ALBERTO TAMER, hoje no "O Estado de S.Paulo" e seu alerta aos otimistas de plantão.
Duas notícias neste fim de semana: uma
boa, a agência de risco S&P, elevou a nota de crédito do Brasil; e outra
ruim, o índice de atividade do BC, no terceiro trimestre, que antecipa o PIB
oficial, foi negativo, e a economia decresceu 0,32%.
O mais grave é que a notícia ruim é
muito pior que a boa. Ela diz que a economia brasileira deu o primeiro passo
para entrar na tal "recessão técnica", medida por dois trimestres
negativos. (Ninguém explicou por que dois e não três). Isso pode ocorrer ainda
este ano se as medidas de estimulo à demanda adotadas há duas semanas pelo
governo não forem suficientes reanimar o consumo das famílias e a atividade
econômica nos próximos 40 dias. Pode ser possível com as compras de fim de ano
e porque o governo sinalizou nestes dois últimos dias que virão mais incentivos
para aumentar o consumo interno, o único caminho, no momento, para evitar que a
economia recue ainda mais e entre em um processo recessivo que se autoalimenta
- menor consumo, produção, emprego, renda e, de novo, consumo formando o
clássico círculo vicioso.
Atrasou, mas corre. Parece que a equipe
econômica está consciente de que se atrasou um pouco com receio da inflação,
mas tudo indica que agora tem pressa. A última coluna repassava informações do
mercado que a economia estava recuando mais do que se previa e terminava
dizendo que, tendo em vista o que já faziam, se podia esperar mais do governo
No mesmo dia em que o BC divulgava o
IBC-Br de menos 0,32%, já vazava para a imprensa, em Brasília, algumas dessas
providências que podem vir nos próximos dias.
A colega do Estado Adriana Fernandes
adiantou que o BC avalia a liberação de parte dos depósitos compulsórios para
levar os bancos médios a emprestarem mais. Tem em caixa, recolhido dos bancos,
R$ 434,7 bilhões, recursos mais do que suficientes para colocar no mercado se
for preciso. Basta um terço disso, associado a juros menores e prazos mais
favoráveis, para estimular a demanda em curto e médio prazos.
E, um dia antes do anúncio do índice, o
presidente do BC, Alexandre Tombini, sinalizou de forma excepcional uma nova
redução do juro, "ajustes moderados (no plural) na taxa da Selic, uma ação
consistente com a retomada da inflação à meta em 2012". O desafio continua
sendo administrar a inflação com estímulos e financiamento para evitar alta nos
preços do álcool.
IOF também. Adriana Fernandes informou
também que, por seu lado, o Ministério da Fazenda avalia a redução do IOF sobre
essas operações de crédito, assim como estuda novas desonerações tributárias e
outras ações no mesmo sentido que podem beneficiar não só empresas e
consumidores, mas também investimentos externos. Isso é agora ainda mais viável
porque a arrecadação bateu novo recorde em outubro, com um aumento de 17,6% em
relação a outubro do ano passado, uma tendência que, informa a Receita, deve se
manter este mês, embora em ritmo menor. Cresce menos, mas cresce, afirma Zayda
Manatta, da Receita Federal.
Há tudo, portanto, para que o governo
intensifique a política expansionista que começou a pôr em prática nas últimas
duas semanas,
Brasil em clima de recessão. Para a
coluna, o Brasil, como a Europa, já está vivendo há dois trimestres em
"clima de recessão". Isto é, num ambiente, em circunstâncias em que a
atividade econômica, indiferente a porcentagens, estagnou, projetando situações
mais graves que exigem pressa. Não é exagero? Não. Há sinais muito claros
disso. O Ministério do Trabalho confirmou que em outubro o emprego formal
recuou nada menos que 38,4% sobre o mesmo mês de 2010. No ano, até outubro,
18,3%. Ainda não é grave, mas é um alerta, mesmo porque é natural a tendência
de demissões em consequência dos reajustes em cadeia que o novo salario mínimo
pode provocar. Ou a produção aumenta, ou o emprego recua. Mas a produção só não
continuará recuando se houver mais consumo e investimento. E é isso o que a
equipe econômica anuncia que não só pretende, mas está fazendo. Dá sinais que
não teme a tal "recessão técnica", mas sim o "clima de
recessão" em que a economia já entrou. Com um falso
"crescimento"de mais 0,2% ou menos 0,2%... "crescimento..."
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