domingo, 4 de maio de 2014

Gary Becker died.

Becker, 83, University Professor of Economics and of Sociology at the University of Chicago, died on May 3 after a long illness. He won the Nobel Memorial Prize in Economic Sciences in 1992 “for having extended the domain of microeconomic analysis to a wide range of human behavior and interaction, including non-market behavior.”  - See more at: http://news.uchicago.edu/article/2014/05/04/gary-s-becker-nobel-winning-scholar-economics-and-sociology-1930-2014#sthash.YA3VLLWM.dpuf

FHC: A que ponto chegamos!

Para reflexão neste domingo o artigo quinzenal do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. 

Eu, como boa parte dos leitores de jornal, nem aguento mais ler as notícias que entremeiam política com corrupção. É um sem-fim de escândalos. Algumas vezes, mesmo sem que haja indícios firmes, os nomes dos políticos aparecem enlameados. Pior, de tantos casos com provas veementes de envolvimento em “malfeitos”, basta citar alguém para que o leitor se convença de imediato de sua culpabilidade. A sociedade já não tem mais dúvidas: se há fumaça, há fogo.

Não escrevo isso para negar responsabilidade de alguém especificamente, nem muito menos para amenizar eventuais culpas dos que se envolveram em escândalos, nem tampouco para desacreditar de antemão as denúncias.

Os escândalos jorram em abundância, não dá para tapar o sol com a peneira. O da Petrobras é o mais simbólico, dado o apreço que todos temos pelo que a companhia fez para o Brasil. Escrevo porque os escândalos que vêm aparecendo numa onda crescente são sintomas de algo mais grave: é o próprio sistema político atual que está em causa, notadamente suas práticas eleitorais e partidárias.

Nenhum governo pode funcionar na normalidade quando atado a um sistema político que permitiu a criação de mais de 30 partidos, dos quais 20 e poucos com assento no Congresso.

A criação, pelo governo atual, de 39 ministérios para atender as demandas dos partidos é prova disso e, ao mesmo tempo, é garantia de insucesso administrativo e da conivência com práticas de corrupção, apesar da resistência a essas práticas por alguns membros do governo.

Não quero atirar a primeira pedra, mesmo porque muitas já foram lançadas. Não é de hoje que as coisas funcionam dessa maneira. Mas a contaminação da vida político-administrativa foi se agravando até chegarmos ao ponto a que chegamos.

Se, no passado, nosso sistema de governo foi chamado de “presidencialismo de coalizão”, agora ele é apenas um “presidencialismo de cooptação”. Eu nunca entendi a razão pela qual o governo Lula fez questão de formar uma maioria tão grande e pagou o preço do mensalão. Ou melhor, posso entendê-la: é porque o PT tem vocação de hegemonia. Não vê a política como um jogo de diversidade no qual as maiorias se compõem para fins específicos, mas sem a pretensão de absorver a vida política nacional sob um comando centralizado.

Meu próprio governo precisou formar maiorias. Mas havia um objetivo político claro: precisávamos de três quintos da Câmara e do Senado para aprovar reformas constitucionais necessárias à modernização do país.

Ora, os governos que me sucederam não reformaram nada nem precisaram de tal maioria para aprovar emendas constitucionais. Deixaram-se levar pela dinâmica dos interesses partidários. Não só do partido hegemônico no governo, o PT, nem dos maiores, como o PMDB, mas de qualquer agregação de 20, 30 ou 40 parlamentares, às vezes menos, que, para participar da “base de apoio”, organizam-se numa sigla e pleiteiam participação no governo: um ministério, se possível; se não, uma diretoria de empresa estatal ou uma repartição pública importante. Daí serem precisos 39 ministérios para dar cabida a tantos aderentes. No México do PRI, dizia-se que fora do orçamento não havia salvação...

A raiz desse sistema se encontra nas regras eleitorais que levam os partidos a apresentarem uma lista enorme de candidatos em cada estado, para, nelas, o eleitor escolher seu preferido, sem saber bem quem são ou que significado político-partidário têm. Logo depois, nem se lembra em quem votou. A isso se acrescenta a liberalidade de nossa Constituição, que assegura ampla liberdade para a formação de partidos.

Por isso, não se podem obter melhorias nessas regras por intermédio da legislação ordinária. Algumas dessas melhorias foram aprovadas pelos parlamentares. Por exemplo, a exigência de uma proporção mínima de votos em certo número de estados para a autorização do funcionamento dos partidos no Congresso.

Ou a proibição de coligações nas eleições proporcionais, por meio das quais se elegem deputados de um partido coligado aproveitando a sobra de votos de outro partido. Ambas foram recusadas, por inconstitucionais, pelo Supremo Tribunal Federal.

Com o número absurdo de partidos (a maior parte deles meras siglas sem programa, organização ou militância), forma-se, a cada eleição, uma colcha de retalhos no Congresso, em que mesmo os maiores partidos não têm mais do que um pedaço pequeno da representação total.

Até a segunda eleição de Lula, os presidentes se elegiam apoiados em uma coalizão de partidos e logo tinham de ampliá-la para ter a maioria no Congresso.

De lá para cá, a coalizão eleitoral passou a assegurar maioria parlamentar. Mas, por vocação do PT à hegemonia, o sistema degenerou no que chamo de “presidencialismo de cooptação”. E deu no que deu: um festival de incoerências políticas e portas abertas à cumplicidade diante da corrupção.

Mudar o sistema atual é uma responsabilidade coletiva. Repito o que disse, em outra oportunidade, a todos os que exerceram ou exercem a Presidência: por que não assumimos nossas responsabilidades, por mais diversa que tenha sido nossa parcela individual no processo que nos levou a tal situação, e nos propomos a fazer conjuntamente o que nossos partidos, por suas impossibilidades e por seus interesses, não querem fazer: mudar o sistema? Sei que se trata de um grito um tanto ingênuo, pedir grandeza. A visão de curto prazo encolhe o horizonte para o hoje e deixa o amanhã distante. Ainda assim, sem um pouco de quixotismo, nada muda.


Se, de fato, queremos sair do lodaçal que afoga a política e conservar a democracia que tanto custou ao povo conquistar, vamos esperar que uma crise maior destrua a crença em tudo e a mudança seja feita não pelo consenso democrático, mas pela vontade férrea de algum salvador da pátria?

Thomas Piketty e Elio Gaspari - O capital no século 21.

Leio hoje na FOLHA o comentário de Elio Gaspari sobre o livro "Capital" do Thomas Piketty, atual destaque no mundo da Economia.

Amanhã o Metropolitan Museum de Nova York abre a escadaria para o baile anual do seu instituto de moda. A entrada custa US$ 25 mil, e o freguês terá passado pela seleção de Anna Wintour, a bruxa do filme "O Diabo Veste Prada", diretora da revista "Vogue", czarina da moda e princesa do mundo das celebridades. O "Met Gala" é o tapete vermelho mais bonito, rico e exclusivo do mundo. Quem não tiver a graça de pisá-lo poderá ir para um bar discutir o livro "Capital", do professor francês Thomas Piketty. Por caminhos diferentes, estará no mesmo mundo.

Piketty escreve com a elegância com que a atriz Gwyneth Paltrow se veste. Montado num banco de dados rico como a vitrine da joalheria Cartier, o professor é claro: o mundo entrou num período de concentração da renda. As pessoas e os países ricos ficarão mais ricos. Para as nações emergentes, inclusive o Brasil, fica a suspeita que crescerão a taxas menores. 

Nos Estados Unidos, essa época de ostentação da riqueza é comparada à "Gilded Age", que foi do fim do século 19 ao início do 20. A expressão designava uma abastança exuberante, porém superficial. Piketty não a usa, fala mais na "Belle Époque" francesa. A diferença está no fato de que uma teve o escritor Marcel Proust, e a outra, bilionários vulgares, cuja ideia de refinamento levava-os a copiar castelos e casar as filhas com nobres europeus quase sempre falidos, jamais monógamos, talvez heterossexuais. (Só na cesta dos duques, compraram 22.)

Durante a festa do século 19 também pontificava um jornalista. Ele organizava o baile anual de Caroline Astor e dizia que a elite de Nova York tinha 400 pessoas, o número de convidados que cabiam no salão da milionária. Na lista de La Wintour, entram 700 convidados. Ela é uma jornalista cuja determinação, instinto estético e visão comercial deveriam ser matéria de estudo para quem entra nesse ramo da profissão. (O teste de que uma pessoa é desprovida do sentimento da inveja está em admirá-la.) Wintour perfilhou o instituto de moda do Metropolitan, para quem vai o dinheiro dos ingressos. A partir de amanhã a nova ala de roupas do museu levará seu nome. Será inaugurada por Michelle Obama.

O baile de Piketty tem a harmonia de uma valsa. No início do século 20 os 1% que estavam no andar de cima ficavam com 20% da renda dos Estados Unidos e da Inglaterra. Até 1980 essa riqueza encolheu à metade, mas, a partir daí, voltou a crescer e retornou ao ponto inicial. A queda deveu-se a políticas sociais? Não, foram as duas guerras. Os bilionários de hoje seriam diferentes, afinal, Bill Gates fez a Microsoft. Tudo bem, mas a francesa Liliane Bethencourt (L'Oreal) tem US$ 25 bilhões e nunca trabalhou na vida. Herdou. Entre 1990 e 2010 as fortunas de ambos cresceram 13% ao ano, apesar de Bill Gates já ter parado de trabalhar.

O "Capital" é um monumento de pesquisa e elegância. Piketty trabalhou com acervos estatísticos jamais estudados, e reconhece que isso só foi possível porque apareceu o computador. Obsessivo, mergulhou até nas listas de bilionários das revistas de negócios, mesmo ressalvando que têm pouco valor científico. (Os brasileiros que compraram ações de Eike Batista sabem que é isso mesmo.) Se os números dos bilionários da "Forbes" merecem pouca fé, as carteiras de investimentos das universidades americanas merecem toda. Os patrimônios mobiliários daquelas que têm fundos com mais de um bilhão de dólares cresceram 8,8% ao ano entre 1980 e 2010. Já as pobrezinhas, com menos de 100 milhões, ficaram com 6,1% ao ano. Harvard, com US$ 30 bilhões, teve rendimentos de 10,1% anuais. (As reservas da Universidade de São Paulo encolheram.)


Quando Caroline Astor dava seu baile, o andar de cima sustentava que assim era a vida e o de baixo lotava as ruas para ver a passagem dos magnatas. A partir de amanhã o mundo poderá ver na rede imagens do baile de Anna Wintour. Retratará uma época. O "Capital no Século 21" também está na rede, em inglês, por enquanto. Sai por US$ 21,99.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

1º de Maio de 2014.

Uma mudança de quase 3.000 km de uma região imensamente úmida e chuvosa o ano inteiro para outra com clima seco e onde se alternam as quatro estações em um único dia é uma tarefa complexa. 

Por isso, ainda não foi possível manter este ambiente econômico atualizado, divulgando sempre a Economia para os meus ainda, espero, dois fiéis leitores.


Hoje, neste feriado do Dia do Trabalho, reafirmo meu compromisso com a manutenção deste espaço, mesmo com a redução do meu tempo de dormir. Afinal, "there is no free lunch". 

E 2014 promete: muito futebol e pouco crescimento econômico, por exemplo. E que o tempo seja realmente o senhor da razão.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Capitalismo.

Leio hoje na FOLHA artigo do Professor Delfim Netto elogiando a mais nova sensação do mundo econômico nos últimos dias: o livro do Thomas Piketty. 

A Folha prestou mais um grande serviço traduzindo e publicando na semana passada (26/4) longa e excelente resenha assinada por um competente provocador, o economista Paul Krugman, de um livro destinado a ser um clássico. Trata-se de "Le Capital au XXIe Siècle" (o capital no século 21), de Thomas Piketty, agora traduzido para o inglês. Krugman acredita que ele vai mudar duas coisas: como pensamos a sociedade e como fazemos teoria econômica.

Piketty está nos EUA, numa espécie de "road show" de seu livro, em que expõe a indecente e quase inacreditável concentração da renda e da riqueza do 1% (e do 0,1%) dos americanos mais ricos. Num auditório lotado, foi sabatinado e aplaudido por dois Prêmios Nobel: Joseph Stiglitz e o próprio Krugman. Como de costume, a esquerda apressada viu nisso o espectro de Marx, e a direita retardada, apenas o resultado do mérito!

Os números de Piketty sugerem que o "capitalismo competitivo" está dando lugar a um "capitalismo patrimonialista". É importante insistir que ele rejeita toda grande história com suas leis determinísticas. A concentração da renda é, basicamente, resultado de decisões do sistema político. Em palavras que não são de Piketty, o processo civilizatório depende de um jogo paciente e dialético entre duas instituições fundamentais: a urna (em que cada cidadão tem apenas o seu voto) e o mercado (no qual cada cidadão tem votos proporcionais à sua riqueza), que exige que elas sejam independentes entre si, o que não é um problema trivial. Se o mercado se apropria da urna, o processo civilizatório entra em estagnação ou em regressão. Se a urna se apropria do mercado, temos o populismo, que termina no autoritarismo.

Nos EUA, Piketty afirmou: "Acredito na propriedade privada, mas o capitalismo e o mercado devem ser escravos da democracia, e não o oposto". Ao contrário do que pensam alguns economistas, o amadurecimento do capitalismo não leva, necessariamente, à maior igualdade ou à maior liberdade de iniciativa, duas componentes essenciais do processo civilizatório.

Não é trivial porque o controle político tem, por natureza, de procurar sua perpetuação e reprodução. Estamos diante de um problema que só pode ser resolvido por uma profunda reforma institucional. Por exemplo, o Senado, que é mais facilmente capturado pelo "mercado", deve ter apenas o poder revisor para equilibrar a Federação. O senador não deve ter iniciativa legislativa e, muito menos, suplente. E o deputado deve ser escolhido por uma forma de eleição distrital, para que o custo de campanha seja muito menor e visível aos eleitores.


Esperemos que alguma editora enfrente a tarefa de traduzir e publicar o livro de Piketty.

sábado, 5 de abril de 2014

A revisão histórica de Delfim Netto.

Como é bom quem fez História, manifestar a sua opinião muitos anos depois. E o que leio hoje no portal UOL na entrevista com o mestre Delfim Neto. 

Folha - Na sua opinião, o que levou ao golpe de 1964?
Antonio Delfim Neto - O Brasil estava uma balbúrdia tão grande que era claro que alguma coisa ia acontecer. Havia uma desorganização total, passeatas na rua, mentiras de toda a natureza, boatos. O Jango abandonou o governo. Essa é que é a verdade. Não foi uma surpresa o que aconteceu. As instituições todas estavam ameaçadas, sob enorme risco. Nem sei se o risco era verdadeiro ou não, é que o governo era uma balbúrdia.

Onde o senhor estava no dia 31/03/64?
Eu estava indo para a escola [Faculdade de Economia da USP] de manhã. Estávamos vivendo um momento muito difícil, uma agonia completa, uma desorganização muito grande, mas eu fiquei surpreendido. Você não sabia o que ia acontecer.

E depois do golpe?
As coisas ficaram normais. Foi cassado o Adhemar [de Barros, governador de São Paulo]. E o Laudo Natel, o vice-governador que foi empossado, me convidou para ser secretário da Fazenda. Eu gostei e fiquei. Isso foi em 1966. Fiquei até março de 1967, quando recebi uma carta do presidente Costa e Silva me convidando para ser ministro.
Eu tinha conhecido o presidente Costa e Silva. Ele estava se preparando para assumir e estava ouvindo algumas pessoas e pediu para o [Rui] Gomes de Almeida (ex-presidente da Associação Comercial do Rio) um nome para falar sobre agricultura no Brasil.
Naquele tempo, agricultura era café. E como eu tinha um trabalho sobre café, ele indicou meu nome. Fui lá, fiz uma palestra para ele numa manhã. Terminou, fui embora e nunca mais conversamos.

Qual foi sua reação quando recebeu o convite?
Aceitar. Nós tínhamos trabalhado toda a vida na universidade sobre desenvolvimento econômico. Então eu aceitei.

Havia algum tipo de condição?
Nenhum. No dia seguinte à carta, fui fazer uma visita para agradecer.

E qual era a situação econômica da época?
A situação econômica estava caminhando. O trabalho do [Otávio Gouveia de] Bulhões (ex-ministro da Fazenda) e do [Roberto] Campos (ex-ministro do Planejamento) foi muito bom. Fizeram um trabalho muito bom de arrumação. Criaram o mecanismo de correção monetária, o FGTS, o BNH. Você tinha na verdade uma grande modernização da economia. Mas tinha grandes problemas também. O comércio exterior era um problema sério.

Eles também criaram incentivos para a exportação?
Não. Tinha um sistema de cambio fixo, muito inconveniente porque à medida que você tem inflação, seu câmbio real vai caindo. Quando em 68, nós introduzimos o "crawling peg", era um sistema cambial em que você corrigia o câmbio praticamente toda semana, usando uma regra que era a diferença entre a inflação americana e a inflação brasileira. Isso deu um grande estímulo ao setor exportador.
O programa que apresentei para o presidente Costa e Silva era de que nós iríamos fazer crescer a participação de outros produtos, de forma que café não fosse mais câmbio.
Em 1966, 1967, café era câmbio. Essa era uma frase do velho [Eugênio] Gudin (ex-ministro da Fazenda) e é verdade. Cerca de 60%, 70% da receita cambial era café.
De forma que você passou praticamente 10 anos não cobrando nenhum imposto sobre a exportação. O que é o correto porque o imposto tem de ser cobrado no destino.

Por que vocês reverteram a decisão do governo Castelo de dar independência ao Banco Central?
Você estava com uma recessão profunda, um desemprego terrível e o Banco Central insistia em fazer uma política econômica restritiva com o seguinte objetivo: mudar a expectativa inflacionária. Tudo isso estava certo. Só que o custo disso era uma barbaridade. Então foi isso que acabou com a tal independência do Banco Central.
Só que foi uma boa coisa. O Banco Central não tem de ser independente, tem de ser autônomo, tem de prestar conta à autoridade que a urna elegeu, ou que está no poder. Tem de receber uma missão e cumprir com autonomia.
Tanto é verdade que mudou a política e de um crescimento negativo, de quase zero, você teve uma expansão enorme.

A que o senhor atribui o chamado milagre econômico?
Nunca houve milagre. Milagre é efeito sem causa. O crescimento do Brasil naquele período foi consequência do trabalho dos brasileiros, basicamente da grande arrumação que houve no setor econômico, produzido no governo Castelo Branco.
Você teve uma enorme arrumação das finanças públicas, você teve uma redução da taxa de inflação. O Brasil estava falido, essa é que é a verdade. De forma que você criou uma base para que os brasileiros pudessem trabalhar muito mais ativamente.

A nova política do Costa e Silva cumpriu a função de ganhar credibilidade em um momento em que a oposição ao regime tinha sido muito forte?
A credibilidade foi ganha. Você ganha credibilidade quando você cumpre a palavra que você dá. Então, os empresários sabiam que o que tinha sido prometido ia acontecer.

E o aumento da concentração de renda incomodava?
A distribuição de renda incomoda porque, no fundo, o homem tem alguns desejos, alguns valores que são fundamentais. Um deles é a liberdade de iniciativa. A segunda é que ele quer uma relativa igualdade. E a terceira é que uma sociedade razoável precisa ter igualdade de oportunidades. O que significa que todos têm de partir do mesmo ponto em uma sociedade competitiva. Isso significa, no fundo, educação e saúde, universais e gratuitas, que é o que está na Constituição na verdade.
Então, a desigualdade, ela incomoda. Como você não podia atacar outra coisa, o processo político transformou a desigualdade numa coisa muito mais significativa porque todos estavam melhorando. Todos melhoraram, só que uns melhoraram mais do que os outros e a distância entre nós estava crescendo. O que não é uma coisa agradável.

Havia uma cobrança nesse sentido?
Ah sim, o que se poderia fazer era aumentar enormemente a oferta de gente que tinha o beneficio da educação, principalmente os de universidade. E isso foi feito. Você teve um aumento dramático de vagas nas universidades. Mas isso não produz efeito instantâneo.

Por outro lado o ensino básico foi deixado de lado?
O ensino básico foi deixado de lado. Acho que aí houve um erro. Na verdade, acho que, desde o Império, nós deixamos o ensino básico na mão da prefeitura. Isso foi um erro mortal. As prefeituras nunca se comoveram com o ensino básico.
Houve um grande esforço de alfabetização com o Mobral, que o Mário Henrique Simonsen dirigia. Mas a gente descobriu depois que o alfabetizado virava analfabeto tão logo terminava o curso de alfabetização. Como ele não lia coisa nenhuma, só ouvia rádio, seis meses depois ele era incapaz de ler de novo.

Há críticas de que quando o senhor deixou o governo Costa e Silva já se acumulavam desequilíbrios, como pressões inflacionárias. Quais foram os fatores que levaram o país a quebrar após os choques do petróleo?
Em 1972, eu estava em Roma numa reunião do Fundo (Fundo Monetário Internacional). E o Giscard D´Estaing que era o ministro de finanças da França, tinha ficado muito amigo do Brasil. E ele me disse: olha Delfim, os árabes estão preparando um cartel. Eles vão elevar o preço do petróleo a US$ 6. Nós pagávamos US$ 1,20 o barril.
Quando voltei para o Brasil, comuniquei isso ao presidente, o presidente convocou uma reunião. Nossa proposta, minha e do [Antonio] Dias Leite (ex-ministro de energia) era: vamos abrir a exploração de petróleo. Vamos fazer contrato de exploração de petróleo com empresas privadas, que era para acelerar o processo.
O Geisel se opôs dramaticamente. Quem quebrou o Brasil foi o Geisel. O Geisel era o presidente da Petrobras. A Petrobras passou 20 anos produzindo 120 mil barris por dia. Quando houve a crise do petróleo, as reservas eram praticamente iguais a um ano de exportação, não tinha dívida. A dívida foi feita no governo Geisel.
O Geisel, na verdade, era o portador da verdade. O Geisel sempre tinha a verdade pronta.

Como foi seu conflito com o economista Mario Henrique Simonsen?
Nunca houve conflito com o Simonsen. Isso é uma tolice. Uma invenção. Primeiro, o Simonsen foi embora porque quis. O Simonsen tinha consciência clara de que o Brasil tinha quebrado. Tanto que ele não entregou o orçamento. Ele foi embora em agosto sem briga nenhuma.
Vou lhe contar mais. O Figueiredo soube que o Simonsen tinha ido embora quando contaram para ele que o Simonsen estava na praia tomando banho.

O quão importante foi o apoio dos empresários para o regime?
Na verdade, como o Brasil crescia, os empresários estavam satisfeitos. Não só os empresários. O Brasil estava satisfeito. Essa é que é a verdade. O governo criou condições amigáveis para o funcionamento de uma economia de mercado. O sujeito sabia o seguinte: palavra empenhada era palavra cumprida.

Como o senhor via a questão da repressão durante o governo militar?
No governo você não tinha a menor informação. Você tinha uma separação completa entre o governo e as instituições, as forças armadas. Nunca teve nenhuma interferência. Na verdade, nós víamos nos jornais alguma coisa.
Uma vez eu perguntei ao presidente Médici e ele disse: não, não há.
Ele me disse: "é uma guerra, Delfim. Mas não há tortura".
Tortura é uma coisa deplorável. Quando o sujeito está sob a guarda do Estado é que ele tem de ser protegido.


Mas em 1970 os que estavam dispostos para a guerra já não estavam todos mortos?
Não sei se estava todo mundo morto. É outra coisa. Hoje estamos longe. Precisa ver como eram as coisas. Seguramente, não tem um lado só. O importante é: o governo nunca teve a menor interferência militar. Nunca. Desde o começo, o governo tentou preservar as instituições de mercado. Não era por ideologia. Era por pragmatismo. Porque não tem como você construir de novo uma sociedade democrática sem que o mercado esteja funcionando razoavelmente bem. 

quinta-feira, 27 de março de 2014

A CELPA é CCC+ e o Pará é quem ganha com isso.

A Standard & Poor's e o atual rating da CELPA, evidenciam que a empresa localizada no Pará está no caminho certo.    

A Celpa, companhia brasileira de distribuição de energia elétrica, permanece sob processo de recuperação judicial. A empresa vem implementando um plano de reestruturação para melhorar a qualidade dos serviços e a geração de fluxo de caixa.

Alteramos a perspectiva dos ratings da Celpa, de estável para positiva, porque esperamos que a empresa continue melhorando seu desempenho operacional nos próximos anos à medida que implementa seu plano de reestruturação.


Reafirmamos os ratings ‘CCC+’ da Celpa.

O pessimismo de José Serra é verdadeiro?

José Serra, como gostaria que você estivesse errado... 

Com a palavra os meus amigos petistas...

Se falta o rumo, todas as escolhas são ruins.

O presidente a ser eleito neste ano vai receber a pior herança econômica desde Itamar Franco, cuja posse foi em outubro de 1993 em razão da renúncia de Fernando Collor de Mello, que seria fatalmente colhido pelo impeachment.

No baú de heranças negativas estará a falta de manobra na área externa diante de um ambiente econômico internacional pouco fulgurante para o Brasil e da acelerada desindustrialização, que causa pesados déficits na balança comercial.

Também há a pressão fiscal: custeio em alta contínua, despesas crescentes com juros e subsídios selvagens à área energética, semiestagnação econômica, que freia o crescimento da arrecadação, e Estados em má situação orçamentária devida ao ano eleitoral de 2014.

Não haverá, é bem verdade, risco a curto prazo de calotes nas áreas externa ou fiscal, mas nem por isso as agências internacionais de risco, tão atrapalhadas quanto influentes, deixarão de atazanar as expectativas dos investidores em relação à economia brasileira.

O próximo presidente vai enfrentar ainda problemas agudos nas áreas de saúde e de segurança pública, e há a chaga social provocada pelas drogas. Essas três questões são as que mais afligem dois terços dos brasileiros.

Na economia, a inflação reprimida está à espreita. Tarifaços nas áreas de energia elétrica, combustíveis e transportes urbanos serão inevitáveis em 2014, a menos que se replique entre nós a desastrosa experiência do governo dos Kirchners, na Argentina, comprimindo preços, deteriorando a capacidade de cada um desses setores e expandindo ainda mais desabridamente os subsídios fiscais.

Um analista atento e desapaixonado, não precisa ser da oposição, concordará com a tese de que o pior cenário para enfrentar os problemas nacionais seria o sucesso da reeleição. Invertendo o ditado popular, quem pariu Mateus é o menos indicado para embalá-lo.

Com a reeleição não daria para evitar uma deterioração rápida e forte das expectativas sociais e dos agentes econômicos. Não existiria, por exemplo, o voto de confiança de que todo novo governo dispõe para corrigir rumos.

A reeleição da atual presidente também reproduziria a baixa qualidade da gestão governamental, consequência do despreparo da equipe, uma das piores de todos os tempos. A presidente Dilma Rousseff ignorou e continua ignorando o bê-á-bá de qualquer manual de bom governo, segundo o qual ministros, secretários e presidentes de empresas públicas devem entender de sua área específica mais do que o presidente, governador ou prefeito.

Ela nivelou a equipe por baixo e ignorou a prudência, que recomenda que se combine a delegação de funções com o exercício da liderança. Não fez nem uma coisa nem outra.

Chefe de governo tem de definir prioridades, fortalecer os meios, antecipar-se aos acontecimentos, cobrar cronogramas, exercer o comando político e comunicar-se com clareza e coerência com a população. É tudo o que não existe hoje, quando o Brasil vive sob um governo que não sabe o que quer, transforma soluções em problemas, facilidades em dificuldades, e erra a mancheias.

De fato, o foco principal da crise brasileira hoje em dia está no governo. O pesadelo dos agentes econômicos não reside tanto nos indicadores ruins sobre a economia, mas na possibilidade de o governo Dilma se prolongar por mais quatro anos.

Nenhum governo é imune a equívocos, maiores ou menores. Mas a singularidade dos governos do PT foi transformar o que deveria ser uma anomalia em método. O caso da Petrobrás é eloquente.

Havia um sistema de concessões de exploração de petróleo que funcionava bem, expandindo a produção e entregando um enorme poder ao governo para extrair receitas. Mas deu-se nó em pingo d'água e criou-se para o pré-sal um novo método, de "partilha", que tornou obrigatória a presença direta da empresa em cada poço, com um mínimo de 30%.

Como ela não tem capacidade executiva nem recursos para tanto, isso complicou sua situação financeira e operacional, já agravada pelo represamento de seus preços como estratégia para reprimir a inflação.

A gestão incompetente, a falta de pulso do governo e o loteamento político desenfreado levaram também ao fracasso dos investimentos em refinarias.

Em Pernambuco, a construção da Refinaria Abreu e Lima, orçada em US$ 2,5 bilhões, não sairá por menos US$ 20 bilhões e ficará pronta cinco anos depois do prazo. Outras duas, no Maranhão e no Ceará, mal saíram do papel.

No Rio, a Comperj repete a rotina de atrasos, estouro absurdo do orçamento, etc. E há, como sabem os leitores, a pexotada da refinaria de Pasadena. Se faltaram à então ministra e conselheira Dilma Rousseff as informações adequadas para impedir, em 2006, a Petrobrás de fazer um negócio desastroso, ela dispunha, nos anos seguintes, de todos os dados de que precisava para cobrar responsabilidades: como conselheira, ministra e presidente. Os procedimentos em curso na Petrobrás, se aplicados à iniciativa privada, quebrariam qualquer empresa.

As consequências disso tudo são conhecidas: estagnação da produção nacional de petróleo e aumento de cinco vezes do volume importado de gasolina entre 2010 e 2013. Pelo conceito do custo de oportunidade, a perda da Petrobrás no acumulado de janeiro de 2003 a dezembro de 2013 foi de R$ 53,4 bilhões. Tornou-se a empresa de petróleo mais endividada do mundo e perdeu metade do seu valor de mercado.

Além da tragédia da Petrobrás, a era petista produziu outro grande estrago no setor de infraestrutura: desorganizou o sistema elétrico brasileiro. A distância entre o que a Presidência da República pensa que sabe sobre o setor e o que efetivamente sabe é avassaladora e se refletiu numa medida provisória, a MP 579, que não era necessária e serviu de gatilho do atual estrago: aumento alucinante dos subsídios ao setor, preços reprimidos e derrubada da Eletrobrás, cujo valor de mercado representa hoje menos de um sétimo do seu patrimônio líquido.


Para quem não sabe aonde vai todos os caminhos são bons. Quando, no entanto, quem está sem rumo comanda um país, aí todas as escolhas são ruins.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Os bilionários brasileiros em 2014.

Para alegrar o Carnaval, abaixo a lista da FORBES com os bilionários brasileiros em 2014, um deles bastante conhecido de alguns dos meus fiéis leitores. E outro, que não poderia deixar de ser um cearense realmente rico. 

Colocação no Mundo
Nome
Fortuna estimada
Idade
Setor de atuação/Origem da fortuna
34
Jorge Paulo Lemann
US$ 19,7 bi
74
Bebidas
55
Joseph Safra
US$ 16 bi
75
Bancos
119
Marcel Herrmann Telles
US$ 10,2 bi
64
Bebidas
137
João Roberto Marinho
US$ 9,1 bi
60
Mídia
137
José Roberto Marinho
US$ 9,1 bi
58
Mídia
137
Roberto Irineu Marinho
US$ 9,1 bi
66
Mídia
146
Carlos Alberto Sicupira
US$ 8,9 bi
66
Bebidas
367
Francisco Ivens de Sa Dias Branco
US$ 4,1 bi
77
Alimentos
367
Eduardo Saverin
US$ 4,1 bi
31
Cofundador do Facebook
396
Walter Faria
US$ 3,8 bi
58
Bebidas
483
Aloysio de Andrade Faria
US$ 3,3 bi
93
Bancos
520
André Esteves
US$ 3,1 bi
45
Bancos
520
Antonio Ermirio de Moraes
US$ 3,1 bi
85
Diversos
520
Ermirio Pereira de Moraes
US$ 3,1 bi
81
Diversos
520
Maria Helena Moraes Scripilliti
US$ 3,1 bi
83
Diversos
580
Fernando Roberto Moreira Salles
US$ 2,9 bi
67
Bancos, mineração
580
João Moreira Salles
US$ 2,9 bi
52
Bancos, mineração
580
Walther Moreira Salles Junior
US$ 2,9 bi
57
Bancos
580
Pedro Moreira Salles
US$ 2,9 bi
54
Bancos, mineração
609
Abilio dos Santos Diniz
US$ 2,8 bi
77
Varejo
642
Miguel Krigsner
US$ 2,7 bi
64
Cosméticos
663
Edson de Godoy Bueno
US$ 2,6 bi
70
Hospitais, planos de saúde
796
Rossana Camargo de Arruda Botelho
US$ 2,2 bi
64
Construção
796
Renata de Camargo Nascimento
US$ 2,2 bi
63
Construção
796
Regina de Camargo Pires Oliveira Dias
US$ 2,2 bi
60
Construção
796
Moise Safra
US$ 2,2 bi
79
Bancos
828
Antonio Luiz Seabra
US$ 2,1 bi
71
Cosméticos
925
Nevaldo Rocha e família
US$ 1,95 bi
84
Varejo
931
Dulce Pugliese de Godoy Bueno
US$ 1,9 bi
66
Hospitais, planos de saúde
931
Michael Klein
US$ 1,9 bi
63
Varejo
931
Rubens Ometto Silveira Mello
US$ 1,9 bi
64
Açúcar, etanol
931
Lirio Parisotto
US$ 1,9 bi
60
Investimentos
1036
Jayme Garfinkel e família
US$ 1,75 bi
67
Seguros
1092
Julio Bozano
US$ 1,6 bi
78
Bancos
1143
Ana Maria Marcondes Penido Sant'Anna
US$ 1,55 bi
58
Pedágio rodoviário
1143
Cesar Mata Pires
US$ 1,55 bi
--
Construção
1154
Sergio Lins Andrade e família
US$ 1,5 bi
66
Construção
1154
Victor Gradin e família
US$ 1,5 bi
81
Construção
1154
Alexandre Grendene Bartelle
US$ 1,5 bi
64
Calçados
1210
Lina Maria Aguiar
US$ 1,4 bi
76
Herança/bancos
1210
João Alves de Queiroz Filho
US$ 1,4 bi
61
Bens de consumo
1284
Eggon da Silva
US$ 1,3 bi
85
Maquinário industrial
1284
Elie Horn
US$ 1,3 bi
70
Imobiliário
1284
Carlos Francisco Ribeiro Jereissati e família
US$ 1,3 bi
67
Shopping centers
1284
Jorge Moll Filho
US$ 1,3 bi
69
Hospitais
1284
Jose Isaac Peres e família
US$ 1,3 bi
73
Shopping centers
1284
Werner Voigt
US$ 1,3 bi
84
Maquinário industrial
1284
Lilian Werninghaus
US$ 1,3 bi
79
Maquinário industrial
1372
Lia Maria Aguiar
US$ 1,2 bi
72
Herança/bancos
1372
Guilherme Peirão Leal
US$ 1,2 bi
64
Cosméticos
1372
Rubens Menin Teixeira de Souza
US$ 1,2 bi
57
Construção de casas
1372
Dorothea Steinbruch
US$ 1,2 bi
--
Siderúrgica
1442
Alfredo Egydio Arruda Villela Filho
US$ 1,15 bi
44
Bancos
1442
Daisy Igel
US$ 1,15 bi
86
Gás, petroquímica
1465
Ana Lucia de Mattos Barretto Villela
US$ 1,1 bi
40
Bancos
1465
Edir Macedo e família
US$ 1,1 bi
69
Comunicação
1465
José Mendes Nogueira e família
US$ 1,1 bi
86
Mineração
1540
Giancarlo Franceso Civita
US$ 1,05 bi
--
Mídia
1540
Victor Civita Neto
US$ 1,05 bi
--
Mídia
1540
Roberta Anamaria Civita
US$ 1,05 bi
--
Mídia
1540
José Roberto Ermirio de Moraes
US$ 1,05 bi
56
Diversos
1540
José Ermirio de Moraes Neto
US$ 1,05 bi
61
Diversos
1540
Liu Ming Chung
US$ 1,05 bi
51
Papel e celulose
1540
Neide Helena de Moraes
US$ 1,05 bi
59
Diversos
1565
Carlos Martins
US$ 1 bi
57
Educação

  • Fonte: Forbes

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