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domingo, 7 de abril de 2013

Capitalismo de Estado ganha mais força no Brasil.


NOURIEL ROUBINI - ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE

Na FOLHA DE S. PAULO, NOURIEL ROUBINI, professor de Economia da Escola Stern de Administração de Empresas, Universidade de Nova York e presidente da Roubini Global Economics (www.roubini.com), escreve e critica o capitalismo de estado, inclusive no Brasil.

Nas quatro últimas semanas, visitei Sófia, Kuala Lumpur, Dubai, Londres, Milão, Frankfurt, Berlim, Paris, Pequim, Tóquio, Istambul e EUA. Os inúmeros desafios que a economia mundial enfrenta estavam por perto.

Na Europa, o risco de uma dissolução da zona do euro caiu depois da decisão do Banco Central Europeu, no terceiro trimestre de 2012, de intervir para sustentar os títulos de dívida nacional.

Mas os problemas fundamentais da UE - baixo potencial de crescimento, recessão continuada, perda de competitividade e endividamento - não foram resolvidos.

Além disso, o acordo entre os países centrais da zona do euro, o BCE e as nações periféricas - dolorosa austeridade em troca de apoio financeiro - está se desfazendo porque o cansaço quanto à austeridade nos países periféricos contrasta com o cansaço de resgatar dos países centrais, como a Alemanha.

Na China, a transição de líder aconteceu sem solavancos. Mas o modelo econômico continua, na definição do ex-premiê Wen Jiabao, "instável, desequilibrado, descoordenado e insustentável".

Os problemas da China são muitos: os desequilíbrios regionais; o excesso de poupança e o baixo consumo; a alta da renda e da desigualdade de renda; e a imensa degradação ambiental.

Os novos líderes do país falam convictamente da necessidade de aprofundar as reformas e reequilibrar a economia, mas continuam cautelosos e conservadores.

Como resultado, as reformas necessárias para reequilibrar a economia podem não acontecer com rapidez suficiente para impedir uma aterrissagem dura quando a contração do investimento chegar, o que deve vir no primeiro trimestre de 2014.

Na China e na Rússia (e em parte no Brasil e na Índia), o capitalismo de Estado ganhou mais força, e isso é mau sinal para o crescimento.

No geral, esses quatro países (o grupo Bric) vêm recebendo elogios exagerados, e outros emergentes podem se sair melhor na década que vem - Malásia, Filipinas e Indonésia, na Ásia; Chile, Colômbia e Peru, na América Latina; e Cazaquistão, Azerbaijão e Polônia, na Europa Oriental e na Ásia Central.

Mais a leste, o Japão inicia uma nova experiência econômica para conter a deflação, estimular o crescimento e restaurar a confiança.

O modelo econômico tem diversos componentes: estímulo monetário agressivo; um estímulo fiscal neste ano para forçar uma retomada da demanda, seguido por austeridade fiscal em 2014; reformas estruturais; e novos acordos de livre comércio.

Mas os desafios são assustadores. Não está claro que a deflação possa ser vencida por meio de política monetária; um estímulo fiscal excessivo e a postergação das medidas de austeridade podem tornar a dívida insustentável; e a reforma está indefinida.

Temos também o Oriente Médio, que continua a ser um arco de instabilidade da África do Norte ao Paquistão. A Turquia quer se tornar uma grande potência regional. Mas o país tem muitos desafios nacionais a enfrentar. O deficit em conta-corrente é alto e a política monetária parece confusa, já que o estímulo ao crescimento tromba com o controle da inflação.

Nesse ambiente mundial frágil, será que os EUA se tornaram um farol de esperança? Eles experimentam diversas tendências econômicas positivas: o mercado de habitação se recupera, a exploração de petróleo e gás em campos de xisto reduzirá os custos da energia; a criação de empregos avança; os custos trabalhistas crescentes na Ásia estimulam o renascimento da indústria; e as medidas agressivas de relaxamento quantitativo ajudam tanto a economia real quanto os mercados financeiros.

Mas ainda há riscos. O desemprego e a dívida domiciliar continuam altos. O arrasto fiscal causado pelo aumento de impostos e cortes de gastos prejudicará o crescimento, e o sistema político é disfuncional, com a polarização entre os partidos impedindo soluções sobre o deficit fiscal, imigração, política de energia e outras questões que afetam o crescimento.

A zona do euro e o Reino Unido continuam afundados em recessão, agravada pelas política monetária e fiscal dura. Entre as economias emergentes, a China pode enfrentar uma aterrissagem dura, por volta do final de 2014, se as reformas estruturais essenciais forem adiadas, e os demais países do grupo Bric precisam deixar para trás o capitalismo de Estado.

Embora outros mercados emergentes na Ásia e na América Latina estejam mostrando mais dinamismo que o grupo Bric, sua força não bastará para virar a maré mundial.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Previsões para 2012: um ano acidentado.


NOURIEL ROUBINI é presidente da Roubini Global Economics, professor da Escola Stern de Administração de Empresas (Universidade de Nova York) e coautor do livro "Crisis Economics". Este artigo foi publicado hoje na FOLHA DE S.PAULO e o autor conhece o que escreve.  

Fragilidade e desequilíbrio em 2012.

A perspectiva da economia mundial em 2012 é clara, mas não bonita: recessão na Europa, crescimento anêmico (na melhor das hipóteses) nos Estados Unidos e desaceleração acentuada na China e na maioria das economias emergentes.

As economias asiáticas estão expostas à China. A América Latina está exposta à queda nos preços das commodities (causada pela desaceleração econômica na China e nas economias avançadas).

A Europa Central e Oriental está exposta à zona do euro. E os tumultos no Oriente Médio estão causando sérios riscos econômicos -na região e no resto do mundo-, porque o risco geopolítico continua elevado e os altos preços do petróleo restringirão o crescimento mundial.

Os Estados Unidos enfrentam consideráveis riscos diante da crise na zona do euro. Também precisam enfrentar um arrocho fiscal significativo, o processo de redução de dívidas em curso no setor domiciliar, a crescente desigualdade de renda e o impasse político.

Entre as demais economias avançadas, o Reino Unido já está atravessando uma recessão de duplo mergulho, porque a consolidação fiscal apressada e a exposição à zona do euro solapam seu crescimento. No Japão, a recuperação pós-terremoto vai se esgotar porque os governos fracos que se sucedem no país não conseguirão implementar reformas estruturais.

Enquanto isso, as falhas no modelo de crescimento chinês estão se tornando evidentes. A queda nos preços dos imóveis está iniciando uma reação em cadeia que terá efeito negativo sobre os incorporadores imobiliários, o investimento e a arrecadação do governo. O boom de construção começa a se estagnar, no exato momento em que as exportações líquidas começam a prejudicar o crescimento, devido à demanda fraca nos Estados Unidos e especialmente na zona do euro.

Tendo buscado esfriar o mercado imobiliário com medidas que conterão os preços em disparada, os líderes chineses enfrentarão dificuldade para promover uma retomada do crescimento. E não serão os únicos. EUA, União Europeia e Japão também vêm postergando as sérias reformas estruturais de que necessitam para restaurar um crescimento equilibrado e sustentável.

Ao mesmo tempo, alguns desequilíbrios cruciais em conta-corrente -entre os EUA e a China (e outras economias de mercado emergente), e dentro da zona do euro, entre os países centrais e os periféricos- continuam largos. Um ajuste ordeiro desse problema requer demanda interna menor nos países que gastam mais e acumulam grandes deficit em conta-corrente e superavit comerciais menores nos países que poupam demais, via valorização cambial nominal e relativa.

A fim de manter o crescimento, os países que gastam demais precisam de depreciação nominal e real para melhorar suas balanças comerciais. Já os países superavitários precisam estimular a demanda interna, notadamente o consumo.

Mas esse ajuste de preços relativos via movimentos cambiais está parado, porque os países superavitários resistem à valorização das taxas de juros e preferem impor recessão deflacionária aos países deficitários. As batalhas cambiais resultantes estão sendo travadas em várias frentes: intervenções em mercados cambiais, relaxamento quantitativo e controles sobre influxos de capital. E, com o enfraquecimento do avanço mundial em 2012, essas batalhas talvez cresçam a ponto de virarem guerras comerciais.

Por fim, as autoridades econômicas estão esgotando suas opções. A desvalorização cambial é uma ferramenta finita, porque nem todos os países poderão depreciar suas moedas e melhorar suas exportações líquidas ao mesmo tempo. A política monetária será relaxada e tornará a inflação irrelevante nas economias avançadas (e menos relevante nos mercados emergentes).

Restaurar um crescimento robusto já seria suficientemente difícil sem o espectro permanente da redução de dívidas e a séria escassez de ferramentas de política econômica. Mas é esse o desafio que a economia mundial, frágil e desequilibrada, enfrentará em 2012.

Para parafrasear Bette Davis em "A Malvada": "Apertem os cintos: o ano será acidentado".

domingo, 16 de outubro de 2011

A instabilidade da desigualdade.


NOURIEL ROUBINI é presidente da Roubini Global Economics, professor da Escola Stern de Administração de Empresas (Universidade de Nova York) e coautor do livro "Crisis Economics". Hoje, diretamente da FOLHA DE S. PAULO. 

Este ano foi caracterizado por uma onda mundial de inquietações e instabilidades sociais e políticas, com participação popular maciça em protestos reais e virtuais: a Primavera Árabe; os tumultos em Londres; os protestos da classe média israelense contra o alto preço da habitação e os efeitos adversos da inflação sobre os padrões de vida; os protestos dos estudantes chilenos; a destruição dos carros de luxo dos "marajás" na Alemanha; o movimento contra a corrupção na Índia; a crescente insatisfação com a corrupção e a desigualdade na China; e agora o movimento "Ocupe Wall Street", em Nova York e em outras cidades dos Estados Unidos.


Embora esses protestos não tenham um tema que os unifique, expressam de diferentes maneiras as sérias preocupações da classe média e da classe trabalhadora mundiais diante de suas perspectivas, em vista da crescente concentração de poder nas mãos das elites econômicas, financeiras e políticas.As causas das preocupações são bastante claras: alto desemprego e subemprego nas economias avançadas e emergentes; capacitação profissional e educação inadequadas, entre os jovens e trabalhadores, o que impede que concorram no mundo globalizado; ressentimento contra a corrupção, inclusive em formas legalizadas como lobbies; e a alta acentuada na disparidade de renda e riqueza nas economias avançadas e nas emergentes.


É claro que os problemas que muitas pessoas enfrentam não podem ser reduzidos a um só fator. A desigualdade cada vez maior tem várias causas: o ingresso de 2,3 bilhões de chineses e indianos na força mundial de trabalho (reduz o número de empregos e os salários dos operários de baixa capacitação e dos executivos e de administradores cujas funções sejam exportáveis, nas economias avançadas); mudanças tecnológicas baseadas em diferenciais de capacitação profissional; a emergência inicial de disparidades de renda e riqueza em economias que antes tinham renda baixa e agora apresentam rápido crescimento; e tributação menos progressiva.


As companhias de economias avançadas estão reduzindo seu pessoal, devido à demanda final inadequada, que resulta em excesso de capacidade, e à incerteza quanto à demanda futura. Mas reduzir o número de funcionários resulta em queda ainda maior na demanda final, porque isso reduz a renda dos trabalhadores e amplia a desigualdade. Porque os custos trabalhistas de uma empresa representam a receita profissional das pessoas e com isso a demanda que elas geram, uma decisão que é racional para uma empresa específica pode ser destrutiva em termos agregados.


Resultado: os mercados livres não geram suficiente demanda final. Nos EUA, a redução nos custos trabalhistas diminuiu acentuadamente a participação da renda do trabalho no PIB. Com o crédito exaurido, os efeitos de décadas de redistribuição de renda e riqueza -do trabalho para o capital, dos salários para os lucros, dos pobres para os ricos, e dos domicílios para as empresas- sobre a demanda agregada se tornaram severos, devido à propensão marginalmente inferior a consumir entre as empresas/proprietários de capital/domicílios ricos.


O problema não é novo. Karl Marx exagerou em seus argumentos favoráveis ao socialismo, mas estava certo ao alegar que a globalização, o capitalismo financeiro descontrolado e a redistribuição de renda e riqueza do trabalho para o capital poderiam conduzir à autodestruição do capitalismo. Como ele argumentou, o capitalismo sem regulamentação pode resultar em surtos regulares de excesso de capacidade produtiva, consumo insuficiente e crises destrutivas recorrentes, alimentadas por bolhas de crédito e ciclos de expansão e contração nos preços dos ativos.


Qualquer modelo econômico que não considere devidamente a desigualdade terminará por enfrentar uma crise de legitimidade. A menos que os papéis econômicos relativos do mercado e do Estado sejam recolocados em equilíbrio, os protestos de 2011 se tornarão mais severos, e a instabilidade social e política resultante terminará por prejudicar, a longo prazo, o crescimento econômico e o bem-estar social. 

domingo, 25 de setembro de 2011

Como prevenir uma recessão.


NOURIEL ROUBINI é presidente da Roubini Global Economics, professor da Escola Stern de Administração de Empresas (Universidade de Nova York) e coautor do livro "Crisis Economics".  Este artigo foi distribuído pelo Project Syndicate e publicado na FOLHA DE S. PAULO.

Os mais recentes dados econômicos sugerem que a recessão está voltando nas economias mais avançadas, com os mercados financeiros atingindo agora níveis de desgaste semelhantes aos registrados quando do colapso de 2008. Os riscos de uma crise econômica e financeira ainda pior que a anterior -e agora envolvendo países insolventes- são significativos. 
Assim, o que se poderia fazer para minimizar as consequências adversas de nova contração econômica e prevenir uma depressão mais profunda e um colapso financeiro? 
Primeiro, devemos aceitar que medidas de austeridade, necessárias para evitar um desastre fiscal, acarretam efeitos recessivos sobre a produção. Assim, se os países na periferia da zona do euro se virem forçados a adotar medidas de austeridade fiscal, outras nações capazes de prover estímulo em curto prazo deveriam fazê-lo, adiando seus esforços de austeridade. 
Segundo, embora a política monetária tenha impacto limitado quando os problemas são dívida excessiva e insolvência, em vez de falta de liquidez, um relaxamento mais amplo das condições de crédito, em lugar de um simples relaxamento quantitativo, pode se provar útil. 
Terceiro, para restaurar o crescimento do crédito, os bancos da zona do euro e os sistemas bancários subcapitalizados deveriam ser reforçados via financiamento público em um programa que abarcaria toda a União Europeia. Para evitar nova compressão de crédito à medida que os bancos reduzam seu nível de endividamento, os requerimentos de capital e liquidez que os bancos precisam cumprir poderiam ser relaxados por um breve período. 
Quarto, é necessário prover liquidez em larga escala para os governos solventes, a fim de evitar uma disparada nos "spreads" e a perda de acesso a mercados que podem transformar a falta de liquidez em insolvência. Mesmo com mudanças de política econômica, governos precisam de tempo para restaurar sua credibilidade. Até que isso aconteça, os mercados manterão pressão sobre os "spreads" das dívidas nacionais, o que torna provável que o temor de uma crise ajude a criá-la. 
Quinto, dívidas acumuladas que não possam ser reduzidas via crescimento, poupança ou inflação devem ser tornadas sustentáveis por meio de reestruturações ordenadas, redução de dívidas e conversão de dívida em capital. 
Sexto, mesmo que a Grécia e outros países periféricos da zona do euro obtenham perdão de porção significativa de suas dívidas, o crescimento econômico não será restaurado até que a competitividade seja restaurada. E sem um retorno rápido ao crescimento, novos calotes, e novas inquietações sociais, não poderão ser evitados. 
Sétimo, o motivo para o alto desemprego e o crescimento anêmico das economias avançadas é estrutural e inclui competição mais acirrada vinda de mercados emergentes. A resposta correta a mudanças de tamanha abrangência não está no protecionismo. 
Oitavo, as economias de mercado emergente dispõem de mais ferramentas de política monetária que as economias avançadas, no momento, e deveriam relaxar sua política fiscal e monetária. O FMI e o Banco Mundial podem servir como recurso final de empréstimos aos mercados emergentes que corram risco de perda de acesso aos mercados financeiros, desde que aceitem reformas estruturais. 
Os riscos que nos aguardam não são de uma amena recessão de duplo mergulho, mas sim de uma contração severa que poderia se transformar em nova Grande Depressão, especialmente se a crise na zona do euro escapar ao controle e resultar em colapso financeiro mundial. 
Políticas econômicas incorretas e teimosas geraram guerras comerciais e cambiais, na primeira Grande Depressão, acompanhadas por calotes desordenados, deflação, alta na disparidade de renda e riqueza, pobreza, desespero e instabilidades econômicas e sociais que terminaram por produzir regimes autoritários e a Segunda Guerra. 
A melhor maneira de evitar o risco de que essa sequência se repita é uma ação audaciosa e agressiva das autoridades econômicas mundiais -e já.

domingo, 21 de agosto de 2011

O capitalismo está condenado?


NOURIEL ROUBINI é presidente da Roubini Global Economics, professor da Escola Stern de Administração de Empresas (Universidade de Nova York) e coautor do livro "Crisis Economics", hoje na FOLHA DE S. PAULO. 

A imensa instabilidade e a correção acentuada nos preços das ações que vêm varrendo os mercados mundiais sinalizam que as economias mais avançadas estão à beira de uma recessão de duplo mergulho. 
Uma crise econômica e financeira causada pela dívida excessiva do setor privado resultou em endividamento pesado do setor público, em razão das medidas tomadas para impedir uma Grande Depressão 2.0. 
Mas a recuperação subsequente vem sendo anêmica e fica abaixo dos padrões usuais na maioria das economias avançadas, em consequência do doloroso processo de redução das dívidas privadas. 
Agora, uma combinação entre preços elevados para petróleo e commodities, tumultos no Oriente Médio, o terremoto/tsunami no Japão, as crises da zona do euro e os problemas fiscais dos Estados Unidos (que acabam de ter seus títulos de dívida rebaixados) resultou em alta acentuada na aversão a riscos. 
Economicamente, os EUA, a zona do euro, o Reino Unido e o Japão funcionam em marcha lenta. 
Mesmo os mercados emergentes de crescimento rápido e as economias avançadas cujo foco são exportações que dependem desses mercados (Alemanha e Austrália) estão vivendo severa desaceleração. 
Até o ano passado, as autoridades econômicas sempre se provaram capazes de tirar um coelho da cartola e reflacionar os preços dos ativos, deflagrando uma recuperação econômica. 
Estímulo fiscal, taxas de juros próximas de zero, duas rodadas de "relaxamento quantitativo", esforços de contenção das más dívidas e trilhões de dólares em resgates e injeções de liquidez para bancos e instituições financeiras: as autoridades já tentaram tudo isso, mas agora os coelhos parecem ter acabado. 
A política fiscal no momento causa arrasto para o crescimento econômico tanto na zona do euro como no Reino Unido. 
Mesmo nos Estados Unidos, os governos estaduais e locais, e agora o governo federal, cortam gastos e reduzem transferências. Em breve, estarão elevando impostos. 
Outra rodada de resgates aos bancos é politicamente inaceitável e economicamente inviável. 
A maioria dos governos, especialmente na Europa, está em situação tão precária que não é possível bancar resgates. O grau de risco de seus títulos vem até alimentando preocupações sobre a saúde dos bancos europeus, que detêm o maior volume desses papéis hoje precários. 
E a política monetária tampouco pode ajudar. O relaxamento quantitativo fica limitado pela inflação acima da meta na zona do euro e no Reino Unido. O Federal Reserve provavelmente iniciará uma terceira rodada de relaxamento quantitativo (QE3), mas ela virá tarde demais e em montante insuficiente. 
Os US$ 600 bilhões do QE2, em 2010, e mais US$ 1 trilhão em cortes de impostos e transferências de renda aos cidadãos mal produziram crescimento anualizado de 3% durante apenas um trimestre. 
Em seguida, o crescimento caiu para menos de 1% no primeiro semestre de 2011. O QE3 será muito menor e fará menos para reflacionar os preços dos ativos e restaurar o crescimento. 
Depreciação cambial não é uma alternativa viável para todas as economias avançadas: todas elas precisam de moedas mais fracas e de melhores balanças comerciais a fim de restaurar o crescimento, mas não é possível que todas as obtenham ao mesmo tempo. 
Por isso, depender das taxas de câmbio para influenciar a balança comercial é um jogo em que a vantagem de alguns resultará em desvantagem para outros. 
Portanto, temos guerras cambiais no horizonte -Japão e Suíça já travam as primeiras batalhas para enfraquecer suas taxas de câmbio. 
Com o tempo, as economias avançadas terão de investir em capital humano, capacitação profissional e redes de segurança social, a fim de elevar a produtividade e permitir que os trabalhadores concorram, sejam flexíveis e prosperem. 
A alternativa -como vimos nos anos 1930- será estagnação infinda, depressão, guerras cambiais e de comércio, controles de capital, crise financeira, bancarrotas nacionais e imensa instabilidade social e política. 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

PROBLEMAS Á VISTA!

Conforme já comentado neste espaço sobre o preço do barril de petróleo, hoje no VALOR Roubini alerta para risco de dupla recessao devido à crise no Egito.
SÃO PAULO – O impulso aos preços do petróleo - recentemente fruto da crise política do Egito - pode fazer com que algumas economias desenvolvidas experimentem uma dupla recessão. O alerta é do economista Nouriel Roubini, conhecido por ter previsto a crise financeira mundial. “Este aumento (do petróleo) e a consequente elevação dos preços de outras commodities, especialmente alimentos, pressiona para cima a inflação no já superaquecido mercados dos emergentes - onde o petróleo e os preços dos alimentos representam cerca de dois terços da cesta de consumo -, tem também efeitos negativos no comércio e gera choque de renda nas economias avançadas, recém-saídas da recessão”, afirmou o economista, em artigo publicado no jornal britânico Financial Times. Segundo ele, não é possível saber em qual grau haverá um contágio da crise no Egito para os demais países produtores de petróleo da região. Mas Roubini alerta para o fato de que grande parte das recessões já verificadas seguiram instabilidades no Oriente Médio e suas pressões sobre o preço do petróleo. Ele cita a guerra do Yom Kippur, em 1973, que provocou um forte aumento no preço da commodity, levando à estagflação global; a revolução iraniana em 1979, que desencadeou a recessão de 1980; e a invasão iraquiana do Kuwait, em agosto de 1990. Os preços do petróleo também tiveram um papel importante na recessão global mais recente. Os EUA entraram em recessão em dezembro de 2007, após o estouro da bolha do subprime, mas isso se tornou mundial, apenas no Outono de 2008. “Essa recessão global não foi provocada apenas pelo dano colateral da falência do Lehman. No verão de 2008, os preços do petróleo duplicaram em cerca de 12 meses. Isso foi muito negativo para o comércio e gerou um choque da renda real e não apenas para os EUA, a maior parte da Europa e Japão”, afirmou o economista. Roubini alerta ainda para os riscos de que os protestos contra os governos do Oriente Médio não gerem democracias estáveis, mas provoquem o nascimento de regimes mais radicais e instáveis. Ele classifica como desapontadoras as experiências recentes de “eleições livres” e “democracia” no Oriente Médio.

domingo, 23 de janeiro de 2011

RISCOS E RECOMPENSAS EM 2011.

Outro texto na FOLHA DE S. PAULO de hoje que merece ser lido com atencao eh do economista NORIEL ROUBINI sobre os riscos e recompensas em 2011.

As perspectivas para a a economia mundial em 2011 envolvem, em parte, a persistência das tendências estabelecidas em 2010.

São: recuperação anêmica e em forma de U nas economias avançadas, enquanto empresas e domicílios continuam a consertar os estragos em seus balanços; e uma recuperação mais forte, em forma de V, nos países de mercado emergente.

Isso resultará em crescimento de cerca de 4% para a economia mundial, com cerca de 2% de crescimento nas economias avançadas e média de 6% para os emergentes. Mas existem tanto riscos quanto possibilidades positivas nesse cenário. Um dos riscos mais importantes é que o contágio econômico se amplie na Europa, caso os problemas da zona do euro atinjam Portugal, Espanha e Bélgica.

Os Estados Unidos representam outro dos riscos. Em 2011, é provável que enfrentem um segundo mergulho no mercado de imóveis residenciais, desemprego elevado e problemas na criação de empregos, uma compressão de crédito persistente, rombos imensos nos orçamentos estaduais e municipais e custos de captação mais elevados.

Além do mais, o crescimento do crédito dos dois lados do Atlântico ficará restrito, já que as instituições financeiras vêm mantendo uma postura de aversão a riscos.

Na China e em outras economias de mercado emergentes, a demora para impor um aperto na política monetária pode alimentar uma alta na inflação que forçaria medidas mais duras posteriormente.

Também existe o risco de que os influxos de capital para os mercados emergentes sejam mal administrados, alimentando bolhas de crédito e de ativos.

Novos aumentos nos preços de petróleo, energia e commodities poderiam levar a termos desfavoráveis de comércio e a uma redução na renda real disponível nos países que são importadores líquidos de commodities, e ao aumento da pressão inflacionária nos emergentes.

Além disso, as tensões cambiais se manterão elevadas. Países com fortes deficit em conta-corrente precisam de depreciação nominal e real (para sustentar o crescimento via exportações líquidas ao mesmo tempo em que a redução de endividamento dos setores público e privado que está em curso mantém a demanda doméstica fraca).

Já os países superavitários (especialmente os de mercado emergente) utilizam intervenções cambiais para resistir a uma valorização nominal das taxas de câmbio e intervenções esterilizadas para combater a valorização real.

Isso está forçando os países deficitários a fazer ajustes na taxa real de câmbio por meio da deflação, o que torna mais pesada a carga de dívidas públicas e privadas e pode conduzir a calotes desordenados.

Mas também existem possibilidades de que as coisas se provem mais positivas. O setor empresarial americano está forte e vem demonstrando alta lucratividade, o que cria o escopo para investimentos de capital mais altos e novas contratações, que contribuiriam para crescimento mais robusto do PIB, acima da tendência para 2011. De forma semelhante, a zona do euro, impelida pela Alemanha, pode avançar aos solavancos rumo a uma maior união econômica e política (alguma forma de união fiscal), o que ajudaria a conter os problemas em sua periferia.

A atenuação dos riscos e algumas surpresas agradáveis nos países desenvolvidos e emergentes poderiam levar a uma elevação maior na demanda por ativos de risco (ações e crédito), o que reforçaria a recuperação econômica.

A retroalimentação positiva do consumo a produção, renda e geração de empregos -tanto dentro dos países quanto entre diferentes nações, via canais comerciais- poderia acelerar ainda mais o ritmo do crescimento mundial.

Até o momento, os riscos e as possibilidades positivas parecem estar bem equilibrados. Mas, se políticas sólidas nos países avançados e nas grandes economias emergentes atenuarem os riscos mais presentes no primeiro semestre -relacionados a incertezas políticas e estruturais-, uma recuperação mundial mais persistente poderia surgir no segundo semestre e se estender até 2012.

NOURIEL ROUBINI é presidente da Roubini Global Economics (www.roubini.com) e professor de economia na Escola Stern de Administração de Empresas (Universidade de Nova York). Este artigo foi distribuído pelo Project Syndicate.

sábado, 10 de julho de 2010

MY PERFECT SUMMER WITH GREENSPAN AND ROUBINI

Nouriel Roubini - Writer and economist

Where are you going on holiday this year? Recently I have lived like the George Clooney character in Up in the Air (a film I watched on a plane). If I get a vacation this summer it would possibly be a tour of crisis-hit countries – if I am still allowed in them: Spain, Ireland, Iceland, Latvia, Greece and, maybe, the oil spill-ridden US Gulf Coast.

What do you think about during your holiday? How to forget financial crises and get a PhD in Pleasure and Leisure from the Institute for Advanced Vacations.

What will you be reading on holiday? Lofty geo-globaloney tomes on the future of the world.

What will you be listening to on holiday? Cheesy, schmaltzy, corny, syrupy beach songs such as those I would listen to in my teens on the Italian Riviera.

Ideal travelling companion – dead, alive, historical, fictional? Joseph Schumpeter, an Austrian economist who – as a true Renaissance man – argued that his three goals in life were to be the best economist, the best horseback rider and the best lover of his generation. He claims he achieved only two of them: I would ask him which and for good practical tips to achieve such goals.

Do you cook or eat out on holiday? As an economist I strictly believe in the principle of comparative advantage: so I always eat out. Also it is the best way to get to know the local cuisine.

Will you switch on your “Out of Office”? I am a total “crackberry” addict so I never switch off. Last summer I wrote a whole article, that was urgently due, on my BlackBerry while sailing off the St Tropez coast.

Where would you like to go next? Bora Bora in Polynesia for scuba diving among the sharks.

Alan Greenspan - Former US Federal Reserve chairman
Where are you going on holiday this year? Aspen, Colorado, and possibly Jackson Hole, Wyoming, to play golf. Golf at higher altitudes is good for the ego – balls fly further.

What do you think about during your holiday? The same things I think about when not on vacation but obviously to the extent that I’m playing tennis and golf, I do give proper consideration to my form.

What will you be reading on holiday? History – Lords of Finance: The Bankers who Broke the World by Liaquat Ahamed; biography – John Marshall: Definer of a Nation by Jean Edward Smith.

What will you be listening to on holiday? Bach, Vivaldi, Mozart, and Brahms. On occasion, a little Benny Goodman.

Ideal travelling companion – dead, alive, historical, fictional? My wife. She outdistances all other possibilities.

Do you cook or eat out on holiday? Both. Nobody wishes to partake of my cooking.

Will you switch on your “Out of Office”? No. I would spend my vacation worrying about what was going on back home.

What do you most, and least, enjoy about travelling? The scenic views. I find sitting in contemplation as I look up at the peaks of the Grand Tetons in Jackson Hole most rewarding. Airport congestion and long queues can ruin my vacation.

Where did you go on holiday as a child? To the wilds of New Jersey. For a kid brought up on the streets of Manhattan, they seemed truly exotic.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A ECONOMIA DAS CRISES.

Na semana que estive em São Paulo comprei A ECONOMIA DAS CRISES, do NOURIEL ROUBINI e do STEPHEN MIHM, um curso-relâmpago sobre o future do sistema financeiro internacional. Quando do retorno, recebi o e-mail abaixo, o qual divulgo agora para outros colegas também interessados no assunto.

We have received overwhelming interest from people about Dr. Nouriel Roubini’s new book, “Crisis Economics: A Crash Course in the Future of Finance.”

As you may know, the book, co-authored by Stephen Mimh, was released last week in the United States and has been very favorably reviewed by the world’s leading financial and news sources, including The New York Times and the Financial Times.

“Instead of imposing a doctrinaire theory upon the facts, Mr. Roubini employs an eclectic, common-sense approach to history, picking à la carte from the thinking of such disparate economists as John Maynard Keynes and Joseph Schumpeter.” (The New York Times).

“... what Roubini and Mihm offer is a sober and sensible analysis of what has gone so badly wrong in finance in the past few years, coupled with a list of proposals about what could now be done to fix these woes. During a crisis, Roubini and Mihm argue, governments need to be “Keynesian” and spend plenty of taxpayers’ money to ward off disaster and prop up the financial system; after the crisis, however, non-Keynesian policies are needed, to apply free-market principles, and cut government debt.” (The Financial Times).

Because you have been a supporter of Roubini Global Economics in the past, we would like to give you access to the research team built by Dr. Roubini. If you are planning on purchasing Crisis Economics, we would like to offer you a 30 day license to roubini.com. You will be able to access the daily work prepared by Roubini’s team of analysts and strategists. Especially during this time of economic and financial disruption.

All you have to do is send us an email with a scanned or electric receipt showing that you have bought your copy of “Crisis Economics: A Crash Course in the Future of Finance.” Please send your receipt, name, email, and phone to info@roubini.com for your 30 day license.

Sincerely, Michael Moran

VP, Executive Editor

terça-feira, 11 de maio de 2010

O PROFETA NOURIEL ROUBINI!

Acompanhar com atenção o que fala o Professor NOURIEL ROUBINI é sempre conhecer o que pensa um dos primeiros a alertar para a crise de 2008. Abaixo trecho de sua entrevista a DER SPIEGEL.

Spiegel: Você ganhou o apelido “Doutor Fatalidade”, é claro, porque estava prevendo a crise financeira em um momento em que muitos outros economistas estavam cheios de otimismo. Você ainda se encontra pessimista quanto ao futuro da economia global?

Roubini: Antes de mais nada, eu não sou um pessimista profissional. Eu nem sempre sou negativo em relação ao futuro. O que desejo é avaliar a situação corretamente. Mas quando eu olho para o quadro econômico mundial neste momento, ainda vejo muitas nuvens negras no horizonte.

Spiegel: Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a atividade econômica está aumentando novamente, e há previsões de crescimento de 4% para este ano. Isso não seria um motivo para otimismo?

Roubini: Eu sou um indivíduo realista. Eu só consigo enxergar alguns poucos pontos claros em alguns países como China, Índia e Brasil. Mas, e quanto ao resto? A recuperação econômica dos Estados Unidos tem sido anêmica, o Japão parece estar em coma e a Europa está em apuros. O continente europeu é vulnerável a uma recaída recessiva. Mesmo antes da crise grega, o panorama era bem moderado, mas agora o crescimento econômico na zona do euro é de quase zero.

Spiegel: O que você pensa a respeito dos perigos representados pela Grécia?

Roubini: Atualmente os mercados estão bastante preocupados com a Grécia, mas isso é apenas a ponta do iceberg. Cada vez mais, os vigilantes dos mercados de títulos têm despertado para países como Reino Unido e Irlanda. Até mesmo os Estados Unidos e o Japão enfrentam problemas devido aos seus enormes déficits orçamentários. Talvez não neste ano, mas mais cedo ou mais tarde. Nos Estados Unidos, Estados como Califórnia, Nevada, Arizona, Nova York e Flórida têm imensos problemas fiscais. Os déficits orçamentários cada vez maiores e as enormes dívidas governamentais são de fato o que mais me preocupa.

domingo, 15 de novembro de 2009

ECONOMIA AMERICANA AINDA EM RISCO? FALA ROUBINI.

NOURIEL ROUBINI, hoje na FOLHA DE S. PAULO, registra a sua preocupação com a economia americana.

Embora os Estados Unidos tenham recentemente registrado crescimento de 3,5% para o seu PIB no terceiro trimestre, o que sugere que a mais severa recessão desde a Grande Depressão está encerrada, a economia norte-americana na verdade está muito mais fraca do que os dados oficiais sugerem.

Os indicadores oficiais de Produto Interno Bruto podem superestimar grosseiramente o crescimento econômico, porque não capturam os sentimentos negativos que prevalecem entre as pequenas empresas e a sua severa queda de produção.

O PIB do terceiro trimestre, se corrigido de acordo com esses fatores, pode ter registrado crescimento anualizado de 2%, e não de 3,5%.

A história dos Estados Unidos, de fato, é um conto de duas economias. Existe uma parcela menor que está se recuperando lentamente e uma parcela maior que continua em profunda e persistente desaceleração.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

ROUBINI: UMA NOVA BOLHA NO AR?

De fato, num mundo RÁPIDO, todos querem saber TUDO, lendo o MÍNIMO. Sorry, mas existem textos que devem ser LIDOS E RELIDOS PAUSADAMENTE, SEM PRESSA E SEM RECLAMAÇÕES. Destaco para os meus, ainda espero, dois leitores, NOURIEL ROUBINI, direto do FINANCIAL TIMES, comentando que juros negativos nos EUA e dólar fraco geram a "mãe" de todos os "carry trades" e bolha global cujo estouro é inevitável. ROUBINI já demonstrou,como poucos colegas, poucos mesmos, o quanto entende da ECONOMIA de hoje. Portanto, considero obrigatória a leitura do mesmo, para depois não ficarmos com cara de marido traído...

Desde março vem ocorrendo um aumento maciço em ativos de alto risco de todo tipo - participações, preços do petróleo, energia e commodities -, um estreitamento dos "spreads" de alta rentabilidade e alta classificação e um aumento maior ainda nas classes de ativos de mercados emergentes (suas ações, obrigações e moedas).

Ao mesmo tempo, o dólar caiu muito, enquanto a rentabilidade dos títulos governamentais tem aumentado ligeiramente, mas se mantido baixa e estável.

Essa recuperação dos ativos de alto risco é movida em parte por melhores condições econômicas fundamentais. Evitamos uma quase depressão e um derretimento do setor financeiro com um estímulo monetário e fiscal maciço e pacotes de socorro aos bancos. Quer a recuperação tenha formato de V, conforme a visão consensual, ou tenha formato de U e seja anêmica, como eu argumento, os preços dos ativos deveriam estar subindo gradualmente.
Contudo, ao mesmo tempo em que as economias americana e global iniciaram uma recuperação modesta, desde março os preços dos ativos vêm subindo vertiginosamente, numa alta grande e sincronizada. Em 2008, quando o dólar subia, os preços dos ativos estavam em queda forte, mas, desde março, eles têm recuperação acentuada, enquanto o dólar cai. Os preços dos ativos de alto risco vêm subindo demais, cedo demais e rápido demais em comparação com os fundamentos.
O que está por trás dessa alta maciça? Com certeza, foi ajudada pela onda de liquidez advinda de juros a quase zero e flexibilização quantitativa das condições monetárias. Mas um fator mais importante que alimenta a bolha de ativos é a fraqueza do dólar americano, movida pela "mãe" de todos os "carry trades" [operação em que o investidor pega empréstimos com juros muito baixos, como os dos EUA hoje, e aplica em outros ativos]. O dólar virou a principal moeda a financiar os "carry trades", na medida em que o Fed [BC dos EUA] vem segurando os juros. Os investidores que estão vendendo o dólar a descoberto para comprar ativos de rentabilidade maior e outros ativos globais em base altamente alavancada não estão só contraindo empréstimos a juros zero em termos do dólar - estão contraindo empréstimos a juros muito negativos, que podem chegar a 10% ou 20% negativos ao ano-, na medida em que a queda do dólar leva a ganhos maciços de capital sobre posições do dólar.
Resumindo: negociantes estão contraindo empréstimos a juros negativos de 20% para investir em base altamente alavancada em uma massa de ativos globais de alto risco que estão subindo devido ao excesso de liquidez e a um "carry trade" maciço. Cada investidor que joga esse jogo de alto risco fica parecendo um gênio -mesmo que só navegue numa bolha imensa-, já que os retornos totais têm estado na faixa entre 50% e 70% desde março.
A consciência que as pessoas têm do valor em risco de seus portfólios deveria ter aumentado devido à correlação crescente dos riscos entre classes diferentes de ativos, todos movidos por essa política monetária comum e pelo "carry trade". Na prática, virou uma grande negociação comum -você compra o dólar para adquirir qualquer ativo de alto risco.
Ao mesmo tempo, porém, o risco percebido das classes individuais de ativos vem declinando, na medida em que a volatilidade diminuiu graças à política do Fed de comprar tudo que está à vista. Assim, o efeito conjunto da política de taxa zero sobre fundos do próprio Fed, flexibilização quantitativa das condições monetárias e aquisição maciça de instrumentos de dívida de longo prazo está aparentemente fazendo o mundo ser seguro -por enquanto- para o maior de todos os "carry trades" e a maior de todas as bolhas de ativos globais altamente alavancados.
Ao mesmo tempo em que essa política alimenta a bolha global, também alimenta uma nova bolha de ativos americanos. Dinheiro fácil, facilitação do crédito e fluxo maciço de capitais para os EUA por meio de um acúmulo de reservas em divisas estrangeiras em outros países tornam os deficit fiscais dos EUA mais fáceis de financiar e alimentam a bolha americana de participações e crédito.
Finalmente, um dólar fraco é bom para as participações acionárias americanas, já que pode gerar crescimento maior e elevar os lucros de multinacionais.
A política americana insensata que alimenta esses "carry trades" obriga outros países a adotar a mesma política monetária. Políticas de juros a quase zero e flexibilização quantitativa já eram seguidas no Reino Unido, na zona do euro, no Japão, na Suécia e em outras economias avançadas, mas a debilidade do dólar vem agravando essa flexibilização monetária global. Ásia e América Latina, preocupadas com a fraqueza do dólar, estão intervindo agressivamente para impedir a valorização excessiva de suas moedas. Isso segura os juros de curto prazo em níveis inferiores aos desejáveis. É possível que os BCs também sejam forçados a reduzir os juros.
Preocupados com o dinheiro quente que vem inflando suas moedas, algumas autoridades, como as do Brasil, vêm impondo controles aos fluxos de capital entrantes. Mas a bolha do "carry trade" vai se agravar: se as moedas estrangeiras se valorizarem mais, o custo negativo dos empréstimos do "carry trade" ficará ainda maior. Se intervenções ou operações no mercado aberto controlarem a valorização das moedas, a flexibilização monetária doméstica decorrente alimentará a bolha nessas economias. Assim, a bolha perfeitamente correlacionada de todas as classes de ativos globais cresce diariamente.
Mas essa bolha vai estourar um dia, levando ao maior estouro coordenado de ativos já visto: se fatores puderem levar o dólar a reverter sua queda e a se valorizar repentinamente -como em inversões anteriores-, o "carry trade" alavancado terá de ser encerrado de uma hora para a outra, à medida que os investidores cobrem suas transações a descoberto com dólar. Haverá um estouro da boiada, com o fechamento de posições de alto risco e alavancagem longa em todas as classes de ativos financiadas por transações em dólar a descoberto gerando colapso coordenado de todos esses ativos de alto risco -ações, commodities, ativos de emergentes e instrumentos de crédito.
Por que esses "carry trades" desabarão? Para começar, o dólar não pode cair a zero, e em algum momento se estabilizará; quando isso acontecer, o custo de empréstimos em dólar repentinamente se tornará zero, em lugar de altamente negativo, e o risco de uma inversão no dólar levará muitos investidores a cobrirem suas transações a descoberto. Em segundo lugar, o Fed não poderá suprimir a volatilidade para sempre. Em terceiro, se o crescimento americano surpreender positivamente, os mercados podem começar a esperar que um arrocho do Fed chegue mais cedo, não mais tarde. Em quarto, pode haver fuga do risco movida pelo medo de um repique recessivo ou risco geopolítico, como um choque EUA/Israel-Irã.
Esse processo pode não ocorrer por algum tempo, já que o dinheiro fácil e a liquidez global excessiva ainda poderão elevar os ativos por algum tempo.
Mas, quanto mais se prolongarem e quanto mais crescer a bolha, maior o crash. O Fed e outros responsáveis pela política econômica parecem não ter consciência da bolha monstro que criam. Quanto mais tempo permanecerem cegos, mais dolorosa será a queda.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...