Sugestão de leitura para o próximo feriado: a 4ª edição do Princípios de Economia dos autores Robert Frank e Ben Bernanke (atual presidente do FED). O lançamento é de 2012 e com 892 páginas.
domingo, 29 de abril de 2012
sábado, 28 de abril de 2012
As cotas de Schwartzman.
Recebo e leio com atenção os textos do sociólogo e presidente do Conselho do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), Simon Schwartzman. Evidentemente muitos concordarão com a mensagem abaixo, enquanto outros serão veementemente contrários. Por entender que o problema maior do Brasil é a educação ou, melhor dizendo, a sua falta, compartilho com os meus dois fiéis leitores a ideia do Schwartzman, também colega blogueiro no http://www.schwartzman.org.br.
A decisão unânime do STF em favor
das cota raciais no ensino superior confirma, infelizmente, a tradição
brasileira de dar soluções aparentemente simples e populares a questões
complexas e difíceis, como são as da má qualidade e inequidade no acesso à
educação no Brasil. Decisões do STF são para ser acatadas, claro, mas ninguém
fica obrigado a concordar com elas. Escrevi um texto em 2008 aonde mostro
como esta política de cotas é, no mínimo inóqua e potencialmente prejudicial,
que está disponível
aqui., e acho que continua válido.
Um argumento curioso que se ouve com
frequencia a favor das cotas é que o desempenho dos alunos que entram nas
universidades por este sistema tende a ser igual ou melhor do que dos que
entram pelos procedimentos normais. É curioso porque, se eles têm realmente
melhor desempenho, não precisariam das cotas para ser admitidos. Se eles
têm pior desempenho nos vestbulares ou no ENEM mas têm melhor desempenho nos
cursos, isto indica que existem sérios problemas no ENEM e nos exames
vestibulares, que precisariam ser corrigidos. Problemas deste tipo certamente
existem, mas não há evidência de eles consistam em discriminar sistematicamente
contra pessoas de pele escura. Para entender melhor o que está ocorrendo seria
preciso observar se a baixa correlaçao entre resultados dos exames de ingresso
e desempenho se dá igualmente em todos os níveis ou somente nos cursos de
níveis de exigência mais baixo.
Hoje o jornal O Globo publica uma
pequena entrevista minha sobre o assunto, que tanscrevo abaixo.
A cota cria situações de pessoas que se sentem
discriminadas’
O Globo – 27/04/2012
Simon Schwartzman, diz ser contra a adoção de cotas raciais
em universidades. Na opinião dele, elas acabam gerando mais discriminação.
O GLOBO: Por que o senhor é contra
as cotas nas universidades ?
SIMON SCHWARTZMAN: Não acho que
cotas sejam uma coisa boa em geral. Considero correta a ideia de uma política
de ação afirmativa que dê atendimento especial para pessoas em situação de
carência. O que não acho correto é diferenciar as pessoas pela cor da pele
ou pela raça.
Que medidas seriam mais adequadas
que as cotas?
SCHWARTZMAN: Mais adequado seria
melhorar a educação para as pessoas poderem chegar à universidade e não
precisarem desse tipo de ajuda. Na falta disso, poderiam ser criados cursos que
preparassem melhor para as universidades, e poderiam dar ajuda financeira para
quem não tem recursos, de modo a permitir que as pessoas continuem estudando.
Simplesmente criar cota e colocar a pessoa na universidade sem esse tipo de
apoio, não significa que ela aproveitará. Vai ter aquela situação de o “fulano
é cotista”, ou o “fulano não é cotista”. Vai criar discriminação.
Por que o senhor acha que a
discriminação pode aumentar com as cotas?
SCHWARTZMAN: Quando você cria uma
situação em que você divide as pessoas entre cotistas e não cotistas, você está
dividindo a população e tem gente que diz “ah, o fulano entrou pela janela”. As
pessoas começam a se olhar se estranhando.
Cria situações de pessoas que
sesentem discriminadas, que tiveram desempenho melhor nas provas e não
conseguiram entrar na universidade, como aconteceu em uma das ações em
avaliação pelo STF.
Há quem diga que as cotas são uma
forma de reparar um problema histórico, desde a escravidão. Como o senhor vê
isso?
SCHWARTZMAN: Temos um presente
extremamente complicado, com pobreza, pessoas que não completam o ensino médio
ou que completam e não sabem quase nada. Parte dessas pessoas é negra, parte é
branca. Temos que lidar com o problema da má qualidade de educação. Se
tivéssemos uma educação de melhor qualidade, esse problema não se colocaria.
O senhor acha mais provável que o
cotista abandone o curso?
SCHWARTZMAN: Pode ficar difícil para
ele acompanhar, porque supõe-se que são pessoas que não têm condições de entrar
pelo processo tradicional. Ou você não deixa entrar ou você deixa e dá apoio.
Krugman é um gastador.
Paul Krugman, em sua coluna no NYT, afirma
com todas as letras que as políticas de austeridade jamais cumprem o que
prometem. Segundo ele, os governos deveriam fazer da maneira que os manuais de
economia recomendam: gastar mais para compensar a queda na demanda privada. Ele
cita o exemplo da Irlanda, hoje sofrendo com a crise e vê com esperança a
provável eleição do francês François Hollande, um quase gastador.
Pensando no que vem acontecendo com o Brasil, faz bastante sentido. Considerando que se eu gastar mais do que ganho, com certeza, terei sérios problemas, acredito que o governo deva ter um limite para os seus gastos. Para isso, temos a Lei de Responsabilidade Fiscal, promulgada no tempo do Fernando Henrique e que vem colaborando para o país apresentar bons indicadores econômicos.
Keynes continua atual, mas com moderação, não é professor Krugman? Afinal, queremos um Estado gastador ou um Estado gestor?
O capitalismo brasileiro de Shiller.
Felizmente ainda existe luz na direção certa.
Na EXAME que está nas bancas, Robert Shiller, professor de economia da Universidade Yale, faz uma saborosa defesa do capitalismo, especialmente do sistema financeiro, incluindo até o Brasil em seu comentário.
Um pequeno aperitivo do texto que está na página 166.
"Para que progressos ocorram numa nação é preciso haver muito empreendimento, e isso requer organização. É, hoje, o caso do Brasil. Parte do sucesso recente da economia brasileira se deve à evolução do CAPITALISMO no país. Nesse contexto, vemos, por exemplo, esforços de democratização das finanças, como o representado pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Essa evolução começou a ser construída com a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que agiu de modo a promover o CAPITALISMO financeiro - o que se repetiu com Dilma Roussef, sua sucessora. O Brasil é um exemplo, com índices evidentes de diminuição da pobreza, de melhora da educação e de aumento da expectativa de vida. No CAPITALISMO financeiro, se todos estiverem bem, as pessoas não vão achar ruim se uma minoria estiver muito melhor - e é por isso que não há um Occupy Wall Street nas ruas das cidades brasileiras."
segunda-feira, 23 de abril de 2012
A Argentina de Bresser-Pereira.
O professor Bresser-Pereira é um grande economista e hoje na FOLHA, em artigo defendendo a Argentina de Cristina Kirchner, ele escreve com todas as letras:
A Argentina tem razão: Não faz sentido deixar sob controle de
empresa estrangeira um setor estratégico para o desenvolvimento do país como é
o petróleo, especialmente quando essa empresa, em vez de reinvestir seus lucros
e aumentar a produção, os remetia para a matriz espanhola.
Cada caso é um caso, mas neste caso acredito que a Argentina não fez uma boa escolha. E eles tem exemplo dentro de casa mesmo: a Aerolíneas Argentinas foi estatizada em 2008 e tem prejuízos diários de US$ 2 milhões... Penso que isso não aconteceria num país que levasse a sério o respeito ao contratado.
sábado, 21 de abril de 2012
Cheque, cartão e vergonha em 2012.
O mundo é do plástico, o valor é do cheque e a
vergonha é brasileira.
Estima-se que neste mês esteja circulando algo como
708.376.000 cartões nas mãos dos brasileiros, o que dá uma média de quase três
cartões por habitante e que resultará num faturamento próximo a R$ 59 bilhões.
Enquanto isso, o nosso tradicional cheque compensado
continua em sua esperada queda, porém permanece no mercado, sem risco de
extinção. Em fevereiro passado foram compensados cerca de 72.990.000 cheques no
valor total de R$ 78 bilhões.
Vale salientar que dessa quantidade de cheques, cerca
de 2,1%, ou seja, 1.465.300 foram devolvidos sem fundo. Uma vergonha
tipicamente brasileira. Lamentável.
Fonte: Bacen - Abecs - Acsp.
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Paul Krugman no Brasil.
Paul Krugman, em breve entrevista ao VALOR
ECONÔMICO de ontem, elogia a política monetária do BC brasileiro.
O Banco Central brasileiro está certo em sua
política de redução dos juros, disse ontem o economista Paul Krugman, Nobel de Economia de 2008.
"A economia está claramente se desacelerando, e a inflação, provavelmente
como em todos os lugares, é transitória", afirmou ao Valor. "O
relaxamento monetário é apropriado."
Professor da Universidade
de Princeton,
nos EUA, Krugman vê problemas na valorização
do real, por criar pressões que minam a competitividade da indústria. Ao mesmo tempo, lembrou que o Brasil mantém
a própria moeda, que pode ser desvalorizada em algum momento, diferentemente do
que se passa com os países da zona do euro. Segundo ele, a situação cambial do
Brasil se parece mais com a dos EUA em meados dos anos 80. Naquela época, o
dólar estava forte demais, mas não foi difícil desvalorizá-lo. " Krugman
deu breve entrevista antes de participar do Seminário Internacional sobre Pequenos
Negócios, promovido pelo Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae),
que teve apoio do Valor.
Valor: A presidente Dilma Rousseff reclama do
"tsunami monetário", que seria causado pela política monetária dos
países desenvolvidos. Diz que isso mina a competitividade dos emergentes e
provoca uma guerra cambial. O sr. concorda com ela?
Paul Krugman: Não, embora entenda
o problema. Há muito capital buscando os
países emergentes e grande valorização da taxa de câmbio. Isso é um problema, mas não por causa de
política monetária não apropriada nos países avançados. Esses países têm uma
crise econômica grave. Ainda há grande crise de desalavancagem, o que mantém as
economias deprimidas. É claro que os juros estão muito baixos. Há excesso de poupança nos países avançados.
Se você olha para relação histórica entre desemprego, inflação e juros, as
taxas dos Fed Funds deveriam estar em menos 4,5%. É razoável que esteja em
zero. Eu entendo, a presidente tem suas preocupações. Há, de algum modo, um
tsunami de dinheiro, mas não por causa de Ben Bernanke [presidente do Fed] ou
Mario Draghi [do BC Europeu].
Valor: Quão
preocupante é a valorização do real?
Krugman: Não
é algo positivo, porque cria pressões. O setor manufatureiro perde
competitividade e vai ser difícil recuperá-la. De outro lado, o Brasil ainda
tem sua própria moeda. O real pode se desvalorizar de novo. O Brasil não tem
muita dívida em moeda estrangeira. Quando olho para o Brasil, penso que pelo
menos não é a Espanha. A Espanha teve uma valorização em termos reais nos bons
anos do euro [devido aos diferenciais de inflação] parecida com a brasileira,
mas está numa crise terrível, porque não pode desvalorizar. O Brasil pode. A
situação do Brasil parece mais com a dos EUA em meados dos anos 80, quando o dólar
ficou muito forte, mas não foi um processo especialmente difícil desvalorizar a
moeda de novo.
Valor: Há um grande debate no Brasil sobre
desindustrialização. Em 2011, a participação da indústria de transformação no
PIB ficou abaixo de 15%. O governo deve
tentar proteger a indústria?
Krugman: Não fiz muita lição de casa sobre a
situação brasileira, mas acho que há de fato uma questão aí. O Brasil tem os
fluxos de capital e as exportações de commodities, e faz algum sentido pelo menos tentar lidar contra os efeitos desses
fatores.
Valor: O BC adotou postura mais agressiva desde
agosto, quando começou a cortar os juros, apesar de algumas pressões
inflacionárias, especialmente nos preços de serviços. Como o sr. vê a política
monetária brasileira?
Krugman: Não tenho uma visão forte a
respeito, mas acho que é razoável. A
economia está claramente em desaceleração, e a inflação, provavelmente como em
todos os lugares, é transitória. O relaxamento monetário é apropriado.
Copom: decisão prevista, mas deixa dúvidas à frente
Editorial do ESTADÃO de hoje comenta a redução na taxa de juros para 9% ao ano.
Como era previsto pelo mercado, o Comitê de
Política Monetária (Copom) aprovou por unanimidade a redução de 0,75 ponto da
Selic, que caiu para 9% ao ano, ligeiramente acima do mínimo histórico de
8,75%. A ata da reunião anterior do comitê já deixara entrever essa decisão.
Com o clima econômico de inflação baixa, que
o comunicado da reunião atribui à fragilidade da economia global, e com o setor
externo contribuindo para deflacionar, o Copom dá seguimento ao processo de
ajuste das condições monetárias.
O uso de termos condicionais permite ao Copom
alguma flexibilidade, como nota Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco
Central (BC). Mas também deixa dúvidas sobre o futuro da política das
autoridades monetárias. Fala-se em continuar o processo de ajuste, o que leva a
perguntar se, ao contrário do que dizia Alexandre Tombini, presidente do BC, o
Copom poderá reduzir a Selic abaixo de 8,75% - há quem admita que caia para 8%.
As condições para isso são que a inflação
continue baixa e a situação internacional mantenha o efeito deflacionário.
Parece que neste segundo trimestre, com a ampliação do crédito e o seu
barateamento, a economia nacional vai entrar numa fase melhor. Todavia,
continua existindo o problema do preço da gasolina, cujo reajuste se torna
premente com a evolução do preço do petróleo.
É bom lembrar que, numa fase de prosperidade,
manter os preços é mais difícil e a desvalorização do real ante o dólar gera
uma elevação da pressão inflacionária.
A redução da Selic abaixo de 9% torna quase
obrigatória uma revisão para baixo da remuneração das cadernetas de poupança,
medida que seria muito mal recebida pelos poupadores. Isso representa um sério obstáculo
para maiores quedas da taxa de juros básica.
Se a redução decidida anteontem foi bem
recebida pelos bancos privados, que estão cedendo às pressões do governo
baixando suas taxas de juros, convém não contar com que isso continue em
paralelo com a queda da Selic. Na medida em que os bancos tenham de se adequar
às normas de Basileia 3, sentirão a necessidade de aumentar muito seus ativos.
Isso tornará difícil uma redução do spread, especialmente num período em que
maiores taxas de inadimplência, decorrentes da elevação do volume do crédito e
da redução dos juros, aumentarão os riscos do sistema financeiro, que nos
últimos anos resistiu graças ao estreito respeito às normas de Basileia 2.
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Amartya Sen na FOLHA.
Amartya Sen, Nobel de Economia e idealizador do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) está no Brasil participando de evento em São
Paulo. Vide abaixo trechos de sua entrevista publicada na Folha de S. Paulo de
hoje.
Folha - Qual será o impacto das medidas de
austeridade adotadas na Europa para combater a crise?
Amartya Sen - As medidas intransigentes
adotadas na Europa são baseadas em um raciocínio muito confuso. Você diz que
elas foram adotadas "para combater a crise". Na realidade, porém,
elas estão agravando e muito o problema da recessão, ao acabar com os
incentivos para a expansão da economia da Europa (por meio do aumento da
demanda), justamente quando é mais necessária.
E quais seriam as alternativas às medidas
severas exigidas pelo mercado?
Primeiramente, seria preciso aplicar uma
disciplina seletiva, visando eliminar os erros de conduta fiscal e a tentação
de voltar a cometê-los no futuro (sem cortar coisas como salário-desemprego ou
serviços vitais). Em segundo lugar, seria necessária a escolha do momento
adequado para a adoção destas medidas -sem reduzir a demanda do mercado por
meio do corte selvagem dos gastos públicos, exatamente agora, quando a maioria
dos países envolvidos já tem muitos desempregados. Não há incompatibilidade
entre disciplina fiscal seletiva, bem escolhida e adotada no momento certo, e
uma economia de mercado que funciona bem, suplementada por serviços sociais e
um "Estado de bem-estar social". Tudo vai depender de uma escolha
sensata do "timing" e da cobertura dos cortes a serem feitos. O que
estão fazendo é impor um programa geral de austeridade em todos os setores, no
pior momento.
Os Estados estão encolhendo? Como isso
compromete o desenvolvimento?
Não creio que o papel do Estado esteja
encolhendo no mundo. A crise global de 2008 foi iniciada em grande medida pelo
fato de o Estado ter deixado de exercer seu papel supervisor. À medida que a
recessão se aprofundou, o fato de o Estado, em muitos países, ter deixado de
prestar apoio aos desempregados de longo prazo e deixado de fornecer outras
medidas de segurança social agravou em muito o sofrimento provocado pela crise
-para as pessoas mais pobres e mais afetadas pela recessão. A economia e a sociedade
precisam de atividades do Estado, além do funcionamento da economia de mercado.
A experiência recente da recessão global trouxe muitas lições sobre o que não
fazer.
Que lição poderia ter evitado a crise de
2008?
A compreensão de que a economia de mercado
pode, sim, dar seriamente errado e que o Estado deve ter o poder e a
responsabilidade de impedir que isso aconteça. As coisas não teriam dado tão
errado se os riscos excessivos assumidos tivessem sido conservados sob a
disciplina da divulgação obrigatória de informações e da supervisão geral. Os
executivos financeiros recebiam bônus enormes enquanto as firmas assumiam
riscos não justificados, sujeitando a economia e o povo a incertezas enormes.
Qual é o papel dos Estados, hoje, no
desenvolvimento?
A questão fundamental é que uma boa sociedade
necessita tanto de instituições baseadas no Estado quanto de instituições de
mercado.
O Estado precisa fazer coisas que os mercados
não são capazes de fazer com eficiência ou equidade, como nas áreas de saúde,
educação, segurança e apoio aos desempregados e aos pobres. O Estado não pode
deixar de exercer a liderança nesses setores e na função de impedir a economia
de mercado de correr riscos excessivos na busca por lucros rápidos. Ele precisa
assegurar que o sistema de pagamento das firmas particulares (incluindo o
pagamento de bônus enormes aos altos executivos) não cause desigualdades
inaceitáveis e não coloque em risco a viabilidade do sistema econômico.
Qual a sua opinião sobre os movimentos
"Occupy", que, apesar de terem demandas confusas, reivindicam
transparência no setor financeiro?
Vejo os movimentos "Occupy" como
uma das coisas mais interessantes e animadoras dos últimos anos. Suas queixas
não são bem formuladas, evidentemente. Mas essa falta de precisão e de
articulação não torna os movimentos pouco importantes. Eu os vejo como algo que
está registrando a insatisfação com as disparidades e injustiças no mundo. O
impacto que terão sobre o modo como o mundo funciona vai depender de como são
levadas adiante essas explosões de protesto. Com um engajamento contínuo e
liderança inteligente, poderão trazer para a discussão pública uma série de
questões cruciais.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Os melhores CEOs da América Latina.
Um ranking elaborado pela revista americana "Harvard Business Review", especializada em administração e negócios, mostrou 26 brasileiros entre os 50 CEOs (presidentes-executivos) de melhor desempenho da América Latina entre 1995 e 2009.
1. Maurício Novis Botelho (Embraer, 1997-2005, Brasil)
2. Roger Agnelli (Vale, 2001-2011, Brasil)
3. Benjamim Steinbruch (CSN, 2002-presente, Brasil)
4. Manoel Arlindo Zaroni Torres (Tractebel Energia, 1999-presente, Brasil)
5. Miguel Gomes Pereira Sarmiento Gutierrez (Lojas Americanas, 2001-presente, Brasil)
6. Renato Alves Vale (CCR, 1998-presente, Brasil)*
6. Paolo Rocca (Tenaris, 2002-presente, Argentina)*
8. José Antonio Fernandez Carbajal (Femsa, 1995-presente, México)
9. Daniel Hajj Aboumrad (América Movil, 2000-presente, México)
10. Moisés Afonso Sales Filho (Coelba, 2003-presente, Brasil)
11. José Sidnei Colombo Martini (CTEEP, 1999-2009, Brasil)*
11. Marco Antonio Bologna (TAM, 2004-2007, Brasil)*
13. José Galló (Lojas Renner, 1999-presente, Brasil)
14. Marcelo Awad (Antofagasta, 2004-presente, Chile)
15. Roque Eduardo Benavides Gonzaga (Compañia de Minas Buenaventura, 2001-presente, Peru)*
15. Oscar González Rocha (Southern Cooper Corporation, 2004-presente, México)*
17. José Humberto Gutiérrez Olvera-Zubizarreta (Grupo Carso, 2000-presente, México)
18. José Armando de Figueiredo Campos (CST/Arcelor Mittal Tubarão, 1997-2009, Brasil)
19. José Calderón Muñoz de Cote (El Puerto de Liverpool, 2004-presente, México)
20. Abraham Chahuan Abedrabo (Compañia Minera Milpo, 1999-2010, Peru)*
20. Carlos Henrique Piedrahita Arocha (Grupo Nacional de Chocolates, 2003-presente, Colômbia)*
22. Djalma Bastos de Morais (Cemig, 1999-presente, Brasil)*
22. Carlos Felices (Telecom Argentina, 2002-2007, Argentina)*
24. Marco Antonio Slim Domit (Grupo Financeiro Inbursa, 1997-presente, México)
25. Oscar Von Chrismar Carvajal (Banco Santander-Chile, 1997-2009, Chile)
- Os números repetidos representam empate.
Fonte: UOL
sábado, 14 de abril de 2012
Notas econômicas e afins.
Curtas notas dos melhores momentos da Exame desta quinzena:
- Brasília é um oásis cercado por cidades de renda sudanesa, descaso com a saúde pública e taxas de homicídio iguais às de Honduras.
- A combinação infernal de custos no Brasil está, sim, causando um estrago no setor industrial. Mas a resposta escolhida para lidar com o problema - o aumento do protecionismo - pode tornar a situação ainda pior.
- "Os Estados Unidos são um país diferente do resto do mundo. Ele emite moeda" - Dilma Rousseff.
- "A questão-chave não é escolher o melhor, se governo ou setor privado, mas saber quais papéis eles devem ter na sociedade. Para isso, precisamos começar perguntando que sociedade queremos" - David Rothkopf.
- Entre 22 das maiores cidades do mundo, São Paulo foi a 4ª a receber mais investimentos no ano passado, segundo a KPMG.
- Quer entender a disparidade de renda no mundo? Olhe para as instituições de cada país, dizem os autores do ótimo Why Nations Fail.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Embate nos juros não é de fácil solução.
Editorial de hoje do GLOBO e as recentes mudanças ocorridas no Banco do Brasil e na Caixa Econômica.
Os juros também obedecem a leis de mercado,
e, no caso brasileiro, refletem uma demanda reprimida por crédito e uma oferta
ainda insatisfatória.
O total de crédito no país, embora tenha crescido a taxas anuais de quase 20%,
não ultrapassa o equivalente à metade do Produto Interno Bruto (PIB). Nas
economias mais desenvolvidas, essa percentagem chega ao dobro, e mesmo nas
emergentes os índices estão mais próximos de 70%.
Uma das razões de o crédito ser caro e restrito
no Brasil é que o sistema financeiro tem em seu passivo uma elevada
concentração de recursos com garantia de liquidez imediata, herança dos tempos
em que, para se proteger da inflação, os poupadores se habituaram às aplicações
de overnight.
De maneira geral, os poupadores não se sentem suficientemente seguros nas
aplicações de mais longo prazo, haja vista que é relativamente recente a
disseminação de fundos de previdência privada complementar, por exemplo. É um
quadro que tende a mudar, pouco a pouco, à medida que o real consiga se mostrar
menos vulnerável à inflação - e não sejam tomadas decisões em Brasília que
gerem dúvidas sobre o futuro.
A garantia de liquidez imediata teve como
lastro principal a rolagem da dívida pública. A diminuição e o alongamento desse
endividamento certamente contribuirão para que os poupadores se sintam mais
atraídos para aplicações de médio e longo prazos, especialmente se tiverem
estímulos tributários para tal.
Enquanto essa transformação não se
materialize, haverá um embate entre os bancos e os tomadores de crédito. Os
juros muito elevados criaram, de fato, um ciclo vicioso. Por falta de opção,
os que precisam recorrer ao crédito se arriscam a uma situação de desequilíbrio
financeiro diante de qualquer eventualidade ou turbulência que afete seus
rendimentos. O crédito caro embute, então, o risco de inadimplência alta. E a
falta de pagamentos leva o sistema financeiro a compensar a perda com a
cobrança de uma taxa média de juros salgada. Esta é uma das causas de um elevado
spread no Brasil - diferença entre o que o banco paga ao investidor em seus
títulos e o que cobra do tomador de empréstimo.
O embate muitas vezes resvala para disputas
judiciais, que podem adiar a solução e ter um resultado imprevisível para ambos
os lados. Assim, os bancos acabam cobrando menos juros em créditos nos quais se
sentem mais garantidos (desconto em folha, retomada de bens e imóveis etc.) e
vão ao exagero nos financiamentos sem garantia (cartões de crédito, crédito
pessoal, cheque especial). São uma aberração taxas de 50% ao ano quando a
inflação se encontra abaixo de 6% e a Selic aquém de 10% .
O governo parece acreditar que a quebra desse
círculo vicioso ocorrerá por uma maior concorrência por parte de bancos
estatais (BB e CEF). Não deveria ser muito otimista, diante da pouca mobilidade
da clientela (é pequeno o número de clientes que costumam mudar de banco
atraído por oferta de crédito menos caro). Então, é pouco provável que os juros
recuem significativamente apenas por esse movimento, sem que outros fatores que
contribuem para taxas elevadas se alterem. Os bancos, com razão, pedem menos
impostos para praticar taxas mais civilizadas. O governo não gosta da
reivindicação. Mas o espaço de negociação precisa ser mantido aberto, para que
cheguem a pontos comuns. O Brasil não está condenado a ter juros nas nuvens
por todo o sempre.
Gustavo Franco - Um liberal heterodoxo
Excelente o longo perfil que Sergio Leo
publicou hoje no Valor Econômico sobre Gustavo Franco, ex-presidente do
Banco Central.
Franco, Ph.D. por Harvard, teve sua tese premiada pela Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia. Em fluente
texto, Leo mostra a intimidade de Franco, incluindo informações do passado e do
presente.
Uma interessante leitura para iniciar mais um final de semana. Do
texto, destaco para os meus dois fiéis leitores:
Com a morte de Getúlio, o pai de Gustavo
Franco acompanhou a implantação da indústria automobilística, na direção do
grupo Monteiro Aranha, que traria a Volkswagen ao Brasil. Já na faculdade,
Gustavo fez estágio na corretora Garantia, hoje banco, onde o pai foi sócio. Decidiu estudar economia por influência paterna, mas
o assunto não costumava ser discutido em casa. O pai, discreto, nem lhe contava
dos debates homéricos que teve, no BNDES, com o amigo Roberto Campos, cofundador
do banco. Divergências operacionais, ditadas pelo pragmatismo de Guilherme,
garante o filho. "Nenhum dos dois era desenvolvimentista", assegura
ele, que jura ser liberal "ma non troppo". "No contexto
americano, de Estado mínimo, sou um heterodoxo."
"No Brasil, as
situações e a experiência de política econômica são heterodoxas",
diz. "Temos de navegar em um mundo de intervenção do Estado, onde o Estado
é pesado." A PUC do Rio, "esse antro de neoliberais" onde
estudou e até hoje dá aulas, é dissidência da Fundação Getúlio Vargas, essa
sim, escola que seguiu por mais tempo o ideário ultraliberal da Escola de
Chicago, que dominou países como o Chile nos anos 70.
Na PUC dos anos 70, Franco,
estagiário, ajudou Edmar Bacha a escrever um bem-sucedido livro de introdução à
economia, baseado no marxista polonês Michael Kalecki- o "Keynes de
esquerda", para alguns, por ter antecipado ideias de John Maynard
Keynes, santo padroeiro de muitos desenvolvimentistas. "O Edmar diz
que eu é quem era o kaleckiano. Outro dia lemos que na Argentina queriam
obrigar todo mundo a estudar Kalecki e pensamos: "Ora, vamos reeditar o
livro"", brinca.
Após 40 minutos de conversa, pela primeira
vez é acionada a campainha de chamar garçom. "Pode trazer aquelas
coisinhas", pede Franco, íntimo da casa e do couvert, com delicados
croquetes, risoles e outros acepipes. Indiferente ao ruído ambiente, Franco
conta que, como professor na PUC, até adotou o manual kaleckiano escrito com
Bacha.
"Seria ridículo
ensinar economia pegando manual americano, escrito para um estudante que nem
sabia o que era inflação, do tamanho que tínhamos, na época", defende-se.
"Hoje, à medida que o Brasil fica mais normal, a integração com os
livros-texto de outras partes do mundo fica mais tranquila."
Mas a economia brasileira
não é excepcional? "É um velho tema", responde. E revela que, depois
de ter produzido livros sobre a economia nas obras de Fernando Pessoa, Machado
de Assis, Shakespeare e Goethe, se dedica a Kafka. Não o tcheco, Franz, mas um
primo distante, o brasileiro Alexandre Kafka, ex-diretor do Brasil no FMI.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Economia em números.
Conforme solicitação de dois fiéis leitores,
sempre que possível este post estará sendo atualizado com os números mais divulgados no mundo da economia. Vamos iniciar então?
PIB Brasil 2009: (-) 0,3% - 2010: 7,5% - 2011: 2,7%.
PIB nominal em milhões de reais: 2010 3.770.085 e 2011 4.143.013.
PIB em milhões de US$ 2010: 2.087.889.
PIB China 2011: 9,2%.
PIB por hora trabalhada em 2011 (em US$): Estados Unidos: 62 e Brasil: 11.
PIB nominal em milhões de reais: 2010 3.770.085 e 2011 4.143.013.
PIB em milhões de US$ 2010: 2.087.889.
PIB China 2011: 9,2%.
PIB por hora trabalhada em 2011 (em US$): Estados Unidos: 62 e Brasil: 11.
Exportações Fevereiro/2012: US$ 258,3 bilhões.
Importações Fevereiro/2012: US$ 229,6 bilhões.
Taxa básica de juros Selic: 9,75% ao ano.
Reservas internacionais: US$ 356,3 bilhões.
Inflação - IPCA 12 meses: 5,24%.
População 2010: 190.755.799.
Dívida pública total em percentagem do PIB: 2010 39,15% e 2011: 36,49%.
Risco Brasil em 2011: 186 e 2011: 208.
Taxa de desemprego em 12/2011 4,7% - 01/2012 5,5% e 02/2012 5,6%.
Fontes: IBGE - Ipeadata - Banco Mundial - Revista Exame - Banco Santander.
População 2010: 190.755.799.
Dívida pública total em percentagem do PIB: 2010 39,15% e 2011: 36,49%.
Risco Brasil em 2011: 186 e 2011: 208.
Taxa de desemprego em 12/2011 4,7% - 01/2012 5,5% e 02/2012 5,6%.
Fontes: IBGE - Ipeadata - Banco Mundial - Revista Exame - Banco Santander.
terça-feira, 10 de abril de 2012
The Two Economies.
David Brooks, no NYT de hoje, nos faz acreditar que tempos melhores virão:
"The creative dynamism of American business is astounding and a little terrifying. Over the past five years, amid turmoil and uncertainty, American businesses have shed employees, becoming more efficient and more productive. According to The Wall Street Journal on Monday, the revenue per employee at S.&P. 500 companies increased from $378,000 in 2007 to $420,000 in 2011."
E com base num artigo de TYLER COWEN cita que "If Cowen’s case is right, the U.S. is not a nation in decline".
segunda-feira, 9 de abril de 2012
President Dilma Rousseff.
President Obama met with
President Obama met with President Dilma Rousseff of
Brazil today to discuss the bilateral relationship between the two countries.
The United States and Brazil are the two largest economies and democracies in
the Western Hemisphere, and share one of the most important trade and economic
relationships in the world. U.S. goods and services exports to Brazil totaled
$63 billion in 2011 and support approximately 300,000 U.S. jobs.
The two leaders also
discussed a wide range of global issues, including global economic growth, the
situation in the Middle East, and progress the two countries have made as
co-chairs of the Open Government Partnership, which is increasing transparency
and accountability in governments all around the world.
FGV na Folha: parabéns.
Uma ótima notícia hoje na Folha de S. Paulo:
FGV entra para lista dos 'núcleos globais do pensamento'.
Dias antes da cúpula dos Brics, os núcleos de
reflexão ("think tanks") de Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul se reuniram em Nova Déli, na Índia, para tratar de temas que os
líderes discutiriam depois.
Entre os tópicos estavam o banco de
desenvolvimento conjunto, o comércio em moedas locais, a coordenação em
política externa e a inovação tecnológica.
Pelo Brasil, estava lá a FGV (Fundação
Getúlio Vargas). O conceito é novo tanto aqui como nos outros Brics, mas os
"thinks tanks" dos emergentes começam a ombrear seus modelos
centenários dos Estados Unidos e da Europa.
Na nova edição do ranking dos 30 principais
no mundo, feito pela Universidade da Pensilvânia (UPenn), a FGV surgiu em 27º.
A Rússia emplacou dois centros, a China um -a Academia Chinesa de Ciências
Sociais.
O ranking é levantado ao longo de oito meses,
das indicações ao resultado, num processo que envolve 1.500 especialistas do
mundo todo.
James McGann, diretor do Programa de Think
Tanks e Sociedades Civis da UPenn, afirma que a presença do Brasil "está
diretamente relacionada à sua ascensão no mundo". A comunidade
internacional está mais atenta aos emergentes "por causa das mudanças no
poder global".
Carlos Ivan Simonsen Leal, presidente da FGV,
diz que "o mundo resolveu olhar para outros países e, em especial, para o
Brasil". Para
Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais que representou a
fundação na Índia, "a capacidade de determinar a agenda da conversa global
já não fica só com as instituições americanas".
Stuenkel diz que "hoje um debate sobre
qualquer desafio global precisa de alguém de instituição brasileira, porque o
país já é um ator importante em todas as áreas".
No ranking, outros centros do país são
lembrados, como Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) e Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Para além da maior visibilidade dos
emergentes, McGann vê em seus governos e nas próprias sociedades "maior
apoio a essas organizações de política pública, como forma de incrementar a
projeção de sua influência, regional e global". Lideram a lista
Brookings (EUA), Chatham House (Reino Unido), Carnegie (EUA) e Council on
Foreign Relations (EUA).
Marcelo Neri, economista-chefe do Centro de
Políticas Sociais da FGV, acredita que "a fundação funciona como uma
janela do mundo para o país", que "as pessoas que querem conhecê-lo
usam a fundação para conversar com o país".
Na avaliação de Simonsen Leal, uma das mudanças
que levaram à classificação surpreendente foi que a instituição "resolveu
colocar sua mensagem como os demais 'think tanks': não tem só a linguagem
acadêmica, mas traduz essa linguagem para as pessoas".
A maior diversidade ocorreu sobretudo na
última década, diz Neri. "A fundação sempre foi muito ligada à visão
empresarial, mais 'business', que ainda é o lado preponderante, mas tem
participado do desenho de políticas educacionais, sociais."
E se internacionalizou, por exemplo, abrindo
cátedras para um chinês e um indiano, por ano.
Stuenkel diz que no ambiente acadêmico
brasileiro, em que os pesquisadores ainda "se isolam bastante", a FGV
se diferencia por "não se ver apenas como universidade, mas também como
'think tank', tomando como parte de sua missão ser um ator visível no debate
público".
Além de políticas sociais e relações
internacionais, outra área que cresceu foi a de tecnologia da informação.
"É a inserção da fundação na economia do
século 21", diz Cláudio Vilar Furtado, coordenador do GVCepe (Centro de
Estudos em Private Equity e Venture Capital).
Diz que em toda a instituição aumentou a
produção de "bens públicos, bens de conhecimento". E que "no
GVCepe as nossas publicações correm mundo, somos sempre procurados aqui e
referidos por quem quer informação a respeito das start-ups de base tecnológica
no Brasil, a respeito da indústria de venture capital".
Para McGann, "em termos de
evolução" a FGV se compara à líder Brooking e à Rand, sexta na lista. Os
dois think tanks também surgiram com escolas de graduação, ligadas à pesquisa e
à análise que realizavam, algo que a Rand mantém até hoje "e é de
primeira".
Ciência versus intuição.
Luiz Carlos Bresser-Pereira, hoje na FOLHA
escreve que “não é surpreendente que os países asiáticos tratem de
administrar taxa de câmbio e não incorrer em déficit”.
A teoria econômica é uma ciência mais simples
do que seus cultores neoclássicos ou ortodoxos supõem. Toda a matemática que
usam para desenvolver seus modelos alienados da realidade é, além de
desnecessária, prejudicial, porque os conduz a transformar o mercado em um
mito, e a propor sua desregulamentação, cujo resultado são graves crises
financeiras.
Mas isso não significa que a teoria econômica
seja um conjunto de conhecimentos intuitivos. Pelo contrário, ela só se torna
inovadora quando rompe com o senso comum.
Adam Smith rejeitou o senso comum quando disse
que a riqueza da nação não estava em seu ouro e seus templos, mas na produção; Marx,
quando mostrou que o lucro resultava de uma troca de valores equivalentes no
mercado.
Schumpeter, quando ensinou que não é a posse do
capital mas a capacidade do empresário de inovar e de ter acesso ao crédito que
é decisiva; Keynes, quando argumentou que é o investimento que determina
a poupança.
Hoje os economistas estão diante de um
quebra-cabeça.
A intuição lhes diz que "os países ricos em capital devem transferir seus
capitais aos países pobres em capital", ou seja: países em desenvolvimento
deveriam incorrer em deficit em conta-corrente e financiá-los com empréstimos
ou investimentos diretos.
Entretanto, os países asiáticos dinâmicos,
que crescem bem mais do que os latino-americanos, têm superavit em
conta-corrente (superavit comercial inclusive serviços, juros e dividendos); a
China, sempre.
No governo Lula, o Brasil apresentou taxa
maior de crescimento quando teve superavit em conta-corrente; desde que voltou
ao deficit, tem crescido menos. Na maioria dos casos, um país em desenvolvimento
crescerá mais se apresentar superavit em conta-corrente e, assim, financiar os
países ricos.
O modelo da doença holandesa explica essa
surpreendente verdade. Para um país neutralizar a doença holandesa ou a
maldição dos recursos naturais, precisa deslocar a taxa de câmbio do equilíbrio
corrente (que zera sua conta-corrente) para o equilíbrio industrial (que torna
competitivas empresas que usam tecnologia no estado da arte mundial). Ao lograr
fazê-lo, o país terá superavit em conta-corrente, e os países ricos incorrerão
em deficit.
Os países em desenvolvimento devem, portanto,
tentar crescer com despoupança externa ou superavit em conta-corrente.
Um segundo argumento mostra o que ocorre com
o país que tenta crescer com poupança externa. As entradas de capitais
necessárias para financiar esse deficit apreciam a taxa de câmbio, aumentam
artificialmente salários reais e o consumo, de maneira que mesmo quando se
trata de investimentos diretos, aumentam afinal mais o consumo do que o
investimento. Em seguida, o país, além de ter de remeter lucros e juros para
fora, fica ameaçado de crise de balanço de pagamentos.
Não é surpreendente que os países asiáticos
dinâmicos, que ouvem muito menos que nós os economistas ortodoxos do Norte,
tratem de administrar sua taxa de câmbio e não incorrer em deficit mas em
superavit em conta-corrente. Se o Brasil apresentasse também um superavit,
cresceria muito mais e com muito mais segurança do que hoje.
sábado, 7 de abril de 2012
Capitalismo em 2012.
Mailson da Nóbrega na VEJA:
Desde Adam Smith, o capitalismo se reinventou. Não será diferente
desta vez. Os desafios incluem a reforma dos marcos regulatórios e ações para
reverter a concentração de renda de alguns países ricos. As vantagens do
capitalismo superam largamente os seus defeitos. Nenhum regime econômico será
capaz de substituí-lo com sucesso. Está provado.
É o que também acredito. Diante disso, pergunto a você, um dos
meus dois fiéis leitores, SE tivesse que escolher onde morar, o que preferiria:
A Coreia do Norte ou a Coreia do Sul?
Banco Central independente.
Por volta dos anos de 1930, quando a Argentina construiu o
primeiro arranha-céu com sistema de ar condicionado da América Latina, o
edifício Kavanagk, com 32 andares em estilo art
déco, localizado na Florida, 1065, Raúl Prebisch batalhava pela criação de
um Banco Central. Apesar das resistências de praxe, as atividades do novo Banco Central da Argentina foram
iniciadas em 31 de maio de 1935. Desconheço como está hoje, mas na época, no
hall do edifício tinha um letreiro com a declaração da missão do banco:
“A missão primeira e
fundamental do Banco Central da Argentina é preservar o valor da moeda.”
Embora decorridos quase 80 anos, essa deve ser a verdadeira missão
de um Banco Central independente das interferências políticas do governante de plantão.
Inflação x Desemprego.
O
que serve para os Estados Unidos, não necessariamente é útil para o Brasil. É
possível até entender Paul Krugman afirmar que um pouco mais de inflação não é
má ideia, considerando o atual nível de desemprego americano. Porém, acredito
que isso não deve ser regra para a atual política econômica brasileira. Afinal,
os indicadores de inflação e desemprego, para felicidade de todos os
brasileiros, estão em queda. E que seja
sempre assim ou permaneça por um longo período.
sexta-feira, 6 de abril de 2012
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Ainda falta uma política industrial.
Editorial do Globo de hoje e o novo pacote de
estimulo à indústria.
Assim que as condições da economia mundial
começaram a se degradar, na explosão da bolha imobiliária americana, em fins de
2008, a competitividade de cada país passou a ser testada a fundo. A
crise americana, transmitida para a Europa pelos canais financeiros, com
impactos em todos os continentes, estreitou mercados e, com isso, gerou um tal
acirramento na competição global que dificuldades mascaradas na longa fase de
expansão começaram a surgir. "Só quando a água baixa a gente vê quem está
nadando nu" - a folclórica frase do bilionário americano Warren Buffett se
aplica à perfeição ao que aconteceu no Brasil. A maré dos bons tempos vazou, e
vários setores atolaram, sem conseguir competir com produtos importados - estes
também ajudados pelo câmbio -, tampouco exportar.
Mais um pacote de estímulo à indústria foi
desembrulhado em Brasília, para proteger o mais atingido dos setores pela maré
vazante. A série de medidas, algumas bem-vindas, outras discutíveis, demonstra
que nem sempre um conjunto de decisões compõe uma "política", no
sentido mais profundo da palavra. Ao ampliar de quatro para 15 o número de
setores beneficiados pela desoneração da folha de salários, em troca de uma
taxação sobre faturamento, Brasília faz o reconhecimento implícito de que a
necrose já vai longe na legislação trabalhista brasileira. Mas não consegue ir
adiante para moldar uma verdadeira política com metas de curto, médio e longo
prazos de redução efetiva e permanente do "custo Brasil". É
provável que as corporações sindicais aliadas impeçam.
O que se passa com a indústria
automobilística é exemplar. Depois de baixar o édito protecionista do aumento
do IPI sobre veículos importados, Brasília tenta rever exageros, com o aceno de
cotas - afinal, os grandes importadores têm fábricas no Brasil -, e acerta ao
estimular investimentos em pesquisa. Mas as dificuldades do setor vão bem mais
além. Estudo da PricewaterhouseCoopers, noticiado por "O Estado de S.
Paulo", comparou os custos de produção de vários países e ficou evidente o
porquê as montadoras, embora queiram vender no promissor mercado brasileiro,
não planejam transformar o Brasil em plataforma de exportação: custos não
competitivos. Enquanto o custo nacional de manufatura de veículos compactos, os
escolhidos para serem montados no Brasil, é de US$ 1.400, comparável ao
americano e japonês, no México ele se situa em US$$ 600, US$ 500 na Tailândia e
na China, US$ 400.
Não serão medidas pontuais, muitas tomadas em
função do maior acesso a Brasília de segmentos do empresariado, que alterarão
este quadro. No pano de fundo desses números há uma infraestrutura precária,
operários mal treinados e um sistema educacional público imerso em dificuldades
conhecidas. Uma política de fato de aumento do poder de competição da
indústria, ou qualquer outra atividade, fica capenga sem melhorias nestes
campos.
Não é mesmo fácil executar uma política de
fato de elevação de competitividade. Na solenidade em Brasília, o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, no seu minuto de propaganda, disse que o Brasil estava
reduzindo custos da produção sem retirar "direitos dos
trabalhadores", ao contrário de outros países, e deu o azar de citar a
Alemanha. Errou no exemplo. Lá, os trabalhadores, via sindicatos e o próprio
Parlamento, concordaram em reduzir altos custos do "estado de bem-estar"
alemão para defender o maior dos direitos: o do trabalho.
O que fazer? Gastar!
José Roberto Mendonça de Barros e Sergio Vale
no Globo de hoje perguntam e respondem: O que fazer? Gastar!
Todo ano repete-se a discussão sobre o
governo conseguir ou não fechar o superávit do setor público em 3,1% do PIB. Antes costumávamos
duvidar da capacidade do governo em atingir tal objetivo, mas agora acreditamos
100% que o governo fará esse resultado. Como? Com a criatividade usual, que vai
de jogar investimentos e custeio em restos a pagar cada vez maiores a manobrar
com dividendos das estatais.
Mas essa discussão não depende apenas desses
movimentos. Grande parte disso vem da expansão das receitas além do crescimento
do PIB, algo que temos tido recorrentemente nos últimos anos. Em termos
práticos, a cada aumento de 1% no PIB a receita real tem crescido em torno de
1,7% sistematicamente nos últimos anos. Isso se explica por vários motivos.
Primeiro, nosso sistema tributário é progressivo nos impostos diretos e o
aumento da classe média num ritmo maior do que o resto da economia ajuda a
explicar parte do aumento de receita. Segundo, nosso sistema também tributa
mais via impostos indiretos do que diretos, algo diverso do resto do mundo, mas
dado que são esses setores que mais crescem na economia, como telecomunicações,
combustíveis, financeiro e energia, é natural que contribua com maior
arrecadação do que setores industriais tradicionais, por exemplo. Terceiro, a
formalização tem aumentado ano a ano e permitindo aumento além da média
tradicional do imposto de renda e outros tributos. Quarto, mesmo com perda de
impostos importantes, como a CPMF, o governo achou um substituto à altura no
IOF, que já tem nível de arrecadação semelhante ao finado "imposto do
cheque". Como se espera que esse imposto vá aumentar pelas majorações
recorrentes de alíquota, também é mais uma receita que cresce acima da média do
PIB. Não podemos esquecer que o governo aproveitou o momento para trazer à
discussão novamente aumentos de alíquotas de IPI de bebidas e cigarros, algo
compensador das desonerações recentes.
Tudo isso fica mais evidente quando um setor
como a indústria sofre mais do que o resto da economia como aconteceu em
2008/2009: a receita tributária acaba crescendo num ritmo ainda maior do que o
PIB comparado com momentos sem crise. Nesses dois momentos, o governo tem
optado pelo caminho mais prejudicial para o crescimento, que é aumentar os
gastos num momento em que havia a oportunidade de desonerar de forma mais
ousada a economia. Ou seja, mudamos de patamar de gastos, que se tornam
rígidos, e não ajudam a indústria no longo prazo. Agora isso ocorre da
mesma forma. A oportunidade perdida aqui não é simplesmente de se pensar num
superávit primário maior do que já temos. Com 3,1% do PIB em 2016 chegamos a
uma dívida líquida de 32% do PIB, um número bastante baixo sob qualquer
critério. O que se perde é a possibilidade de pensar numa desoneração mais
ampla e ousada que de fato significasse redução de custos para as empresas.
Isso não acontece em grande parte porque o governo tem uma visão equivocada de
acreditar que o câmbio é o grande vilão industrial. Algo que ficou muito
claro no anúncio da nova política industrial. Além disso, acredita que parte do
problema também é falta de financiamento, aportando mais recursos no BNDES.
Tudo isso apenas ajuda a distorcer mais o
sistema fiscal, premiando uns em detrimento de outros, e amarrando ainda mais o
financiamento de longo prazo no BNDES, um aporte que se torna um custo
relevante para o Tesouro por se financiar pela Selic. Por mais relevante que
seja o banco, e acreditamos que o seja, seu foco recente tem sido apoiar
grandes campeões nacionais de forma pouco eficiente deixando de lado o que
deveria ser um objetivo natural, que é o financiamento da inovação.
Daí a alusão no título ao fato de o governo
amarrar as novas receitas com mais gastos. Mas não necessariamente gastos em
si. O gasto aqui é de tempo desperdiçado ao não pensar em uma estratégia de
longo prazo para a indústria. Países como Coreia do Sul e Taiwan não viram suas
indústrias florescerem com políticas curto-prazistas. Ao fazer isso o governo
joga fora novamente a oportunidade de estimular a indústria voltando a dar
diretrizes para o setor. Um saudosismo das câmeras setoriais dos anos 80 que
não nos cheira bem.
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