Sabe-se o que é uma recessão –a queda
aguda, ampla e prolongada da atividade econômica. Nem sempre se pode determinar
com exatidão, entretanto, o momento em que uma se inicia ou se encerra.
Torna-se consensual, de todo modo, o
diagnóstico de que chegou ao fim o devastador ciclo recessivo experimentado
pelo Brasil. Documento recém-elaborado por um comitê de estudiosos, reunido na
Fundação Getulio Vargas, avalia que o período de contração estendeu-se do
segundo trimestre de 2014 ao fim de 2016.
A demora em se chegar a tal conclusão
dá ideia de como o setor produtivo ainda está debilitado. Investimentos
empresariais se mantêm em baixa; a expansão da indústria e do comércio é tíbia;
o desemprego cai, mas graças à criação de vagas sem carteira assinada.
Uma crise tão brutal deixa sequelas
duradouras, que transcendem o campo econômico.
Até onde os dados alcançam, a recessão
que ficou para trás figura entre as quatro maiores vividas pelo país desde o
século 20 –e é candidata à condição de pior delas.
Não há mais do que estimativas
precárias acerca da derrocada de 1930-31, quando a Grande Depressão americana
derrubou as exportações do café. Mas não restam dúvidas quanto a seu impacto:
findava ali a República Velha, baseada no poder agrário.
Comparações mais precisas se podem
fazer a partir dos anos 1980, quando o Produto Interno Bruto nacional começou a
ser medido em bases trimestrais. O período compreende ainda a ruína do modelo
de desenvolvimento fomentado pela intervenção estatal.
De acordo com os critérios do Comitê de
Datação de Ciclos Econômicos (Codace, abrigado pela FGV), somente a retração de
1981-83 rivaliza em intensidade com a de 2014-16, quando o PIB encolheu
assustadores 8,6%. Em duração, o ciclo recessivo mais recente iguala o recorde
de 11 trimestres apurado entre 1989 e 1992.
O cotejo merece ressalvas, contudo, dado
que o cálculo do produto passou por expressivas mudanças de metodologia no
período. Ademais, o crescimento populacional acelerado nas décadas anteriores
implicava taxas maiores de queda da renda por habitante.
Fato é que recessões de tal calibre
escancaram profundas fragilidades e equívocos da gestão econômica, dos quais
resultam desequilíbrios como excesso de dívidas ou descontrole da inflação.
No caso presente, um colapso
orçamentário ainda a ser superado –o que não se dará sem conflitos e
transformações políticas.
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