Editorial do ESTADÃO de hoje comenta a redução na taxa de juros para 9% ao ano.
Como era previsto pelo mercado, o Comitê de
Política Monetária (Copom) aprovou por unanimidade a redução de 0,75 ponto da
Selic, que caiu para 9% ao ano, ligeiramente acima do mínimo histórico de
8,75%. A ata da reunião anterior do comitê já deixara entrever essa decisão.
Com o clima econômico de inflação baixa, que
o comunicado da reunião atribui à fragilidade da economia global, e com o setor
externo contribuindo para deflacionar, o Copom dá seguimento ao processo de
ajuste das condições monetárias.
O uso de termos condicionais permite ao Copom
alguma flexibilidade, como nota Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco
Central (BC). Mas também deixa dúvidas sobre o futuro da política das
autoridades monetárias. Fala-se em continuar o processo de ajuste, o que leva a
perguntar se, ao contrário do que dizia Alexandre Tombini, presidente do BC, o
Copom poderá reduzir a Selic abaixo de 8,75% - há quem admita que caia para 8%.
As condições para isso são que a inflação
continue baixa e a situação internacional mantenha o efeito deflacionário.
Parece que neste segundo trimestre, com a ampliação do crédito e o seu
barateamento, a economia nacional vai entrar numa fase melhor. Todavia,
continua existindo o problema do preço da gasolina, cujo reajuste se torna
premente com a evolução do preço do petróleo.
É bom lembrar que, numa fase de prosperidade,
manter os preços é mais difícil e a desvalorização do real ante o dólar gera
uma elevação da pressão inflacionária.
A redução da Selic abaixo de 9% torna quase
obrigatória uma revisão para baixo da remuneração das cadernetas de poupança,
medida que seria muito mal recebida pelos poupadores. Isso representa um sério obstáculo
para maiores quedas da taxa de juros básica.
Se a redução decidida anteontem foi bem
recebida pelos bancos privados, que estão cedendo às pressões do governo
baixando suas taxas de juros, convém não contar com que isso continue em
paralelo com a queda da Selic. Na medida em que os bancos tenham de se adequar
às normas de Basileia 3, sentirão a necessidade de aumentar muito seus ativos.
Isso tornará difícil uma redução do spread, especialmente num período em que
maiores taxas de inadimplência, decorrentes da elevação do volume do crédito e
da redução dos juros, aumentarão os riscos do sistema financeiro, que nos
últimos anos resistiu graças ao estreito respeito às normas de Basileia 2.
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