Excelente o longo perfil que Sergio Leo
publicou hoje no Valor Econômico sobre Gustavo Franco, ex-presidente do
Banco Central.
Franco, Ph.D. por Harvard, teve sua tese premiada pela Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia. Em fluente
texto, Leo mostra a intimidade de Franco, incluindo informações do passado e do
presente.
Uma interessante leitura para iniciar mais um final de semana. Do
texto, destaco para os meus dois fiéis leitores:
Com a morte de Getúlio, o pai de Gustavo
Franco acompanhou a implantação da indústria automobilística, na direção do
grupo Monteiro Aranha, que traria a Volkswagen ao Brasil. Já na faculdade,
Gustavo fez estágio na corretora Garantia, hoje banco, onde o pai foi sócio. Decidiu estudar economia por influência paterna, mas
o assunto não costumava ser discutido em casa. O pai, discreto, nem lhe contava
dos debates homéricos que teve, no BNDES, com o amigo Roberto Campos, cofundador
do banco. Divergências operacionais, ditadas pelo pragmatismo de Guilherme,
garante o filho. "Nenhum dos dois era desenvolvimentista", assegura
ele, que jura ser liberal "ma non troppo". "No contexto
americano, de Estado mínimo, sou um heterodoxo."
"No Brasil, as
situações e a experiência de política econômica são heterodoxas",
diz. "Temos de navegar em um mundo de intervenção do Estado, onde o Estado
é pesado." A PUC do Rio, "esse antro de neoliberais" onde
estudou e até hoje dá aulas, é dissidência da Fundação Getúlio Vargas, essa
sim, escola que seguiu por mais tempo o ideário ultraliberal da Escola de
Chicago, que dominou países como o Chile nos anos 70.
Na PUC dos anos 70, Franco,
estagiário, ajudou Edmar Bacha a escrever um bem-sucedido livro de introdução à
economia, baseado no marxista polonês Michael Kalecki- o "Keynes de
esquerda", para alguns, por ter antecipado ideias de John Maynard
Keynes, santo padroeiro de muitos desenvolvimentistas. "O Edmar diz
que eu é quem era o kaleckiano. Outro dia lemos que na Argentina queriam
obrigar todo mundo a estudar Kalecki e pensamos: "Ora, vamos reeditar o
livro"", brinca.
Após 40 minutos de conversa, pela primeira
vez é acionada a campainha de chamar garçom. "Pode trazer aquelas
coisinhas", pede Franco, íntimo da casa e do couvert, com delicados
croquetes, risoles e outros acepipes. Indiferente ao ruído ambiente, Franco
conta que, como professor na PUC, até adotou o manual kaleckiano escrito com
Bacha.
"Seria ridículo
ensinar economia pegando manual americano, escrito para um estudante que nem
sabia o que era inflação, do tamanho que tínhamos, na época", defende-se.
"Hoje, à medida que o Brasil fica mais normal, a integração com os
livros-texto de outras partes do mundo fica mais tranquila."
Mas a economia brasileira
não é excepcional? "É um velho tema", responde. E revela que, depois
de ter produzido livros sobre a economia nas obras de Fernando Pessoa, Machado
de Assis, Shakespeare e Goethe, se dedica a Kafka. Não o tcheco, Franz, mas um
primo distante, o brasileiro Alexandre Kafka, ex-diretor do Brasil no FMI.
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