quarta-feira, 30 de junho de 2010
FINAL DE JOGO 2010.1 !!!
CUIDADO COM O GASTO PÚBLICO!!!
Na verdade, é necessária maior atenção do governo para as metas fiscais. FELIPE SALTO, economista pela FGV/ EESP, é analista da Tendências Consultoria e cofundador do Instituto Tellus, escreve na FOLHA DE S. PAULO de hoje sobre o assunto.
BRASIL: CHEGA DE DESPESA.
ANTONIO DELFIM NETO, hoje, na FOLHA DE S. PAULO, grita: CHEGA DE DESPESA.
Nas sociedades constitucionalmente organizadas, nenhum dos Poderes pode propor aumento de despesa (em particular aumentos salariais) sem uma coordenação preliminar com o Poder Executivo.
Mais do que isso, nenhum Congresso ou Parlamento pode aprovar aumento de despesa permanente sem estabelecer fontes também permanentes de seu financiamento.
A necessária independência e harmonia entre os Poderes não pode ser justificativa plausível para que o Legislativo ou uma coalizão do Legislativo e Judiciário proponha livremente seus salários. A cada quatro anos, com a proximidade do processo eleitoral, o Legislativo costuma ser atacado por uma febre "social" para competir com o espírito natalino do manhoso Executivo.
O fato lamentável é que tais desatinos fiscais se fazem à base de "truques interpretativos" que ilidem as disposições da Constituição de 1988 e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Nossa situação ainda está sob controle, mas é cada vez mais evidente que lentamente se acumulam compromissos de despesas permanentes cujo pagamento depende do crescimento permanente da receita, o que não pode ser garantido. Trata-se de uma imprudência que põe em risco a própria estabilidade econômica.
Um exemplo claro dessa ameaça é o desequilíbrio da Previdência Social, que o Executivo não tem tido disposição para enfrentar e o Legislativo tem feito todo o possível para aumentar.
A lei que regula a previdência do setor público e pode abrir caminho para uma solução a partir de quando for posta em prática dorme há anos no Congresso em companhia da lei que regula o direito de greve do setor público. Ambas, propostas pelo Executivo, foram abandonadas na "roda" do Congresso como crianças indesejadas...
Recuperamos o crescimento a partir de 2006 com o PAC e desde 2003 fomos beneficiados pelo "bônus" da expansão mundial. Sem maior esforço exportador, passamos de país devedor para país credor e acumulamos US$ 250 bilhões
terça-feira, 29 de junho de 2010
O BRASIL REAL DE MARTIN WOLF.
De excepcional qualidade, como normalmente ocorre, o texto de MARTIN WOLF, no FINANCIAL TIMES, aqui disponibilizado pela FOLHA DE S. PAULO, com o sugestivo título: “BRASIL PRECISA SE ESFORÇAR MAIS PARA ACOMPANHAR OUTROS BRICS”.
Espero que o texto tenha sido lido pelos nossos candidatos a Presidência da República. A realidade do conteúdo contrasta com este Brasil que "alguns" acreditam que chegou ao 1º mundo. Lamento informar, mas ainda não chegamos lá. E, se nada mudar, continuaremos neste 3º mundo mesmo.
O Brasil é o país do futuro e sempre será - assim diz a velha piada. Será que enfim os brasileiros rirão por último?
Será que o Brasil se tornou o país do presente? A resposta é afirmativa, mas só até certo ponto. O país continua longe de se equiparar ao desempenho de Índia e China. Deveria se sair muito melhor. As grandes realizações do Brasil nos últimos 15 anos se referem à estabilidade - política e econômica. Sob as presidências de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula, o país conquistou a estabilidade democrática.
A era do governo militar, encerrada em 1985, parece distante. Sob o Plano Real, a inflação foi por fim controlada. Depois de reduzir a inflação por meio de uma taxa de câmbio quase fixa, o Banco Central reduziu a taxa de juros de referência de 45% a apenas 8,75% em 2009.
A estabilidade se escorou no acúmulo de reservas cambiais, que chegaram a US$ 235 bilhões em fevereiro de 2010, ante US$ 33 bilhões em janeiro de 1999. Mas estabilidade não quer dizer dinamismo. O crescimento médio foi de apenas 2,9% ao ano entre 1995 e 2009.
As projeções do FMI para o crescimento no período 2010-2013 apontam uma média anual de 4,5%, bem abaixo daquela de China e Índia.
O fracasso do Brasil na redução da desigualdade de renda é igualmente importante. Na China, em
Como resultado, a parcela brasileira na produção mundial caiu de 3,1% em 1995 para 2,9% em
O que vemos, assim, é a ascensão dos países IC, não dos Brics. Será que o Brasil conseguirá se sair melhor? Para isso, tem de superar imensas desvantagens estruturais.
A mais importante é o nível extremamente baixo de poupança. Em 2008, de acordo com o Banco Mundial, a poupança bruta do país equivalia a apenas 17% do PIB, ante os 38% da China e os incríveis 54% da Índia.
Além disso, 45% das exportações de mercadorias brasileiras em 2008 envolviam produtos industrializados, ante 63% na Índia e 93% na China: será difícil conquistar industrialização via comércio interno.
O desafio, assim, parece claro e difícil: passar da estabilidade para o crescimento.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
AGENDA: BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO
sábado, 26 de junho de 2010
DÁ PARA CONFIAR NA CHINA?
O Nobel PAUL KRUGMAN, publicado nesta data na FOLHA DE S. PAULO, avisa que com a flexibilização do Yuan, A CHINA ESTÁ SÓ ENROLANDO O RESTO DO MUNDO.
No último fim de semana, a China anunciou uma mudança em sua política monetária, uma medida visando claramente evitar a pressão dos Estados Unidos e de outros países no encontro de cúpula do G20 neste fim de semana. Infelizmente, a nova política não trata da questão real, que é o fato da China estar promovendo suas exportações em detrimento do restante do mundo.
Na verdade, longe de representar um passo na direção certa, o anúncio chinês foi um exercício de má fé –uma tentativa de explorar o comedimento americano. Para manter a temperatura retórica baixa, o governo Obama tem usado linguagem diplomática em seus esforços para persuadir o governo chinês a por um fim ao seu mau comportamento. Agora os chineses responderam fazendo uso da mesma forma de linguagem americana para evitar lidar com a essência das queixas americanas. Resumindo, eles estão jogando.
Para entender o que está acontecendo, nós precisamos voltar aos elementos básicos da situação.
A política cambial da China não é nem complicada e nem sem precedente, exceto em sua escala. É um exemplo clássico de um governo desvalorizando artificialmente sua moeda frente às moedas estrangeiras, vendendo sua própria moeda e comprando moeda estrangeira. Esta política é especialmente eficaz no caso da China, porque há restrições legais à entrada e saída de fundos do país, permitindo que a intervenção do governo domine o mercado de moeda.
E a prova de que a China está de fato mantendo o valor de sua moeda, o yuan, artificialmente baixo é precisamente o fato do banco central estar acumulando tantos dólares, euros e outros ativos estrangeiros –no valor de mais de US$ 2 trilhões até o momento. Há todo tipo de cálculos visando mostrar que o yuan não está realmente desvalorizado, ou pelo menos não tanto. Mas se o yuan não está profundamente desvalorizado, por que a China precisa comprar cerca de US$ 1 bilhão por dia de moeda estrangeira para impedi-lo de valorizar?
O efeito dessa desvalorização da moeda é duplo: ele torna os produtos chineses artificialmente baratos para os estrangeiros, enquanto torna os produtos estrangeiros artificialmente caros para os chineses. Isto é, é como se a China estivesse simultaneamente subsidiando suas exportações e impondo sobretaxas protetoras aos importados.
Essa política é muito danosa em um momento em que a economia mundial permanece profundamente deprimida. Em tempos normais, seria possível que as compras pelos chineses de títulos americanos, apesar de distorcerem o comércio, ao menos nos forneciam um crédito barato –e era possível argumentar que não era culpa da China nós termos utilizado esse crédito para inflar uma vasta e destrutiva bolha imobiliária. Mas no momento nós estamos repletos de crédito barato; o que falta é demanda suficiente dos bens e serviços capazes de gerar os empregos que precisamos. E a China, ao manter um superávit comercial artificial, está agravando esse problema.
A propósito, isso não significa que a China ganha com sua política monetária. O yuan desvalorizado é bom para empresas exportadoras politicamente influentes. Mas essas empresas acumulam dinheiro em vez de repassarem os benefícios para seus funcionários, daí a recente onda de greves. Enquanto isso, o yuan fraco cria pressões inflacionárias e desvia uma parte imensa da renda nacional da China para a compra de ativos estrangeiros com uma taxa de rendimento muito baixa.
Então, onde o anúncio de política da semana passada se encaixa nisso tudo? Bem, a China permitiu a valorização do yuan –mas apenas um pouco. Até quinta-feira, a moeda estava aproximadamente apenas meio ponto percentual mais alta do que o nível anterior ao anúncio. E todos os indícios são de que observar a futura movimentação do yuan será como assistir pintura secar: as autoridades chinesas ainda estão fazendo declarações negando que um aumento de sua moeda fará algo para reduzir os desequilíbrios comerciais, e os preços no mercado futuro, no qual os corretores negociam os valores das moedas em vários pontos no futuro, sugerem um aumento de apenas aproximadamente 2% no yuan no final deste ano. Isso é basicamente uma piada.
O que os chineses fizeram, eles alegam, foi aumentar a “flexibilidade” de sua taxa de câmbio: ela está se deslocando mais diariamente do que no passado, às vezes para cima, às vezes para baixo.
É claro, os autores de políticas chineses sabem muito bem que apesar das autoridades americanas terem de fato pedido por uma maior flexibilidade cambial, isso foi apenas um eufemismo diplomático para o que os Estados Unidos, e o mundo, desejam (e têm o direito de exigir): um yuan muito mais forte. Permitir que a moeda valorize ou desvalorize ligeiramente não faz nenhuma diferença para os fundamentos.
E o que acontecerá a seguir? O governo da China está claramente tentando nos enrolar, adiando uma ação até que algo –é difícil dizer o quê– aconteça.
Isso não é aceitável. A China precisa parar de nos enganar e promover uma mudança real. E caso ela se recuse, então é hora de falarmos sobre sanções comerciais.
COPA 2010!!!
Em época de COPA 2010, nada como ler JOSÉ SIMÃO, na FOLHA DE S. PAULO, direto da ÁFRICA DO SUL. Ele é demais!
E o Galvão? O Hexagerado! Adoro a matemática maluca do Galvão: "Se a Inglaterra empatar com os pigmeus de Botsuana, a Eslováquia fizer um gol, o vento bater a favor e o cara conseguir vender todo o engradado de cerveja dele, o Brasil faz dez pontos".
O FUTURO DO REAL.
EXTERNALIDADES PESSOAIS!!!
É comum a existência de problemas na economia, alguns já aguardados, outros totalmente surpresos. No microcosmo da vida pessoal isso também ocorre. Por essa razão, este blogueiro encontrava-se, digamos, mais distante deste espaço, porém agora, com a “estabilidade” em forma, acreditamos que iremos manter a assiduidade de nossas atividades, novos aprendizados e visitas aos blogs dos colegas.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
A ECONOMIA DAS CRISES.
We have received overwhelming interest from people about Dr. Nouriel Roubini’s new book, “Crisis Economics: A Crash Course in the Future of Finance.”
As you may know, the book, co-authored by Stephen Mimh, was released last week in the United States and has been very favorably reviewed by the world’s leading financial and news sources, including The New York Times and the Financial Times.
“Instead of imposing a doctrinaire theory upon the facts, Mr. Roubini employs an eclectic, common-sense approach to history, picking à la carte from the thinking of such disparate economists as John Maynard Keynes and Joseph Schumpeter.” (The New York Times).
“... what Roubini and Mihm offer is a sober and sensible analysis of what has gone so badly wrong in finance in the past few years, coupled with a list of proposals about what could now be done to fix these woes. During a crisis, Roubini and Mihm argue, governments need to be “Keynesian” and spend plenty of taxpayers’ money to ward off disaster and prop up the financial system; after the crisis, however, non-Keynesian policies are needed, to apply free-market principles, and cut government debt.” (The Financial Times).
Because you have been a supporter of Roubini Global Economics in the past, we would like to give you access to the research team built by Dr. Roubini. If you are planning on purchasing Crisis Economics, we would like to offer you a 30 day license to roubini.com. You will be able to access the daily work prepared by Roubini’s team of analysts and strategists. Especially during this time of economic and financial disruption.
All you have to do is send us an email with a scanned or electric receipt showing that you have bought your copy of “Crisis Economics: A Crash Course in the Future of Finance.” Please send your receipt, name, email, and phone to info@roubini.com for your 30 day license.
Sincerely,
Michael Moran
VP, Executive Editor
quinta-feira, 17 de junho de 2010
INDICAÇÃO DE LEITURA - ECONOMIA
No excelente blog http://colunas.epoca.globo.com/sobalupadoeconomista/ um post com boas indicações de livros de ECONOMIA. Tenham certeza, meus quase dois leitores, que vocês gostarão das indicações abaixo.
Hoje participamos de um evento bastante interessante no Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), aqui
O mais famoso deles é “Freakonomics“, escrito pelo economista Steven Levitt (da University of Chicago) e pelo jornalista Stephen Dubner. O livro é bastante divertido, tocando em temas inusitados, típicos da pesquisa de Levitt, como trapaças em lutas de sumô e porque traficantes moram com suas mães. O estrondoso sucesso deu impulso à sequência “Super Freakonomics“, lançada recentemente. Apesar da queda de qualidade em relação original, continua sendo uma leitura agradável e divertida.
Os livros de Levitt e Dubner, entretanto, esforçam-se em mostrar aplicações não tradicionais da ciência econômica, mas não se preocupam muito
MARTIN WOLF E A ECONOMIA HOJE.
SEMINÁRIO EM SP - FGV
É HORA DA INDÚSTRIA!
ANTONIO DELFIM NETTO, em sua coluna desta semana na FOLHA DE S. PAULO, escreveu que “É hora da indústria”.
A partir dos anos 50, construímos uma estrutura industrial muito sofisticada para o nosso padrão de desenvolvimento.
A indústria de bens de capital foi fundamental para o rápido crescimento dos anos 50/80. Sem ela, teríamos tido muita dificuldade para expandir a matriz energética e construir Itaipu e Tucuruí.
Nosso desenvolvimento foi feito por empresas (nacionais e estrangeiras) que tomaram o risco de aqui se instalar na esperança de que o rápido crescimento de 1950/80 (7,4% ao ano) prosseguiria. Mas não foi assim. Um fenomenal aumento do petróleo levou à falência todas (sem exceção) as economias emergentes que dependiam de sua importação.
Quando a elevação da inflação nos EUA levou ao ajuste Volker, em 1979, as taxas de juros reais atingiram níveis impensáveis, o que ajudou a desintegrar as finanças públicas daqueles países.
O caso brasileiro é exemplar: em 1980, nossa produção de petróleo atendia 20% do consumo. A situação ficou tão desesperadora que se chegou a imprimir na Casa da Moeda um "cartão de racionamento" de combustíveis. Felizmente, um ataque de lucidez de última hora impediu o seu uso.
Pois bem. Após a tragédia, aquelas indústrias amargaram 30 anos de vacas magras, com um crescimento médio do PIB de 2,4% de
No período, a carga tributária passou de 24% para 36% do PIB, e o investimento público caiu de 4% para 1,5%. O setor privado ajustou-se aos programas de equilíbrio monetário e fiscal, suportando uma taxa de juro real estratosférica e uma taxa de câmbio real sobrevalorizada.
A partir do segundo mandato de Lula, abriu-se uma janela: o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) recuperou o papel do "Estado indutor" e reacendeu o "espírito animal" do nosso empresariado. Se soubermos usar o "bônus" do pré-sal, poderemos rodar a uma taxa de 5% a 6% nos próximos anos sem desequilíbrio interno ou externo.
Agora é hora de voltar a usar a capacidade produtiva da indústria de bens de capital instalada no Brasil e não se deixar iludir por mirabolantes financiamentos chineses.
Não se deve, por exemplo, levar em conta apenas o preço na compra de uma turbina. Produzida no Brasil, ela gera substanciais externalidades que não podem ser apropriadas privadamente.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
DIA DE SELIC!!!
DIRETAMENTE DA FOLHA DE S. PAULO - O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) anunciou o segundo aumento consecutivo da taxa básica de juros, que passou de 9,50% para 10,25% ao ano. A decisão foi unânime.
"Dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias ao cenário prospectivo da economia, para assegurar a convergência da inflação à trajetória de metas, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 10,25% a.a., sem viés", afirma nota divulgada após a reunião.
A alta de 0,75 ponto percentual era uma aposta praticamente unânime no mercado financeiro. Em abril, o BC já havia elevado a Selic de 8,75% para 9,50% a.a., dando início a um novo ciclo de alta dos juros, o primeiro desde 2008.
O BC volta a se reunir agora nos dias 20 e 21 de julho, para quando é esperada uma nova alta de 0,75 ponto, de acordo com as apostas da maioria dos economistas.
NOTÍCIAS DA FLORESTA!!!
A ANÁLISE DO PIB 2010.1
ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 47, economista-chefe do Grupo Santander Brasil, doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley) e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, também escreveu na FOLHA sobre o PIB brasileiro. Para quem deseja a leitura completa vide abaixo. Outros textos do autor estão no excelente www.maovisivel.blogspot.com.
Os números do PIB divulgados ontem são impressionantes sob qualquer ótica. Descontada a sazonalidade do período, o crescimento anualizado sobre o trimestre anterior atingiu quase 11,5%. Mesmo se usarmos a média dos últimos dois trimestres (10,4% ao ano) ou dos últimos três trimestres (10% ao ano), é inevitável concluir que o país cresce a um ritmo fortíssimo. E, note-se, nesse critério de avaliação, a velocidade de crescimento não resulta da fraca base de comparação do começo de 2009; é mesmo extraordinário.
Obviamente, ninguém com mais de cinco neurônios acha ruim que a economia cresça vigorosamente. A questão é saber se esse ritmo de expansão é sustentável, isto é, se pode ser mantido por longo período, ou se, pelo contrário, ocasionará desequilíbrios graves que, mais à frente, cobrarão preço elevado em termo de redução do crescimento futuro. A alternativa correta é a segunda.
Pudemos manter essa taxa de crescimento por algum tempo, da mesma forma que uma caixa de água pode receber mais líquido que sua capacidade de vazão desde que esteja suficiente vazia no começo. Contudo, assim como a caixa se encherá, levando ao fatal transbordamento à medida que o espaço vago for preenchido, também os desequilíbrios surgirão quando a capacidade ociosa se esgotar. O desafio é elevar o crescimento sustentável, ou, nos termos do nosso exemplo, a capacidade de vazão.
Embora não falte quem sugira que basta um ato de vontade, tanto a teoria econômica como a experiência de inúmeros países indicam que o crescimento de longo prazo depende essencialmente de quatro fatores.
Em primeiro lugar, a demografia, por exemplo, o tamanho da força de trabalho relativamente à população total. Quanto maior essa relação, tanto mais rápido deverá ser o crescimento.
Em segundo lugar, a qualificação dessa força de trabalho, tipicamente medida pelos anos de educação, devidamente ponderados pela qualidade dessa educação, como aferida em exames internacionais. Provavelmente relacionado à educação, mas afetado também por outras variáveis, há também o crescimento da produtividade da economia, geralmente associada ao ambiente de negócios, a arranjos institucionais (como direitos de propriedade bem definidos) e à abertura comercial, entre outros.
Esses três fatores têm em comum o fato de serem pouco passíveis de alteração por políticas governamentais, exceto em prazos muito longos (basta pensar que é necessária uma geração para alterar substancialmente a qualificação da força de trabalho). O que pode ser afetado num prazo mais curto é apenas o quarto fator: o volume de investimento.
Há desenvolvimentos positivos: o ritmo de expansão do investimento tem se acelerado, atingindo mais de 30% ao ano na média dos três últimos trimestres. No entanto, mesmo depois desse crescimento vertiginoso, a formação de capital representava apenas 18% do PIB no primeiro trimestre de 2010, insuficiente para fazer o estoque de capital aumentar o bastante para acomodar uma expansão do produto superior a 4%, 4,5% ao ano.
Estimamos que, para manter o crescimento na faixa de 5% a 5,5% ao ano, o investimento deveria atingir valor em torno de 22% do PIB, ainda bem superior ao observado.
Note-se, ademais, que a poupança bruta tem girado ao redor de 15% do PIB, apesar da crença de alguns de que o investimento geraria sua própria poupança. Isso reflete em larga medida o nível elevado do gasto público, ainda na casa de 20% do PIB (ante, por exemplo, 13% do PIB em nossos pares latino-americanos).
Vale dizer, não basta querer aumentar a taxa de investimento; é imperativo que o país eleve também sua poupança, de preferência por meio da redução do consumo público. Na ausência desse ajuste, será a poupança externa, mais uma vez, que financiará o crescimento, gostem disso ou não nossos keynesianos de quermesse.
CONTROVÉRSIA.
Em dia de divulgação de PIB, vale o prazer da leitura do texto sempre inteligente de ANTONIO DELFIM NETTO, publicado na FOLHA DE S. PAULO.
Levantamento feito pelas competentes jornalistas Ângela Bittencourt e Lucinda Pinto ("Valor Econômico", 4/6) com 31 importantes analistas do sistema financeiro revelou que, para o Copom de hoje, 9 entre cada 10 estimavam um aumento de 0,75% da taxa Selic. O outro esperava 1%!
Tal unanimidade se devia provavelmente à estimativa do crescimento entre 2,5% e 3% do PIB do primeiro trimestre de 2010 contra o último de 2009, que afinal se confirmou em 2,7%.
É verdade que teremos uma safra 2009/10 melhor que a anterior e com aumento da produtividade, que a produção industrial está chegando ao "pico" alcançado antes da crise, que foram feitos investimentos que estão maturando e que existe uma escassez de mão de obra especializada, mas sem resultar em aumento dos salários reais acima da produtividade.
Apesar dos gargalos da infraestrutura, parece claro que podemos crescer entre 5% e 6% sem maiores pressões inflacionárias.
A dificuldade do Banco Central é que as pressões inflacionárias são sorrateiras e a credibilidade da política de metas depende do seu sucesso. No último quinquênio, a "meta" foi de 4,5% ao ano, e a inflação realizada, de 4,7%, o que certamente é um sucesso.
Os Bancos Centrais são normalmente conservadores. Tendem a subestimar o famoso "PIB potencial" e a superestimar a taxa neutra de desemprego e a taxa de juro real de equilíbrio para garantir sua credibilidade.
No Brasil, o caso é grave: depois de longas lutas e derrotas, o Banco Central concede que o tal PIB potencial talvez esteja entre 4,5% e 5%, mas garante que a taxa de juro real de equilíbrio está entre 7% e 8%, tão teratológica quanto sua estimativa de que a taxa de desemprego mínima para domesticar o mercado de trabalho deva ser de 7% a 8%.
O último "Boletim Focus" (4/6) mostra que o mercado financeiro espera uma taxa de inflação de 4,8% e uma taxa de crescimento de 4,5% para 2011, depois da elevação do juro esperada para 2010.
Qual é a taxa de juro real esperada pelos analistas acima?
Os mais comedidos (16% deles) esperam a Selic de 11,50% no final de 2010 e, portanto, uma taxa de juro real de 6,4%; os que esperam a Selic entre 11,51% e 12% (39% dos informantes), 6,6%; de 12,01% a 12,50% (32% dos informantes), 7,10%; e de 12,51% a 13,00% (13% dos informantes), 7,6%. Estão todos bem domesticados pela credibilidade dos modelitos do Banco Central!
Mas há controvérsia. O setor privado brasileiro há de ser muito produtivo para gestar um robusto crescimento pagando a maior taxa real de juros do universo e suportar a supervalorização do real dela decorrente.
A importância de debater o PIB nas eleições 2022.
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