domingo, 20 de novembro de 2011

Brasil em clima de recessão.


ALBERTO TAMER, hoje no "O Estado de S.Paulo" e seu alerta aos otimistas de plantão.

Duas notícias neste fim de semana: uma boa, a agência de risco S&P, elevou a nota de crédito do Brasil; e outra ruim, o índice de atividade do BC, no terceiro trimestre, que antecipa o PIB oficial, foi negativo, e a economia decresceu 0,32%.

O mais grave é que a notícia ruim é muito pior que a boa. Ela diz que a economia brasileira deu o primeiro passo para entrar na tal "recessão técnica", medida por dois trimestres negativos. (Ninguém explicou por que dois e não três). Isso pode ocorrer ainda este ano se as medidas de estimulo à demanda adotadas há duas semanas pelo governo não forem suficientes reanimar o consumo das famílias e a atividade econômica nos próximos 40 dias. Pode ser possível com as compras de fim de ano e porque o governo sinalizou nestes dois últimos dias que virão mais incentivos para aumentar o consumo interno, o único caminho, no momento, para evitar que a economia recue ainda mais e entre em um processo recessivo que se autoalimenta - menor consumo, produção, emprego, renda e, de novo, consumo formando o clássico círculo vicioso.

Atrasou, mas corre. Parece que a equipe econômica está consciente de que se atrasou um pouco com receio da inflação, mas tudo indica que agora tem pressa. A última coluna repassava informações do mercado que a economia estava recuando mais do que se previa e terminava dizendo que, tendo em vista o que já faziam, se podia esperar mais do governo

No mesmo dia em que o BC divulgava o IBC-Br de menos 0,32%, já vazava para a imprensa, em Brasília, algumas dessas providências que podem vir nos próximos dias.

A colega do Estado Adriana Fernandes adiantou que o BC avalia a liberação de parte dos depósitos compulsórios para levar os bancos médios a emprestarem mais. Tem em caixa, recolhido dos bancos, R$ 434,7 bilhões, recursos mais do que suficientes para colocar no mercado se for preciso. Basta um terço disso, associado a juros menores e prazos mais favoráveis, para estimular a demanda em curto e médio prazos.

E, um dia antes do anúncio do índice, o presidente do BC, Alexandre Tombini, sinalizou de forma excepcional uma nova redução do juro, "ajustes moderados (no plural) na taxa da Selic, uma ação consistente com a retomada da inflação à meta em 2012". O desafio continua sendo administrar a inflação com estímulos e financiamento para evitar alta nos preços do álcool.

IOF também. Adriana Fernandes informou também que, por seu lado, o Ministério da Fazenda avalia a redução do IOF sobre essas operações de crédito, assim como estuda novas desonerações tributárias e outras ações no mesmo sentido que podem beneficiar não só empresas e consumidores, mas também investimentos externos. Isso é agora ainda mais viável porque a arrecadação bateu novo recorde em outubro, com um aumento de 17,6% em relação a outubro do ano passado, uma tendência que, informa a Receita, deve se manter este mês, embora em ritmo menor. Cresce menos, mas cresce, afirma Zayda Manatta, da Receita Federal.

Há tudo, portanto, para que o governo intensifique a política expansionista que começou a pôr em prática nas últimas duas semanas,

Brasil em clima de recessão. Para a coluna, o Brasil, como a Europa, já está vivendo há dois trimestres em "clima de recessão". Isto é, num ambiente, em circunstâncias em que a atividade econômica, indiferente a porcentagens, estagnou, projetando situações mais graves que exigem pressa. Não é exagero? Não. Há sinais muito claros disso. O Ministério do Trabalho confirmou que em outubro o emprego formal recuou nada menos que 38,4% sobre o mesmo mês de 2010. No ano, até outubro, 18,3%. Ainda não é grave, mas é um alerta, mesmo porque é natural a tendência de demissões em consequência dos reajustes em cadeia que o novo salario mínimo pode provocar. Ou a produção aumenta, ou o emprego recua. Mas a produção só não continuará recuando se houver mais consumo e investimento. E é isso o que a equipe econômica anuncia que não só pretende, mas está fazendo. Dá sinais que não teme a tal "recessão técnica", mas sim o "clima de recessão" em que a economia já entrou. Com um falso "crescimento"de mais 0,2% ou menos 0,2%... "crescimento..."

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