fazer, há uma distância. Há a mania de grandiosidade. Tínhamos nos Estados Unidos, no ano passado, 8.500 bolsistas. O governo disse que vamos passar para 100 mil em quatro anos. Claro que não conseguiremos. Isso é mania de grandeza.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...