Fernando Reinac, no Estado de S. Paulo de
hoje, escreve sobre “como avaliar um professor”.
Até que ponto é possível avaliar um
professore medindo o aprendizado dos alunos? Um estudo desenvolvido nos EUA
demonstrou que esse método, se bem aplicado, mede até a velocidade com que
professores iniciantes melhoram seu desempenho.
Quando eu era estudante, os alunos eram
avaliados todos os meses e ao final do ano. Isso ainda acontece, mas a
avaliação dos alunos passou a ter uma segunda função: avaliar a qualidade dos
professores e da escola. Esse sistema permite avaliar professores sem
submetê-los a avaliações diretas. Talvez você não saiba, mas os professores,
apesar de passarem a vida avaliando alunos, reagem violentamente quanto a
escola ou o governo tenta avaliá-los diretamente.
Para esse fim, foram criados exames como o
Enem. E com eles vieram as listas das "melhores" escolas secundárias
e universidades. Seriam aquelas cujos alunos receberam as melhores notas nesses
exames. Infelizmente, essa classificação pode ser enganosa. Ela parte do
princípio de que todas as escolas recebem alunos com a mesma qualificação.
Imagine duas escolas. Em uma os alunos
tiraram 10 no Enem e em outra, 8. Nas listas, fica implícito que a escola 10 é
melhor que a 8. Mas isto só é verdade se ambas as escolas receberam, no início,
alunos com a mesma formação.
Imagine que a escola 10 recebeu alunos que
sabiam o equivalente a 7. Ela foi capaz de transformar 7 em 10 (eles aprenderam
3). Mas imagine que a escola 8 recebeu alunos que sabiam o equivalente a 2. Ela
transformou alunos 2 em 8 (eles aprenderam 6). É fácil argumentar que a escola
em segundo no ranking é aproximadamente duas vezes mais eficiente que a escola
10.
O fato é que não sabemos quais são as
melhores escolas secundárias ou as melhores universidades. Esse fato não só
distorce a avaliação, mas explica porque a maioria das escolas deseja receber
os alunos mais bem preparados e se livrar dos mal preparados. A única
maneira de não incorrer nesse erro é medir o conhecimento de cada aluno no
inicio e no final do curso e avaliar os professores e as escolas em função do
progresso obtido pelos alunos ao longo do curso.
Infelizmente, isso não está totalmente
implantado no Brasil. Mas é isso que é feito em muitos Estados dos EUA. E foi
utilizando esse tipo de dado que os pesquisadores estudaram o processo de
melhora dos professores.
Nos EUA, a profissão de professor passou ser
atividade de inicio de carreira. Se em 1988 o número de anos de experiência
dos professores de ensino secundário era de 15, agora ela se aproxima
perigosamente dos 3. Cinco anos depois de contratados, mais de 50% deles
abandonaram a profissão. O resultado é que as crianças estão sendo educadas por
professores inexperientes.
Daí a questão: quão rápido esses professores
iniciantes melhoram sua capacidade de ensinar? Ou qual a perda sofrida pelo
sistema educacional por causa da pouca experiência dos docentes?
Foram analisados os dados de 1,05 milhão de
crianças avaliadas no início e no final de cada ano, para cada uma das matérias.
Para cada criança, é conhecido cada professor e sua experiência anterior, seus
colegas de classe e outros dados. Usando metodologias estatísticas, esses dados
foram cruzados e as correlações estatisticamente significantes foram
identificadas.
Os resultados mostram que em ciências exatas
a capacidade dos professores de ensinar aumenta rapidamente durante os
primeiros quatro anos de magistrado e depois se estabiliza. Para professores de
matemática e biologia, esse aumento é menos significativo, mas também se
estabiliza aos quatro anos. Os outros professores não melhoram tanto ao longo
do tempo e sua eficiência inicial se mantém. E foi descoberto que os
professores mais eficientes nos primeiros anos de carreira eram os que tinham
maior chance de não se demitirem após cinco anos. Esses resultados explicam
parte do fato de o ensino de ciências exatas piorar nos EUA.
Para nós, brasileiros, esse estudo demonstra
como é possível dissecar o desempenho de cada professor analisando o dos alunos. Pena que avançamos
tão devagar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário