Recebo e leio com atenção os textos do sociólogo e presidente do Conselho do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), Simon Schwartzman. Evidentemente muitos concordarão com a mensagem abaixo, enquanto outros serão veementemente contrários. Por entender que o problema maior do Brasil é a educação ou, melhor dizendo, a sua falta, compartilho com os meus dois fiéis leitores a ideia do Schwartzman, também colega blogueiro no http://www.schwartzman.org.br.
A decisão unânime do STF em favor
das cota raciais no ensino superior confirma, infelizmente, a tradição
brasileira de dar soluções aparentemente simples e populares a questões
complexas e difíceis, como são as da má qualidade e inequidade no acesso à
educação no Brasil. Decisões do STF são para ser acatadas, claro, mas ninguém
fica obrigado a concordar com elas. Escrevi um texto em 2008 aonde mostro
como esta política de cotas é, no mínimo inóqua e potencialmente prejudicial,
que está disponível
aqui., e acho que continua válido.
Um argumento curioso que se ouve com
frequencia a favor das cotas é que o desempenho dos alunos que entram nas
universidades por este sistema tende a ser igual ou melhor do que dos que
entram pelos procedimentos normais. É curioso porque, se eles têm realmente
melhor desempenho, não precisariam das cotas para ser admitidos. Se eles
têm pior desempenho nos vestbulares ou no ENEM mas têm melhor desempenho nos
cursos, isto indica que existem sérios problemas no ENEM e nos exames
vestibulares, que precisariam ser corrigidos. Problemas deste tipo certamente
existem, mas não há evidência de eles consistam em discriminar sistematicamente
contra pessoas de pele escura. Para entender melhor o que está ocorrendo seria
preciso observar se a baixa correlaçao entre resultados dos exames de ingresso
e desempenho se dá igualmente em todos os níveis ou somente nos cursos de
níveis de exigência mais baixo.
Hoje o jornal O Globo publica uma
pequena entrevista minha sobre o assunto, que tanscrevo abaixo.
A cota cria situações de pessoas que se sentem
discriminadas’
O Globo – 27/04/2012
Simon Schwartzman, diz ser contra a adoção de cotas raciais
em universidades. Na opinião dele, elas acabam gerando mais discriminação.
O GLOBO: Por que o senhor é contra
as cotas nas universidades ?
SIMON SCHWARTZMAN: Não acho que
cotas sejam uma coisa boa em geral. Considero correta a ideia de uma política
de ação afirmativa que dê atendimento especial para pessoas em situação de
carência. O que não acho correto é diferenciar as pessoas pela cor da pele
ou pela raça.
Que medidas seriam mais adequadas
que as cotas?
SCHWARTZMAN: Mais adequado seria
melhorar a educação para as pessoas poderem chegar à universidade e não
precisarem desse tipo de ajuda. Na falta disso, poderiam ser criados cursos que
preparassem melhor para as universidades, e poderiam dar ajuda financeira para
quem não tem recursos, de modo a permitir que as pessoas continuem estudando.
Simplesmente criar cota e colocar a pessoa na universidade sem esse tipo de
apoio, não significa que ela aproveitará. Vai ter aquela situação de o “fulano
é cotista”, ou o “fulano não é cotista”. Vai criar discriminação.
Por que o senhor acha que a
discriminação pode aumentar com as cotas?
SCHWARTZMAN: Quando você cria uma
situação em que você divide as pessoas entre cotistas e não cotistas, você está
dividindo a população e tem gente que diz “ah, o fulano entrou pela janela”. As
pessoas começam a se olhar se estranhando.
Cria situações de pessoas que
sesentem discriminadas, que tiveram desempenho melhor nas provas e não
conseguiram entrar na universidade, como aconteceu em uma das ações em
avaliação pelo STF.
Há quem diga que as cotas são uma
forma de reparar um problema histórico, desde a escravidão. Como o senhor vê
isso?
SCHWARTZMAN: Temos um presente
extremamente complicado, com pobreza, pessoas que não completam o ensino médio
ou que completam e não sabem quase nada. Parte dessas pessoas é negra, parte é
branca. Temos que lidar com o problema da má qualidade de educação. Se
tivéssemos uma educação de melhor qualidade, esse problema não se colocaria.
O senhor acha mais provável que o
cotista abandone o curso?
SCHWARTZMAN: Pode ficar difícil para
ele acompanhar, porque supõe-se que são pessoas que não têm condições de entrar
pelo processo tradicional. Ou você não deixa entrar ou você deixa e dá apoio.
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