quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Dois anos ruins.


Editorial de hoje d’O Estado de S. Paulo alerta para “dois anos ruins”.

O Brasil deve preparar-se para pelo menos mais dois anos de estagnação no mundo rico, aperto no mercado financeiro e comércio internacional em marcha lenta. Para atenuar o impacto da crise, o governo terá de ir além da redução dos juros básicos. Precisará conter seus gastos de custeio, cortar impostos e dar espaço ao setor privado - consumidores e empresas - para manter um ritmo razoável de atividade sem pressionar a inflação nem abrir um buraco perigoso nas contas externas. As previsões de uma fase mais difícil foram reforçadas pelas novas estimativas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada por 34 dos países mais desenvolvidos. As economias desses países crescerão em média apenas 1,6% em 2012 e 2,3% em 2013. Neste ano a expansão não deve passar de 1,9%. O crescimento do comércio mundial deve passar de 6,7% em 2011 para apenas 4,8% no próximo ano. Em seguida haverá uma retomada, com aumento de 7,1%. As condições de concorrência em todos os mercados serão quase certamente muito mais duras em todo esse período.

Mas a realidade poderá ser pior que o cenário desenhado pelos economistas da OCDE. Se os governos europeus continuarem retardando uma solução para a crise das dívidas soberanas, nem as maiores economias da região ficarão livres de dificuldades muito graves. Um sinal de alerta soou na semana passada, quando o governo alemão só conseguiu vender, num leilão, 65% dos títulos oferecidos ao mercado. Além disso, também no Reino Unido a situação é pior do que se previa até há pouco tempo. O Ministério das Finanças cortou de 1,7% para 0,9% a estimativa de crescimento neste ano e de 2,5% para 0,7% a expansão projetada para 2012. Além disso, até 2015 o governo precisará obter financiamentos de 111 bilhões de libras a mais do que se calculava anteriormente.

Os Estados Unidos, também com grandes problemas fiscais, ainda crescerão bem mais do que a Europa e o Japão nos próximos dois anos, segundo a OCDE. Pelas novas contas, o crescimento americano passará de 1,7% neste ano para 2% em 2012 e 2,5% em 2013. Para a zona do euro, os números estimados são 1,6%, 0,2% e 1,4%. O Japão deverá sair de uma contração de 0,3% em 2011 para uma expansão de 2% no próximo ano e 1,6% no seguinte.

O governo americano, embora muito endividado, ainda se financia muito mais facilmente que os europeus. A demanda de ativos denominados em dólares - especialmente papéis do Tesouro - continua elevada e assim deverá permanecer por muito tempo, se não houver uma enorme surpresa. Em reunião com líderes europeus na segunda-feira, em Washington, o presidente Barack Obama declarou-se preparado para organizar alguma ajuda à Europa. No mesmo dia, a Fitch, uma das principais agências de avaliação de risco, reafirmou a nota AAA para a dívida pública americana, mas com perspectiva negativa. Apesar disso, e do rebaixamento anunciado em agosto pela Standard & Poor"s, os títulos federais dos Estados Unidos permanecem como referência para o mercado mundial.

A zona do euro já está em recessão e seu Produto Interno Bruto (PIB) deve encolher 1% em termos anualizados neste trimestre, segundo a OCDE. No primeiro trimestre, deverá diminuir em ritmo equivalente a 0,4% ao ano. O desastre será menor no resto do ano e o resultado médio de 2012 será uma expansão modestíssima de 0,2%.

Enquanto a crise se agrava, líderes da zona do euro continuam promovendo reuniões, apresentando esboços de planos para reforma do bloco e adiando a adoção de soluções práticas para os desafios mais urgentes. Conseguiram aprovar o aumento do fundo europeu de resgate de 440 bilhões para 1 trilhão, mas não foram capazes de pôr em funcionamento esse mecanismo. Enquanto o quadro piora, o Banco Central Europeu continua como a única entidade regional capaz de agir para atenuar os problemas. Em suas piores fases, países latino-americanos foram capazes de apresentar resultados muito mais tangíveis em seus duros programas de ajuste supervisionados pelo Fundo Monetário Internacional.

A miséria do "novo desenvolvimentismo".


José Luís Fiori é professor titular do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da UFRJ, e autor do livro "O Poder Global", da Editora Boitempo, 2007. Escreveu este artigo especialmente para o Valor Econômico.

O capitalismo só triunfa quando se identifica com o estado, quando é o estado". Fernand Braudel, "O Tempo do Mundo", Editora Martins Fontes, SP, p: 34.

O "debate desenvolvimentista" latino-americano não teria nenhuma especificidade se tivesse se reduzido à uma discussão macroeconômica entre "ortodoxos", neo-clássicos ou liberais, e "heterodoxos", keynesianos ou estruturalistas. Na verdade, ele não teria existido se não fosse por causa do Estado, e da discussão sobre a eficácia ou não da intervenção estatal para acelerar o crescimento econômico, por cima das "leis do mercado". Até porque, na América Latina como na Ásia, os governos desenvolvimentistas sempre utilizaram políticas ortodoxas, segundo a ocasião e as circunstâncias, e o inverso também se pode dizer de muitos governos europeus ou norte-americanos ultra-liberais ou conservadores que utilizaram em muitos casos, políticas econômicas de corte keynesiano ou heterodoxo. O pivô de toda a discussão e o grande pomo da discórdia sempre foi o Estado e a definição do seu papel no processo do desenvolvimento econômico.

Apesar disto, depois de mais de meio século de discussão, o balanço teórico é decepcionante. De uma forma ou outra a "questão do Estado" sempre esteve presente, nos dois lados desta disputa, que acabou sendo mais ideológica do que teórica. Mas o seu conceito foi sempre impreciso, atemporal e ahistórico, uma espécie de "ente" lógico e funcional criado intelectualmente para resolver problemas de crescimento ou de regulação econômica. Desenvolvimentistas e liberais sempre compartilharam a crença no poder demiúrgico do Estado, como criador ou destruidor da boa ordem econômica, mas atuando em todos os casos, como um agente externo à atividade econômica.

Um agente racional, funcional e homogêneo, capaz de construir instituições e formular planos de curto e longo prazo orientados por uma idealização do modelo dos "capitalismos tardios" ou do estado e desenvolvimento anglo-saxão. E todos olhavam negativamente para os processos de monopolização e de associação do poder com o capital, que eram vistos como desvios graves de um "tipo ideal" de mercado competitivo que estava por trás da visão teórico dos desenvolvimentistas tanto quanto dos liberais. Além disso, todos trataram os Estados latino-americanos como se fossem iguais e não fizessem parte de um sistema regional e internacional único, desigual, hierarquizado, competitivo e em permanente processo de transformação. E mesmo quando os desenvolvimentistas falaram de Estados centrais e periféricos, e de Estados dependentes, falavam sobretudo de sistema econômico mundial que tinha um formato bipolar relativamente estático, onde as lutas de poder entre os Estados e as nações ocupavam um lugar bastante secundário.

No fim do século XX, a agenda neoliberal reforçou um viés da discussão que já vinha crescendo desde o período desenvolvimentista: o deslocamento do debate para o campo da macroeconomia. Como volta a acontecer com o chamado "neo-desenvolvimentismo" que se propõe inovar e construir uma terceira via (uma vez mais), "entre o populismo e a ortodoxia". Como se tratasse de uma gangorra que ora aponta para o fortalecimento do mercado, ora para o fortalecimento do Estado.

Na prática, o "neo-desenvolvimentista" acaba repetindo os mesmos erros teóricos do passado e propondo um conjunto de medidas ainda mais vagas e gelatinosas do que já havia sido a ideologia nacional-desenvolvimentista dos anos 50. Passado a limpo, trata-se de um pastiche de propostas macroeconômicas absolutamente ecléticas, e que se propõem fortalecer, simultaneamente, o Estado e o mercado; a centralização e a descentralização; a concorrência e os grandes "campeões nacionais"; o público e o privado; a política industrial e a abertura; e uma política fiscal e monetária, que seja ao mesmo tempo ativa e austera. E finalmente, com relação ao papel do estado, o "neo-desenvolvimentismo" propõe que ele seja recuperado e fortalecido mas não esclarece em nome de quem, para quem e para quê, deixando de lado a questão central do poder, e dos interesses contraditórios das classes e das nações.

Neste sentido, fica ainda mais claro que o desenvolvimentismo latino-americano sempre teve um parentesco maior com o keynesianismo e com "economia do desenvolvimento" anglo-saxônica, do que com o nacionalismo econômico e o anti-imperialismo, que são a mola mestra do desenvolvimento asiático. E que, além disto, os desenvolvimentistas latino-americanos sempre compartilharam com os liberais a concepção econômica do Estado do paradigma comum da economia política clássica, marxista e neo-clássica. Esse paradoxo explica, aliás, a facilidade teórica com que se pode passar de um lado para o outro, dentro do paradigma líbero-desenvolvimentista, sem que de fato se tenha saído do mesmo lugar.

The New Yorker - Dilma Rousseff.


A reporter at large about Brazilian President Dilma Rousseff. Until recently, Brazil has been one of the most uneducated, economically imbalanced countries in the world. Now its economy is growing much more rapidly than that of the U.S. Twenty-eight million Brazilians have moved out of severe poverty in the past decade. The country has a balanced budget, low national debt, nearly full employment, and low inflation. It is, chaotically, democratic, and it has a free press. Brazil operates in ways we have been conditioned to think are incompatible with a successful free society. It isn’t just that Brazil is ruled by unapologetic former revolutionaries, many of whom—including the President—were imprisoned for years for being terrorists. The central government is far more powerful and intrusive than it is in the U.S. It is also far more corrupt. Crime is high, schools are weak, roads are bad, and ports barely function. And yet, among the world’s major economic powers, Brazil has achieved a rare trifecta: high growth, political freedom, and falling inequality. The President, Dilma Rousseff, is a forceful presence. As part of the Palmares Armed Revolutionary Vanguard, she spent years in prison and was subjected to torture. Her first major Presidential initiative, Brasil Sem Miséria, unveiled in June, was a sweeping anti-poverty program. The U.S. constantly seems to be on Rousseff’s mind, as an example of how not to handle the global economic crisis. Politics in Brazil revolves around Rousseff’s predecessor, Luis Inácio Lula da Silva, known to Brazilians and the rest of the world simply as Lula. For the last five of Lula’s eight years as President, Rousseff served as his Minister of the Civil House. Lula anointed her as his successor in 2010. Describes the political history of Brazil. Mentions President Fernando Henrique Cardoso. The writer describes his visit with Lula in São Paulo. Brazil will be hosting the World Cup, in 2014, and the Olympics, in 2016. Rousseff, now sixty-three, was a university student during the 1964 coup that established Brazil’s military dictatorship, and she quickly became radicalized. By the late sixties, she was married to another militant, Cláudio Galeno Linhares. They lived in hiding, storing and transporting caches of guns, bombs, and stolen money, planning and executing “actions.” Later, she left Galeno for Carlos Araújo, another prominent militant. In early 1970, the military caught up with her, and she spent three years in prison, where she was reportedly subjected to extensive torture. She insists she was never personally involved in violent actions during her militant days. After she was released, she went to graduate school in economics and then worked in a think tank. She joined the mainline political party, the Partido Democrático Trabalhista (P.D.T.), and soon began working in government positions in Porto Alegre. Eventually, she met with Lula and so impressed him that he appointed her Secretary of Energy in his administration. Mentions the numerous scandals which have plagued Rousseff’s administration. Nobody believes that Rousseff is corrupt, but she had worked for years with some of the people who resigned. Describes the writer’s visit with Rousseff.

Dilma na The New Yorker.



Leio na Agência Estado uma boa notícia, publicada na The New Yorker, sobre a presidente Dilma Rousseff. 

A revista norte-americana "The New Yorker" divulgou nesta segunda-feira uma prévia de um artigo sobre a presidente Dilma Rousseff que será publicado em sua edição de dezembro. A matéria contará a história da presidente, com foco na trajetória econômica-social do País e terá o título "The Anointed", ou seja, "A Ungida", em tradução literal.
A prévia do artigo ressalta que, até recentemente, o Brasil poderia ser avaliado como uma nação iletrada e economicamente instável. O texto destaca, contudo, que a econômica brasileira está crescendo mais do que a economia americana e lembra que, na última década, vinte e oito milhões de brasileiros deixaram o nível da pobreza.
Na avaliação da publicação, o Brasil tem um "orçamento equilibrado", "dívida pública baixa", "quase pleno emprego" e "baixa inflação". A publicação afirma também que a taxa de criminalidade é alta e recorda os problemas em infraestrutura, em estradas e portos. O texto destaca ainda que o governo brasileiro é mais invasivo que o governo norte-americano e relembra os escândalos de corrupção na atual gestão. O artigo ressalta que ninguém acredita que a presidente está envolvida nas denúncias de corrupção, mas lembra que ela trabalhou por anos, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com algumas das pessoas que demitiu.
A matéria completa sobre Dilma relatará, segundo o texto prévio, a trajetória política da presidente, inclusive o seu passado na luta armada.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

A divisão do Pará e a Federação.


No Valor Econômico de hoje, matéria de Raymundo Costa sobre a divisão do Pará.

Pouco mais de dez pessoas atenderam ontem convite do Ipea para debater a divisão do Pará, metade das quais jornalistas que compareceram atrás de informações para a cobertura do plebiscito, marcado para o dia 11 de dezembro. Não bastassem as interdições da Justiça Eleitoral ao debate, o desinteresse fora do eixo amazônico é injustificável. Atualmente, tramitam no Congresso 23 projetos de criação de Estados, seis propostas a mais que as apresentadas na Assembleia Nacional Constituinte de 1988, quando afloraram com intensidade movimentos de emancipação represados Brasil afora durante os anos de regime militar.

Um cálculo apresentado no debate do Ipea dá conta de que a criação dos 23 novos Estados significaria algo em torno de R$ 14 bilhões de gasto público. A criação de três Estados nas atuais coordenadas do Pará significa trocar um Estado com um superávit de R$ 277 milhões por unidades deficitárias. Se o plebiscito aprovar a divisão, Carajás nasce com um déficit de R$ 1,9 bilhão; a relação receitas menos despesas em Tapajós não fecha - falta R$ 1 bilhão - o remanescente Pará passa a contabilizar um déficit de R$ 718 milhões, de acordo com o consenso a que vão chegando os pesquisadores. No total, R$ 3,6 bilhões. Há outros números referentes à manutenção dos dois novos Estados virtualmente impossíveis de serem calculados com segurança, como os gastos com a construção de Assembleias Legislativas e outros prédios para a prestação de serviços públicos.

Esses números que surgiram em pesquisas dos técnicos do Ipea, da UFPA e do Instituto do Desenvolvimento Econômico e Sócio Ambiental do Pará (Idesp), parceiros no seminário de ontem. Mas antes de assustar, eles servem para chamar a atenção sobre um problema que não é só dos paraenses. O plebiscito já não se trata de uma discussão sobre a separação de Carajás e Tapajós, os dois Estados que seriam criados a partir do Pará, como bem chamou a atenção o professor Gilberto Rocha, coordenador do núcleo de meio ambiente da UFPA. A discussão, na realidade, pauta uma agenda em nível de Estado nacional. É preciso estudar as novas dinâmicas de divisão territorial do país decorrentes da modernização da economia e da sociedade.

O debate começou pelo Pará, palco de uma política de ocupação territorial e econômica, nos últimos 40 anos, comandada pelo governo federal, da qual o Estado foi um espectador, na maioria das vezes, cúmplice. Mas a exemplo do que ocorreu no Pará, no decorrer da conquista da fronteira amazônica, outros polos dinâmicos surgiram no país, especialmente na esteira do avanço do agronegócio. Há polos dinâmicos como o Oeste da Bahia, no rio Araguaia ou o Vale do Gurgueia, no Piauí (todas regiões com manifestações de emancipação). "Um novo Brasil está sendo produzido e nós ainda trabalhamos tendo como referência as estruturas administrativas tradicionais", disse Gilberto Rocha.

O governo do Pará não foi ao menos coadjuvante nesse processo, conduzido com mão de ferro por Brasília. Até os anos 1970 era um Estado cujo povoamento margeava os grandes rios, o uso territorial se baseava no extrativismo e a estrutura fundiária no sistema oligárquico. Hoje, 66% do território é comandado pelo governo federal e há superposição de gerência de órgãos como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ibama, para citar apenas as mais conhecidas de uma dúzia ou mais de siglas federais. O Pará, também, segundo os pesquisadores, é o Estado de maior acolhimento dos clientes da reforma agrária de todo o país - são mais de 1 mil assentamentos.

Uma política que colocou a Amazônia no centro das preocupações do planeta, mas que de fato criou um polo altamente dinâmico, sobretudo na região de Carajás. Se for criado, o novo Estado ficará com 85% das reservas minerais do atual Pará, que perderia a pouca voz que dispõe na formulação da política mineral. O mesmo ocorrerá em relação ao potencial para a geração de energia elétrica - 61% está concentrado em Carajás e Tapajós. De Estado exportador de energia, o Pará passará a importador. Os rebanhos de Carajás representam 64% do gado criado no Pará. Todo esse potencial, por outro lado, não tem correspondência em influência política, segundo entende a elite política da região. Mas é certo que tanto Tapajós como Carajás, separado, continuariam imobilizados pela presença sufocante do governo federal. E novos problemas certamente serão criados. Feitos com bases nos municípios atuais, os novos mapas rasgam ao meio alguma reservas indígenas e unidades de conservação ambiental.

Uma coisa é certa: a divisão aumenta o peso político da região que constitui o Estado do Pará. O técnico de planejamento e pesquisa do Ipea Paulo de Tarso Linhares fez simulações sobre representação dos três Estados, se a divisão for aprovada no plebiscito do dia 11 de dezembro. Com base na eleição de 2010, ele chegou aos seguintes números: Carajás detém 34% do PIB paraense, e sua representação na Assembleia Legislativa do Estado do Pará é de 33%; o PIB do Pará remanescente é de 56% do total, e sua representação política de 45%; Tapajós, com 11% do PIB teria uma representação de 59% dos deputados estaduais - a explicação é que se trata de uma região histórica, mais estável cuja elite política foi há anos desenhada.

De acordo com os cálculos de Linhares, a representação federal das três regiões seria mais equilibrada, cada qual com algo em torno dos 74%. Mas o território que hoje constitui o Pará passaria a enviar para Brasília 31 deputados federais, contra os 17 atuais. Isso sem falar que essa região passaria eleger mais seis senadores. Ou seja, contribuiria para aumentar o desequilíbrio existente, onde o Pará tem uma representação proporcionalmente maior que a de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país.

O plebiscito do Pará é um assunto que deve entrar na agenda do país. Pena que nem os políticos paraenses parecem interessados. O seminário do Ipea (que levará mais três anos estudando o assunto, em todo o país) foi realizado a pedido da bancada do Pará. Mas nenhum deputado ou senador paraense apareceu por lá.

O fundamental.


Antonio Delfim Netto, hoje no Valor Econômico, escreve somente sobre “o fundamental”.

Grupos não pequenos de estudiosos insistem em atribuir a crise a uma organização social misteriosa à qual dão o nome genérico de "capitalismo", codinome da organização da atividade econômica em torno dos "mercados", instituição que os homens "descobriram" para coordenar a atividade de consumir bens e serviços e, ao mesmo tempo, estimulá-los a produzir de forma relativamente eficiente e com maior liberdade individual
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É preciso reconhecer que: 1) os mercados são meros instrumentos alocativos que tentam compatibilizar os interesses dos indivíduos no seu duplo papel; 2) obviamente, não há simetria de poder entre esses papéis; e 3) eles (os mercados) não podem funcionar (ou mesmo existir!) sem um Estado para regulá-los.

Essa economia de mercado não foi inventada. Há claras evidências de que os mercados existem desde a velha Mesopotâmia (500 anos antes de Cristo). Foi sendo "descoberta" pelos próprios homens na sua atividade prática de buscar instituições que lhes permitissem facilitar a sobrevivência material e a possibilidade de combiná-la com sua eterna busca de liberdade de iniciativa. Ela não é nem perfeita nem imortal. A grande esperança é que a ação do Estado que garante a sua funcionalidade, possa minorar seus defeitos com as políticas econômica (a flutuação) e social (a desigualdade).

A ideia que os mercados têm a capacidade de autocorrigir-se e que os resultados da distribuição de seus benefícios são "justos" ou "merecidos" - e que, portanto, dispensam a ação do Estado - é absurda. Tão absurda quanto a ideia que os problemas que estamos vivendo se devem apenas a eles, sem nenhuma cumplicidade do Estado.

Já passou da hora de os economistas livrarem-se de umas ingenuidades. A primeira é que Deus foi bom com eles deixando-lhes como objeto de estudo um mundo, cuja ordem poderia ser descoberta, como, por exemplo, o movimento dos astros. A segunda é o reconhecimento que, por mais importante que seja o papel do Estado, o poder incumbente está longe de ser onisciente e, logo, não precisa ser onipresente e, muito menos, pretender a onipotência!

A história nos ensinou, e a experiência atual confirma, que o Estado precisa ser fiscalmente responsável! Não é preciso ser economista para entender tal "conta de padaria". A receita pública não pode ser, permanentemente, maior do que a despesa pública, não importa a "qualidade" ou a "necessidade" do gasto.

Se ele é imperioso e permanente, só há três formas de atendê-lo: 1) aumentando a eficiência do governo; 2) cortando despesa menos prioritária; ou 3) aumentando os impostos. É uma maldição aritmética desagradável que a relação dívida pública/PIB só possa ser estabilizada num nível cujo financiamento possa ser feito, permanentemente, com uma taxa de juros real menor do que a taxa de crescimento real do PIB.

Parece razoável concluir, portanto, que o que precisa ser superado é a irresponsabilidade fiscal dos Estados e a sua incompetência regulatória. Vivemos, basicamente, uma manifestação de Estados pouco cuidadosos fiscalmente e impotentes diante do poder econômico dos interesses financeiros. A crise de 2007/09, que se recusa a terminar, é a testemunha da tendência do setor financeiro de servir-se do setor real e de sua capacidade de apropriar-se do poder incumbente.

Os "indignados" sugerem trazer de volta ideias de cérebros peregrinos, que "inventaram" outros mecanismos de organização social. Os mesmos que rechearam de tragédias o século XX. É preciso insistir que, até agora, o mercado como instrumento alocativo relativamente eficiente não encontrou nenhum substituto, como mostram o fracasso soviético e o sucesso chinês.

A crise americana é menos grave do que a da Eurolândia, mas tem pouca probabilidade de terminar antes da eleição de novembro de 2012. E depois? Depois, valha-nos Deus se os intelectuais republicanos vencerem a batalha eleitoral! É uma pena. Os EUA têm tudo para sair mais depressa da crise. Faltam-lhes apenas uma liderança que reconstrua a confiança da sociedade.

Na Eurolândia, a questão é mais complicada. Ela tem, na verdade, quatro problemas: 1) um desalinhamento das moedas dentro do euro, que causa resultados assimétricos nos balanços de pagamentos; 2) um descontrole dos déficits públicos; 3) uma perspectiva de crise bancária; e 4) falta-lhe um Banco Central autônomo, que seja, de fato, o emprestador de última instância e possa organizar as dívidas dos países.

O jogo dialético civilizatório (apoiado no sufrágio universal) entre o mercado e a urna não é uma linha reta: pode sofrer graves e custosos desvios. O fato fundamental é que ele não resiste à irresponsabilidade fiscal. Quando essa leva as lideranças políticas à completa predominância do curto prazo sobre o longo, aproveitando-se de situações econômicas passageiras favoráveis para permanecer no poder, o mercado (isso é, a realidade fática) acaba cobrando o seu preço.

O Brasil pagou tal preço no passado. A presidente deve ser fortemente apoiada quando corta na carne o Executivo e pede moderação ao Legislativo, ao Judiciário e aos sindicatos. Nunca a solidez fiscal foi tão necessária para proteger-nos da crise mundial, que está longe de terminar. É por isso que a DRU deve ser aprovada.

Por uma redução permanente da Selic.


José Luis Oreiro, professor do Departamento de Economia da UnB e pesquisador Nível 1 do CNPq e Flávio Basílio, professor do Departamento de Economia da UnB, escreveu este artigo especialmente para o Valor Econômico.

A temática da taxa de juros tem despertado no Brasil paixões similares às que se observam num jogo de futebol. Podemos identificar claramente dois times na disputa, os "Falcões", que desejam que o Banco Central (BC) eleve a taxa de juros em qualquer circunstância e os "Pombos" que gritam pela redução da taxa de juros, igualmente em qualquer circunstância. Ai de quem tentar se posicionar nesse debate de forma menos "apaixonada", procurando usar a razão, o bom-senso, a prudência e a teoria econômica para formar sua opinião a respeito de qual deve ser o curso desejado da política monetária. Quem o fizer corre o risco de ser mandado para a fogueira, sem direito a apelação, por ambos os times do campeonato da Selic.

Não há dúvida que a taxa de juros deveria ser muito mais baixa do que é hoje para reverter a apreciação da taxa de câmbio, que está matando a indústria brasileira e tirando dinamismo de nossa economia, que deve fechar o ano de 2011 com um crescimento próximo de 3%. Por que a taxa de juros no Brasil é tão alta? A literatura sobre o tema no Brasil aponta as seguintes causas:

1) Elevado grau de inércia inflacionária devido à permanência de mecanismos formais de indexação de preços, principalmente no caso dos preços administrados. Quanto maior o grau de inércia inflacionária maior é a dosagem de taxa de juros requerida para fazer com que a inflação convirja para a meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

2) Baixa eficácia da política monetária devido à existência de uma parcela considerável de títulos da dívida pública que são indexados à taxa básica de juros (LFTs). Essa indexação reduz o efeito riqueza da elevação da taxa de juros, aumentando a dosagem de taxa de juros requerida para garantir a obtenção da meta de inflação.

3) Mix inadequado entre a política monetária e fiscal, uma vez que a política fiscal no Brasil (ao menos desde 2008) tem sido francamente expansionista em função do crescimento dos gastos primários do governo a uma taxa superior a do crescimento do PIB, o que obriga a política monetária a ser contracionista para evitar um crescimento excessivo da demanda agregada, a qual impediria a obtenção da meta de inflação.

4) Rigidez excessiva do regime de metas de inflação, o qual se baseou na sistemática de metas declinantes de inflação (até 2005) e na convergência da inflação para a meta ao longo do ano calendário (até 2010). A imposição de metas declinantes obrigava o BC a manter a economia em estado de permanente semiestagnação para forçar assim uma elevação do hiato do produto, a qual permitiria uma queda gradual da inflação ao longo do tempo. A convergência para a meta ao longo do ano calendário reduzia o espaço de manobra para o BC acomodar choques de oferta, obrigando a autoridade monetária a elevar os juros mesmo face à pressões inflacionárias vindas do lado da oferta da economia.

5) Fragilidade financeira do Estado brasileiro devido ao reduzido prazo de maturidade da dívida pública, a qual vence num prazo médio inferior a 40 meses. Os elevados pagamentos de juros e amortizações da dívida pública aumentam o poder de barganha dos demandantes de títulos, os quais podem exigir prêmios de juros mais altos por parte do Tesouro. Em função da indexação da dívida pela Selic, a política monetária é contaminada pela dívida pública, fazendo com que a taxa de juros que o Tesouro paga pelos títulos da dívida pública determine a taxa de juros usada no dia a dia pelo BC para a regulação da liquidez da economia no mercado inter-bancário.

Isto posto, podemos dizer que o Brasil já reúne as condições necessárias para ter uma taxa de juros real de, digamos, 2%? Infelizmente a resposta para essa pergunta é não.

Nos últimos anos avançamos em apenas duas frentes, quais sejam, a flexibilização do regime de metas de inflação e a redução da parcela da dívida pública indexada a Selic. Graças a isso, a taxa real de juros foi reduzida de aproximadamente 10% ao ano em 2006 para algo como 5% a 6% no final de 2010. Contudo, em outras frentes recuamos como, por exemplo, na questão da inércia inflacionária. O salário mínimo é agora formalmente indexado pela inflação passada. O aumento da indexação formal da economia brasileira atua na direção contrária à queda dos juros.

Outra frente na qual recuamos foi o mix de política macroeconômica. Desde 2008, a política fiscal tem sido francamente expansionista, o que reduz o espaço de manobra para o BC reduzir a taxa de juros sem comprometer a estabilidade da taxa de inflação. O pior é que o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) para 2012 aponta para um crescimento de 15,9% dos gastos primários do governo federal, contra uma projeção de crescimento de apenas 11,9% do PIB nominal. A política fiscal em 2012, ao contrário de 2011, será francamente expansionista, o que reduz ainda mais o espaço que o BC tem para reduzir os juros de maneira a não por em risco a estabilidade da taxa de inflação.

A fragilidade financeira do Estado brasileiro continua inalterada em função da incapacidade que o Tesouro tem demonstrado em alongar o prazo de vencimento da dívida pública, assim como eliminar a participação, ainda expressiva, das letras financeiras do Tesouro na composição da dívida pública federal.

Se o governo da presidente Dilma deseja realmente reduzir os juros no Brasil, sem comprometer a estabilidade da taxa de inflação, então o mesmo deve apresentar a sociedade brasileira um plano detalhado e consistente para eliminar as causas estruturais dos juros elevados no Brasil. Isso envolve uma radical desindexação da economia brasileira (incluindo preços administrados e salário mínimo), extinção dos títulos da dívida pública atrelados à Selic e mudança de verdade no mix de política macroeconômica com o estabelecimento de um teto para a taxa nominal de crescimento dos gastos de consumo e de custeio da administração pública em nível inferior ao crescimento projetado do PIB nominal. Até o presente momento o governo da presidente Dilma nada fez nesse sentido. As causas estruturais para os juros altos no Brasil continuam, portanto, intactas.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A crise na USP.


Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. Escreveu este artigo especialmente para o VALOR ECONÔMICO de hoje.

O conflito na Universidade de São Paulo é um assunto político relevante. É uma crise "na" USP, não é a crise "da" USP, porque ela continua sendo a melhor universidade brasileira. Não é a PM que está em jogo. Ela é, se tanto, pretexto, sintoma ou álibi. Podemos resumir a questão em duas frases: é nossa melhor universidade e a única universidade pública brasileira que não tem eleição direta para seu reitor. Há relação entre esses dois fatos? É a melhor porque não elege seu reitor, ou apesar disso? Cada lado responde de um jeito. A universidade mais próxima da USP, a respeitada Unicamp, elege seu reitor. O mesmo fazem a UFMG, a Unesp e a UFRJ. Então? Temos na USP um conflito áspero entre quem quer uma universidade "democrática" - entendendo por isso a eleição de seus dirigentes pelos professores, alunos e funcionários, mas não pelo povo (demos em grego, lembremos) - e os que têm como principal questão a qualidade da pesquisa. Quem quer qualidade se incomoda com a retórica da eleição direta, demasiado politizada. Mas o esquema uspiano de escolha do reitor é um fracasso histórico. Graças a ele o titular do cargo faz o sucessor, o que acontece desde 1989, com duas exceções, a mais recente datando de 2009, quando o governador José Serra nomeou o segundo da lista tríplice. Esse esquema faz que a comunidade não sinta o reitor como um líder que ela apoia.

O sistema de escolha na USP é único no Brasil. No primeiro turno, votam membros das Congregações e Conselhos Centrais, quase 2 mil pessoas, na maioria professores. Isso não é ruim. Ruim é que seu voto vale pouco. Cada um pode sufragar até três professores titulares (qualquer deles, pois não há candidaturas formais). Os oito mais votados vão a um segundo turno, perante um colégio de 360 membros, composto pelos Conselhos Centrais, sobre os quais a reitoria tem forte influência. Esse colégio envia uma lista tríplice ao governador, que costuma nomear o mais votado. Mas, quando Serra escolheu o segundo, a universidade nem chiou - sinal de que nem ela leva muito a sério sua própria votação. A ideia original do sistema era que nomes surgissem espontaneamente, de modo que, sem fazer campanha, algum valor notável despontasse dentre os oito, depois entre os três, e acabasse escolhido pelo governador. Mas nunca foi assim. Sempre a disputa se polarizou, desde o início, entre dois ou três nomes.

O que fazer? O mais simples é eliminar o segundo turno e passar a decisão para o colégio amplo. Ou, mais radicalmente, seguindo o que a lei federal faculta, instituir uma eleição direta na qual os votos dos professores pesem 70%, ficando funcionários e alunos (e talvez ex-alunos) com 30%. Mas a representação sindical e a dos alunos querem bem mais que isso, o que apavora os bons pesquisadores, receosos de que a universidade seja tomada por micropartidos políticos. Daria para chegar a um acordo que, pelo menos, reduzisse o poder da reitoria na escolha do sucessor. Mas não há conversa. Relatei o assunto no Conselho Universitário, este ano, e metade dos que falaram defendeu uma "estatuinte": o curioso é que vários oradores nem mencionaram o assunto em pauta, que era a eleição do reitor...

Posso atestar, por minha experiência na Capes, convivendo com reitores do Brasil todo, que a eleição direta, apesar de trazer o risco da escolha de um reitor demagogo e sem compromisso com a qualidade, tem levado a bons reitores ou, pelo menos, razoáveis. Isso não quer dizer que o sistema seja perfeito. Desde Tarso Genro, é política do MEC nomear o mais votado - mas sei que, quando ele levou ao presidente da República sua proposta de reforma universitária, depois sepultada, Lula foi taxativo: não tiraria da lei a lista tríplice. Na prática, o ministro nomeia o preferido da comunidade; mas as universidades federais não têm a autonomia das paulistas. A USP, Unesp e Unicamp não precisam ir a cada mês pedir dinheiro ao governo. As universidades federais, sim. Daí, também, que no período democrático nunca um reitor paulista tenha declarado apoio a um candidato a governador ou presidente. Já a grande maioria dos reitores federais é induzida a apoiar o candidato do PT, como se viu em 2006 e 2010. Em suma, nada disso é simples. Os reitores federais, eleitos, têm apoio da comunidade, mas pouca autonomia em face do governo federal.

Não estamos na situação em que um lado é inteiramente certo e o outro, totalmente errado. Mas talvez o maior problema esteja em confundir poder e autoridade. A reitoria tem poder. Os defensores da eleição direta querem democratizar esse poder. Mas, numa boa universidade, o poder é menos que a autoridade: o respeito que alguém conquista por sua qualidade ética ou, no caso, científica. Não há nomeação ou eleição que confira autoridade. Disputar o poder é perder o que é próprio de uma boa universidade.

Mesmo assim, é preciso negociar. Um lado tem o poder, sabe que é impossível - salvo uma improvável revolução que tivesse por meta principal mudar a escolha do reitor da USP - alterar o Estatuto sem o Conselho Universitário, e conclui que basta aguentar duas invasões da reitoria por ano. O atual reitor tinha prometido mudar as regras de escolha no seu primeiro ano de mandato; está para vencer o segundo e não o conseguiu. Já o outro lado é mobilizado, procura tornar o reitor antipático, provavelmente não é majoritário na USP e não parece querer negociar uma solução intermediária. Daí, um impasse desnecessário e que mancha a imagem externa da USP - na qual, enquanto isso, ótimos pesquisadores, da Medicina à FFLCH, continuam seu trabalho.

Teoria dominante versus velha escola europeia.


Ricardo Schiller Freiburghaus é economista, graduado em Economia pela Universidade de Fribourg (Suíça) e pós-graduado pela Universidade de Dijon (França). Autor do livro "Inflação em Tese", escreveu este artigo especialmente para o VALOR ECONÔMICO.

A atual teoria econômica dominante defende que, para se combater a alta do índice de preços, é preciso aumentar a taxa de juros. Contudo, se o aumento da taxa de juros leva ao aumento dos custos, como podemos baixar os preços que estão diretamente ligados a tais custos?

A teoria dominante se defende ao explicar que, se os juros ficarem altos, a demanda de crédito cairá, e, consequentemente, o consumo diminuirá, fazendo com que os estoques aumentem nas indústrias, haja menos trabalho nas empresas de serviços e a economia doméstica fique menos endividada. Em seguida, as empresas baixariam os preços de seus produtos para ter alguma receita, a fim de pagar suas contas, como salários, enfim os custos. Finalmente, concluímos que os custos das empresas não baixariam, mas, sim, as margens de lucro recuariam, proporcionando queda dos preços.

Assim, se a intenção do governo é mesmo diminuir a demanda por crédito, a única solução realmente adequada é utilizar a política de taxa de juros ou pode-se adotar uma medida diferente? Pensamos que sim: uma política de controle de crédito - diminuir a atual facilidade do crédito, sem necessidade de aumentar a taxa de juros.

A princípio, a taxa de juros é fixada em função entre demanda e oferta de poupança e investimento, mas constatamos que a realidade é outra: a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de fixar a taxa de juros é quase exclusivamente devida à variação do índice de preços, e pouco se fala da variação de poupança disponível.

A velha escola europeia dita que a taxa de juros "normal" pouco influencia na variação do índice de preços; por exemplo: na prática, quando na entressafra do etanol o preço do combustível sobe, aumentando o índice de preços, o Copom, a fim de combater o aumento, eleva a taxa de juros. Portanto, perguntamos o que os juros têm a ver com a produção de etanol?

Ao nosso entender, nada. O que se deve esclarecer é que o controle da variação do índice de preços tem de se fazer por uma gestão empresarial dos produtos que compõem o índice, do mesmo modo que uma empresa privada administra seus negócios.

No dia em que chegarmos a administrar e planejar a necessidade de produtos que compõem a cesta básica da nação Brasil, a variação do índice de preços estará sob controle. Economicamente, é difícil justificar a contínua alta dos juros no Brasil, que tem grau de investimento e, ao mesmo tempo, medida que aumenta sua dívida, obrigando a novos empréstimos para pagar um preço alto! Atualmente o Copom vem baixando os juros, mais ainda se baseando na noção do índice de preço.

As taxas de juros elevadas criam uma distorção no câmbio, anomalia que é causada pela própria política econômica do governo brasileiro, obrigando o Banco Central a impor medidas de controle de fluxo de entrada de divisas, na tentativa de trazer o câmbio para o equilíbrio de mercado. A velha escola europeia nos ensina que a moeda não tem poder sobre o preço da mercadoria e tampouco sobre o estado de trocas; então, a moeda é neutra.

Há, entretanto, as transações internacionais - como no caso do Brasil, em que parte da divisa que é trocada pelo real não é para comprar um produto brasileiro (seja físico ou serviço), mas, sim, para um ganho em rendimento. Nesse momento, se dá a origem da valorização do real, indesejada pelo resto da economia brasileira e, como é uma demanda pela moeda, sem contrapartida da produção nacional, o Banco Central intervém na compra de divisa, arcando com os custos financeiros.

Da mesma maneira que no início do Plano Real, o câmbio foi fixado de maneira arbitrária, independentemente do crescimento da produção nacional, e deve uma correção do câmbio para o equilíbrio real do mercado. Atualmente, pensamos que, no momento em que juros caírem ou houver uma reversão do fluxo de divisas, também haverá uma correção do câmbio, mas de maneira mais suave, porque o Brasil tem e paga caro o seguro para enfrentar este inevitável evento que são suas reservas de divisas.

A teoria econômica dominante nos ensina que a inflação é medida por índices de preços: quando os preços dos produtos sobem, surge a inflação. Então, podemos concluir, segundo a lógica do pensamento dessa escola econômica, que seria bom se os preços dos produtos ficassem estáveis e seria perfeito se os preços dos produtos ficassem fixos de maneira que não se alterassem no tempo; desse modo, viveríamos no mundo econômico perfeito, sem inflação nem deflação. O único problema é que não estaríamos vivendo no sistema capitalista e nem no planeta Terra.

A velha escola europeia já nos ensinou, há muito tempo, que o preço nada tem a ver com a inflação, mas, sim, com a redistribuição de riqueza entre as diferentes classes no interior da nação, que os preços refletem a dinâmica do mercado econômico e que cada país deve controlar sua cesta básica com a finalidade de manter os preços em equilíbrio e garantir um crescimento constante. Além disso, também nos ensina que a inflação é devida a um mau funcionamento do mecanismo econômico, e que tem sua origem na maneira de monetizar ou contabilizar a produção da economia, deixando bem claro que é totalmente independente da variação de preços, noção não existente na teoria dominante.

Finalmente, o que diferencia a velha escola europeia em sua análise da atual situação da política econômica brasileira? Pensamos que não é por meio da política de taxa de juros que se deve corrigir o índice de preços, e também nada tem a ver com a inflação. Seria necessário baixar a taxa de juros progressivamente, chegando a cerca de IPCA + 2%, deixar o câmbio chegar ao novo equilíbrio do mercado sem intervenção do Banco Central, controlar a política de crédito, diminuindo a facilidade de crédito ao público para compras de produtos em setores que estão aquecidos. Nossa maior divergência teórica, entretanto, é na definição da inflação.

domingo, 27 de novembro de 2011

No iPad de Dilma.


Leio no ESTADÃO de hoje, um texto micro e macro sobre a economia presidencial. 

Preocupada com o impacto da crise mundial no Brasil, a presidente Dilma Rousseff lê todo dia, religiosamente, dois boletins econômicos: um de manhã e outro à tarde.

Os papers são preparados pelo Ministério da Fazenda e contêm dados sobre câmbio, taxa de juros, preço de commodities e risco país. Dilma recebe as análises por e-mail criptografado e acompanha os cenários em seu iPad.

Nessas ocasiões, não é raro ela passar a mão no telefone e cobrar mais detalhes do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Vira e mexe "Guidinho", como é chamado pela presidente, tem de correr ao Palácio do Planalto para reuniões não agendadas.

Depois de cruzar informações de todos os cantos, Dilma chegou a uma conclusão: os primeiros três meses de 2012 vão caminhar "devagar". A partir do segundo trimestre, porém, a economia brasileira começará a reagir, na esteira do aumento do salário mínimo, do corte de juros e das desonerações de impostos para setores estratégicos. A equipe econômica estima que, mesmo com o abalo internacional, o crescimento pode chegar a 4,5% ou até 5%, no ano que vem, se houver investimento privado.

É isso o que Dilma tem dito em conversas reservadas com empresários, como Josué Gomes da Silva, da Coteminas; Benjamin Steinbruch, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e Jorge Gerdau, coordenador da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do governo. Banqueiros do porte de Roberto Setúbal, do Itaú Unibanco, também integram o time de interlocutores da presidente.

Embora tenha estilo diferente, Dilma mantém alguns hábitos do antecessor e padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva. Gosta, por exemplo, de ouvir economistas de fora do governo, como Otaviano Canuto, vice-presidente do Banco Mundial para Redução da Pobreza e Gerenciamento Econômico, Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo. "A locomotiva do governo Dilma é a economia, já que as crises políticas são uma constante. Sob nenhuma hipótese ela vai deixar isso fazer água", resumiu um auxiliar da presidente.

Para enfrentar a turbulência, Dilma decidiu fortalecer a economia doméstica e turbinar os investimentos. Ela está convencida de que os juros podem cair até chegar a 9% ao ano, por volta de maio de 2012. Atualmente, ela tem três obsessões: acelerar o crescimento, fazer a inflação convergir para 4,5%, que é o centro da meta, e monitorar a taxa de câmbio.

O governo trabalha com um cenário pessimista para a economia mundial no ano que vem. Não é só: acredita que problemas políticos na Europa e nos EUA podem agravar o quadro, com consequências a longo prazo. Apesar das incertezas, Dilma avalia que já tomou as medidas necessárias para amortecer os efeitos da crise, ao menos por enquanto. A questão, agora, é apenas de calibragem.

Depois da queda de seis ministros - cinco dos quais sob suspeita de corrupção - e com uma reforma da equipe prevista para o início de 2012, a presidente faz de tudo para mostrar que o Brasil pode escapar da crise sem sobressaltos.

Caro amigo paraense.

Por favor, caro amigo paraense, leia com atenção o excelente artigo anexo, publicado pelo Roberto Pompeu de Toledo na VEJA que chegou agora nas bancas.    
Clique primeiro na imagem; depois, em "abrir imagem em uma nova guia" e, finalmente, amplie e leia.

Ronan Farrow - genial.



 Li este texto hoje no UOL e lembrei que não inventaram nada melhor do que a inteligência.

"Aquele garotinho? Tem certeza de que é com aquele garotinho ali que você quer falar?", perguntou, incrédulo, o assessor de imprensa do Departamento de Estado americano.

Durante uma festa do governo, ele se desdobrava para trazer figurões, como a secretária de Estado, Hillary Clinton, até os jornalistas.

O tal garotinho é Ronan Farrow, 23 anos, assessor especial de Hillary para questões da juventude mundial.

Ele é também o único filho biológico da atriz Mia Farrow com o cineasta Woody Allen. Menino prodígio, começou a falar aos sete meses e ler aos dois anos, entrou para a universidade aos 11 e foi aceito no curso de direito de Yale aos 16. Mas, no Departamento de Estado, ele ainda é "aquele garotinho".

"Já passei por vários momentos embaraçosos por ser jovem e desconhecido. A velha guarda fala comigo com condescendência e, às vezes, até certo menosprezo. O que importa é que a chefe dá apoio total ao meu trabalho", diz Ronan, em entrevista à Serafina.

Filho de Woody Allen e Mia Farrow, Ronan Farrow destaca-se como garoto-prodígio ao lado de Hillary Clinton

Não foi fácil falar com o rapaz. Flashes e gravadores provocam nele um óbvio desconforto. Natural para alguém que, aos quatro anos, se viu no centro de um escândalo de repercussão mundial.

Vale relembrar alguns momentos dessa história. Depois de dois casamentos fracassados -- com Frank Sinatra e com o músico André Previn --, Mia Farrow teve um relacionamento de 12 anos com Woody Allen, que também já tinha sido casado duas vezes.

Eles viviam em casas separadas pelo Central Park, em Nova York. Os dois gostavam de se observar com binóculos, de caminhar de manhã lado a lado no parque e de trabalhar.

Juntos, fizeram 13 filmes -- entre eles, "Hannah e Suas Irmãs" (1986), "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985) e "A Era do Rádio" (1987).

Juntos, também adotaram duas crianças e, finalmente, tiveram Ronan. "A falta de entusiasmo de Woody (com a gravidez) era deprimente", escreveu Mia em sua biografia, "What Falls Away", de 1997. O nascimento do garoto não ajudou. De fato, Woody contaria depois que o relacionamento sexual do casal começou a se deteriorar com a chegada do filho.

A vida, então, tomou um rumo "woodyalleano" e, em janeiro de 1992, Mia encontrou fotos polaroides de Soon-Yi, sua filha adotiva com Previn, na casa do cineasta. A menina de 21 anos estava nua, de pernas abertas.

A atriz ainda estava filmando o que seria a sua última parceria com o cineasta, o ótimo e muito autobiográfico "Maridos e Esposas". Na história, ele faz o papel de um professor casado (com a personagem de Mia), que se envolve com uma jovem aluna (Juliette Lewis).

Na vida real, Soon-Yi se mudou para o apartamento de Woody, no East Side. Chocada, Mia ainda acusou o cineasta de abusos sexuais contra uma das crianças que o casal adotou, Dylan, uma menina dois anos mais velha que Ronan.

Ele, então, resolveu brigar na justiça pela custódia dos três filhos. As acusações de abuso nunca foram provadas.

Mas Mia ganhou a briga e ficou com a guarda das crianças. Woody ganhou o direito de ver Ronan três vezes por semana, em visitas monitoradas de duas horas.

A relação de pai e filho, que nunca tinha sido muito boa, se deteriorou. Ronan não tem qualquer contato com o pai desde 1995, quando ainda tinha sete anos.

De volta a 2011, não é difícil entender porque o assessor do Departamento de Estado leva mais de dez minutos para convencer "aquele garotinho" a ir até a área dos jornalistas.

Quando finalmente veio, encheu a repórter de perguntas. Por fim, deu o contato de sua secretária e, depois de duas semanas, concordou em dar uma entrevista por telefone -- desde que fosse sobre sua trajetória profissional.

Só quando o assunto é trabalho, Ronan abre a guarda, fala sem parar e até dá seu email e o número do telefone celular.

"Desde cedo, fiz viagens incríveis com minha mãe para locais de conflito. Em Darfur, no Sudão, sofri muito ao ver as condições de vida do povo. Na volta, tive minha maior vitória: participei de um protesto que acabou fazendo com que os fundos de pensão das universidades parassem de comprar ações de empresas que negociam com o Sudão", conta, empolgado.

Mia e o filho têm muito em comum. Os olhos azuis, os cabelos louros acinzentados e o interesse por direitos humanos são algumas características compartilhadas.

Entre os 14 filhos da atriz -- quatro biológicos e dez adotivos--, Ronan sempre foi o mais próximo. Quando, aos 11 anos, ele entrou para o Bard College, Mia levava o filho às aulas diariamente. Dirigia sua minivan verde por uma hora e meia desde a casa da família, em Connecticut, para onde se mudou depois da separação.

Como Ronan era muito novo para ir de uma sala de aula à outra, a atriz passava o dia no campus com o filho.

Do pai, ele herdou o corpo franzino, a pouca altura (1,68m) e o gosto por música. Assim como Woody faz com o clarinete, Ronan toca guitarra para relaxar: "Tem uma sala de música no Departamento. É para onde vou quando sobra tempo".

Ao que parece, não sobra muito. Depois de três anos vivendo em Washington, ele nunca apareceu em colunas sociais.

O restaurante que mais frequenta é a cafeteria do trabalho. "Tem dia que faço as três refeições lá", diz ele, que costuma contar o que comeu no Twitter. "Se a China soubesse o que a cafeteria do Departamento de Estado vende como comida chinesa, teríamos um incidente diplomático", escreveu.

Ronan nunca se interessou pela carreira dos pais e dos avós maternos. Atriz de "O Bebê de Rosemary" e de mais de 40 outros filmes, Mia é filha do diretor John Farrow e da atriz Maureen O'Sullivan, que ficou famosa como a Jane do Tarzan.

Desde cedo, seu interesse é por ativismo e política. Antes de assumir, em junho, o cargo de assessor de Hillary e diretor do setor de juventude mundial, Ronan trabalhou dois anos no próprio Departamento de Estado, como assessor especial para Assuntos Humanitários e ONGs com foco no Afeganistão e no Paquistão.

Ele também tem no currículo o cargo de porta-voz da Unicef na Nigéria, Angola e Darfur e o Prêmio Humanitário McCall-Pierpaoli de 2008. Para completar o histórico, Ronan publicou artigos em jornais como "Wall Street Journal" e "International Herald Tribune" e trabalhou, nos tempos de Yale, como advogado para uma firma conceituada de Nova York.

Um dos próximos destinos do ativista político é o Brasil, que já foi citado em seus discursos e no Twitter:

"Temos vários programas interessantes em conjunto, como o dos Jovens Embaixadores. O Brasil tem aparecido no cenário mundial com uma resposta vibrante à realidade da população jovem. No ano que vem, finalmente vou conhecer o país durante o Rio+20 [Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que será realizada no Rio de Janeiro, em junho de 2012]."

Curiosamente, Ronan Farrow já trocou de nome duas vezes. Nos primeiros anos de vida, era chamado pelo primeiro nome, Satchel, homenagem do pai a um famoso jogador de beisebol americano.

Depois que o casal se separou, Satchel passaria a ser chamado de Seamus. Ao se formar em Yale, virou Ronan.

"Não mudei de nome legalmente. Tenho vários nomes e posso escolher", justifica, dizendo que na certidão seu nome é Satchel Seamus Ronan O'Sullivan Farrow.

O sobrenome do pai não entrou porque Mia já tinha oito filhos quando Ronan nasceu e não queria que ele fosse o único diferente entre seis Previns e dois Farrows. Quem disse que nome não é destino?

*
Linha do tempo
A vida de Ronan Farrow e a obra de seu pai.

19/12/1987
Ronan nasce de cesariana e mora com a mãe e os irmãos no apartamento de oito quartos da Central Park West, onde Allen filmou os jantares de "Hannah e Suas Irmãs".

1 ano (1988)
Segundo o cineasta, no aniversário de um ano do filho, a relação já era "totalmente platônica". Neste ano, Woody lança o filme "A Outra" (1988). Mia faz o papel de uma grávida que pensa em suicídio.

2 anos (1989)
O cineasta não quer que a atriz amamente o filho, o que ela faz até os dois anos e meio. Os pais fazem três outros filmes juntos: "Crimes e Pecados" (1989), "Contos de Nova York" (1989) e "Simplesmente Alice" (1990). Neste último, a personagem de Mia deixa o marido, vai criar os filhos sozinha e se dedicar a trabalhos voluntários.

4 anos (1991)
Mia reúne os filhos mais velhos e Soon-Yi para discutir a crise familiar. O caçula, Ronan, assiste à "Pequena Sereia" na sala ao lado. Soon-Yi decide deixar a família.

8 anos (1995)
Ronan já lê Kafka, Camus e Sartre. Woody lança "Poderosa Afrodite" (1995). O filme conta a história de um casal que adota uma criança brilhante, filho de uma prostituta.

10 anos (1997)
Woody e Soon-Yi se casam na Itália. O filme do cineasta deste ano é "Desconstruindo Harry" (1997), em que ele faz o papel de um escritor em crise criativa e odiado pelas três ex-mulheres.

11 anos (1998)
Ronan se torna o estudante mais jovem do Bard College e entra para o Hall da Fama dos Jovens Superdotados (YEGS Hall of Fame, em inglês). Woody, que está lançando "Poucas e Boas" (1999), fica sabendo da novidade por jornalistas.

12 anos (1999)
O cineasta assina um contrato de cinco filmes com a DreamWorks, de Steven Spielberg. Seriam considerados alguns dos piores do diretor.

15 anos (2002)
Ronan escreve uma tese sobre ciência política e se forma com nota máxima no Bard College. A DreamWorks lança a comédia "Igual a Tudo na Vida" para atrair 
o público jovem aos filmes de Woody Allen.

16 anos (2003)
Ronan é aceito para o curso de direito da Universidade de Yale. Ele já trabalha como porta-voz da Unicef e assistente de político. No filme "Melinda e Melinda" (2004), um personagem diz: "O importante é quem você conhece. A vida é uma rede de contatos".

17 anos (2004)
O "Daily Mail" entrevista Ronan: "Ele é meu pai e se casou com minha irmã. Isso é uma transgressão moral. Eu não posso vê-lo. Não posso ter uma relação com meu pai e ser moralmente consistente". Woody Allen diz que o escândalo foi um golpe de sorte em sua vida. O brilhante "Match Point", sobre sorte e destino, entra em cartaz.

2008 / 21 anos
Ronan entra no Departamento de Estado. Woody lança "Tudo Pode Dar Certo", sobre o relacionamento de um homem mais velho com uma mulher jovem. Ele e Soon-Yi continuam juntos e têm duas meninas adotivas. Elas não conhecem o irmão.

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