quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Antonio Delfim Netto: um economista notável.
Um momento inesquecível na vida deste economista cearense, que compartilho com os meus ainda, espero, dois (milhões de) leitores deste blog.
Um café na companhia do brilhante mestre Antonio Delfim Netto, que
em 1959 defendeu sua tese justamente com o título "O problema do café no Brasil".
Ter o prazer de conversar
com uma mente realmente privilegiada e de uma polidez somente encontrada em raras pessoas, não tem preço.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
CAEN/UFC: Prêmio ANBIMA de Mercado de Capitais 2014.
A Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará,
CAEN/UFC, foi novamente agraciada com o Prêmio ANBIMA de Mercado de
Capitais.
Em sua oitava edição, no ano de 2012, o aluno Wandermon Silva, do
Mestrado Profissional em Finanças e Seguros, orientado pelo Professor Paulo
Matos havia ganho na categoria de Mestrado.
Agora, em 2014, o aluno Glaylson Sampaio, também do Mestrado
Profissional em Finanças e Seguros, sob a orientação do Prof. Paulo Matos,
ganha na mesma categoria o 10º Prêmio ANBIMA de Mercado de Capitais, com o
trabalho intitulado: Modelagem do Comportamento Forward-looking dos
índices setoriais no Brasil.
Os demais trabalhos vencedores são da Universidade de São Paulo
(USP), da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV) e do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA).
Atenciosamente,
Coordenação do CAEN/UFC
domingo, 7 de dezembro de 2014
Vitória amarga.
Fernando Henrique Cardoso, hoje em seu artigo dominical.
Raras vezes houve vitória eleitoral tão pouco festejada. Nem mesmo
o partido da vencedora, tonitruante e dado a autocelebrações, vibrou o
suficiente para despertar o país da letargia.
Os mais espertos talvez tenham percebido que seus quadros
minguaram, com graves perdas de entusiasmo e adesão na juventude e certo rancor
em setores do empresariado mais moderno.
A reeleita possivelmente saboreie o êxito com certo amargor. É
indiscutível a legalidade da vitória, mas discutível sua legitimidade. O que
foi dito durante a campanha eleitoral não se compaginava com a realidade.
Só mesmo seu ministro da Fazenda, que coabita com o novo ministro
designado, pôde dizer de cara lavada que a economia saíra da estagnação e que
os males que a assolam vêm da crise mundial.
Recentemente, fazendo coro a esta euforia de encomenda, diante de dados
que mostram um “crescimento” de 0,1% do PIB no trimestre passado, houve a
repetição da bobagem: finalmente a economia teria saído da “recessão técnica”,
de dois ou mais trimestres seguidos.
Palavras, palavras, palavras, que não enganam sequer aos que as
estão pronunciando.
Na formação do novo gabinete, a presidenta começou a atuar
(escrevo antes que a tarefa esteja completa) no sentido de desdizer o que
pregara na campanha. Buscou um tripé “de direita” para o comando da economia.
Na verdade, o adjetivo é despiciendo: a calamidade das contas
públicas levou-a a escolher quem se imagina possa repô-las em ordem, pois sem
isso não existe direita nem esquerda, mas o caos.
Menos justificável, senão pela angústia dos apoios perdidos, é a
composição anunciada do resto do Ministério de cunho mais
conservador/clientelístico. Esperemos.
A presidenta, com esta reviravolta, deve sentir certa
constrangedora falta de legitimidade. Foi a partir da ação dela na Casa Civil,
e daí por diante, que se implantou a “nova matriz econômica”: mais gastança
governamental e mais crédito público, à custa do Tesouro.
Foi isso que não deu certo, e serviu de alavanca para outros
equívocos que levaram o governo do PT a perder a confiança de metade do país.
Sem falar da quebra moral.
Metade, sim, mas que metade? É só ver os dados eleitorais com
maior minúcia, município por município: a oposição ganhou, em geral, nas áreas
mais dinâmicas do país, inclusive nas capitais onde há sociedade civil mais
ativa, maior escolaridade, capacidade empreendedora mais autônoma e menos
amarras aos governos.
O lulopetismo, nascido no coração da classe trabalhadora do ABC,
recuou para as áreas do país onde a ação do governo supre a ausência de uma
sociedade civil ativa e de setores produtivos mais independentes de decisões
governamentais.
É falaciosa a afirmação de que houve vitória da oposição em áreas
geográficas tomadas isoladamente: Sudeste rico em contraposição ao Nordeste
pobre, idem quanto ao Sul ou quanto ao Centro-Oeste em relação ao Norte. Ou de
ricos contra pobres, à moda lulista.
Por certo, como há maior concentração da pobreza nas áreas mais
dependentes do assistencialismo governamental, houve, de fato, uma distinção na
qual as faixas de renda pesam. Mas os sete milhões de dianteira que Aécio levou
sobre Dilma em São Paulo terão sido “dos ricos”? Absurdo.
Nas áreas menos dependentes do governo, ricos e pobres tenderam a
votar contra o lulopetismo; nas demais, a favor de Dilma, ou melhor, do
governo.
A votação na oposição no Acre, em Rondônia, em Roraima ou nas
capitais do Norte e Nordeste se explica melhor pelo dinamismo do agronegócio e
pelos serviços que ele gera, e, no caso das capitais, pela maior autonomia de
decisão das pessoas.
Este o xis da questão. Eleito com apoio dos mais dependentes (não
só dos mais pobres, mas também dos dependentes “da máquina pública” e das
empresas a ela associadas), o “novo” governo precisa fazer uma política
econômica que atenda aos setores mais dinâmicos do país.
Vem daí certa tristeza na vitória: a tarefa a ser cumprida seria
mais bem realizada com a esperança, o ânimo e o compromisso de campanha dos que
não venceram.
Cabe agora aos vitoriosos vestir a camisa de seus opositores (como
Lula já fez em 2003), continuar maldizendo-nos e fazendo malfeito o que nós
faríamos de corpo e alma, portanto, melhor. Atenção: a economia não é tudo.
Menos ainda um ajuste fiscal.
O êxito de uma política econômica depende, como é óbvio, da
política. Economia é política. Política exige convicção, capacidade de
comunicar-se, mensagem e desempenho.
No Plano Real, coube-me ser o arauto, falar com a sociedade, ir ao
Congresso, convencer o próprio governo. O presidente Itamar Franco teve a
sabedoria de indicar o embaixador Ricupero para me suceder, que fez o mesmo
papel.
E agora, quem desempenhará a função de governar numa democracia,
isto é, obter o apoio, o consentimento, a adesão dos demais atores políticos?
Do Congresso, das empresas, dos sindicatos, das igrejas, da mídia, numa palavra,
da sociedade.
A presidenta Dilma, mulher sincera, ciosa de suas opiniões, terá
condições para se transmutar em andorinha da mensagem execrada por ela e sua
grei? A nova equipe econômica terá esse perfil ou se isolará no tecnicismo?
O “petrolão” será uma ventania ou um tufão a derrubar as muralhas
do governo e da “base aliada”? E a oposição se oporá de verdade, ou embarcará
no tecnicismo e na boa vontade à espera de que o “mercado”, sobretudo o
financeiro, acalme-se e que tudo volte à moda antiga? O mesmo se diga de cada
setor da sociedade.
É mais fácil rearranjar a economia do que acertar a política. Que
fazer com essa quantidade de partidos e ministérios, interligados mais por
interesses, muitos dos quais escusos?
Sem liderança, nada a fazer. Com miopia eleitoreira, menos ainda.
Tomara não sejam os juízes os únicos a purgar nossos males, como ocorreu na
Itália, até porque no exemplo citado o resultado posterior, a eleição de um
demagogo como Berlusconi, não foi promissor.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
Economia brasileira: adeus 2015. Feliz 2016!
Nestes dias já tão próximos de 2015 e da nova posse em Brasília da
presidente Dilma Rousseff, nossas orações e pensamentos estão direcionadas para
que a nova equipe de governo consiga para este segundo mandato, o que não se
conseguiu durante o período de 2011 a 2014.
Em que pese o esforço do governo na inclusão social das classes
menos favorecidas, lamentavelmente os números econômicos não brilharam tanto
nestes últimos anos. A relevância da taxa de desemprego em sucessivas quedas,
estimando-se 5,1% para este ano, não condiz com um cenário macroeconômico de pífio crescimento e desenvolvimento.
A mediocridade do resultado do PIB esperado para 2014, algo em
torno de zero, é frustrante para uma nação com mais de duzentos milhões de
habitantes. Enquanto isso, a inflação registra a sua deletéria presença
diariamente e a meta de 4,5% ao ano é algo que a equipe econômica efetivamente
não conseguiu atingir, mesmo com o forçoso represamento de preços e tarifas.
O Banco Central ainda tenta manter a taxa de câmbio sob controle,
porém estudos demonstram a real possibilidade de em 2015 a cotação R$/US$
atingir rapidamente os R$ 3,00.
Neste final de ano, para tentar sinalizar uma política monetária
ortodoxa e demonstrar uma independência que efetivamente ainda não possui, o
Banco Central eleva mais uma vez a taxa Selic de 11,25% para 11,75% ao ano. Para
quem iniciou o governo com 10,75% de taxa Selic, a presidente não deve ter
ficado muito feliz.
Enquanto o saldo da balança comercial para o final de 2014 chega a
quase zero, o saldo em contas correntes estoura em quase US$ 80 bilhões.
E um governo que promoveu gastos e mais gastos em um ano de
eleições presidenciais, não poderia realmente fechar bem suas contas contábeis,
mesmo mantendo uma contabilidade para lá de criativa. E esquecendo que ainda
possa existir algum superávit primário em 2014, o que nos restará será mais um
aumento da dívida pública líquida (% PIB) para cerca de 35,5%.
Diante de tantos indicadores negativos, que os votos de um feliz
2015 já sejam acrescidos de um pedido para que 2016 não demore muito.
Best books of 2014 - The Economist.
Economics and business:
Capital in the
Twenty-First Century. By Thomas Piketty. Belknap Press; 696 pages; $39.95 and
£29.95. Buy from Amazon.com<http://www.amazon.com/exec/obidos/ASIN/067443000X/theeconomists-20>; Amazon.co.uk<http://www.amazon.co.uk/exec/obidos/ASIN/067443000X/economistshop-21>
An unlikely bestseller
by a French economist, who, by looking at historical changes in the
concentration of income and wealth, shows that the importance of wealth in
modern economies is approaching levels unseen since before 1914.
The Forgotten
Depression, 1921: The Crash that Cured Itself. By James Grant. Simon &
Schuster; 254 pages; $28. Buy from Amazon.com<http://www.amazon.com/exec/obidos/ASIN/1451686455/theeconomists-20>; Amazon.co.uk<http://www.amazon.co.uk/exec/obidos/ASIN/1451686455/economistshop-21>
A study of the searing
1920s by the founder of a well-regarded financial newsletter. It sheds light on
a nasty, but largely ignored, episode and demonstrates that a laissez-faire
approach can cure slumps better than the government activism of the 1930s-or
indeed 2008.
Brazil: The Troubled
Rise of a Global Power. By Michael Reid. Yale University Press; 334 pages;
$32.50 and £20. Buy from Amazon.com<http://www.amazon.com/exec/obidos/ASIN/0300165609/theeconomists-20>; Amazon.co.uk<http://www.amazon.co.uk/exec/obidos/ASIN/0300165609/economistshop-21>
Our former Americas
editor, now the Bello columnist, analyses the troubled rise of a global power
and looks at the challenges that lie ahead.
The status of economists: The power of self-belief.
"IF ECONOMISTS
could manage to get themselves thought of as humble, competent people, on a
level with dentists, that would be splendid!" said John Maynard Keynes, a
British economist. Despite their collective failure to predict the financial
crisis, let alone follow Keynes's injunction, economists are still very
influential. They write newspaper columns, advise politicians and offer
expensive consulting services to business-folk far more than other academics. A
new paper* tries to explain why.
One reason, say the
authors, is that economists have come to believe that they are superior. A
survey in 1985 found that just 9% of graduate students in economics at Harvard
strongly believed that economics was "the most scientific of the social
sciences". But as economics became ever more mathematical, its
practitioners grew in self-confidence. By 2003 54% of the graduate economists
studying at Harvard strongly agreed with the statement. A glance at a popular
blog for doctoral students in economics, econjobrumors.com, gives a taste of
the contempt in which its users hold other disciplines. Sociologists "play
around with big important ideas without too much effort or rigour," one
econo-nerd asserts.
The authors point out
that economists demonstrate their self-belief in subtler ways too. Articles in
the American Economic Review cite the top 25 political-science journals
one-fifth as often as the articles in the American Political Science Review
cite the top 25 economics journals. Another study found that American economics
professors were less likely than their peers in other subjects to agree with
the notion that "interdisciplinary knowledge is better than knowledge
obtained by a single discipline."
The odd thing, the
authors argue, is that we believe in economists almost as much as they believe
in themselves. Journalists and politicians seek strong arguments and clear
answers. Most academics are reticent types: historians, for instance, question
whether you can learn anything from history. "For a moderate fee,"
jokes Deirdre McCloskey, an economic historian, "an economist will tell
you with all the confidence of a witch doctor that interest rates will rise 56
basis points next month or that dropping agricultural subsidies will increase
Swiss national income by 14.8%."
* "The
superiority of economists<http://pubman.mpdl.mpg.de/pubman/faces/viewItemOverviewPage.jsp?itemId=escidoc:2071743:2>", by M. Fourcade, E. Ollion and
Y. Algan, MaxPo Discussion Paper 14/3.
Adolfo Sachsida: um exemplo para Brasília.
Receber a Folha de S. Paulo e visualizar a imagem do colega Adolfo
Sachsida sendo retirado à força do interior do Congresso Nacional é de
aterrorizar um democrata.
Sachsida é um competente economista, com sólida bagagem acadêmica,
funcionário do IPEA e foi professor nos Estados Unidos.
A infante democracia brasileira não merece conviver com uma cena
tão desastrada.
É fato que atualmente o Brasil perpassa por um momento político e
econômico que desanima a sociedade e com o agravante da falta de lideranças
capazes de transformarem ideias em realidades.
É neste momento que conclamo os homens de bem deste país, dos
setores públicos e privados, a unirem-se em um governo de coalização nacional
que busque trabalhar pelo país e não por um partido político, com o simples
propósito de proporcionar as próximas gerações os benefícios que a nossa
geração está desperdiçando.
Copom eleva a taxa Selic para 11,75% ao ano.
Brasília – O
Copom decidiu, por unanimidade, intensificar, neste momento, o ajuste da taxa
Selic e elevá-la em 0,50 p.p., para 11,75% a.a., sem viés.
Considerando os efeitos cumulativos e defasados da política
monetária, entre outros fatores, o Comitê avalia que o esforço adicional de
política monetária tende a ser implementado com parcimônia.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Alexandre
Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de
Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, Luiz Awazu Pereira da
Silva, Luiz Edson Feltrim e Sidnei Corrêa Marques.
Brasília, 3 de dezembro de 2014
Banco Central do Brasil
Assessoria de Imprensa
(61) 3414-2808
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
London Business School - a melhor da Europa.
Leio no VALOR matéria do Financial Times sobre a melhor escola de negócios da Europa.
A
britânica London Business School foi escolhida a melhor escola de negócios da
Europa, segundo ranking do jornal "Financial Times" publicado neste
domingo (30). É a primeira vez que ela sobe ao topo da lista desde 2005.
A francesa
HEC Paris e a espanhola IE Business School, que no ano passado empataram em
primeiro lugar, ficaram neste ano com a segunda e terceira posição,
respectivamente. Suíça e Itália também tiveram instituições incluídas no top
10.
Segundo
pesquisa do jornal com mais de 1.500 alunos formados entre 2010 e 2011, 40%
sentiram impacto negativo na carreira decorrente das baixas taxas de
crescimento econômico da Europa. Entre eles, 67% citam menos vagas de emprego,
41% encontraram pouca oportunidade de promoção e 36% reportam remuneração e
bônus mais baixos. Mas 77% acreditam que as habilidades adquiridas nas escolas
de negócios ajudaram a lidar com o cenário econômico, e 40% receberam acesso a
eventos de networking e conselhos de carreira por meio das instituições.
Ainda assim,
cerca de um terço dos ex-estudantes que vivem na Europa consideram mudar para
outro país dentro de um ano em busca de mais oportunidades de crescimento. O
Estados Unidos é opção mais citada.
Educação: a força de um cearense.
Para um mês
de festas, uma notícia que somente poderia acontecer no meu Ceará.
A força do
João é orgulho de todo brasileiro que ama educação.
Parabéns.
domingo, 30 de novembro de 2014
Dilma Rousseff: o que esperar para 2015.
Neste último
dia de novembro, realmente o cenário que espera a presidente Dilma a partir de
01/01/2015 não é dos melhores.
Como não existe
almoço grátis, a presidente tem a obrigação de, em benefício da sociedade
brasileira, efetivamente optar pelo único caminho que possa levar o Brasil ao
caminho do crescimento com distribuição de renda.
Para isso,
Dilma Rousseff enfrentará aliados inimigos e críticas nem sempre sinceras, mas se
o dever de casa for feito da maneira correta, a presidente poderá, ao final de
seu governo em 31/12/2018, apresentar números que mostrem o país com
crescimento sustentável, uma inflação até abaixo da meta de 4,5% e com as
contas públicas controladas, ou seja, nada de gastar mais do que arrecadar.
Hoje os
indicadores são ruins, com um PIB estimado para 2014 de apenas 0,30%, a inflação
fechando o ano bem acima da meta de 4,50%, o déficit em conta corrente em U$$ 84 bilhões
e o resultado primário do setor público fechando 2014 com um déficit de R$ 12
bilhões.
Esperamos
que a nova equipe econômica composta pelo Joaquim Vieira Ferreira Levy no
Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa no Ministério do Planejamento e Alexandre
Tombini no Banco Central possa orientar a presidente a adotar medidas mais
duras, mesmo que possam, nestes momentos iniciais, diminuir a sua popularidade.
Afinal, a
eleição acabou!
sábado, 29 de novembro de 2014
Thomas Piketty em detalhes.
Leio nesta
semana no portal UOL mais uma entrevista com o agora célebre THOMAS PIKETTY.
No dia em
que o governo brasileiro oficializou um novo ministro da Fazenda simpático ao
mercado, o economista francês Thomas Piketty, autor do best-seller "O
Capital no Século 21", afirmou considerar um erro pensar que o Brasil
precisa de mais mercado e menos intervenção na economia.
Piketty, que
está no Brasil para promover o livro que lhe rendeu status de celebridade no
debate econômico, não quis discutir especificamente a nova equipe econômica,
mas afirmou que "seria um erro pensar que o Brasil fez demais na área
social e para reduzir a desigualdade".
Em seu
livro, o francês sustenta que a desigualdade voltou a aumentar nas últimas
décadas, beneficiando herdeiros e prejudicando a ascensão social, o que
colocaria em risco a democracia.
Em
entrevista à Folha, Piketty, que já foi citado em discurso pela presidente
Dilma Rousseff, reclamou que dados de má qualidade fazem com que a desigualdade
brasileira seja subestimada, e sua redução, alardeada pelo governo, talvez
exagerada.
Folha -
Recentemente, Dilma disse que o Brasil vai contra a corrente internacional de
alta da desigualdade que seu livro aponta. O sr. concorda?
Thomas
Piketty - Políticas de educação e transferências sociais como as que foram
aplicadas em certa medida no Brasil nestes dez últimos anos podem permitir ir
contra a corrente de aumento da desigualdade, mas ela realmente diminuiu?
Não é tão
certo, é possível que tudo tenha sido puxado para cima, inclusive os mais
pobres, mas não necessariamente em maior proporção que os mais ricos.
A forma como
medimos a desigualdade sem dúvida a subestima. No Brasil, ela é sem dúvida
ainda mais alta do que muitas estatísticas oficiais dizem porque a maior parte
delas se baseia em pesquisas familiares com autodeclaração. O problema dessas
pesquisas é que temos tendência a subestimar o topo da distribuição.
Infelizmente, tem sido muito difícil acessar os dados fiscais do Brasil.
Falta
transparência?
Estudo
recente (de pesquisadores da Universidade de Brasília) sugere que, se
utilizamos dados fiscais, o nível das desigualdades no Brasil aumenta. Não
sabemos muitas coisas sobre a distribuição da renda no Brasil e precisamos de
mais transparência para ver melhor em que medida os diferentes grupos sociais
se beneficiam do crescimento.
É evidente
que todo o mundo se beneficiou do crescimento dos últimos 15 anos. Agora, em
qual proporção exatamente os diferentes grupos se beneficiaram dele não sabemos
muito bem. É possível que se tenha exagerado um pouco a [divulgação da] redução
das desigualdades no Brasil.
Dilma também
disse preferir investir em consumo e educação para lutar contra desigualdade a
fazer taxação, como o sr. defende. Isso é suficiente?
Também é
preciso reforma fiscal, de um imposto progressivo sobre a renda e sobre o
patrimônio. Precisamos da reforma fiscal para financiar a educação. Acrescento
que uma parte das desigualdades grandes do Brasil se explica pela relativamente
baixa progressividade do sistema fiscal.
Como seria a
reforma?
A faixa mais
alta de Imposto de Renda no Brasil é de 27,5%, inferior à menor dos Estados
Unidos. Creio que uma das razões pela qual há muito desigualdade no Brasil é a
progressividade de IR relativamente baixa. Há também muitos impostos indiretos,
que são regressivos e pesam sobre as camadas populares.
É importante
também tratar de forma diferente as rendas anuais de R$ 100 mil e de R$ 1
milhão, R$ 5 milhões e R$ 10 milhões. Poderíamos ter faixas mais elevadas, de
50%, 60%.
Como na sua
França natal?
Também como
os EUA, o Reino Unido, a Alemanha, que têm taxas que vão até 40%, 50%. É ainda
mais impressionante o imposto sobre herança, 4% [na maioria dos Estados] é
realmente baixo, muito perto de zero.
É possível
ter uma economia dinâmica e sistema capitalista próspero com imposto sobre
herança alto. Para as novas gerações que não têm patrimônio familiar e procuram
comprar apartamento em São Paulo, é muito difícil se você só tem a renda de seu
trabalho. Não é normal que você ganhe R$ 100 mil por ano com seu trabalho e
pague muito mais de imposto do que se você recebesse R$ 100 mil de herança de
sua família.
O governo
oficializou uma nova equipe econômica com um ministro da Fazenda mais ligado ao
mercado e vindo de uma escola liberal. Que avaliação o sr. faz disso?
Não conheço
o contexto político brasileiro, não posso me pronunciar. Quem quer que seja
colocado no comando da política, qualquer que seja a orientação, os níveis de
desigualdade muito altos que temos no Brasil devem ser questionados e tratados
pelo governo, assim como a baixa progressividade do sistema fiscal.
Mas
abordagem liberal e pró-mercado é boa ideia para enfrentar tais desafios?
Precisamos
de mercado e também de poder público que tome decisões que permitam a cada um
de se beneficiar da globalização e dos mercados.
Eu tento ir
além dessas oposições um pouco teóricas e ideológicas. Creio que que seria um
erro pensar que o Brasil fez demais na área social, que fez demais para reduzir
a desigualdade, que agora é preciso mais mercado, menos intervenção, eu acho
que isso seria um erro.
Apesar dos
esforços que foram feitos em políticas sociais nos últimos 15 anos, o Brasil
continua extraordinariamente desigual. O nível de investimento social,
educacional para os desfavorecidos da população brasileira continua
insuficiente.
O sr.
defende que os estudos em economia levem em conta aspectos históricos, sociais,
políticos e culturais. Isso é importante também para a gestão econômica do
governo?
Sim, é
importante para o governo também. A questão econômica é importante demais para
ser deixada para economistas, que às vezes tentam fazer crer que dispõem de uma
ciência realmente complicada que os outros não podem compreender e que é
preciso deixá-los em paz. Isso é uma piada gigantesca.
O nome de
seu livro, que remete a Karl Marx, e algumas de suas opiniões fazem que muitos
o considerem anticapitalista.
O problema é
que há gente que vive ainda na Guerra Fria e tem necessidade de inimigos
anticapitalistas. Não sou esse inimigo. Creio no capitalismo, na propriedade
privada e nas forças do mercado.
Nasci tarde
demais para ter a menor tentação que seja pelo comunismo de tipo soviético.
Isso não me interessa. Ao mesmo tempo, acho que temos necessidade, basta ver a
crise de 2008, de instituições públicas muito fortes para regular o mercado
financeiro e as desigualdades produzidas pelo capitalismo.
Sua defesa
de um imposto global sobre grandes fortunas já foi feita por outros autores e
nunca avançou. Não é ingênuo crer que seja realmente possível contrariar tantos
interesses contrários?
Não
precisamos esperar ter um governo mundial, um imposto unificado mundial para
fazer progressos, se não arriscamos esperar um longo tempo. Podemos fazer
progresso por etapas e a nível nacional. Há diferentes formas de imposto sobre
capital e patrimônio em cada país, que podem ser melhorados de forma mais
progressiva. Em seguida podemos progredir na cooperação internacional, como já
tem sido feito quanto aos paraísos fiscais.
Como o sr.
demonstra, a desigualdade no século 20 só caiu em um contexto de crise e
reconstrução das sociedade após duas guerras mundiais. Seria mesmo possível
algo tão ambicioso em tempos de paz?
As lições de
história são importantes, as elites que não querem pagar mais impostos no
Brasil, nos EUA e na Europa devem se lembrar que não é uma boa solução esperar
a crise. Todo o mundo precisa de uma globalização que seja mais justa, que
beneficie diferentes grupos sociais em proporção equilibrada. Se não, é a
própria globalização que arrisca ser questionada.
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
A nova equipe econômica e a FEBRABAN: mudanças à vista, finalmente.
A presidente
Dilma fez excelentes escolhas ao nomear Joaquim Levy para ministro da Fazenda,
confirmar Alexandre Tombini como presidente do Banco Central, e indicar Nelson
Barbosa para o ministério do Planejamento. Os três têm larga experiência na
formulação e implementação de políticas macroeconômicas, sempre colocando o
interesse público em primeiro lugar.
Como
secretário do Tesouro, Joaquim Levy executou com firmeza as políticas do
ex-presidente Lula de ampliação do superávit primário e de redução e melhoria
da composição da dívida pública. Os bons resultados destas políticas
contribuíram para a retomada da confiança, a conquista pelo Brasil do grau de
investimento, e a aceleração do crescimento econômico que se seguiu. Levy tem
experiência e credibilidade internacional, adquiridas no exercício de funções
em importantes organizações multilaterais como o FMI, o Banco Central Europeu e
o BID, além de sólida formação acadêmica.
A
confirmação de Alexandre Tombini no comando do Banco Central renova a
expectativa do combate firme à inflação e a confiança na continuidade do
excelente trabalho de regulação e supervisão prudencial exercido pelo BACEN, o
qual tem sido essencial para a estabilidade e solidez do sistema financeiro
nacional. Com sua larga experiência doméstica e internacional, qualificação
técnica e dedicação, Tombini tem sido um comandante exemplar do Banco Central.
Nelson
Barbosa acumulou experiência em importantes cargos, como secretário de
Acompanhamento Econômico, secretário de Política Econômica e de
secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Assume agora o ministério do
Planejamento, pelo qual também já havia passado em 2003, com expectativa de que
dará contribuição positiva para uma atuação coesa e harmônica da nova equipe
econômica. Estamos mais otimistas com o próximo ano, esperando que estas
indicações contribuam para a retomada da confiança o que, como os mercados
indicam, já começou a ocorrer. A FEBRABAN, seus bancos associados e eu
pessoalmente desejamos grande sucesso aos novos Ministros e ao Presidente do
BACEN, nos colocamos à disposição para continuar a trabalhar em prol do
desenvolvimento do Brasil."
Diretoria de
Comunicação
11 3244-9831/9942
Twitter:
@febraban
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
"Fiscal, a mãe de todas as ordens" - Delfim Netto.
Li hoje no no site do CORECON SP, mais um artigo do mestre Delfim Netto, escrito para o Valor Econômico em 19/11/2014.
O professor
Marcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda,
coordenou, no dia 7, um magnífico Encontro de Política Fiscal na Fundação
Getulio Vargas de São Paulo. Com uma única e óbvia exceção, os participantes
são o "crème de la crème" dos especialistas nacionais e
internacionais sobre o assunto. O ilustre ministro Guido Mantega fez uma
cuidadosa e equilibrada exposição, na qual defendeu, com sóbria habilidade, a
política fiscal do governo.
Mas afinal,
o que é a política fiscal? Podemos repetir a síntese do professor R.A.Musgrave
("The Theory of Public Finance", 1959) que sugeriu que ela consiste
na intervenção deliberada do poder incumbente sobre a receita e a despesa
públicas para cumprir alguns papéis que dele se espera: 1) de alocador de
recursos para suprir os bens públicos (justiça, saúde, educação,
infraestrutura, pesquisas etc.) que se acomodam muito mal nas condições que
tornam eficiente a sua oferta pelo mercado; 2) de redistribuidor de recursos no
espaço social para reduzir as desigualdades e atender às necessidades básicas
dos menos favorecidos e, redistribuir no tempo, para a seguridade social; e 3)
de estabilizador da conjuntura, com a manobra de aumentar ou diminuir receita e
a despesa públicas para amortecer as flutuações ínsitas no sistema capitalista.
Essa
descrição, tão "certinha", contrasta fortemente com as dificuldades e
incertezas que cercam a sua execução: a existência de defasagens na resposta
aos estímulos, o uso de conceitos não mensuráveis como o produto potencial, o
estabelecimento de prioridades (análise custo/benefício), da taxa de desconto
social, do custo de oportunidade etc.
É evidente
que o papel do poder incumbente não se esgota aí. Ele ainda: 1) tem - através
de instituições adequadas - que garantir o bom funcionamento dos mercados que
controlam a alocação dos fatores de produção privados e que produzem os bens e
serviços para atender à demanda dos consumidores; e 2) deve ter a capacidade de
regulá-los para evitar a concentração e estimular a competição.
Quando
convenientemente conduzida, a política fiscal: 1) "garante" a
relativa estabilidade da atividade econômica e do emprego, fundamentais para a
coesão social; 2) dá credibilidade ao ajuste "mais fino" da política
monetária que, com pequenas manobras da taxa de juro real de longo prazo,
compatibiliza a soma da demanda privada com a demanda pública para manter a
taxa de inflação baixa e relativamente estável; 3) por sua vez,
"credibilidade" e "previsibilidade" tornam possível uma
política salarial capaz de manter o desejável aumento do salário real sem
pressões marginais sobre a taxa de inflação; e 4) propicia uma relativa
estabilidade da taxa de câmbio real, fundamental para determinar o nível de
atividade, oferecendo um "buffer" de recursos para minorar os
excessos das flutuações idiossincráticas.
Por essa
rápida descrição deve ficar claro que o equilíbrio fiscal é o maestro que
comanda a política monetária, salarial e a cambial. A ordem fiscal é a mãe de
todas as ordens! É por isso que um Estado forte, constitucionalmente
controlado, capaz de regular o funcionamento dos mercados e implementar uma
política fiscal adequada - 1) pequeno déficit fiscal/PIB e 2) relação dívida
bruta/PIB relativamente constante e em nível apropriado para garantir espaço
para as manobras anti e pró-cíclicas -, é condição necessária, ainda que não
suficiente, para a promoção do desenvolvimento social e econômico sustentável
com equilíbrio interno (aumento harmonioso entre a igualdade de oportunidade e
o investimento) e externo (relativo equilíbrio do balanço em conta corrente
durante o ciclo).
Por motivos
internos e externos, estamos hoje muito longe dessa configuração. No quadriênio
2011-2014, em parte pela perda do "bônus" externo, apresentamos: 1)
um crescimento do PIB per capita de 0,6% ao ano; 2) uma taxa de inflação que
namorou o nível superior da margem de tolerância da meta; 3) uma significativa deterioração
da situação fiscal com déficit nominal de 5% do PIB e clara tendência de
aumento da relação dívida bruta/PIB. Parte disso se explica pela estagnação do
PIB, mas é preciso insistir que ela não parece ser apenas cíclica, tem uma
componente estrutural. Por fim, 4) acumulamos um déficit em conta corrente de
US$ 270 bilhões, devido à tragédia imposta ao setor industrial. O resultado
positivo do período - que não é pouca coisa -, é que se manteve o nível de
emprego.
A situação é
muito desconfortável. Não estamos à beira do fim do mundo, mas é imperioso
corrigi-la com a devida urgência. Isso exige um novo diagnóstico, ajustado às
novas condições internas e externas e envolverá mudanças na política
macroeconômica e, ainda mais, na micro, para encurtar a distância entre o
governo e o setor privado produtivo.
Dilma
recebeu das urnas um "voto de confiança". Esse é o fato fundamental
incontornável. Supera todas as opiniões, mesmo as que se pensam
"científicas"... Por que não dar-lhe, então, algum tempo para que
apresente um bom programa de política fiscal?
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