Antonio
Delfim Netto, hoje na FOLHA DE S. PAULO e a sua análise sobre os “lobistas”.
Em
relação ao mercado financeiro, há pelo menos dois fatos sobre os quais cabem
muito poucas dúvidas:
1º)
Do ponto de vista internacional, as "inovações" produzidas pelos
"econofísicos" (os famosos "quants") acabaram sendo causa
eficiente da crise bancária. Esta mostrou a fraqueza e a vulnerabilidade da
"rede" de relações do sistema financeiro internacional, que até agora
continua na UTI (o Fed, o BCE e o Banco da Inglaterra).
2º)
Do ponto de vista nacional, a crise de 1997 e a enérgica ação do Banco Central
do Brasil ajudaram a construir um sistema financeiro hígido, ágil e seguro, com
um amplo espectro de fiscalização. Custou cerca de 4% do PIB, mas dispomos hoje
de sofisticados mecanismos de intermediação financeira a altura dos melhores e
mais seguros do mundo.
Nos
EUA, após longa batalha, o governo acabou promulgando, há mais de um ano, a lei
Dodd-Frank, que estabeleceu novos controles sob o mercado financeiro.
A
lei (com mais de 2.000 páginas, devido à forte ação dos lobbies para torná-la
inexequível) fixou "regras gerais" que estão sendo detalhadas e serão
executadas por uma centena de mecanismos. Isso mostra a confusão cuidadosamente
construída no Congresso americano pela ação política dos influentes lobbies de
que dispõe o armipotente sistema financeiro.
O
cabo de guerra entre o Executivo e o sistema financeiro (sob os olhares
furtivos de parte importante do Legislativo) continua a crescer.
James
Dimon, o cínico e competente presidente do JP Morgan, não tem pudor em afirmar
que o controle sugerido pela lei "reduzirá o crescimento econômico" e
deve ser considerado "antiamericano porque coloca os EUA numa situação
competitiva desvantajosa". Só se for em relação aos "predadores
europeus" que, ele sugere, continuarão com as mãos livres!
A
American Bankers Association e o Institute of International Finance dão suporte
pretensamente "científico" a tal proposição. Em 2009, o sistema
financeiro gastou mais de US$ 90 milhões com "lobbiyng"; em 2010,
mais do que US$ 100 milhões e, em 2011, até hoje, US$ 50 milhões.
Felizmente,
o BIS (o banco central dos bancos centrais) acaba de publicar um estudo
tranquilizador produzido por representantes de bancos centrais de 15 países -o
do BC foi feito pelo competente Marcos Ribeiro de Castro, que desmonta
completamente os argumentos do custoso "lobby".
O
efeito da regulação será modestíssimo na taxa de crescimento (menos de 0,01%
por ano durante os anos de sua implantação), mas produzirá substancial redução
dos riscos de destruidoras crises financeiras.
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