quinta-feira, 26 de julho de 2012

O mundo rosa de Tombini.


Recebi do grupo de Economia Política o editorial do ESTADÃO de 25.07.2012, comentando sobre o mundo rosa de Tombini.

Espalhar otimismo e alegria é a nova função do Banco Central (BC) do Brasil. Talvez seja essa a maior inovação introduzida por seu atual presidente, Alexandre Tombini, convertido em propagandista da política econômica. Segundo ele, a economia crescerá mais de 4% no próximo ano, a inflação continuará controlada e as famílias terão recursos para ampliar seu consumo, graças à expansão do emprego e da renda. Não se trata, nesse discurso, apenas de alimentar e administrar expectativas, um papel normalmente exercido pela autoridade monetária. O presidente do BC é hoje um funcionário plenamente integrado na equipe ministerial, como era em tempos mais remotos, quando a gestão da moeda era subordinada, sem reservas, à orientação central da política econômica.

O presidente do BC está certo, provavelmente, quando anuncia uma reativação da economia brasileira no segundo semestre e um retorno, em 2013, a um crescimento em torno de 4,5%. A economia continua, de fato, criando empregos e a renda salarial cresceu mais uma vez no primeiro semestre. Tudo isso favorece o consumo, único fator de sustentação da economia neste ano. Mas há um evidente irrealismo no cenário cor-de-rosa apresentado por Tombini.

Os estímulos de crédito e o aumento de renda ainda observados neste ano podem favorecer a reativação econômica no segundo semestre, depois de meses de estagnação. Falta saber se a economia terá fôlego para um crescimento mais que efêmero, ou mesmo para uma expansão em ritmo superior a 4% nos anos seguintes. A criação de empregos formais em junho - 120,4 mil - foi 53% menor que a de um ano antes. No primeiro semestre houve 1 milhão de contratações com carteira assinada. Quase metade - 469,7 mil - foi no setor de serviços. A expansão dependeu principalmente da geração de empregos de qualidade inferior ao do setor manufatureiro.

A deterioração do quadro estendeu-se, portanto, pelo menos até o fim do primeiro semestre. Isso foi confirmado também pela nova sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada ontem. Segundo o relatório, a demanda ficou mais fraca, as margens de lucro foram insatisfatórias e os entrevistados apontaram uma situação financeira ruim. O acesso ao crédito permanece difícil, afirmam os autores do levantamento. De acordo com as informações coletadas, a produção industrial diminuiu pelo quarto mês consecutivo e os estoques se elevaram em cinco dos primeiros seis meses do ano.
"A estratégia de crescimento via estímulos ao consumo dá claros sinais de esgotamento", segundo o relatório. No segundo trimestre, o problema da falta de demanda tornou-se mais importante para empresas de todos os portes, de acordo com os informantes consultados. Ainda assim, esse problema continuou como o terceiro mais grave na lista elaborada com base nas respostas. A carga tributária continuou no primeiro lugar. No segundo posto ficou a competição acirrada - um item refletido, sem dúvida, no acelerado aumento das importações de bens industriais. A taxa de juros só aparece em sétimo lugar, entre as reclamações, seguida pela falta de capital de giro e pela falta de financiamento de longo prazo.

Os consultados manifestaram menor otimismo quanto à evolução da demanda interna e das exportações nos próximos seis meses. Diante disso, parece irrealista esperar uma retomada significativa dos investimentos.

Os números do comércio exterior confirmam o diagnóstico de uma indústria estagnada, com muita dificuldade para exportar e também para manter sua participação no mercado interno.
As previsões otimistas do presidente do BC podem ser confirmadas, no curto prazo, mas o impulso de crescimento será certamente limitado. As medidas de estímulo tomadas até agora são de curto alcance. Os benefícios fiscais são dirigidos a setores selecionados e insuficientes para neutralizar as distorções provocadas pela péssima tributação. Do investimento público pouco se pode esperar como contribuição à eficiência da economia. O governo insistirá em lançar novos pacotinhos, tão inócuos quanto os anteriores, e o discurso otimista será mantido.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Um cenário pessimista.


Hoje, na FOLHA DE S. PAULO, uma entrevista pessimista com o professor de economia e ciência política Barry Eichengreen.

Ele está pessimista com o cenário que se desenha para a economia mundial. O aprofundamento da crise de confiança na Europa com o que ele vê como a provável saída da Grécia da zona do euro é a pior de suas expectativas, mas não a única ruim.

Os EUA continuam tropeçando na regulamentação do sistema bancário -- ao menos no médio prazo, um desejo mais do que uma realidade -- e os mercados emergentes ainda não dão conta de puxar o crescimento mundial como se esperava há meses.

Eichengreen, que leciona na prestigiosa Universidade de Berkley e dá palestra a convidados nesta quarta em São Paulo, está tão pessimista que está revendo seu livro mais recente, "Privilégio Exorbitante" (Campus, 2011) para corrigir a "expectativa superestimada" para a moeda única europeia e seu papel no mercado global.

"Ninguém que escrevesse há dois anos poderia imaginar quão incompetentes seriam os esforços da Europa em lidar com a crise seriam", disse ele à Folha

Folha - Há um desencanto nos últimos meses com os mercados emergentes, particularmente com o Brasil, após taxas de crescimento mornas. O "hype" foi exagerado ou os emergentes não deram conta de puxar o crescimento global sozinhos, como alguns esperavam?
Barry Eichengreen - O "hype" foi excessivo, sem dúvida. Muito do que vimos reflete o crescimento insustentavelmente alto da China, que alimentou sua demanda por exportações de produtos básicos do Brasil e da Rússia. Nenhuma economia cresce a 10% ao ano para sempre.
Também acho que economias como o Brasil poderiam ter feito mais para conter o crescimento dos gastos e o endividamento da população nos momentos de pico, para que houvesse mais espaço hoje para incentivar os gastos domésticos.

Um ano e meio após o lançamento de "Privilégio Exorbitante", o sr. acrescentaria algo à sua análise? Vimos o dólar se recuperar, em alguma medida, mas os obstáculos a manutenção de seu status como moeda internacional continuam lá.
A nova edição, que sai no mês que vem, terá um prefácio que responde isso. Claramente, o livro superestimou a perspectiva do euro em emergir como uma moeda internacional de primeira linha -- e ninguém que escrevesse há dois anos poderia imaginar quão incompetentes seriam os esforços da Europa em lidar com a crise.
Mas ele também subestimou o progresso que a China faria em internacionalizar o yuan. As iniciativas políticas mais recentes são impressionantes, e o yuan está aí, mais rápido do que se imaginava.
Apesar do debate sobre regulamentação do mercado financeiro, ainda há muita resistência dos grandes bancos privados. Episódios recentes, como o do HSBC, mostram que estamos longe do equilíbrio, embora haja mais atenção ao tema.

O que é necessário, no curto prazo, para garantir que o sistema financeiro não provoque outra crise, e quais são os obstáculos à regulamentação efetiva?
Os bancos são politicamente poderosos; nos EUA eles são grandes doadores e fazem parte das Comissões Bancárias do Senado e da Câmara, que criam as leis de regulamentação. Com isso, não surpreende que não tenha acontecido uma varredura dessas instituições nem mesmo depois da crise.
Eu gostaria de ver os grandes bancos quebrarem, a reinstituição adequada da Lei Glass-Steagall [promulgada em 1933 para conter a especulação e revogada em 1999] e exigências de capital muito maiores para esses bancos. Mas sou cínico demais para acreditar que ocorra na minha geração.

Alguns analistas e economistas preveem um colapso do euro. O sr. vê esse risco? E se as economias menores e mais problemáticas, como a Grécia, deixarem a zona do euro, isso pode levar a um colapso total ou, ao contrário, tornaria os demais países-membros mais saudáveis?
Certamente o risco está lá, menos pelas razões econômicas (os passos econômicos que a Europa precisa para resolver a crise são claros) e mais por razões políticas.
Há uma deterioração da confiança política na Europa: os países não confiam uns nos outros, e a população não confia em seus governos. Isso torna muito difícil, embora não impossível, implementar as políticas econômicas necessárias.
A essa altura, a saída da Grécia da zona do euro é praticamente certa, não porque não haja medidas econômicas para evitá-la, mas porque não há mais desejo político de evitar. Isso vai prejudicar o restante da zona do euro.
Uma vez que um país possa sair, os investidores começarão a perguntar qual é o próximo. A falta de confiança virará um problema que levará muito tempo para se resolver.

Qual seria a consequência de um colapso?
Honestamente, ninguém sabe, pois nunca houve o colapso de uma união monetária. Duvido que seja um processo ªadministrávelº. Os estragos seriam muito mais graves do que os causados pelo fim da conversibilidade na Argentina, em 2001-2 [quando o país abandonou a paridade cambial com o dólar e deu calote].

E se tudo der errado com o dólar e o euro, o que países como a China e o Brasil teriam de fazer para que suas moedas de fato se tornassem moedas internacionais?
Não acho que nem o yuan nem o real possam ser moedas internacionais de peso nos próximos 10 ou 20 anos. O Brasil e a China teriam de aumentar a escala de seus mercados financeiros, aumentar sua liquidez e fortalecer a estabilidade macroeconômica. A China teria de abrir comercialmente seus bancos e abandonar os controles de capital. O Brasil teria de acabar com os impostos à entrada de dinheiro estrangeiro. É um processo que levaria décadas, e não anos.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Delfim Netto, hoje, no VALOR ECONÔMICO.


Antonio Delfim Netto, hoje no VALOR, busca responder se o Brasil é manipulador de câmbio.
   
Este é um bom momento para lembrar como a introdução de um pouco mais de cuidado e realismo corrige as conclusões que se extraem automaticamente de modelos abstratos. Todos lembram a crítica feroz que sofreu o governo brasileiro quando sugeriu: 1) que existia uma espécie de "guerra cambial"; e 2) que o problema da subvalorização prolongada de algumas moedas (particularmente o yuan) deveria, sim, ser discutido na Organização Mundial de Comércio (OMC), uma vez que o FMI não tinha nenhum poder para fazer valer o seu papel de "vigilante" dos desequilíbrios fundamentais dos balanços em conta corrente. A surpreendente resposta do sistema financeiro internacional foi atacar o Brasil, por "exagerar na manipulação da sua moeda"!

A lição vem de um interessante e meticuloso trabalho do economista J.E.Gagnon, "Combating Widespread Currency Manipulation" (Peterson Institute for International Economics, Policy Brief 12-19, July 2012). O autor começa reconhecendo que, "ainda que as manipulações cambiais para aumentar o balanço comercial de um país sejam uma violação dos artigos do acordo que instituiu o Fundo Monetário Internacional (FMI), não existe, na prática como puni-lo". E continua: "O melhor fórum para produzir sanções contra as manipulações cambiais é a Organização Mundial do Comércio (OMC), em consulta com o FMI. Os países prejudicados por tais manipulações devem ser autorizados a impor tarifas alfandegárias às importações dos países manipuladores".

Uma curiosa sugestão de Gagnon é a alternativa de "taxar ou restringir a compra pelos países manipuladores de ativos financeiros dos EUA e da zona do euro", o que dificultaria e aumentaria os custos e os riscos da acumulação de reservas.

O importante no trabalho é a pergunta preliminar do autor: o que é, afinal, uma manipulação cambial? Ele formula uma definição cuidadosa: "Ocorre uma manipulação cambial quando um governo compra ou vende a moeda estrangeira para colocar a taxa cambial longe do seu equilíbrio, ou impedir que ela se mova para atingir aquele equilíbrio". E como ele define a "taxa de equilíbrio"?

"É aquela que é sustentável no longo prazo, ou seja, em que o balanço em conta corrente não está gerando aumento explosivo dos ativos estrangeiros líquidos relativamente à riqueza interna e externa. A sustentabilidade geralmente implica um pequeno valor para o balanço em conta corrente. Entretanto, as economias em rápido crescimento podem manter déficits em conta corrente, na medida em que seus passivos não cresçam mais do que o seu PIB e que tal passivo seja relativamente pequeno com relação aos passivos totais do mundo".

Que características têm que ter uma economia para ser considerada uma "manipuladora de câmbio"? O autor estabelece três condições que devem ser simultaneamente satisfeitas para que isso ocorra:

1) o país deve ter reservas externas que superem seis meses do valor de suas importações de bens e serviços;

2) o país deve ter tido, na média de 2001-2011, um balanço em conta corrente, como percentagem do PIB, maior do que zero. O autor exclui a possibilidade que o país possa estar tentando apenas reduzir o seu déficit em conta corrente;

3) o país deve ter visto crescer a relação reserva/PIB nos últimos dez anos.

Os países de "baixa renda" são excluídos da análise pelo princípio que eles devem ter maior liberdade do que os outros para implementar políticas de desenvolvimento, que podem ter externalidades negativas. Examinando os restantes países-membros do FMI e da OMC, J.E.Gagnon identifica 20 que satisfazem, simultaneamente, às condições para serem classificados como "manipuladores de câmbio". Ele os divide em quatro grupos:

1) velhas economias desenvolvidas, como Japão e Suíça;

2) novos países industrializados, como Israel, Cingapura e Taiwan;

3) os países asiáticos em desenvolvimento, como China, Malásia e Tailândia;

4) países exportadores de petróleo, como Argélia, Rússia e Arábia Saudita.

Para tristeza de alguns de nossos economistas, o Brasil não é classificado como "manipulador" por lhe faltar a condição "2" acima. Não acontece o mesmo com a Argentina, com a qual temos, não sem alguma razão, exercido uma paciência chinesa.

O Brasil talvez tenha exagerado, mas não mentiu: 1) uma certa "guerra cambial" existe; 2) é preciso mesmo envolver a combinação FMI-OMC (câmbio e tarifa) para enfrentá-la e restabelecer o equilíbrio do comércio internacional; e 3) cometeu apenas pecado venial. Salvou-se do pecado capital da "manipulação" por uma análise mais profunda e cuidadosamente isenta do viés antigoverno que continua a dominar alguns de nossos analistas.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Previsão PIB 2012: 1,90%?


Relatório FOCUS divulgado hoje pelo BACEN manteve a previsão de crescimento do PIB em 1,90% para 2012.

A China pode comprar o resto do mundo?


Sim. (Porém, espero que não).   

A China não está mesmo para brincadeira e mais uma vez foi destaque na página de negócios do NYT: Cnooc to Acquire Nexen for $15 Billion.

Por aproximadamente US$ 15,1 bilhões a chinesa Cnooc vai comprar a canadense Nexen.

E para complicar mais o assunto, a compra é em uma área estratégica para qualquer governo: energia, principalmente petróleo.   

A venda ainda depende de outros países, entre os quais os Estados Unidos, mas dinheiro não falta aos chineses.

Agora, tudo é uma questão de política. 

domingo, 22 de julho de 2012

Entrevistas do Sachsida.


Parabéns ao Adolfo Sachsida pela série de entrevistas que ele vem postando no seu blog http://bdadolfo.blogspot.com.br/ com grande nomes da economia, tais como o Mario Jorge Cardoso de Mendonça - Samuel Pessoa - Cristiano M. Costa - Irineu de Carvalho - Gustavo Franco - Marco Bittencourt - Rogério Boueri Miranda - Leonardo Monasterio - Mansueto F. de Almeida Junior e Alexandre Schwartsman, todos comentando sobre se a década de 1970 está voltando.


Uma aula com Paul Krugman.


Neste final de semana estou lendo “Um basta à depressão econômica – Propostas para uma recuperação plena e real da economia mundial”, lançado aqui pela Campus/Elsevier. É impressionante o didatismo e o cuidado para se fazer entender que Paul Krugman busca demonstrar no livro. Com referências a diversos filmes e mostrando que também ele é personagem deste momento econômico, o texto aborda a política econômica no que ela pode fazer agora e não explicar em profundidade como a crise aconteceu.

Independente da linha de pensamento econômico que você tenha, recomendo sem restrições. Afinal, como Krugman cita, “o que minha profissão mais conhece é a oferta e a demanda – sim, há muito mais em economia, mas essa é a primeira e principal ferramenta de análise”. E isso vale para keynesianos ou não.

Economistas, todos sabem, conhecem o preço de tudo e o valor de nada.      

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O Brasil visto pela The Economist.


Leio no UOL repercussão de matéria publicada nesta semana na THE ECONOMIST.

Em clima de Olimpíadas, a revista britânica The Economist diz que o desempenho econômico recorde de alguns países emergentes na última década teria sido "à base de anabolizantes".

O artigo, publicado na edição desta sexta-feira (20) e intitulado "A Grande Desaceleração", faz uma analogia com o atletismo, dizendo que, diante do crescimento econômico dos Brics, os países emergentes se notabilizaram como "os melhores velocistas do mundo".

Segundo a revista, a China "mal notou" as séries crises que fizeram "derrapar" os Estados Unidos e depois a Europa.

"Outras grandes nações desenvolvidas pausaram para respirar brevemente. Investidores apostaram pesado no crescimento rápido em mercados emergentes, enquanto líderes, de Pequim a Brasília, pregavam ao mundo as virtudes de seus modelos econômicos centrados no estado", diz a revista.

Os recentes desempenhos decepcionantes de China e Índia são sinais de que os "velocistas" da economia mundial começaram a "ofegar". "O Brasil virtualmente estagnou", diz a revista.

É nesse contexto, fazendo um retrospecto do bom momento vivido pelos emergentes antes da nova realidade, que a revista faz a analogia com o uso de drogas que melhoram o desempenho esportivo.

"Uma dessas drogas foi o apetite da China por matérias-primas, que criou uma explosão que sobrecarregou muitos mercados emergentes", diz o artigo.

No caso brasileiro, a droga usada teria sido "a oferta doméstica de crédito", realizada em grande parte pelos bancos estatais. A revista lembra que em 2010, o país foi forçado a reverter a política e aumentar os juros.

A publicação lamenta que a crise no mundo financeiro tenha sido interpretada como uma razão para manter um papel mais forte do estado: "No Brasil a empresa estatal petrolífera, Petrobras, e os bancos estatais têm se tornado subordinados às políticas governamentais".

"Ter tamanha influência sobre a economia é realmente útil durante a crise, mas em 'corridas longas' vai sufocar a concorrência, secar o capital do setor privado, deter o investimento estrangeiro e o novo, e alimentar a corrupção", defende o artigo.

A Economist ainda aconselha uma manutenção da disciplina macroeconômica e o retorno às reformas microeconômicas como uma preparação para a "maratona", numa perspectiva de longo prazo.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sem paliativos.


Editorial de hoje no GLOBO comenta sobre a atual situação econômica brasileira e alerta para a necessidade de ajustes internos, considerando que a crise internacional pode continuar por vários anos.     

Por algum tempo, o governo alimentou a ideia que o Brasil poderia continuar crescendo, alheio à crise financeira internacional, até porque o país estaria mais voltado para a Ásia, onde a demanda por nossas exportações continuava firme e forte. Era, evidentemente, uma ilusão, pois seria apenas uma questão de tempo a Ásia também sentir os efeitos da crise.

E foi o que aconteceu. Diante da perspectiva de baixo crescimento nos mercados mais desenvolvidos, as economias asiáticas, muito impulsionadas por exportações, não têm conseguido manter o mesmo ritmo acelerado de expansão do passado. A Ásia certamente permanecerá com mais dinamismo e vigor do que outras partes do mundo, mas não mais a ponto de provocar uma pressão de demanda explosiva, capaz de sustentar as cotações de matérias-primas industriais e agrícolas lá nas alturas.

A participação do comércio exterior no conjunto da economia brasileira é relativamente pequena, mas é essa troca de mercadorias que na verdade funciona como força motriz do crescimento. Historicamente, é a partir do impulso das exportações que o mercado doméstico ganha velocidade.

Sem esse impulso, o governo tem recorrido a medidas pontuais para estimular o consumo interno de segmentos industriais que viram a sua demanda minguar nos últimos meses. Setorialmente são iniciativas que até podem ser válidas, desde que vistas como paliativos, de efeito passageiro. Não será com tais estímulos que a economia recuperará o impulso de crescimento sustentável.

O nó da questão está nos investimentos. Mesmo com ritmo de crescimento moderado, a economia brasileira se depara com muitos gargalos em sua infraestrutura. Sem removê-los, a economia sempre enfrentará dificuldades quando tentar crescer mais rapidamente.

Viabilizar investimentos, públicos e privados deveria ser o foco da política econômica, e para tal há desafios importantes a serem superados. O principal deles é um aumento de poupança doméstica. Para financiar investimentos, a economia brasileira não pode contar indefinidamente com o reforço da poupança externa. A prática nos mostra como os humores dos mercados financeiros mudam, às vezes até sem fundamento.

O Brasil tem um nível de poupança doméstico baixo, entre outras razões porque a economia do país teve que conviver, por anos a fio, com um desequilíbrio estrutural nas finanças públicas. Em vez de financiar investimentos, parte da poupança doméstica foi deslocada para a cobertura dos déficits governamentais.

A conjuntura atual tem favorecido a redução desses déficits, pois o componente financeiro tende a diminuir com a queda das taxas básicas de juros. Então, o país está diante de uma oportunidade para ampliar a poupança doméstica, redirecionando-a para investimentos. Nesse caso, o governo terá de redobrar a atenção com os gastos de custeio, não cedendo a pressões para a concessão de aumentos de salários ou concessão de benefícios. Se cair na tentação populista, perderá a oportunidade, e dificilmente a economia brasileira encontrará outro caminho para assegurar um razoável ritmo de crescimento nesse ambiente de crise internacional, que pode perdurar ainda por vários anos.

domingo, 15 de julho de 2012

A reinvenção dos Estados Unidos.


Editorial de hoje na FOLHA DE S. PAULO mostra que a economia mais rica do mundo ainda busca novas fontes de dinamismo para manter criação de empregos e enfrentar rivais asiáticos

Apesar das seguidas frustrações das expectativas de que, enfim, a economia dos EUA retomava seu ritmo normal, após a tragédia de 2008, o desempenho é melhor que o de outras economias avançadas.

Descartou-se nova catástrofe, risco ao qual a Europa se sujeita a cada semestre. Tampouco se cogita uma estagnação à moda japonesa.

Mais versátil, flexível e competente ao lidar com problemas do seu sistema financeiro, a economia americana será ao final deste ano 2,8% maior do que era em 2007. Parece pouco, mas a produção econômica na eurozona ainda será cerca de 1% menor.

Embora previsões de longo prazo sejam ainda menos confiáveis neste início de século de convulsões econômicas frequentes, estima-se que, do início da crise até o ano 2020, os Estados Unidos cresçam mais de 21%. A zona do euro, 7% -menos de um ano de crescimento do PIB chinês.

Ainda assim, os americanos estão atônitos diante da mais lenta reação a uma crise desde a Segunda Guerra Mundial, excetuada a recessão de 1980, no entanto menos profunda. A taxa de desemprego de longa duração é a maior desde os anos da guerra.

A depressão no setor imobiliário é a maior de que se tem registro. A venda de casas caiu a um quarto do pico de 2006, tendo baixado desde 2008 a níveis verificados nas recessões de 1982 e 1970, quando o país era bem menor.

Há controvérsia acerba sobre os motivos do desemprego persistente, ainda na casa dos 8,2%. É quase o dobro do verificado nos melhores momentos da década passada.

De um lado, economistas consideram que parte das profissões se tornou obsoleta. O desemprego será maior -"estruturalmente maior", diz-se- enquanto não houver mudança geracional ou requalificação dos trabalhadores.

Na oposição à tese estão aqueles para os quais o desemprego é cíclico, derivado do baixo crescimento, por sua vez devido à falta de demanda, de consumo. No momento, apenas o governo poderia incentivá-la, com um aumento transitório da dívida pública.

Posto desse modo, o debate se esquiva da pergunta óbvia a respeito da sustentabilidade do crescimento anterior à recessão.

O desemprego então baixara de modo impressionante, com inflação e taxas de juros contidas. Mas o país financiava seu consumo com bolhas financeiras, excesso de dívidas privadas e públicas e gastos militares crescentes, além de deficit externos. Os americanos sustentavam parte importante de seu consumo com crédito estrangeiro, da China em particular.

Mais americanos passaram a trabalhar em tempo parcial. O salário médio cresceu lentamente. Benefícios sociais foram cortados.

Mesmo economistas mais favoráveis a uma economia aberta e flexível passaram a reconhecer, pouco antes da crise, que a globalização tinha seu preço, pago pelo trabalhador comum. Empregos industriais, e mesmo de serviços, foram e são transferidos para nações ditas emergentes.

Parece evidente que parte do desemprego, do achatamento salarial e do baixo crescimento se deve à conjuntura. Governo e famílias ainda reduzem dívidas. O mundo cresce mais devagar, e as recaídas europeias abalam a confiança de empresários e consumidores.
Outro fator de desemprego e redução da população economicamente ativa talvez seja mais duradouro. A geração do "baby boom" (nascimentos no pós-Guerra) se aposenta em massa; parte dela desistiu de procurar novo emprego.

Os trabalhadores mais antigos restantes, mesmo que retreinados, iriam empregar-se onde? E os jovens? Qual seria o novo setor dinâmico, capaz de atrair maciços investimentos para liderar o crescimento em geral da economia?

O setor mais inovador, de tecnologia, cria poucos empregos. E a industrialização da vizinhança da China, ainda mais atrasada, continuará a prejudicar fábricas americanas dos ramos convencionais.

O investimento insuficiente é um fator importante da lenta recuperação. Grandes empresas relutam em investir, apesar de seus balanços saudáveis, pois temem o retraimento do consumidor.

A redução dos gastos federais e os brutais cortes de despesas em Estados e cidades afetam tanto a contratação de empresas quanto o consumo das famílias. A poupança baixa desde os anos 1980.

A demanda externa não se apresenta como alternativa, pois a Europa estará em crise por vários anos, e a China continuará a reduzir seu ritmo de crescimento.

Fatores estruturais afetam, sim, o potencial de crescimento. O ritmo de ampliação da mão de obra cai, dados o envelhecimento da população e a redução da taxa de nascimentos. Tudo o mais constante, parece que a nova normalidade americana será de crescimento em ritmo mais baixo.

Os EUA têm pela frente ao menos meia década de ajustamento das contas públicas, demografia menos favorável, gastos crescentes com idosos e concorrência externa que pode tragar empregos em setores tradicionais.

A economia americana, contudo, reagiu nos anos 1980 à onda japonesa. Reinventou-se, e ao mundo, com as inovações de suas empresas de tecnologia de informação. Por ora, no entanto, a perspectiva mais normal para os EUA aponta para uma economia entrando na terceira idade: madura e mais lenta, embora ainda saudável -e extremamente rica.

sábado, 14 de julho de 2012

PIB 2012: 1,8%?


Leio no UOL o ex-presidente do BACEN Gustavo Loyola comentando sobre o PIB 2012. 

Após dois semestres de baixíssimo crescimento, a economia deve apresentar números bem melhores nos próximos meses, acredita Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria Tendências.

No entanto, afirma, gargalos como infraestrutura ruim e falta de mão de obra qualificada devem impedir que o país cresça a taxas acima de 4% no longo prazo.

Folha - A economia vai engatar no segundo semestre?
Gustavo Loyola - Sim, existe um estímulo monetário bastante grande e alguns estímulos de redução de impostos. Como o mercado de trabalho está bem, não vejo porque a economia não vá apresentar números muito melhores neste semestre. 
O número que vai ficar feio no final é o crescimento do PIB, que fechará em 1,8% ou menos. Mas esse número, como é uma média do ano, tem muito de história passada.

E a partir de 2013, o PIB volta a crescer a taxas maiores?
Depende do cenário internacional. A gente pode entrar numa gangorra [oscilar entre taxas altas e baixas] se formos para um crescimento muito acima de 4% ano que vem. Eu acho que se ficarmos em 4%, ou um pouco abaixo disso, é possível manter essa taxa de crescimento na média ao longo de 2013, 2014.
No longo prazo, a gente já começa a ter um pouco mais de dificuldade, por causa da oferta apertada de mão de obra, dos problemas de infraestrutura. Se a oferta não acompanha o crescimento, você cria gargalos que acabam eles mesmo servindo de obstáculo ao crescimento.

Há espaço para o país crescer a taxas maiores, como em alguns anos do governo Lula?
Mesmo com o efeito positivo da forte valorização das commodities, nunca chegamos à capacidade de crescer de forma sustentada acima de 4,5%. Os anos em que isso aconteceu foram períodos de recuperação cíclica.
O ciclo de reformas [dos anos 90] elevou nossa capacidade de crescimento de 3% para mais de 4%. Uma melhora substancial, mas não tornou o Brasil uma China. Só que o efeito dessas reformas se dilui no tempo. São necessárias novas reformas que aumentem o investimento.

O que o governo não deve fazer para acelerar o crescimento no curto prazo?
É preciso preservar o regime de metas de inflação. Ele ajuda a manter a inflação baixa e reduz as incertezas sobre o futuro, o que é fundamental para gerar investimentos.

A taxa de juros deve cair mais?
Tem espaço para corte até 7% [hoje a Selic está em 8%]. Há risco para a inflação, mas é difícil interromper a queda, pois não há muita certeza sobre se o pior da crise passou.

domingo, 1 de julho de 2012

Moisés Naím e Martin Wolf numa conversa econômica.

Uma conversa entre MOISÉS NAÍM e MARTIN WOLF merece ser divulgada pelo menos para os meus quase ainda dois fieis leitores. Abaixo matéria obtida no UOL on line.

A crise transformou alguns comentaristas econômicos em personagens de fama mundial. Um deles é Martin Wolf, o principal editorialista econômico do Financial Times e certamente um dos colunistas mais influentes do momento. Conversei com ele alguns dias atrás em Istambul. "Que aspectos da crise o surpreenderam?", perguntei.
*
Martin Wolf - O pouco capital próprio que possuíam os bancos e outras instituições financeiras, para os riscos que assumiam. Captavam dinheiro a curto prazo e o colocavam no longo prazo. Eu tinha voltado toda minha atenção à macroeconomia e não vi o que estava acontecendo com a microeconomia. Esse é o maior erro que cometi em minha carreira. Meu outro erro foi não ter me dado conta de quão fracos e inadequados eram os controles e regulamentos dos bancos.

Que responsabilidade têm os jornalistas nesta crise?
Eles cometeram muitos erros de omissão. Deveriam ter sido muito mais agressivos e rigorosos na fiscalização dos bancos, os reguladores, etc. O problema é que, em geral, os jornalistas sabem pouco de economia e finanças.

Mas os economistas mais renomados tampouco se cobriram de glória. Nem previram a crise nem entraram em acordo quanto a como administrá-la. Quais foram as exceções?
Nouriel Roubini alertou desde cedo sobre as bolhas nos preços de certos ativos financeiros e sua relação com o endividamento e percebeu que essa mistura era explosiva. Robert Shiller analisou melhor que ninguém o que estava acontecendo no setor imobiliário. E Raghuram Rajan soou o primeiro alarme sobre a fragilidade do setor financeiro e explicou como ele estava se convertendo em ameaça à estabilidade global. Na realidade, porém, houve muitos outros. E a verdade é que a economia ortodoxa mostrou não ter utilidade para explicar o que acontece.

Mas os chefes de Estado precisam administrar a situação, mesmo que as recomendações que os economistas lhes dão sejam de qualidade duvidosa. Como o sr. qualifica a administração da crise feita por George W. Bush, Barack Obama, Wen Jiabao e Angela Merkel?
Bush, reprovado. Obama e Wen Jiabao, aprovados. Merkel, aprovada como líder da Alemanha e reprovada como líder europeia.

Mas Obama está sendo criticado ferozmente pelo modo como administra a economia.
De fato. Seus críticos argumentam que a recessão dos EUA deveria ter sido mais curta e a recuperação mais veloz e vigorosa. Mas, com base na experiência histórica e na análise objetiva, a crise que Obama herdou deveria ter causado uma recessão ainda mais profunda que a que houve, e provavelmente até uma forte depressão. Obama conseguiu evitar essa catástrofe, e, desde que a crise começou até agora, a economia americana é a que mais se recuperou, em comparação com as dos outros cinco países mais avançados.

Nesta crise, os chefes dos bancos centrais se transformaram em atores fundamentais. Quem são os melhores banqueiros centrais do mundo?
Ben Bernanke, o diretor do Federal Reserve dos EUA.

Quem mais?
Os outros estão em outra categoria. Bernanke vem fazendo um trabalho excepcional.

Paul Krugman argumenta que uma política monetária e fiscal mais expansiva reduziria o nível de desemprego nos Estados Unidos. Raghuram Rajan pensa que muitos dos empregos que desapareceram na crise não poderão mais ser recuperados --que são produtos de mudanças estruturais e tecnológicas. Quem tem razão?
Os dois. Krugman ao afirmar que os EUA podem e devem fazer mais através de gastos públicos e da política monetária para aumentar o emprego. E Rajan ao dizer que a economia dos EUA se transformou de tal maneira que muitos empregos de antes não vão mais existir e que, a longo prazo, é preciso criar postos de trabalho em outros setores.

Dentro de dez anos, que país vai ter uma economia com mais crescimento, Espanha ou Itália?
Espanha.

E entre China e Índia?
Índia.

Estados Unidos ou Alemanha?
Estados Unidos.

E, já que estamos na Turquia, um país que vem tendo um desempenho econômico espetacular, como o sr. vê a situação aqui?
Insustentável. A Turquia sofre de desequilíbrios econômicos profundos, e seu enorme déficit de conta corrente é um sintoma desse fato.

E a Europa?
Vejo três cenários: mais Europa, mais do mesmo ou reformas limitadas. O primeiro é uma Europa mais federal, o segundo é a Europa das contínuas cúpulas de líderes em que não se decide nada de fundamental ou "grande", e o terceiro supõe que os países vão acordando reformas parciais que permitam ir resolvendo os problemas mais graves; é o que chamo de "o status quo e algo mais". É este o cenário que vejo como o mais provável.

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Economia brasileira 2012.

LUIZ CARLOS DELORME PRADO, professor do Instituto de Economia da UFRJ e Ph.D em economia pela Universidade de Londres, escreveu esta análise especialmente para a FOLHA DE S. PAULO. 

O Brasil não é uma ilha, e a crise econômica mundial chegou ao país.

A desaceleração da economia brasileira tem duas causas: as ondas de choque da crise econômica internacional e a combinação dos efeitos domésticos da menor expansão do consumo das famílias e da queda dos investimentos públicos e privados.

A crise mundial começou com o crash do mercado imobiliário norte-americano (a crise do "subprime", hipotecas de alto risco) e alcançou a Europa. Afetou, inicialmente, o mercado financeiro e depois as contas públicas dos países mais vulneráveis.

Numa segunda fase, a crise vem ameaçando a existência do euro, mas também levou à desaceleração do crescimento dos Brics, embora de forma diferenciada.

O Brasil respondeu com sucesso à crise nos EUA depois do crash de 2008, com o aumento do consumo doméstico. O aumento da classe média, em decorrência do crescimento econômico e das políticas sociais do governo, favoreceu essa resposta.

Após as famílias terem respondido aos estímulos do governo com grande expansão do consumo -em parte, desperdiçado com uma taxa de câmbio sobrevalorizada-, o endividamento das famílias ficou elevado para as condições brasileiras.

Segundo dados do Banco Central, o estoque de crédito atual é de R$ 2,136 trilhões (maio de 2012), tendo alcançado 50,1% do PIB. Portanto, não há muita margem de crescimento por esse lado.

No momento, não é possível recuperar o crescimento econômico, a curto prazo, por meio de aumento do consumo privado. Resta o aumento do investimento.

O governo tenta aumentar o investimento privado por meio da redução da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), reduzindo o custo dos empréstimos do BNDES.

A resposta a esse estímulo, porém, dificilmente será suficiente para produzir efeitos significativos na economia.

O governo não tem, portanto, outra alternativa a não ser aumentar o gasto público.

As cidades brasileiras precisam de investimento em transporte de massa, há carência de investimento em saneamento, necessidade de reformar e ampliar as estradas e os portos no Brasil. Por diversas razões, no entanto, o governo não tem conseguido aumentar o investimento de sua responsabilidade.

Como última saída, decidiu-se realizar gastos de curto prazo na aquisição de bens e serviços. Segundo a Folha, o governo aumentará as compras em R$ 8,4 bilhões este ano -comprará tratores, ambulância, trens, ônibus etc.

A medida é bem-vinda e necessária. Mas muito pouco e muito tarde.

Consumo e Satisfação.

O colega Guilherme da Luz, editor do site http://www.emprestimo.org/author/guilherme-da-luz, que trata de assuntos como Empréstimo Consignado, Empréstimo Pessoal, Seguro Desemprego, Plano de Saúde, entre outros, escreveu este artigo especialmente para o nosso blog.


Consumo e satisfação - A paixão e a busca incessante da felicidade movem a economia.
           
A ambição é uma paixão. Ela é considerada positiva para os negócios, louvada por significar atitude de constância e determinação. A busca incessante da felicidade, empreendida pelo homem, ser insatisfeito por natureza, é um mecanismo que vem sendo cada vez mais explorado pela mídia e pelos profissionais da publicidade, que sabem atiçar a sede por prazer e novidades, que nunca se extingue no consumidor. Se o dinheiro não existe, sugere-se um empréstimo ou financiamento!

O consumidor busca a satisfação na sua vida pessoal, mas quer ver resultados satisfatórios também na vida pública. Os índices de popularidade do governo são bons exemplos disso. O consumidor se manifesta sobre a política de juros, o peso dos impostos, a perspectiva de inflação ou as políticas econômicas. A opinião dos consumidores e cidadãos pode ser medida pelos índices mais baixos ou mais altos na popularidade do governo.

Muitas vezes o desejo de manifestar ao mundo, aos amigos e a si mesmo a capacidade para expressar convicções acerca de alguma questão pública é o que sustenta o indivíduo a participar diretamente das decisões coletivas e políticas. A mesma paixão com que o indivíduo trata seus interesses privados pode motivar seu interesse pela participação na vida pública. Sua energia pode ser canalizada para temas que lhe tragam satisfação e vitalidade. Até mesmo a decepção é importante para o comportamento, movendo os cidadãos a se integrarem a objetivos coletivos, deixando de lado seu egoísmo.

Existem momentos em que o esforço pelo bem estar coletivo, movido pela paixão, confere um prazer que por si só justifica a luta. Essa “luta” é o esforço para alcançar o objetivo, apesar do sucesso em nenhum momento estar assegurado. Na vida pública, por vários motivos, parece que a própria participação é mais atrativa do que os objetivos a serem alcançados. Seja por vaidade, pela busca da compensação de frustrações na vida privada, ou pelo reconhecimento que o poder confere, o fato de estar em evidência e “lutando” parece trazer felicidade e gratificação. Os esforços em prol da felicidade pública associam-se a uma considerável realização.

A maior parte das pessoas cresce com a sensação de que a realidade existente não pode ser mudada ou que cada um é impotente para fazer ocorrer essa mudança. A percepção de que é possível agir para mudar a sociedade ou melhorá-la e a oportunidade de união com outras pessoas que pensam de forma semelhante é agradável e atrativa. Não é necessário nem mesmo que a sociedade seja mudada em curto prazo, basta agir como se isso fosse possível. Muitas vezes os esforços ou a luta para alcançar os benefícios podem frequentemente passar a serem vistos como parte dos próprios benefícios da ação.

O problema é que os bens coletivos podem ser aproveitados por todos e muitos acomodados e conformistas aproveitam a carona de outros, que se empenham tomando iniciativas. Muita gente se comporta com indiferença, esperando que outros trabalhem. Quantas vezes vemos que o interesse em participar só aumenta quando se oferecem brindes, prêmios, descontos especiais, incentivos como assistência jurídica, auxílio moradia ou planos de saúde.

Como poderíamos interpretar o interesse em trabalhar para conseguir bens que beneficiam a todos, sem que haja retorno material imediato? Do ponto de vistaeconômico, um indivíduo somente fará sacrifícios, com gasto de tempo e dinheiro quando pode usufruir de benefícios diretos em um grupo. Se isso fosse verdade, dificilmente um cidadão, em algum momento, se dedicaria à vida pública sem obter privilégios pessoais com essa atividade. Para a mentalidade empresarial e capitalista, é difícil entender como os resultados podem não ser a gratificação que o indivíduo busca, e que a felicidade pode estar no esforço empregado para alcançá-los, ou na soma desses fatores.

Plano Real: 18 anos.

Clayton, diretamente de Fortaleza, do nosso jornal O POVO, e sua homenagem ao R$. 
 

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...