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segunda-feira, 29 de maio de 2017

Financial Times: Mãos políticas limpas são necessárias para reformar o Brasil.

Quando o Congresso brasileiro votou pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff, no ano passado, os investidores acataram uma tese. As políticas populistas adotadas por ela haviam solapado a economia. A inflação estava em alta, assim como o desemprego; a dívida nacional estava crescendo, e a moeda não parava de cair. Remover Rousseff restauraria a confiança, reverteria a recessão que já durava dois anos e poria fim a uma longa baixa nos mercados. E os acontecimentos subsequentes provaram que a tese procedia - até este mês, quando o substituto de Rousseff, o presidente Michel Temer, se viu engolfado em um escândalo depois de ter gravada uma conversa na qual supostamente aprovava propinas.

Ninguém acreditava que Temer, 76, fosse santo. Antes mesmo de assumir, ele era visto como um operador de bastidores, maculado pela vasta investigação de corrupção da Operação Lava Jato. No início de sua presidência, três ministros foram forçados a renunciar. Ainda assim, mesmo que seu governo fosse não menos corrupto que o de Rousseff, era mais competente e desfrutava de apoio no Congresso. A ortodoxia econômica começou a retornar. Reformas difíceis mas necessárias nas leis trabalhistas, aposentadorias e previdência social estavam avançando no Congresso. A inflação caiu, permitindo que o Banco Central cortasse as taxas de juros. A despeito dos baixos índices de aprovação a Temer, a confiança dos empresários estava em alta. Agora, a possibilidade real de que Temer também seja forçado a deixar o posto colocou a tese inteira em dúvida.

Temer proclamou sua inocência. As provas contra ele não são conclusivas. Sua posição é melhor que a de Rousseff um ano atrás. A elite política e econômica que sustentou a recuperação depende de suas reformas. Sua coalizão está se desfazendo mas ainda não entrou em colapso; um motivo é que não há substituto claro para Temer. Rousseff pelo menos tinha um vice-presidente ávido por ocupar seu lugar.

Mesmo assim, Temer está perdendo apoio rapidamente - no Congresso, nas ruas e talvez no Judiciário. O "Temergate" travou suas reformas. O jornal "O Globo", que revelou o escândalo, o definiu como "descartável". Que ele continue na presidência pode se provar mais causa do que solução para a crise.

Pode ser que até Temer encare a situação do mesmo jeito. Há informações de que ele estaria em busca de um perdão, como o que Richard Nixon negociou com Gerald Ford, antes de renunciar. Outra alternativa é que Temer perca o posto caso o Tribunal Superior Eleitoral decida no mês que vem que, em companhia de Rousseff, ele aceitou contribuições ilegais para a campanha da chapa presidencial dos dois em 2014. Qualquer dos dois percursos envolveria a substituição de Temer por um presidente interino eleito pelo Congresso. O Brasil então cambalearia até as eleições presidenciais marcadas para 2018.

Dois presidentes derrubados em dois anos seria notável. Mas os mercados estão se segurando. Depois de uma onda inicial de vendas, a calma retornou. Na segunda-feira passada, a estatal brasileira de energia Petrobras emitiu US$ 4 bilhões em títulos, com a mais baixa taxa média oferecida pela empresa em quatro anos. O mercado de ações se estabilizou, assim como a moeda. O cálculo dos investidores é que quem quer que substitua Temer "não terá escolha" a não ser continuar com as reformas. Quanto mais cedo ele cair, melhor.


Essa pode ser uma visão otimista. O Brasil não está diante de uma crise financeira iminente. O investimento estrangeiro, exemplificado pela oferta da Glencore para a aquisição da trading de commodities Bunge, que tem forte presença no Brasil, continua a entrar em volume elevado. Mesmo assim, a probabilidade de uma recessão de duplo mergulho cresceu. Politicamente, o futuro está em aberto. O expurgo de políticos corruptos, de todo o espectro ideológico, é necessário. E os escândalos abalaram a reputação de todos os políticos. A percepção popular é a de uma elite mais interessada em escapar da cadeia do que em governar. É uma estrada perigosa que pode abrir caminho a oportunistas e populistas em 2018. Qualquer calma no mercado pode ser apenas temporária.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Brazil will fight back against the currency manipulators


Dilma, a presidente do Brasil, hoje no FINANCIAL TIMES

We are living in turbulent days. The financial crisis of 2008 is not over, especially in advanced economies. With growth still weak, these countries have been adopting extremely expansionary monetary policies, rather than a more balanced mix of monetary and fiscal stimulus. Emerging economies are sustaining the pace of growth, but cannot assume the role of global powerhouses unaided.
Economies that issue reserve currencies are managing international liquidity without a sense of the collective good. They are resorting to undervalued exchange rates to ensure their share of global markets. This wave of unilateral, competitive devaluations creates a vicious cycle that leads to trade and exchange rate protectionism. This has devastating effects for all but especially for developing countries.
The great challenge for the coming years is to address sovereign debt and fiscal imbalances in some countries, without stopping – or reversing – the global recovery.
Only economic growth, based on income distribution and social inclusion, can generate resources to pay the public debt and cut deficits. The experience of Latin America in past decades shows what recession brings in loss of output, rising social inequalities and unemployment.
If they are to overcome the crisis, the world’s major economies should give clear signs of political cohesion and macroeconomic co-ordination. There will be no recovery of confidence or growth without greater co-ordination among the Group of 20 countries. It is vital – for Europe in particular – that they regain the spirit of co-operation and solidarity shown at the height of the crisis.
That is why Brazil supports the G20 Framework for Strong, Sustainable and Balanced Growth, which must be managed by all and for all, without exception.
Other initiatives are needed in the international field: further regulation of the financial system, to minimise the possibility of new crises; reduced levels of leverage. We must proceed with the reform of multilateral financial institutions, increasing participation of emerging countries that now bear primary responsibility for global economic growth.
It is urgent to combat protectionism and all forms of currency manipulation, which give spurious competitiveness at the expense of trading partners. The G20 can offer a co-ordinated response, in which all big economies can adjust fiscal, monetary and/or exchange-rate policies, without fear of acting alone. An open global trade system requires this sense of mutual confidence.
Meanwhile, threatened by large speculative capital flows as well as by a rapid and unsustainable currency appreciation, developing countries that adopt a floating exchange rate regime, such as Brazil, are forced to take prudential measures to protect their economies and their national currencies. We will not succumb to inflationary pressures coming from outside. With firmness and serenity we will keep inflation under control, without having to give up the economic growth that is essential if we are to promote social inclusion. Our commitment to sustainable development with price stability is not negotiable and the economic policy fine-tuning will always work towards this goal.
As to long-term policies, Brazil has regained planning capacity in fields such as energy, transport, housing and sanitation by redefining the role of the state with a focus on developing social infrastructure.
The discovery of large offshore oil reserves will open a new cycle of industrialisation, especially in the naval, petrochemical and capital goods sectors: it will also enable Brazil to create a special fund to invest in social, scientific, technological and cultural policies.
The country has strengthened state-controlled companies such as Petrobras, Eletrobras and the public banks, to induce development. Through active trade defence mechanisms, supported by WTO rules, it will not allow its industry to be jeopardised by unfair competition.
Brazil is also committed to fight deforestation, especially in the Amazon; to promote sustainable agriculture; and to strengthen its energy mix. I am convinced of the need to consolidate these achievements, just as I am sure that we all bear responsibility for rebalancing the world economy. It’s time for global leaders to act with determination and boldness. This is what the world expects from us.

sábado, 6 de agosto de 2011

O pior dia desde a crise de 2008.

No FINANCIAL TIMES, aqui disponível pelo VALOR ECONÔMICO, uma análise da atual situação econômica.

A perspectiva de nova recessão global, agravada por uma crise sem precedentes na zona do euro, que arrasta Espanha e Itália, arrasou os mercados ontem. As enormes quedas das bolsas, puxadas pelas ações de indústrias e de commodities, lembraram os dias de pânico que marcaram o desenrolar da crise financeira de 2008. A Bolsa de Nova York teve seu maior recuo em dois anos e fechou em baixa de 4,3%. A Bovespa caiu 5,7%, a maior queda desde novembro de 2008, e acumula perda de 23,8% no ano.

As principais bolsas do mundo já estão 10% abaixo de seus picos recentes, uma indicação de mudança significativa de rumo. Vários sinais de perigo iminente que assombraram os mercados ao longo da semana confluíram ontem para compor um quadro assustador. O medo de uma recessão, nutrido pela perda de fôlego da indústria nas principais economias do mundo, moveu as commodities para baixo e, com mais força, o petróleo, que teve a maior queda em cinco meses em Nova York, onde o barril do WTI foi cotado a US$ 86,83. As ações de mineradoras e dos grandes traders de commodities levaram uma surra, embora não tão forte quanto a dos bancos europeus, que estão no olho do furacão.

Temores quanto ao futuro da atividade econômica e custos crescentes provocaram fortes quedas nas ações de companhias mineradoras, petrolíferas e negociantes de commodities. Até mesmo em comparação com a recente crise financeira, a liquidação de ações nas bolsas de valores foi considerável.

Aceleraram a liquidação de ações desta semana o crescente nervosismo diante da crise da dívida na Europa, o risco de um duplo mergulho recessivo nos EUA e a avaliação de que as autoridades econômico-financeiras - incluindo o governo japonês e o Banco Central Europeu (BCE) - não conseguiram sustentar a confiança.

Os papéis mais afetados foram as ações das grandes companhias mundiais que operam com recursos naturais - mineradoras, petrolíferas e companhias que negociam com commodities. Apesar de os preços de muitas das commodities permanecerem próximos de seus picos recentes, os preços das ações correspondentes despencaram, levando as cotações aos níveis mais baixos do ano.A divergência de preços entre as ações de companhias no setor de commodities e os preços das próprias matérias-primas evoca lembranças de meados de 2008, quando investidores em ações foram mais rápidos na previsão da crise financeira mundial.

Será que os investidores em bolsa acertaram novamente? Se assim for, uma forte desaceleração econômica, ou algo pior, pode estar à espreita. Outros setores, como o de bancos, sofreram agudas quedas em suas ações, devido a preocupações com a exposição à crise da dívida soberana na Europa e o risco de mais empréstimos impagáveis.

A lista de ações de companhias no setor de recursos naturais que despencaram inclui a Xstrata, mineradora negociada em Londres, que caiu 8,5%; a Royal Dutch Shell, maior grupo petrolífero na Europa, que caiu 5,2%; e a brasileira Vale, maior produtora de minério de ferro, que caiu 6,3%. A Freeport McMoRan, importante mineradora de cobre, viu suas ações caírem 5,9% e as da Archer Daniels Midland, um das maiores negociantes de commodities alimentícias, baixaram 4,5%.

Após duas semanas de pesadas quedas, o índice FTSE All World Mining e os índices FTSE All World Oil and Gas (petróleo e gás) registram alta de apenas 7,6% e 14,6%, respectivamente, em relação ao ano passado. No mesmo período, o índice de referência Reuters-Jefferies CRB, uma cesta de commodities que inclui petróleo, cobre e trigo registra alta de 22,1%.

A Glencore, maior negociante de commodities do mundo, cujas ações passaram a ser negociadas em bolsa numa oferta US$ 60 bilhões em maio, é uma das mais afetadas. Suas ações caíram 17,9%, até agora, nesta semana. Fecharam ontem a 391 pence, ou mais de 26% abaixo do lançamento.

Os investidores em ações parecem muito mais preocupados com a possibilidade de um renovado mergulho em recessão do que os investidores em commodities, segundo executivos do setor.

Investidores dizem que os preços elevados de petróleo e alimentos estão forçando os BCs dos países emergentes a apertar sua política monetária, freando o crescimento econômico na China, na Índia e em outros grandes consumidores de commodities.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Discutindo o ABC e D das crises by Wolf.

Martim Wolf, “Discutindo o ABC e D das crises”, diretamento do Financial Times, via Folha de S. Paulo.

O debate em torno da política monetária e fiscal pós-crise está esquentando em ambos os lados do Atlântico. A zona do euro está comprometida com um arrocho fiscal e monetário. Os Estados Unidos estão considerando um arrocho fiscal, apesar do futuro da política monetária permanecer incerto. Enquanto isso, o Reino Unido está comprometido com um arrocho fiscal, com o futuro da política monetária também incerto.

E quem está certo? Não causa surpresa os economistas discordarem profundamente. Alguns desses desacordos foram apresentados em uma carta ao “Financial Times”, datada de 4 de maio de 2011, de autoria de meu amigo, Tim Congdon, talvez o mais influente monetarista do Reino Unido. A carta foi em resposta à minha coluna de 28 de abril de 2011, que começou com um comentário de Larry Summers, o ex-assessor de Barack Obama, de que “considero a ideia da contração fiscal expansionista, no contexto do mundo em que estamos vivendo, tão contraditória quanto soa”. Para este comentário, Congdon respondeu que “o keynesianismo fiscalista, como a história, é um absurdo”.

Congdon apelou para a história, tanto ali quanto na edição de junho da revista “Standpoint”, para demonstrar a coincidência das contrações fiscais com as expansões econômicas. Talvez ele queira dizer que o keynesianismo é um absurdo, diferente da história. Eu sugeriria que seu uso da história é absurdo.

Congdon nota, corretamente, que as reduções no déficit fiscal ciclicamente ajustado coincidem com as expansões econômicas. Mas o fato de A coincidir com B não significa que A causa B. B poderia causar A. Ou C e D poderiam causar A e B.

Considere um período em que os gastos privados estão crescendo mais rápido do que a renda. Alguém poderia então esperar um encolhimento dos déficits: as receitas seriam robustas e os gastos fracos. Esta é uma verdade autoevidente em uma base cíclica. Mas provavelmente também será verdadeira em uma base ciclicamente ajustada, particularmente considerando que o ajuste cíclico é uma arte, não uma ciência. Se o governo iniciar um grande déficit ciclicamente ajustado, ele poderia aproveitar a oportunidade de uma economia em boom para elevar impostos e reduzir gastos. Também é possível que um encolhimento do déficit fiscal fortaleceria os gastos de um setor privado já confiante. Nesta história, então, B (o boom privado) causa A (a contração fiscal).

Eu também acrescentaria C (taxas de juros). As taxas oficiais de intervenção caíram 9 pontos percentuais no início dos anos 80 e 9,75 pontos no início dos anos 90. As dúvidas são simplesmente a respeito do momento, velocidade e flexibilidade, porque o endividamento privado atual é alto, os bancos estão frágeis e as taxas de juros as mais baixas possíveis.

Para isso, Congdon responde que a política monetária permanece eficaz. Em particular, ele argumenta, a oferta de dinheiro tem uma relação estável e previsível com a renda. Mas todos os bancos centrais importantes agora abandonaram as metas monetárias por um bom motivo: a relação entre produto interno bruto nominal e oferta de dinheiro (a velocidade da circulação) é instável.

Se você olhar para os dados do Reino Unido nos últimos 50 anos, você encontrará uma tendência de queda na velocidade. Mas os movimentos a médio prazo são extremamente instáveis: entre o primeiro trimestre de 1991 e o primeiro trimestre de 2003, por exemplo, a velocidade da oferta de dinheiro (M4) caiu 11%. Nos sete anos seguintes, ela caiu 41%. No ano passado, ela saltou 7%. Nenhum banco central poderia guiar a economia ajustando apenas a oferta de dinheiro, a não ser em um prazo muito longo. Como Milton Friedman disse, as defasagens são “longas e variáveis”.

A visão de que em uma economia pós-crise nós sabemos com precisão qual seria a expansão da oferta de dinheiro que compensaria a contração fiscal planejada é bastante inconvincente. Nós não sabemos isso. As experiências das condições muito diferentes do início dos anos 80 e dos anos 90 (tanto no Reino Unido quanto nos Estados Unidos) também não nos dizem. Sim, a longo prazo, a combinação de uma grande expansão da oferta de dinheiro com uma contração fiscal provavelmente devolveria a economia para algo próximo do pleno emprego, mas ninguém pode saber quanto tempo levaria ou mesmo qual seria o preço. O célebre comentário de Keynes –“A longo prazo é um guia enganador para os assuntos atuais. A longo prazo estaremos todos mortos”– é aplicável.

A contração fiscal do Reino Unido pode ser a política menos ruim, considerando os riscos. Nós não sabemos. Enquanto isso, pessoas razoáveis também podem duvidar da saúde da economia surrada.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

INTEREST RATES

Today I read in Financial Times that "Brazil continues to wrestle with dilemma over interest rates. Economists say spending cuts, not rate rises, are the way to curb rampant inflation. The Brazilian economy, just doesn't save enough, which means it's dependent on foreign capital inflows, says Neil Shearing, senior emerging markets economist at Capital Economics".

sábado, 23 de outubro de 2010

CANDIDATOS SEM POLÍTICAS FISCAIS.

O alerta abaixo foi matéria publicada no FINANCIAL TIMES e aqui no portal UOL. É fato: para agradar seus eleitores, os candidatos NÃO divulgam suas propostas de maneira formal e o futuro fica imprevisível. Coisas de Brasil...
Após meses de uma campanha frívola e de um primeiro turno inconclusivo, os eleitores que participam da eleição presidencial do Brasil finalmente deverão saber algo de concreto a respeito da escolha que farão no segundo turno, em 31 de outubro. Muitos economistas temem que o agravamento das condições econômicas globais e uma inundação de capital especulativo provocada pela política monetária expansionista no mundo desenvolvido façam com que as problemáticas contas públicas do Brasil sofram mais pressões no ano que vem. Mas os candidatos à presidência não têm se mostrado dispostos a dizer como enfrentarão tais problemas. Dilma Rousseff, a candidata governista do Partido dos Trabalhadores (PT), uma agremiação de esquerda, surpreendeu quase todo mundo no Brasil ao mostrar-se incapaz de obter uma vitória no primeiro turno da eleição em 3 de outubro. Apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que conta com a aprovação de 80% dos eleitores, ela contava com uma expressiva liderança nas pesquisas de intenção de voto. José Serra, da sigla centrista de oposição, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), empenhou-se em responder ao apoio de Lula da Silva a Rousseff e à poderosa mistura, utilizada pelo governo, de uma política monetária rígida, uma política fiscal flexível e programas baratos, mas bem aplicados, de transferência de renda. Essas políticas inseriram milhões de indivíduos no mercado consumidor pela primeira vez e poderão gerar um crescimento econômico de pelo menos 7% neste ano. A campanha de Rousseff prometeu continuidade, e evitou fazer qualquer promessa relativa a políticas governamentais. Já a campanha de Serra foi criticada até mesmo pelos seus aliados devido à falta de uma mensagem clara. Mas ele chegou ao segundo turno em parte porque uma terceira candidata, Marina da Silva, do Partido Verde, tirou votos de Rousseff. ndré César, um consultor político de Brasília, diz que agora os candidatos terão que apresentar as suas políticas. “Os eleitores querem ouvir o que os candidatos farão quanto aos problemas mais importantes enfrentados pelo Brasil”, diz André César. “Chegou a hora de eles apresentarem pelo menos alguns sinais daquilo que pretendem fazer”. Esse processo teve início no fim de semana passado, quando Paulo Bernardo, o ministro do Planejamento, declarou em uma entrevista concedida a um jornal que, caso eleita, Rousseff – que continua sendo a clara favorita – reduzirá os gastos governamentais, algo que é tido pelos economistas como essencial para que o Brasil reduza as suas altíssimas taxas de juros e alcance um crescimento sustentável. “São medidas necessárias? Creio que sim. Mas isso não representará uma mudança de direção”, disse ele ao jornal “O Estado de São Paulo”. Bernardo acrescentou que os aumentos dos salários do funcionalismo público, que representam uma das maiores parcelas dos gastos, terão que ser “compatíveis com a inflação baixa”. No entanto, muitos economistas estão céticos quanto ao compromisso de Rousseff com a disciplina fiscal e apontam para os recentes aumentos de gastos públicos, ainda que a economia tenha se recuperado após uma curta recessão no ano passado. “O governo brasileiro enxergou a necessidade de políticas anticíclicas em 2008 e 2009, mas quando deixou de considerar essas políticas necessárias, ele preferiu não reverter os padrões de gastos, apesar da virada para cima na economia”, diz Nick Chamie, diretor de pesquisas sobre mercados emergentes do RBC Capital Markets, em Toronto. Serra é tido como um conservador fiscal que teria maior possibilidade de controlar os gastos. Em uma entrevista a redes de televisão na última terça-feira, o candidato prometeu mudanças na política econômica, incluindo “a questão dos gastos públicos”, sem entretanto entrar em maiores detalhes. Ele defendeu também as privatizações, uma estratégia arriscada, já que tais medidas continuam sendo impopulares no Brasil, apesar da melhoria drástica dos serviços como as telecomunicações após as privatizações implementadas no final da década de noventa pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que é membro do PSDB. A campanha de Rousseff está prometendo “continuar sem privatizar”. Fernando Henrique Cardoso, apesar de ser considerado o indivíduo que criou as bases para a atual prosperidade do Brasil, esteve ausente da campanha de primeiro turno de José Serra. Depois disso ele assumiu um papel mais ativo por trás dos bastidores e, segundo pessoas próximas à campanha de Serra, em breve aparecerá pessoalmente na campanha. Muitos investidores têm praticamente ignorado esta eleição, acreditando que nenhum dos dois candidatos promoveria muitas mudanças nas atuais políticas econômicas. Outros temem que as questões fiscais tornem-se cada vez mais importantes no ano que vem, especificamente à medida que os Estados Unidos afrouxarem a sua politica monetária, fazendo com que haja uma inundação de “hot money” movida pelo desejo dos investidores de tirar vantagem das altíssimas taxas de juros do Brasil, gerando assim mais desequilíbrios.

sábado, 9 de outubro de 2010

GUERRA CAMBIAL?

Nesta semana, o FINANCIAL TIMES alertou que a guerra cambial é ameaça que não deve ser tratada levianamente. Abaixo o texto publicado, onde é citado criticamente o ministro GUIDO MANTEGA.

Depois de uma série de intervenções cujo objetivo era segurar o valor das moedas, as autoridades econômicas expressaram temores de uma perigosa corrida de baixa na política cambial. É uma ameaça que não deveria ser tratada levianamente.
A guerra cambial ainda não irrompeu, ao contrário do que disse o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, na semana passada.
As intervenções de Japão, Coreia do Sul, Suíça e Taiwan ao longo dos últimos 12 meses foram modestas. Mas a probabilidade de que as ações sejam renovadas não deveria ser desconsiderada.
Não surpreende que países tentem estimular suas exportações. Mas, da perspectiva global, é contraproducente. Todos os países não podem resolver seus problemas econômicos simultaneamente por meio de exportações.
A perspectiva de nova rodada de relaxamento quantitativo nos Estados Unidos e no Reino Unido, o que geraria pressão de baixa sobre suas moedas, reforçou as tensões.
O fluxo de liquidez excedente em direção aos mercados emergentes pressionaria as taxas de câmbio dos países destinatários.
Não é inconcebível que o resultado seja um círculo vicioso de reduções de taxas de câmbio para derrotar as moedas de outros países.
Caso isso venha a ocorrer, a culpa caberá em medida considerável à China. Como comprovam suas reservas cambiais de quase US$ 2,5 trilhões, Pequim intervém em escala muito maior que qualquer outro governo.
Como maior exportador mundial de bens industrializados, as ações da China têm grande impacto sobre os padrões mundiais de comércio.
Reequilibrar a economia mundial decerto requereria mais que uma flutuação mais livre do yuan. Os superavit comerciais chineses têm outras causas importantes, como baixos salários e elevado índice de poupança.
As taxas de câmbio oferecem solução apenas parcial. Mesmo assim, é melhor que a guerra falsa do câmbio não se torne conflito real.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O CISNE NEGRO NAS ELEIÇÕES.

Foi comum ouvir hoje de vários colegas que os institutos de pesquisas erraram feio na comparação entre os números divulgados para os candidatos e o resultado real obtido diretamente das urnas. Nisso eu fico com o MARTIN WOLF, principal comentarista econômico do FINANCIAL TIMES, que ao ser questionado pela revista ÉPOCA sobre qual foi a principal lição que ele aprendeu em mais de 20 anos trabalhando no jornalismo econômico, ele respondeu:

O INESPERADO ACONTECE.

sábado, 25 de setembro de 2010

FHC NO FINANCIAL TIMES

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO hoje no FINANCIAL TIMES:

As we prepare to leave, I ask Cardoso what he thinks history will make of Lula? “I think he will be remembered for growth and continuity, and for putting more emphasis on social spending. He’s a Lech Walesa who worked out.”

And of his own importance?

I did the reforms. Lula surfed the wave.”

FHC NO FINANCIAL TIMES

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO hoje no FINANCIAL TIMES:

As we prepare to leave, I ask Cardoso what he thinks history will make of Lula? “I think he will be remembered for growth and continuity, and for putting more emphasis on social spending. He’s a Lech Walesa who worked out.”

And of his own importance?

I did the reforms. Lula surfed the wave.”

sábado, 10 de julho de 2010

MY PERFECT SUMMER WITH GREENSPAN AND ROUBINI

Nouriel Roubini - Writer and economist

Where are you going on holiday this year? Recently I have lived like the George Clooney character in Up in the Air (a film I watched on a plane). If I get a vacation this summer it would possibly be a tour of crisis-hit countries – if I am still allowed in them: Spain, Ireland, Iceland, Latvia, Greece and, maybe, the oil spill-ridden US Gulf Coast.

What do you think about during your holiday? How to forget financial crises and get a PhD in Pleasure and Leisure from the Institute for Advanced Vacations.

What will you be reading on holiday? Lofty geo-globaloney tomes on the future of the world.

What will you be listening to on holiday? Cheesy, schmaltzy, corny, syrupy beach songs such as those I would listen to in my teens on the Italian Riviera.

Ideal travelling companion – dead, alive, historical, fictional? Joseph Schumpeter, an Austrian economist who – as a true Renaissance man – argued that his three goals in life were to be the best economist, the best horseback rider and the best lover of his generation. He claims he achieved only two of them: I would ask him which and for good practical tips to achieve such goals.

Do you cook or eat out on holiday? As an economist I strictly believe in the principle of comparative advantage: so I always eat out. Also it is the best way to get to know the local cuisine.

Will you switch on your “Out of Office”? I am a total “crackberry” addict so I never switch off. Last summer I wrote a whole article, that was urgently due, on my BlackBerry while sailing off the St Tropez coast.

Where would you like to go next? Bora Bora in Polynesia for scuba diving among the sharks.

Alan Greenspan - Former US Federal Reserve chairman
Where are you going on holiday this year? Aspen, Colorado, and possibly Jackson Hole, Wyoming, to play golf. Golf at higher altitudes is good for the ego – balls fly further.

What do you think about during your holiday? The same things I think about when not on vacation but obviously to the extent that I’m playing tennis and golf, I do give proper consideration to my form.

What will you be reading on holiday? History – Lords of Finance: The Bankers who Broke the World by Liaquat Ahamed; biography – John Marshall: Definer of a Nation by Jean Edward Smith.

What will you be listening to on holiday? Bach, Vivaldi, Mozart, and Brahms. On occasion, a little Benny Goodman.

Ideal travelling companion – dead, alive, historical, fictional? My wife. She outdistances all other possibilities.

Do you cook or eat out on holiday? Both. Nobody wishes to partake of my cooking.

Will you switch on your “Out of Office”? No. I would spend my vacation worrying about what was going on back home.

What do you most, and least, enjoy about travelling? The scenic views. I find sitting in contemplation as I look up at the peaks of the Grand Tetons in Jackson Hole most rewarding. Airport congestion and long queues can ruin my vacation.

Where did you go on holiday as a child? To the wilds of New Jersey. For a kid brought up on the streets of Manhattan, they seemed truly exotic.

terça-feira, 29 de junho de 2010

O BRASIL REAL DE MARTIN WOLF.

De excepcional qualidade, como normalmente ocorre, o texto de MARTIN WOLF, no FINANCIAL TIMES, aqui disponibilizado pela FOLHA DE S. PAULO, com o sugestivo título: “BRASIL PRECISA SE ESFORÇAR MAIS PARA ACOMPANHAR OUTROS BRICS”.

Espero que o texto tenha sido lido pelos nossos candidatos a Presidência da República. A realidade do conteúdo contrasta com este Brasil que "alguns" acreditam que chegou ao 1º mundo. Lamento informar, mas ainda não chegamos lá. E, se nada mudar, continuaremos neste 3º mundo mesmo.

O Brasil é o país do futuro e sempre será - assim diz a velha piada. Será que enfim os brasileiros rirão por último?

Será que o Brasil se tornou o país do presente? A resposta é afirmativa, mas só até certo ponto. O país continua longe de se equiparar ao desempenho de Índia e China. Deveria se sair muito melhor. As grandes realizações do Brasil nos últimos 15 anos se referem à estabilidade - política e econômica. Sob as presidências de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula, o país conquistou a estabilidade democrática.

A era do governo militar, encerrada em 1985, parece distante. Sob o Plano Real, a inflação foi por fim controlada. Depois de reduzir a inflação por meio de uma taxa de câmbio quase fixa, o Banco Central reduziu a taxa de juros de referência de 45% a apenas 8,75% em 2009.

A estabilidade se escorou no acúmulo de reservas cambiais, que chegaram a US$ 235 bilhões em fevereiro de 2010, ante US$ 33 bilhões em janeiro de 1999. Mas estabilidade não quer dizer dinamismo. O crescimento médio foi de apenas 2,9% ao ano entre 1995 e 2009.

As projeções do FMI para o crescimento no período 2010-2013 apontam uma média anual de 4,5%, bem abaixo daquela de China e Índia.

O fracasso do Brasil na redução da desigualdade de renda é igualmente importante. Na China, em 1980, a renda per capita (com base em paridade de poder de compra) equivalia a apenas 7% da brasileira, enquanto a indiana equivalia a 11%. Entre 1995 e 2009, a elevação na renda brasileira foi de apenas 22%, ante 100% na Índia e 226% na China.

Como resultado, a parcela brasileira na produção mundial caiu de 3,1% em 1995 para 2,9% em 2009. A China saltou de 5,7% para 12,5%, e a Índia, de 3,2% para 5,1%.

O que vemos, assim, é a ascensão dos países IC, não dos Brics. Será que o Brasil conseguirá se sair melhor? Para isso, tem de superar imensas desvantagens estruturais.

A mais importante é o nível extremamente baixo de poupança. Em 2008, de acordo com o Banco Mundial, a poupança bruta do país equivalia a apenas 17% do PIB, ante os 38% da China e os incríveis 54% da Índia.

Além disso, 45% das exportações de mercadorias brasileiras em 2008 envolviam produtos industrializados, ante 63% na Índia e 93% na China: será difícil conquistar industrialização via comércio interno.

O desafio, assim, parece claro e difícil: passar da estabilidade para o crescimento.

O Brasil não tem condições de assumir papel mundial tão grande quanto o dos dois gigantes asiáticos, mas poderia conseguir algo mais importante que poder e influência no mundo: uma sociedade próspera no país. Muita coisa ainda precisa mudar para que esse sonho possa se tornar realidade.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

AINDA SOBRE EDUCAÇÃO!

Recebi hoje e-mail do Professor Carlos Pio com um artigo de ARMINIO FRAGA no FINANCIAL TIMES do dia 18 passado. Como estamos falando de EDUCAÇÃO, nada como confirmar com o inteligente Fraga, o seguinte: "Still, if Brazil is to move its growth rate up to sustainable 5-7 per cent rate it must invest more, especially on infrastructure, and do better on education." Sem EDUCAÇÃO, continuaremos sendo o país do futuro.

Quando é mesmo esse futuro?

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...