ANTONIO DELFIM NETTO, hoje na FOLHA DE S. PAULO.
O Banco Mundial acaba de publicar seu importante relatório anual
"Doing Business - 2012", no qual são ordenados 183 países de acordo
com as condições apreciadas em cada um deles por agências independentes e de
boa qualidade.
O país mais amigável com a realização de "negócios privados" é
classificado como número um (Cingapura) e o mais hostil, como número 183
(Chade). No Brasil, o total de informantes é da ordem de cem, com um viés para
grandes e bem-sucedidos escritórios de advocacia, que, obviamente, têm "intimidade"
com as dificuldades de negócios de seus clientes.
Qual o lugar do Brasil nessa corrida de 183 países? Nada lisonjeiro:
126º. Na inevitável comparação com os Brics, estamos atrás da China (91º) e da
Rússia (120º) e ligeiramente à frente da Índia (132º).
O fato dramático é que, entre 2011 e 2012, realizamos apenas um
aperfeiçoamento digno de nota na melhoria das condições para fazer negócios no
Brasil: a aprovação da lei do cadastro positivo para a concessão de crédito.
Estamos retomando a ideia do Estado-indutor na macroeconomia, mas
revelamos ainda enorme letargia para enfrentar as chamadas "reformas"
microeconômicas fundamentais para um aumento da produtividade do país. É
lamentável que algumas dessas medidas continuem seu sono eterno no Congresso
Nacional enquanto se disputa como "aparelhar" mais o Estado.
Para dar uma ideia dessa apatia, basta lembrar que:
1º) No processo de instalar um empreendimento, no qual somos
qualificados em 120º lugar, 53 países fizeram reforma em 2011;
2º) No campo do crédito, no qual somos o 98º, fizemos apenas uma reforma
(que estava havia anos no Congresso), enquanto 44 países avançaram,
3º) No campo da facilidade de pagamentos de tributos, no qual estamos em
150º lugar, outros 53 países fizeram algum progresso.
Para terminar, uma boa notícia. No campo das permissões ambientais, em
que somos o 127º colocado, estamos, finalmente, a ponto de fazer uma revolução
com as propostas do governo por meio da eficiente ministra Izabela Teixeira.
Temos saído muito bem das situações de crise que estão abalando a
economia mundial, mas é ilusão pensar que a crise passará sem nos atingir de
alguma forma. Somos parte do mundo e vamos pagar o preço de sê-lo. Nosso
problema é que, com o nosso atual modelo agromineral exportador, não daremos
emprego de qualidade aos 150 milhões da população economicamente ativa que
teremos em 2030.
Precisamos de um mercado interno industrial e de serviços eficientes.
Isso exige que enfrentemos agora, com inteligência, determinação e coragem, os
necessários aperfei-çoamentos de nossas políticas macro e microeconômicas.
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