MARIO MESQUITA, hoje na FOLHA DE S. PAULO, comenta que o FMI e economistas preveem cenário pessimista para o desempenho da
economia mundial em 2012
A economia mundial deve ter um desempenho razoável, segundo as mais
recentes projeções dos economistas do FMI, em 2012. A taxa de crescimento
mundial deve situar-se próxima de 4%, marginalmente acima daquela observada em
2011, abaixo das taxas vigentes em 2006/7 (média de 5,3%) e bem acima das taxas
de 2,8% e de -0,7% de 2008 e de 2009.
Considerando-se grandes blocos e regiões, o crescimento mundial
seguiria, na visão daquela instituição multilateral, sendo liderado pelas
economias emergentes, com expansão esperada de 6,1%, sendo 8% na Ásia e 4% na
América Latina, ao passo que as economias avançadas teriam crescimento bem mais
modesto, de 1,9%, sendo somente 1,1% na zona do euro -que, se as projeções se
materializarem, apenas em 2012 terá, por margem estreita, superado a contração
de 2008.
Olhando os demais componentes do G4, espera-se crescimento de 1,8% para
os EUA em 2012, ante 1,5% em 2011, 2,3% para o Japão, com recuperação
expressiva, para os padrões japoneses, depois do terremoto e do tsunami de 2011,
quando o PIB deve ter queda de 0,5%. Já a China deve desacelerar para 9% em
2012, ante 9,5% em 2011.
Em resumo, nada muito alentador, mas tampouco desastroso. Ocorre que o
próprio Fundo alerta, em suas "Perspectivas Econômicas Mundiais", que
os riscos para essas projeções são predominantemente negativos.
Nisso os economistas do FMI estão em boa companhia. Os mais renomados
economistas têm, e não é de agora, disputado uma corrida para estabelecer quem
é mais pessimista. Em um ambiente de recriminações sobre o papel, dúvidas
(excessivas) sobre os fundamentos da profissão, os economistas embarcaram na
onda da austeridade e das expectativas deprimidas. Essa atitude, apesar de ter
um elemento de "efeito manada", pode perfeitamente estar correta. Os
desafios perante a economia mundial são de fato bastante severos.
Nos EUA, temos um ambiente econômico complexo, com recuperação modesta e
decepcionante no que se refere à geração de empregos. Aos problemas estruturais
da desalavancagem das famílias e do setor imobiliário, pode se somar uma
política fiscal contracionista, mais por conta do ambiente político carregado
do que por decisão do governo Obama, que provavelmente teria de ser compensada
por novas iniciativas do Fed (o BC do EUA).
A Europa vive, mais do que uma crise da dívida, uma crise política (quem
determina as decisões de política fiscal da Itália, Roma ou Bruxelas, ou
Frankfurt?) bem como uma crise estrutural -como fazer para que a periferia
mediterrânea volte a crescer? A falta de informações claras sobre tais questões
sugere que o nervosismo dos mercados com a situação do continente tende a
persistir.
Mais recentemente, até a China tornou-se objeto de alguma preocupação.
Nesse caso, a temática vai desde temores quanto a um pouso forçado, ou seja,
crescimento mais para 7% do que para 9%, até uma possível crise financeira
derivada do descontrole das finanças dos governos locais e seus efeitos sobre o
sistema bancário.
Diante desse quadro, o predomínio do pessimismo é natural e de certa
forma prudente -ninguém quer ser acusado de esquecer ou ignorar os chamados
"downside risks". A concentração de opiniões nessa região pode,
entretanto, apresentar situações interessantes. Em particular, a atual
configuração de preços de ativos, em que pese a alta generalizada desde
setembro, parece refletir não um cenário central parecido com aquele
apresentado pelo FMI, mas sim os diversos riscos negativos que pairam no ar.
Nesse contexto, os economistas diriam que o pessimismo reflete um
cenário central insosso e em especial um balanço de riscos para o crescimento
mundial desfavorável. Por sua vez, os operadores de mercado diriam que, apesar
de as preocupações listadas serem pertinentes, a posição técnica do pessimismo,
que concentra a ampla maioria da opinião informada, é desfavorável -nesses
momentos de consenso aparentemente inabalável, as mudanças de opinião podem ser
substanciais e se traduzir em ajustes expressivos dos preços.
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