Paul Krugman, em breve entrevista ao VALOR
ECONÔMICO de ontem, elogia a política monetária do BC brasileiro.
O Banco Central brasileiro está certo em sua
política de redução dos juros, disse ontem o economista Paul Krugman, Nobel de Economia de 2008.
"A economia está claramente se desacelerando, e a inflação, provavelmente
como em todos os lugares, é transitória", afirmou ao Valor. "O
relaxamento monetário é apropriado."
Professor da Universidade
de Princeton,
nos EUA, Krugman vê problemas na valorização
do real, por criar pressões que minam a competitividade da indústria. Ao mesmo tempo, lembrou que o Brasil mantém
a própria moeda, que pode ser desvalorizada em algum momento, diferentemente do
que se passa com os países da zona do euro. Segundo ele, a situação cambial do
Brasil se parece mais com a dos EUA em meados dos anos 80. Naquela época, o
dólar estava forte demais, mas não foi difícil desvalorizá-lo. " Krugman
deu breve entrevista antes de participar do Seminário Internacional sobre Pequenos
Negócios, promovido pelo Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae),
que teve apoio do Valor.
Valor: A presidente Dilma Rousseff reclama do
"tsunami monetário", que seria causado pela política monetária dos
países desenvolvidos. Diz que isso mina a competitividade dos emergentes e
provoca uma guerra cambial. O sr. concorda com ela?
Paul Krugman: Não, embora entenda
o problema. Há muito capital buscando os
países emergentes e grande valorização da taxa de câmbio. Isso é um problema, mas não por causa de
política monetária não apropriada nos países avançados. Esses países têm uma
crise econômica grave. Ainda há grande crise de desalavancagem, o que mantém as
economias deprimidas. É claro que os juros estão muito baixos. Há excesso de poupança nos países avançados.
Se você olha para relação histórica entre desemprego, inflação e juros, as
taxas dos Fed Funds deveriam estar em menos 4,5%. É razoável que esteja em
zero. Eu entendo, a presidente tem suas preocupações. Há, de algum modo, um
tsunami de dinheiro, mas não por causa de Ben Bernanke [presidente do Fed] ou
Mario Draghi [do BC Europeu].
Valor: Quão
preocupante é a valorização do real?
Krugman: Não
é algo positivo, porque cria pressões. O setor manufatureiro perde
competitividade e vai ser difícil recuperá-la. De outro lado, o Brasil ainda
tem sua própria moeda. O real pode se desvalorizar de novo. O Brasil não tem
muita dívida em moeda estrangeira. Quando olho para o Brasil, penso que pelo
menos não é a Espanha. A Espanha teve uma valorização em termos reais nos bons
anos do euro [devido aos diferenciais de inflação] parecida com a brasileira,
mas está numa crise terrível, porque não pode desvalorizar. O Brasil pode. A
situação do Brasil parece mais com a dos EUA em meados dos anos 80, quando o dólar
ficou muito forte, mas não foi um processo especialmente difícil desvalorizar a
moeda de novo.
Valor: Há um grande debate no Brasil sobre
desindustrialização. Em 2011, a participação da indústria de transformação no
PIB ficou abaixo de 15%. O governo deve
tentar proteger a indústria?
Krugman: Não fiz muita lição de casa sobre a
situação brasileira, mas acho que há de fato uma questão aí. O Brasil tem os
fluxos de capital e as exportações de commodities, e faz algum sentido pelo menos tentar lidar contra os efeitos desses
fatores.
Valor: O BC adotou postura mais agressiva desde
agosto, quando começou a cortar os juros, apesar de algumas pressões
inflacionárias, especialmente nos preços de serviços. Como o sr. vê a política
monetária brasileira?
Krugman: Não tenho uma visão forte a
respeito, mas acho que é razoável. A
economia está claramente em desaceleração, e a inflação, provavelmente como em
todos os lugares, é transitória. O relaxamento monetário é apropriado.
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