Li recentemente no ESTADÃO, lúcida entrevista com a diretora executiva do
Santander Brasil Asset Management, Luciane Ribeiro.
A conversa com Luciane,
responsável pela administração de R$ 140 bilhões, inaugura a série de
entrevistas do ESTADÃO com importantes gestores de recursos do Brasil sobre o
cenário econômico para 2014.
• O que esperar dos
investimentos para 2014?
Para falar de investimentos,
temos de falar do cenário macroeconômico. Estamos achando este ano, com todo o
movimento que aconteceu até então guiado pelo Federal Reserve (Fed, o banco
central do Estados Unidos), que o PIB brasileiro deve crescer 2,3%. O cenário
econômico como um todo é preocupante porque há vários riscos para a economia em
2014. Nos EUA terá novamente a história da dívida americana, por exemplo. No
Brasil, tem Copa do Mundo, eleições. Será um ano com muitos eventos. Temos a
impressão de que a economia brasileira vai andar um pouco de lado, com a
tendência de piora das contas. A nossa previsão de crescimento é de 1,9%. A
inflação, controlada, mas com o juro real tendo que subir novamente. A
expectativa e que a Selic feche este ano em 10%, e no começo de 2014, ocorra
mais um movimento de alta de 0,25 ponto. Diante desse cenário, voltamos a ter
um juro real alto, de 4%. Haverá uma tendência - como já está acontecendo neste
ano - de a pessoa física buscar uma política mais conservadora e tentar tirar
benefícios dos investimentos conservadores, como por exemplo, a compra de
ativos com isenção fiscal. Na Bolsa vamos ter de olhar alguns setores,
segmentos e algum tipo de estratégia diferenciada em renda variável.
• Qual setor deve ser
olhado?
Eu acho que o de
commodities. É um setor que ajuda bastante o Brasil. O nosso cenário para a
economia mundial é de crescimento. Alguns países vão crescer mais, outros
menos. Mas terá crescimento.
• O desempenho ruim do
Ibovespa este ano tem origem nos indicadores macroeconômicos ou a crise do
Grupo X respingou na Bolsa?
A crise respingou. Gomo
as empresas (do grupo X) têm uma participação importante no índice, elas
comprometeram as carteiras passivas. Agora a tendência é melhorar um pouco. Mas, novamente, é preciso
olhar alguns setores, como o de commodities, que é um segmento que pode andar
na Bolsa. Além disso, a gente também gosta dos fundos de valor. Eles têm
agregado resultado, independentemente de a Bolsa não estar tão bem. E os fundos
long and short conseguem se destacar num ambiente controverso e de alta
volatilidade.
• Como avalia o menor
crescimento da China e um impacto nas commodities?
A nossa previsão para a
China é que o crescimento econômico continue desacelerando, mas ele ainda vai
ser muito elevado. A China veio na faixa de crescimento de 9%, 9,5%, atualmente
está na faixa de 8%, e a gente entende que até o fim da década deve ir para 7%.
Estamos falando de uma economia gigante e que contribui para o mundo. A China
está passando por uma mudança estrutural importante: de um modelo que era
exportador e vinculado à indústria para um modelo de consumo. Isso leva um
pouco de tempo. A China continua crescendo, e a exportação (para lá)
continuará. Não há nenhum risco potencial de a economia chinesa mudar
substancialmente para 0 lado negativo.
• Qual é a projeção para
a Bolsa para o ano que vem?
A gente acha que a Bolsa
para 2014 terá um crescimento na faixa de mais ou menos 15%.
• É interessante?
Não tanto para um ano em
que o juro será elevado. Esse crescimento pode estar muito mais vinculado
quando se analisa alguns papéis ou setores específico, e não a Bolsa como um
todo.
• Em 2012, falou-se muito
em produtos isentos de Imposto de Renda, como os fundos imobiliários. Mas eles
não estão indo bem. Por quê?
O fundo imobiliário é um
produto que continua tendo seu espaço. O problema é que ele teve um crescimento
muito rápido. E claramente aconteceu a mesma coisa com os produtos de renda
fixa índices (fundos que buscam seguir ou superar indicadores de desempenho dos
títulos de renda fixa). O investidor brasileiro precisa se acostumar com a
dinâmica do longo prazo. E por uma infelicidade do momento, o Brasil teve que
voltar a subir a taxa de juros. Se pegar 18 meses para trás, estávamos num
movimento de declínio da taxa de juros tanto real como nominal. Era um momento
bom de se mostrar uma diversificação. Só que (a alta) pegou no contrapé. Todo
mundo estava vislumbrando um cenário de longo prazo, até porque os próprios
fundos previdenciários foram obrigados a fazer o alongamento por causa de uma
mudança regulatória. É ruim porque os ativos no País são marcados a mercado. E
a subida de taxa de juros no Brasil e o movimento externo - o fator do Fed -
fizeram com que o cenário piorasse. Aí, todas as carteiras apanharam. Os fundos
de renda fixa índices estão negativos no ano. É a mesma coisa com os fundos
imobiliários. Mas eu acho que é um processo. O mercado vem aprendendo, e o
próprio investidor entende mais a marcação a mercado.
• E outros investimentos
não ligados à Bolsa ou à isenção de IR que podem ser atrativos?
Nos fundos de renda fixa
índices, a tendência é ter uma melhora devido ao ajuste forte no cupom desses
fundos. Com a taxa de juros elevada, também surgem os produtos de renda fixa
simples ou com crédito privado, que conseguem agregar um pouco mais de valor. O
mercado está vindo com muitas emissões de debêntures. Isso faz com que os
fundos de renda fixa participem, diversifiquem as suas carteiras, e eu acho
que é muito interessante num período de visão mais conservador, já que teremos
uma alta volatilidade em 2014.
• Na época do juro alto,
o ganho almejado para o mês era o de 1%. Hoje, existe um número ideal?
Não tem que ter porque
dificulta o processo de diversificação de portfólio. Se o investidor
diversifica, ele aumenta a possibilidade de um retorno melhor. O brasileiro
precisa se acostumar com um processo de educação financeira, de aprender a
diversificar os investimentos, mas é importante que isso esteja aliado ao
perfil. Para um investidor altamente conservador, não faz sentido diversificar
indo para a Bolsa. Mas, mesmo no conservadorismo, ele pode agregar valor com
outro tipo de produto, por exemplo, buscando ativo com isenção fiscal. E o
investidor com perfil mais arrojado tem que ter outros tipo de investimentos,
como fundos que investem no exterior, porque ele tem a possibilidade de pegar a
diversificação de bolsas em outros países. O importante é o investidor ter o
conhecimento para entender o modelo de risco que ele quer para sua carteira.