quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Lobistas.


Antonio Delfim Netto, hoje na FOLHA DE S. PAULO e a sua análise sobre os “lobistas”.

Em relação ao mercado financeiro, há pelo menos dois fatos sobre os quais cabem muito poucas dúvidas:

1º) Do ponto de vista internacional, as "inovações" produzidas pelos "econofísicos" (os famosos "quants") acabaram sendo causa eficiente da crise bancária. Esta mostrou a fraqueza e a vulnerabilidade da "rede" de relações do sistema financeiro internacional, que até agora continua na UTI (o Fed, o BCE e o Banco da Inglaterra).

2º) Do ponto de vista nacional, a crise de 1997 e a enérgica ação do Banco Central do Brasil ajudaram a construir um sistema financeiro hígido, ágil e seguro, com um amplo espectro de fiscalização. Custou cerca de 4% do PIB, mas dispomos hoje de sofisticados mecanismos de intermediação financeira a altura dos melhores e mais seguros do mundo.

Nos EUA, após longa batalha, o governo acabou promulgando, há mais de um ano, a lei Dodd-Frank, que estabeleceu novos controles sob o mercado financeiro.

A lei (com mais de 2.000 páginas, devido à forte ação dos lobbies para torná-la inexequível) fixou "regras gerais" que estão sendo detalhadas e serão executadas por uma centena de mecanismos. Isso mostra a confusão cuidadosamente construída no Congresso americano pela ação política dos influentes lobbies de que dispõe o armipotente sistema financeiro.

O cabo de guerra entre o Executivo e o sistema financeiro (sob os olhares furtivos de parte importante do Legislativo) continua a crescer.

James Dimon, o cínico e competente presidente do JP Morgan, não tem pudor em afirmar que o controle sugerido pela lei "reduzirá o crescimento econômico" e deve ser considerado "antiamericano porque coloca os EUA numa situação competitiva desvantajosa". Só se for em relação aos "predadores europeus" que, ele sugere, continuarão com as mãos livres!

A American Bankers Association e o Institute of International Finance dão suporte pretensamente "científico" a tal proposição. Em 2009, o sistema financeiro gastou mais de US$ 90 milhões com "lobbiyng"; em 2010, mais do que US$ 100 milhões e, em 2011, até hoje, US$ 50 milhões.

Felizmente, o BIS (o banco central dos bancos centrais) acaba de publicar um estudo tranquilizador produzido por representantes de bancos centrais de 15 países -o do BC foi feito pelo competente Marcos Ribeiro de Castro, que desmonta completamente os argumentos do custoso "lobby".

O efeito da regulação será modestíssimo na taxa de crescimento (menos de 0,01% por ano durante os anos de sua implantação), mas produzirá substancial redução dos riscos de destruidoras crises financeiras. 

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