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segunda-feira, 18 de abril de 2016

Dani Rodrik: Economics Rules - "A Economia manda".



Em novo livro lançado nos Estados Unidos, o economista Dani Rodrik, professor da Universidade Harvard, citou uma lendária frase de John Kenneth Galbraith:

"Deus criou os economistas que fazem previsões para os astrólogos se sentirem respeitáveis". 

No livro, Dani Rodrik faz  uma apaixonada defesa do estudo da economia para a solução de grandes questões da atualidade. 

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A miséria do "novo desenvolvimentismo".


José Luís Fiori é professor titular do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da UFRJ, e autor do livro "O Poder Global", da Editora Boitempo, 2007. Escreveu este artigo especialmente para o Valor Econômico.

O capitalismo só triunfa quando se identifica com o estado, quando é o estado". Fernand Braudel, "O Tempo do Mundo", Editora Martins Fontes, SP, p: 34.

O "debate desenvolvimentista" latino-americano não teria nenhuma especificidade se tivesse se reduzido à uma discussão macroeconômica entre "ortodoxos", neo-clássicos ou liberais, e "heterodoxos", keynesianos ou estruturalistas. Na verdade, ele não teria existido se não fosse por causa do Estado, e da discussão sobre a eficácia ou não da intervenção estatal para acelerar o crescimento econômico, por cima das "leis do mercado". Até porque, na América Latina como na Ásia, os governos desenvolvimentistas sempre utilizaram políticas ortodoxas, segundo a ocasião e as circunstâncias, e o inverso também se pode dizer de muitos governos europeus ou norte-americanos ultra-liberais ou conservadores que utilizaram em muitos casos, políticas econômicas de corte keynesiano ou heterodoxo. O pivô de toda a discussão e o grande pomo da discórdia sempre foi o Estado e a definição do seu papel no processo do desenvolvimento econômico.

Apesar disto, depois de mais de meio século de discussão, o balanço teórico é decepcionante. De uma forma ou outra a "questão do Estado" sempre esteve presente, nos dois lados desta disputa, que acabou sendo mais ideológica do que teórica. Mas o seu conceito foi sempre impreciso, atemporal e ahistórico, uma espécie de "ente" lógico e funcional criado intelectualmente para resolver problemas de crescimento ou de regulação econômica. Desenvolvimentistas e liberais sempre compartilharam a crença no poder demiúrgico do Estado, como criador ou destruidor da boa ordem econômica, mas atuando em todos os casos, como um agente externo à atividade econômica.

Um agente racional, funcional e homogêneo, capaz de construir instituições e formular planos de curto e longo prazo orientados por uma idealização do modelo dos "capitalismos tardios" ou do estado e desenvolvimento anglo-saxão. E todos olhavam negativamente para os processos de monopolização e de associação do poder com o capital, que eram vistos como desvios graves de um "tipo ideal" de mercado competitivo que estava por trás da visão teórico dos desenvolvimentistas tanto quanto dos liberais. Além disso, todos trataram os Estados latino-americanos como se fossem iguais e não fizessem parte de um sistema regional e internacional único, desigual, hierarquizado, competitivo e em permanente processo de transformação. E mesmo quando os desenvolvimentistas falaram de Estados centrais e periféricos, e de Estados dependentes, falavam sobretudo de sistema econômico mundial que tinha um formato bipolar relativamente estático, onde as lutas de poder entre os Estados e as nações ocupavam um lugar bastante secundário.

No fim do século XX, a agenda neoliberal reforçou um viés da discussão que já vinha crescendo desde o período desenvolvimentista: o deslocamento do debate para o campo da macroeconomia. Como volta a acontecer com o chamado "neo-desenvolvimentismo" que se propõe inovar e construir uma terceira via (uma vez mais), "entre o populismo e a ortodoxia". Como se tratasse de uma gangorra que ora aponta para o fortalecimento do mercado, ora para o fortalecimento do Estado.

Na prática, o "neo-desenvolvimentista" acaba repetindo os mesmos erros teóricos do passado e propondo um conjunto de medidas ainda mais vagas e gelatinosas do que já havia sido a ideologia nacional-desenvolvimentista dos anos 50. Passado a limpo, trata-se de um pastiche de propostas macroeconômicas absolutamente ecléticas, e que se propõem fortalecer, simultaneamente, o Estado e o mercado; a centralização e a descentralização; a concorrência e os grandes "campeões nacionais"; o público e o privado; a política industrial e a abertura; e uma política fiscal e monetária, que seja ao mesmo tempo ativa e austera. E finalmente, com relação ao papel do estado, o "neo-desenvolvimentismo" propõe que ele seja recuperado e fortalecido mas não esclarece em nome de quem, para quem e para quê, deixando de lado a questão central do poder, e dos interesses contraditórios das classes e das nações.

Neste sentido, fica ainda mais claro que o desenvolvimentismo latino-americano sempre teve um parentesco maior com o keynesianismo e com "economia do desenvolvimento" anglo-saxônica, do que com o nacionalismo econômico e o anti-imperialismo, que são a mola mestra do desenvolvimento asiático. E que, além disto, os desenvolvimentistas latino-americanos sempre compartilharam com os liberais a concepção econômica do Estado do paradigma comum da economia política clássica, marxista e neo-clássica. Esse paradoxo explica, aliás, a facilidade teórica com que se pode passar de um lado para o outro, dentro do paradigma líbero-desenvolvimentista, sem que de fato se tenha saído do mesmo lugar.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O fundamental.


Antonio Delfim Netto, hoje no Valor Econômico, escreve somente sobre “o fundamental”.

Grupos não pequenos de estudiosos insistem em atribuir a crise a uma organização social misteriosa à qual dão o nome genérico de "capitalismo", codinome da organização da atividade econômica em torno dos "mercados", instituição que os homens "descobriram" para coordenar a atividade de consumir bens e serviços e, ao mesmo tempo, estimulá-los a produzir de forma relativamente eficiente e com maior liberdade individual
.

É preciso reconhecer que: 1) os mercados são meros instrumentos alocativos que tentam compatibilizar os interesses dos indivíduos no seu duplo papel; 2) obviamente, não há simetria de poder entre esses papéis; e 3) eles (os mercados) não podem funcionar (ou mesmo existir!) sem um Estado para regulá-los.

Essa economia de mercado não foi inventada. Há claras evidências de que os mercados existem desde a velha Mesopotâmia (500 anos antes de Cristo). Foi sendo "descoberta" pelos próprios homens na sua atividade prática de buscar instituições que lhes permitissem facilitar a sobrevivência material e a possibilidade de combiná-la com sua eterna busca de liberdade de iniciativa. Ela não é nem perfeita nem imortal. A grande esperança é que a ação do Estado que garante a sua funcionalidade, possa minorar seus defeitos com as políticas econômica (a flutuação) e social (a desigualdade).

A ideia que os mercados têm a capacidade de autocorrigir-se e que os resultados da distribuição de seus benefícios são "justos" ou "merecidos" - e que, portanto, dispensam a ação do Estado - é absurda. Tão absurda quanto a ideia que os problemas que estamos vivendo se devem apenas a eles, sem nenhuma cumplicidade do Estado.

Já passou da hora de os economistas livrarem-se de umas ingenuidades. A primeira é que Deus foi bom com eles deixando-lhes como objeto de estudo um mundo, cuja ordem poderia ser descoberta, como, por exemplo, o movimento dos astros. A segunda é o reconhecimento que, por mais importante que seja o papel do Estado, o poder incumbente está longe de ser onisciente e, logo, não precisa ser onipresente e, muito menos, pretender a onipotência!

A história nos ensinou, e a experiência atual confirma, que o Estado precisa ser fiscalmente responsável! Não é preciso ser economista para entender tal "conta de padaria". A receita pública não pode ser, permanentemente, maior do que a despesa pública, não importa a "qualidade" ou a "necessidade" do gasto.

Se ele é imperioso e permanente, só há três formas de atendê-lo: 1) aumentando a eficiência do governo; 2) cortando despesa menos prioritária; ou 3) aumentando os impostos. É uma maldição aritmética desagradável que a relação dívida pública/PIB só possa ser estabilizada num nível cujo financiamento possa ser feito, permanentemente, com uma taxa de juros real menor do que a taxa de crescimento real do PIB.

Parece razoável concluir, portanto, que o que precisa ser superado é a irresponsabilidade fiscal dos Estados e a sua incompetência regulatória. Vivemos, basicamente, uma manifestação de Estados pouco cuidadosos fiscalmente e impotentes diante do poder econômico dos interesses financeiros. A crise de 2007/09, que se recusa a terminar, é a testemunha da tendência do setor financeiro de servir-se do setor real e de sua capacidade de apropriar-se do poder incumbente.

Os "indignados" sugerem trazer de volta ideias de cérebros peregrinos, que "inventaram" outros mecanismos de organização social. Os mesmos que rechearam de tragédias o século XX. É preciso insistir que, até agora, o mercado como instrumento alocativo relativamente eficiente não encontrou nenhum substituto, como mostram o fracasso soviético e o sucesso chinês.

A crise americana é menos grave do que a da Eurolândia, mas tem pouca probabilidade de terminar antes da eleição de novembro de 2012. E depois? Depois, valha-nos Deus se os intelectuais republicanos vencerem a batalha eleitoral! É uma pena. Os EUA têm tudo para sair mais depressa da crise. Faltam-lhes apenas uma liderança que reconstrua a confiança da sociedade.

Na Eurolândia, a questão é mais complicada. Ela tem, na verdade, quatro problemas: 1) um desalinhamento das moedas dentro do euro, que causa resultados assimétricos nos balanços de pagamentos; 2) um descontrole dos déficits públicos; 3) uma perspectiva de crise bancária; e 4) falta-lhe um Banco Central autônomo, que seja, de fato, o emprestador de última instância e possa organizar as dívidas dos países.

O jogo dialético civilizatório (apoiado no sufrágio universal) entre o mercado e a urna não é uma linha reta: pode sofrer graves e custosos desvios. O fato fundamental é que ele não resiste à irresponsabilidade fiscal. Quando essa leva as lideranças políticas à completa predominância do curto prazo sobre o longo, aproveitando-se de situações econômicas passageiras favoráveis para permanecer no poder, o mercado (isso é, a realidade fática) acaba cobrando o seu preço.

O Brasil pagou tal preço no passado. A presidente deve ser fortemente apoiada quando corta na carne o Executivo e pede moderação ao Legislativo, ao Judiciário e aos sindicatos. Nunca a solidez fiscal foi tão necessária para proteger-nos da crise mundial, que está longe de terminar. É por isso que a DRU deve ser aprovada.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Teoria dominante versus velha escola europeia.


Ricardo Schiller Freiburghaus é economista, graduado em Economia pela Universidade de Fribourg (Suíça) e pós-graduado pela Universidade de Dijon (França). Autor do livro "Inflação em Tese", escreveu este artigo especialmente para o VALOR ECONÔMICO.

A atual teoria econômica dominante defende que, para se combater a alta do índice de preços, é preciso aumentar a taxa de juros. Contudo, se o aumento da taxa de juros leva ao aumento dos custos, como podemos baixar os preços que estão diretamente ligados a tais custos?

A teoria dominante se defende ao explicar que, se os juros ficarem altos, a demanda de crédito cairá, e, consequentemente, o consumo diminuirá, fazendo com que os estoques aumentem nas indústrias, haja menos trabalho nas empresas de serviços e a economia doméstica fique menos endividada. Em seguida, as empresas baixariam os preços de seus produtos para ter alguma receita, a fim de pagar suas contas, como salários, enfim os custos. Finalmente, concluímos que os custos das empresas não baixariam, mas, sim, as margens de lucro recuariam, proporcionando queda dos preços.

Assim, se a intenção do governo é mesmo diminuir a demanda por crédito, a única solução realmente adequada é utilizar a política de taxa de juros ou pode-se adotar uma medida diferente? Pensamos que sim: uma política de controle de crédito - diminuir a atual facilidade do crédito, sem necessidade de aumentar a taxa de juros.

A princípio, a taxa de juros é fixada em função entre demanda e oferta de poupança e investimento, mas constatamos que a realidade é outra: a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de fixar a taxa de juros é quase exclusivamente devida à variação do índice de preços, e pouco se fala da variação de poupança disponível.

A velha escola europeia dita que a taxa de juros "normal" pouco influencia na variação do índice de preços; por exemplo: na prática, quando na entressafra do etanol o preço do combustível sobe, aumentando o índice de preços, o Copom, a fim de combater o aumento, eleva a taxa de juros. Portanto, perguntamos o que os juros têm a ver com a produção de etanol?

Ao nosso entender, nada. O que se deve esclarecer é que o controle da variação do índice de preços tem de se fazer por uma gestão empresarial dos produtos que compõem o índice, do mesmo modo que uma empresa privada administra seus negócios.

No dia em que chegarmos a administrar e planejar a necessidade de produtos que compõem a cesta básica da nação Brasil, a variação do índice de preços estará sob controle. Economicamente, é difícil justificar a contínua alta dos juros no Brasil, que tem grau de investimento e, ao mesmo tempo, medida que aumenta sua dívida, obrigando a novos empréstimos para pagar um preço alto! Atualmente o Copom vem baixando os juros, mais ainda se baseando na noção do índice de preço.

As taxas de juros elevadas criam uma distorção no câmbio, anomalia que é causada pela própria política econômica do governo brasileiro, obrigando o Banco Central a impor medidas de controle de fluxo de entrada de divisas, na tentativa de trazer o câmbio para o equilíbrio de mercado. A velha escola europeia nos ensina que a moeda não tem poder sobre o preço da mercadoria e tampouco sobre o estado de trocas; então, a moeda é neutra.

Há, entretanto, as transações internacionais - como no caso do Brasil, em que parte da divisa que é trocada pelo real não é para comprar um produto brasileiro (seja físico ou serviço), mas, sim, para um ganho em rendimento. Nesse momento, se dá a origem da valorização do real, indesejada pelo resto da economia brasileira e, como é uma demanda pela moeda, sem contrapartida da produção nacional, o Banco Central intervém na compra de divisa, arcando com os custos financeiros.

Da mesma maneira que no início do Plano Real, o câmbio foi fixado de maneira arbitrária, independentemente do crescimento da produção nacional, e deve uma correção do câmbio para o equilíbrio real do mercado. Atualmente, pensamos que, no momento em que juros caírem ou houver uma reversão do fluxo de divisas, também haverá uma correção do câmbio, mas de maneira mais suave, porque o Brasil tem e paga caro o seguro para enfrentar este inevitável evento que são suas reservas de divisas.

A teoria econômica dominante nos ensina que a inflação é medida por índices de preços: quando os preços dos produtos sobem, surge a inflação. Então, podemos concluir, segundo a lógica do pensamento dessa escola econômica, que seria bom se os preços dos produtos ficassem estáveis e seria perfeito se os preços dos produtos ficassem fixos de maneira que não se alterassem no tempo; desse modo, viveríamos no mundo econômico perfeito, sem inflação nem deflação. O único problema é que não estaríamos vivendo no sistema capitalista e nem no planeta Terra.

A velha escola europeia já nos ensinou, há muito tempo, que o preço nada tem a ver com a inflação, mas, sim, com a redistribuição de riqueza entre as diferentes classes no interior da nação, que os preços refletem a dinâmica do mercado econômico e que cada país deve controlar sua cesta básica com a finalidade de manter os preços em equilíbrio e garantir um crescimento constante. Além disso, também nos ensina que a inflação é devida a um mau funcionamento do mecanismo econômico, e que tem sua origem na maneira de monetizar ou contabilizar a produção da economia, deixando bem claro que é totalmente independente da variação de preços, noção não existente na teoria dominante.

Finalmente, o que diferencia a velha escola europeia em sua análise da atual situação da política econômica brasileira? Pensamos que não é por meio da política de taxa de juros que se deve corrigir o índice de preços, e também nada tem a ver com a inflação. Seria necessário baixar a taxa de juros progressivamente, chegando a cerca de IPCA + 2%, deixar o câmbio chegar ao novo equilíbrio do mercado sem intervenção do Banco Central, controlar a política de crédito, diminuindo a facilidade de crédito ao público para compras de produtos em setores que estão aquecidos. Nossa maior divergência teórica, entretanto, é na definição da inflação.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Hayek e os preços.

A dissertação de Friedrich August von Hayek com o título "Economics and Knowledge", publicada no distante ano de 1937, registrou o surgimento de sua mais importante contribuição para a economia: a sugestão de que os preços de mercado são, basicamente, um meio de comparar e transmitir informações.

domingo, 29 de novembro de 2009

ECONOMIA, GOVERNO E MERCADO

Alguns colegas gostam de lembrar a este blogueiro que, como defensor do livre mercado, hoje devo reconhecer que o governo salvou o capitalismo.
DISCORDO.
A "mão invisível" de ADAM SMITH - de 1776, continua "invisível" e funcionando. No entanto, é necessário que exista, de fato, governo e que ele mantenha as instituições básicas da economia, além de garantir o direito dos cidadãos. O que o governo NÃO deve fazer é praticar política econômica com finalidade eleitoral.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...