terça-feira, 29 de junho de 2010

O BRASIL REAL DE MARTIN WOLF.

De excepcional qualidade, como normalmente ocorre, o texto de MARTIN WOLF, no FINANCIAL TIMES, aqui disponibilizado pela FOLHA DE S. PAULO, com o sugestivo título: “BRASIL PRECISA SE ESFORÇAR MAIS PARA ACOMPANHAR OUTROS BRICS”.

Espero que o texto tenha sido lido pelos nossos candidatos a Presidência da República. A realidade do conteúdo contrasta com este Brasil que "alguns" acreditam que chegou ao 1º mundo. Lamento informar, mas ainda não chegamos lá. E, se nada mudar, continuaremos neste 3º mundo mesmo.

O Brasil é o país do futuro e sempre será - assim diz a velha piada. Será que enfim os brasileiros rirão por último?

Será que o Brasil se tornou o país do presente? A resposta é afirmativa, mas só até certo ponto. O país continua longe de se equiparar ao desempenho de Índia e China. Deveria se sair muito melhor. As grandes realizações do Brasil nos últimos 15 anos se referem à estabilidade - política e econômica. Sob as presidências de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula, o país conquistou a estabilidade democrática.

A era do governo militar, encerrada em 1985, parece distante. Sob o Plano Real, a inflação foi por fim controlada. Depois de reduzir a inflação por meio de uma taxa de câmbio quase fixa, o Banco Central reduziu a taxa de juros de referência de 45% a apenas 8,75% em 2009.

A estabilidade se escorou no acúmulo de reservas cambiais, que chegaram a US$ 235 bilhões em fevereiro de 2010, ante US$ 33 bilhões em janeiro de 1999. Mas estabilidade não quer dizer dinamismo. O crescimento médio foi de apenas 2,9% ao ano entre 1995 e 2009.

As projeções do FMI para o crescimento no período 2010-2013 apontam uma média anual de 4,5%, bem abaixo daquela de China e Índia.

O fracasso do Brasil na redução da desigualdade de renda é igualmente importante. Na China, em 1980, a renda per capita (com base em paridade de poder de compra) equivalia a apenas 7% da brasileira, enquanto a indiana equivalia a 11%. Entre 1995 e 2009, a elevação na renda brasileira foi de apenas 22%, ante 100% na Índia e 226% na China.

Como resultado, a parcela brasileira na produção mundial caiu de 3,1% em 1995 para 2,9% em 2009. A China saltou de 5,7% para 12,5%, e a Índia, de 3,2% para 5,1%.

O que vemos, assim, é a ascensão dos países IC, não dos Brics. Será que o Brasil conseguirá se sair melhor? Para isso, tem de superar imensas desvantagens estruturais.

A mais importante é o nível extremamente baixo de poupança. Em 2008, de acordo com o Banco Mundial, a poupança bruta do país equivalia a apenas 17% do PIB, ante os 38% da China e os incríveis 54% da Índia.

Além disso, 45% das exportações de mercadorias brasileiras em 2008 envolviam produtos industrializados, ante 63% na Índia e 93% na China: será difícil conquistar industrialização via comércio interno.

O desafio, assim, parece claro e difícil: passar da estabilidade para o crescimento.

O Brasil não tem condições de assumir papel mundial tão grande quanto o dos dois gigantes asiáticos, mas poderia conseguir algo mais importante que poder e influência no mundo: uma sociedade próspera no país. Muita coisa ainda precisa mudar para que esse sonho possa se tornar realidade.

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