Carlos Pio foi na Universidade de Brasília meu professor e orientador, além de ser um brilhante intelectual. Após longos meses retorna ao Brasil agora em pleno Dilma II. Recentemente publicou no Correio
Braziliense a sua visão da atual situação econômica e política brasileira. Crítico severo da então política econômica de Dilma I, mantém um otimismo que esperamos ser realizado a partir de 2015.
O PT ganhou
a eleição presidencial, mas um economista ortodoxo vai mandar na economia. Essa
parece ser a conclusão após a nomeação de Joaquim Levy para a Fazenda. Ph.D. em
economia por Chicago, a mais ortodoxa escola do planeta, Levy trabalhou para o
FMI, para FHC e, sob o comando de Palocci, para Lula.
Espera-se
dele que reverta o arremedo de política macroeconômica legado por Guido
Mantega. Solução de mediocridade para o "escândalo do caseiro", que
derrubara Palocci, Mantega foi ficando no cargo porque interessou tanto a Lula
- que usava seu nome para amainar o esquerdismo anacrônico do PT - quanto a
Dilma, que com ele na cadeira de ministro tocava, no grito, uma política
econômica dita desenvolvimentista.
Diga-se de
passagem que, no Brasil, desenvolvimentismo sempre significou a submissão
completa dos cidadãos mais pobres aos caprichos da ineficiente indústria
paulista. Dilma, Mantega, Belchior e Pimentel montaram o pior time econômico de
que se tem notícia desde a redemocratização e propagaram uma visão de mundo
campineira, contra a qual, bem ou mal, se remava desde a abertura comercial de
1990. Escolhidos a dedo, nenhum dos assessores de primeiro ou segundo escalão
tinha currículo acadêmico ou experiência profissional capaz de fazer sombra às
parcas credenciais da presidente.
A cabeça de
Mantega foi pedida por todos os que viam nele um medíocre fanfarrão. No
entanto, além de aplacar a fome de poder da governanta, sua permanência por
longos 9 anos servia para sinalizar ao mercado que Dilma só faz o que quer.
Tanto foi assim que, na sequência ao anúncio de Joaquim Levy para comandar a
Fazenda, Gilberto Carvalho proclamou: "Quem governa é a presidenta (sic!),
não é o ministro. Ministro não tem autonomia para fazer uma política própria,
ele faz uma política dirigida pela presidenta, discutida com a presidenta e, ao
fim, resolvida pela presidenta (sic! sic! sic!)".
A obviedade
da advertência não é senão a tentativa da cúpula do PT de se mostrar altiva e
soberana na hora em que, literalmente, entrega as chaves do cofre ao velho
adversário. Mesmo que todos saibamos que Dilma se sujeitou à necessidade de dar
qualidade à política econômica, não podemos entender no gesto da presidente o
abandono nem do estilo gerentona nem do ranço estatista e dirigista que ela
própria imprimiu ao seu primeiro mandato. Dilma se considera uma
"economista com perfil tecnocrático" - e não importa que não
disponha de diploma ou realizações para darem respaldo à fantasia.
Mas nem tudo
está perdido. Pela primeira vez desde que Henrique Meirelles deixou o Banco
Central em 2009, a economia será governada por alguém que, gozando de
impecável reputação profissional, não se sujeitará a interferências políticas
infundadas, mesmo quando provenientes da mais alta autoridade da República.
Ungido ao topo da administração exclusivamente pela reputação como gestor
competente e de ideias sensatas, Levy não afagará nem acomodará as diatribes da
presidente.
Seu foco
deverá ser nos resultados que pretende impingir às estatísticas econômicas nuas
e cruas: inflação declinante e crescimento ascendente; superavit primário
crescente; queda nas taxas de risco país e de juros futuros; manutenção do grau
de investimento; restabelecimento do equilíbrio nas transações correntes;
retomada do investimento privado e da confiança do consumidor.
O que se
espera do ministro é apenas que seja capaz de desbastar o matagal de medidas
inconsequentes implementadas por Mantega desde que passou a dividir a gestão da
economia com a presidente. O que vai determinar se esses objetivos serão ou não
obtidos é a capacidade de Levy para manter Dilma longe da economia.
Infelizmente,
de Levy não se espera que promova uma guinada de 180º na estratégia econômica
do país, algo essencial para inaugurar uma rota de crescimento vigoroso e
sustentável que poderia ter início já em 2015. Afinal, isso requereria diversas
reformas que Dilma e o PT jamais avalizariam.
Cabe
destacar: ambiciosa abertura comercial, gradual e unilateral; transformação do
Mercosul em mera área de livre comércio; desmonte imediato do balcão de
concessão de privilégios em que se transformou o BNDES e sua transformação num
financiador da produtividade do trabalhador; desregulamentação da economia,
especialmente a simplificação tributária e o fim das isenções concedidas a
setores específicos; gradual eliminação de toda e qualquer restrição à compra,
venda, depósito bancário e poupança em moeda estrangeira.
Sem reformas
desse calibre, as empresas e os trabalhadores brasileiros seguirão ineficientes
e pouco integrados à economia global. E seguiremos crescendo menos do que quase
todo o mundo.