Mostrando postagens com marcador PROFESSOR. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador PROFESSOR. Mostrar todas as postagens

domingo, 23 de novembro de 2014

Hora da saudade!

ANTONIO DELFIM NETTO, mais uma vez um belo texto na Folha de S. Paulo. 

Nos idos de 1945/50, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, o prof. Dorival Teixeira Vieira era um autodidata ranzinza e exigente que ministrava o curso de "Teoria da Formação de Preços". Usava um quadro negro quadriculado e giz de várias cores para realizar duvidosas "demonstrações" geométricas. Evitava o cálculo diferencial em que tinha menor proficiência do que os alunos que haviam frequentado os cursos de outro excelente autodidata, o prof. Luiz Berthet. Fui seu aluno, seu admirador e, por fim, seu amigo por toda a vida.

No honesto propósito de nos colocar na fronteira do conhecimento daquele período, um dia, depois de muito ensaio, aventurou-se numa demonstração geométrica intuitiva da teoria do equilíbrio geral. Após longo esforço, acreditou tê-la demonstrado. Um companheiro realmente brilhante, Roberto Keffer Avelino, fez-lhe a pergunta que até hoje os economistas do "cientifismo" não responderam: quantas pessoas morrem de fome nesse equilíbrio? Se nenhuma, acrescentou Keffer, então ele não tem nada a ver com o Brasil ou com qualquer outro lugar do mundo...

Dois outros professores relativizavam a crença em modelos abstratos na economia. O autodidata, de inteligência e generosidade incomparáveis, Luiz de Freitas Bueno, que insistia na nascente econometria, para dar-lhes consistência; e a única profissional consagrada, a ilustre Alice Canabrava, que insistia, com toda a razão, que sem a história os modelos eram vazios e que a "história engajada" os destruía.

Desde cedo, também por influência de outro brilhante autodidata, o prof. Heraldo Barbuy fomos inoculados com um vírus resistente a aceitar que a moeda era um mero instrumento facilitador das trocas dotado de algumas características materiais. Não, a moeda é um fato social que modifica o comportamento dos agentes. E vacinados, também, contra a ideia que considera o mercado de trabalho como "natural", igual a um bem qualquer, onde o preço é determinado pelo encontro da "oferta" e da "procura". Não, o homem tem uma dignidade própria: ele se constrói e é o instrumento da construção de uma sociedade civilizada. A separação brutal entre o "trabalho" e o "capital" que vivemos é apenas um instante na sua longa construção.

Santo pragmatismo consequencialista! Ele permitiu à FEA-USP enriquecer-se com uma visão ampla e tolerante do mundo, além de divertir-se com as maravilhas e sofisticadas formalizações matemáticas da Economia. Ela nunca esqueceu, entretanto, que só existe para gerar conhecimento que torne mais fácil eliminar o número dos que morrem de fome e facilitar a construção da sociedade civilizada.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Como avaliar um professor.


Fernando Reinac, no Estado de S. Paulo de hoje, escreve sobre “como avaliar um professor”.  
  
Até que ponto é possível avaliar um professore medindo o aprendizado dos alunos? Um estudo desenvolvido nos EUA demonstrou que esse método, se bem aplicado, mede até a velocidade com que professores iniciantes melhoram seu desempenho.

Quando eu era estudante, os alunos eram avaliados todos os meses e ao final do ano. Isso ainda acontece, mas a avaliação dos alunos passou a ter uma segunda função: avaliar a qualidade dos professores e da escola. Esse sistema permite avaliar professores sem submetê-los a avaliações diretas. Talvez você não saiba, mas os professores, apesar de passarem a vida avaliando alunos, reagem violentamente quanto a escola ou o governo tenta avaliá-los diretamente.

Para esse fim, foram criados exames como o Enem. E com eles vieram as listas das "melhores" escolas secundárias e universidades. Seriam aquelas cujos alunos receberam as melhores notas nesses exames. Infelizmente, essa classificação pode ser enganosa. Ela parte do princípio de que todas as escolas recebem alunos com a mesma qualificação.

Imagine duas escolas. Em uma os alunos tiraram 10 no Enem e em outra, 8. Nas listas, fica implícito que a escola 10 é melhor que a 8. Mas isto só é verdade se ambas as escolas receberam, no início, alunos com a mesma formação.

Imagine que a escola 10 recebeu alunos que sabiam o equivalente a 7. Ela foi capaz de transformar 7 em 10 (eles aprenderam 3). Mas imagine que a escola 8 recebeu alunos que sabiam o equivalente a 2. Ela transformou alunos 2 em 8 (eles aprenderam 6). É fácil argumentar que a escola em segundo no ranking é aproximadamente duas vezes mais eficiente que a escola 10.

O fato é que não sabemos quais são as melhores escolas secundárias ou as melhores universidades. Esse fato não só distorce a avaliação, mas explica porque a maioria das escolas deseja receber os alunos mais bem preparados e se livrar dos mal preparados. A única maneira de não incorrer nesse erro é medir o conhecimento de cada aluno no inicio e no final do curso e avaliar os professores e as escolas em função do progresso obtido pelos alunos ao longo do curso.

Infelizmente, isso não está totalmente implantado no Brasil. Mas é isso que é feito em muitos Estados dos EUA. E foi utilizando esse tipo de dado que os pesquisadores estudaram o processo de melhora dos professores.

Nos EUA, a profissão de professor passou ser atividade de inicio de carreira. Se em 1988 o número de anos de experiência dos professores de ensino secundário era de 15, agora ela se aproxima perigosamente dos 3. Cinco anos depois de contratados, mais de 50% deles abandonaram a profissão. O resultado é que as crianças estão sendo educadas por professores inexperientes.

Daí a questão: quão rápido esses professores iniciantes melhoram sua capacidade de ensinar? Ou qual a perda sofrida pelo sistema educacional por causa da pouca experiência dos docentes?

Foram analisados os dados de 1,05 milhão de crianças avaliadas no início e no final de cada ano, para cada uma das matérias. Para cada criança, é conhecido cada professor e sua experiência anterior, seus colegas de classe e outros dados. Usando metodologias estatísticas, esses dados foram cruzados e as correlações estatisticamente significantes foram identificadas.

Os resultados mostram que em ciências exatas a capacidade dos professores de ensinar aumenta rapidamente durante os primeiros quatro anos de magistrado e depois se estabiliza. Para professores de matemática e biologia, esse aumento é menos significativo, mas também se estabiliza aos quatro anos. Os outros professores não melhoram tanto ao longo do tempo e sua eficiência inicial se mantém. E foi descoberto que os professores mais eficientes nos primeiros anos de carreira eram os que tinham maior chance de não se demitirem após cinco anos. Esses resultados explicam parte do fato de o ensino de ciências exatas piorar nos EUA.

Para nós, brasileiros, esse estudo demonstra como é possível dissecar o desempenho de cada professor analisando o dos alunos. Pena que avançamos tão devagar.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Prof. Dorival.


Antonio Delfim Netto, hoje na FOLHA DE S. PAULO e sua homenagem a um professor. Um texto emocionante e verdadeiro.     

Peço permissão à Folha e aos seus leitores para usar este espaço lembrando e homenageando um velho e querido professor e amigo.

Ele influenciou de forma importante várias gerações de economistas formados na FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), na USP, nos idos dos anos 1950 e 1960. Morreu, no começo de fevereiro, aos 96 anos.

O professor Dorival Teixeira Vieira (1915-2012) formou-se na Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da USP no final da década de 1930.

No campo da economia, que concentrou posteriormente seu interesse, recebeu as lições de alguns docentes de economia política, todos franceses de orientação literária e institucional.

Como todos os economistas brasileiros do início da década de 1940, foi praticamente um autodidata que se produziu no isolamento intelectual imposto pelos anos de guerra (1939-45).

Foi um mestre sério, assíduo e exigente. Um pouco rabugento, mas sempre disposto a ajudar os alunos que o procurassem. Devido à falta absoluta de profissionais, ele acumulava quatro disciplinas e acompanhava os alunos do segundo ao quarto ano.

Naquele tempo, a disciplina teoria do valor era autônoma e ocupava o segundo ano inteiro. Dorival percorria a história do pensamento econômico desde Aristóteles até os austríacos com as sutilezas psicológicas que o agradavam enormemente.

Quando chegava a Marx, entretanto, a teoria do valor-trabalho era submetida a uma complicada tortura intelectual que, paradoxalmente, terminava mal ajeitada e pouco convincente.

No terceiro ano, Dorival ministrava um curso trabalhoso sobre a teoria dos preços. Por meio de geometria plana, em quadros negros quadriculados adrede e cuidadosamente preparados, com giz de várias cores, explorava um grande número de possíveis "tipos" de mercado e sua formação de preços. Nem uma só equação.

A definição de "elasticidade" usava apenas acréscimos finitos. Não raramente, portanto, as aulas terminavam em interessantes discussões sobre a generalidade das conclusões. A sua tese de cátedra foi sobre um dos regimes de formação de preços (monopólio bilateral) e foi obscurecida por aquelas razões.

Ainda no terceiro ano, ele promovia interessantes lições sobre a teoria da moeda. Quantitativista e repetindo sua ênfase histórica, ia de Locke até o Keynes de 1930.

No quarto ano, ele ministrava um excelente curso sobre teoria do comércio internacional.

Dorival Teixeira Vieira foi um grande brasileiro e excelente professor.

Ele deixa saudades! 

sábado, 25 de junho de 2011

Uma aula na internet.

Para quem ainda não conhece, é altamente recomendável o site da KHAN ACADEMY http://www.khanacademy.org/. Trata-se do site do americano, descendente de indiano, Salman Khan, matemático do MIT, no qual ele explica de forma extremamente simples problemas complexos de várias áreas do conhecimento. Ele é um professor extraordinário e tem como alunos até os próprios filhos de Bill Gates.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...