LUIZ
CARLOS MENDONÇA DE BARROS, hoje na FOLHA DE S.PAULO.
Pretendia
hoje refletir sobre a situação na Europa, depois da aprovação do novo pacote de
medidas para enfrentar a crise na zona do euro. Estava relativamente otimista,
pois as decisões tomadas superaram as expectativas dos analistas. Como sou
adepto da teoria de que para enfrentar um problema estrutural que depende de
consenso político é preciso fatiá-lo e resolvê-lo ao longo do tempo, estava
confiante.
Mas
a decisão do primeiro-ministro grego de levar a questão da adesão ao pacote a
uma consulta popular voltou a tornar instável o futuro imediato do euro e a
pressionar os governos por uma nova rodada de medidas. A ameaça grega recolocou
a Itália na berlinda, provocando nova rodada de aumento no risco político
associado a seus títulos soberanos de crédito. Por sorte, essa nova rodada de
pânico nos mercados acontece quando os governantes do G20 estão reunidos em
Cannes para um de seus encontros formais periódicos.
Talvez
seja boa oportunidade para chegar a um entendimento para trazer novos recursos,
externos à Europa, para aumentar o poder de fogo do Fundo Europeu de
Estabilização Financeira. Mas as decisões do G20 e do Parlamento grego só serão
conhecidas depois de ter escrito minha coluna.
Por
isso, aproveito para tratar de outra questão que tem dominado o debate
econômico no Brasil nos últimos dias: o enfraquecimento mais acelerado da
economia, principalmente no segmento da indústria. Segundo projeções da equipe
de economistas da Quest, ela não vai crescer em 2011. O crescimento do PIB
também deve apresentar resultados mais modestos neste ano.
A
desaceleração da economia está sendo maior do que eu esperava. E não se pode
jogar a culpa na crise externa, pois seus efeitos no Brasil ainda são muito
pequenos e contraditórios. Por exemplo, em relação à inflação, o cenário
externo tem tido efeitos benignos via preços das commodities. Por isso, alguns
fatores internos, menos conhecidos, devem estar afetando nossa economia.
Uma
primeira hipótese que venho trabalhando há alguns meses é a de que forças
expansionistas temporárias, que atuaram no segundo mandato de Lula, estão
perdendo força.
Um
exemplo é o crescimento do crédito, que chegou a dois dígitos em 2007/8 e hoje
está na faixa de 6,8%. Em 2007, o total de crédito na economia estava muito
abaixo dos padrões internacionais; hoje, principalmente no financiamento de
bens duráveis, já está em níveis compatíveis ao de economias mais avançadas e
vai crescer bem mais lentamente daqui por diante.
Outro
exemplo do esgotamento do crescimento do consumo via crédito pode ser
encontrado na chamada classe média emergente. Esses brasileiros que, ao longo
dos últimos anos, passaram a ter acesso ao crédito via bancos ou grandes
varejistas, já enfrentam problemas para honrar seus compromissos, mesmo com os
salários crescendo a taxas reais de cerca de 3% ao ano. Como não temos a
incorporação de novos membros das classes de renda mais baixa por total falta
de qualificação profissional, esse impulso no consumo tende a desaparecer.
Finalmente,
a concorrência das importações também joga a favor de um crescimento mais
modesto. Nos anos passados, mais importações representaram válvula de escape
contra a inflação via maior oferta de bens; hoje, afetam também o crescimento
da indústria.
A
tabela ao lado mostra os sinais claros de crescimento mais fraco sob Dilma
quando comparado com o segundo mandato de seu criador.
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