PAUL KRUGMAN, ontem na FOLHA DE S. PAULO e a economia americana.
É um pássaro! É um avião! É uma
porcaria! É o supercomitê!
Até a próxima quarta, o chamado
supercomitê, um grupo bipartidário de legisladores, tem de chegar a um acordo
sobre como reduzir deficit futuros. Mas não vai conseguir cumprir esse prazo
final.
Se essa notícia o deprime, anime-se:
nesse caso, o fracasso é bom.
Por que o supercomitê está fadado a
fracassar? Principalmente porque o abismo entre nossos dois principais partidos
é enorme. Republicanos e democratas não têm só prioridades diferentes -habitam
mundos intelectuais e morais distintos.
No mundo democrata, o alto é alto e o
baixo é baixo. Elevar impostos aumenta a receita, e reduzir os gastos com a
economia ainda deprimida reduz o emprego. No mundo republicano, o baixo é alto.
Para elevar a receita, o jeito é cortar os impostos das empresas e dos ricos, e
reduzir os gastos do governo é uma estratégia de geração de empregos.
Ademais, os dois partidos têm visões
nitidamente diferentes sobre o que constitui justiça econômica.
Os democratas veem os programas de
seguridade social como algo que satisfaz o imperativo moral de segurança básica
aos nossos concidadãos e ajuda aos necessitados.
Os republicanos podem expressar a visão
democrata em público, mas reservadamente veem o Estado de bem-estar social como
imoral, uma questão de forçar cidadãos, sob a mira de armas, a entregar seu
dinheiro a outras pessoas.
Assim, o supercomitê reuniu legisladores
que discordam por completo. Por que alguém achou que isso poderia funcionar?
Talvez a ideia seja que os partidos
chegarão a um meio-termo por medo do preço político de parecerem
intransigentes. Mas isso só aconteceria se a imprensa estivesse disposta a
mostrar quem se nega a fazer concessões. E ela não o faz.
Para começo de conversa, a história nos
diz que o Partido Republicano renegaria seu lado de qualquer acordo assim que
tivesse a chance.
As perspectivas fiscais dos EUA estavam
bastante boas em 2000, mas, assim que os republicanos assumiram a Casa Branca,
desperdiçaram o superavit com reduções dos impostos e guerras não financiadas.
Assim, qualquer acordo agora seria, na prática, nada mais que cortes na
Previdência e no Medicare sem melhora duradoura do deficit.
Outra coisa: qualquer acordo fechado
agora quase certamente agravaria a recessão. Reduzir os gastos com a economia
deprimida destrói empregos e provavelmente é contraproducente até em termos de
redução do deficit, já que leva a receitas mais baixas agora e no futuro. E
projeções como as do Fed sugerem que a economia continuará deprimida até pelo
menos 2014.
É verdade que, com o tempo, teremos que
equiparar gastos com receita. Mas a decisão sobre como fazer isso não é
contábil. Diz respeito a valores fundamentais -e deve ser tomada pelos
eleitores, não por algum comitê que supostamente transcende divisões entre
partidos.
Com o tempo, um lado ou outro receberá o
mandato popular de que precisa para resolver os problemas orçamentários de
longo prazo. Enquanto isso não ocorrer, as tentativas de um Grande Acordo são
fundamentalmente destrutivas. Se o supercomitê fracassar, como se prevê, será
um momento para festejar.
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