sábado, 28 de abril de 2012
As cotas de Schwartzman.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
SCHWARTSMAN E A GRÉCIA.
É impossível não falar da atual crise grega (europeia), seja para discutir suas causas, seja para, como pretendo hoje, pensar nas suas possíveis consequências, em particular para a economia brasileira. Será que, como em
O primeiro é o fenômeno conhecido como "fuga para a qualidade". Em que pese o epicentro da crise de crédito de 2008 ter sido a economia dos EUA, tanto naquela época como agora observamos que investidores, num cenário de turbulência, preferem manter seus recursos sob a forma de ativos americanos. Não se trata apenas da percepção que eles embutem um baixo risco de não pagamento; também o mercado desses papéis é muito líquido, o que permite a investidores montar e desmontar rapidamente suas posições, sem os custos proibitivos que costumam aparecer em tempos de crise em mercados menos profundos.
Não por acaso, portanto, na semana passada, todas as principais moedas flutuantes (exceto o iene) se desvalorizaram ante o dólar, assim como o real. Isto é, uma das formas de transmissão da crise é o fortalecimento global do dólar, que implica, é claro, o enfraquecimento do real.
Além desse efeito, é possível mapear outro, relacionado ao primeiro, mas que atua de forma indireta. Como expliquei no artigo de 31 de março ("Síndrome da China"), há uma clara relação negativa entre o valor do dólar e o preço das commodities: o fortalecimento do primeiro costuma ter repercussões negativas para as últimas. Por outro lado, o real tende a andar em linha com as commodities, de modo que o dólar mais forte traz uma razão adicional para a desvalorização do real (bem como das demais moedas-commodities).
Resta saber se o presumível aprofundamento da crise teria, como em 2008, efeitos nefastos sobre a atividade econômica, provavelmente por uma depressão adicional do crédito.
É uma possibilidade, mas hoje acredito ser muito difícil a repetição, mesmo em escala menor, dos eventos do último trimestre daquele ano.
Estima-se que as perdas associadas à crise de crédito tenham atingido cerca de US$ 1,8 trilhão e possam chegar, ao final do processo, a US$ 2,5 trilhões. Ao mesmo tempo, havia forte incerteza sobre a distribuição das perdas naquele momento, pois tanto os títulos lastreados em hipotecas como os derivativos a eles associados eram transacionados em mercados de balcão, o que manteve todas as instituições financeiras na defensiva por não saberem exatamente a saúde das suas contrapartes, levando à paralisia nos fluxos interbancários e no crédito em geral e, portanto, ao colapso do comércio mundial e da atividade econômica.
Em contraste, pelo menos no caso da Grécia, falamos de valores consideravelmente menores e de um conhecimento bem mais claro da exposição de cada instituição, vale dizer, sem a mesma incerteza quanto às contrapartes. Daí meu ceticismo quanto à reprise do episódio Lehman Brothers e da parada súbita de fluxos financeiros que se seguiu.
domingo, 2 de maio de 2010
ALEXANDRE SCHWARTSMAN E A IMPORTAÇÃO DO B.
Em 2010 (até a semana passada) as importações brasileiras aumentaram quase 40% relativamente ao mesmo período de 2009. Na verdade, sempre que a economia brasileira passa por um período de expansão acelerada as importações aumentam por um múltiplo da taxa de crescimento, motivando um dos 17 leitores do meu blog (que espero não serem os mesmos 17 leitores desta Folha) a me perguntar a razão deste comportamento. Refletiria isto uma incapacidade congênita do país, associada às dificuldades da estrutura produtiva de responder ao crescimento da economia? Acredito, porém, que a resposta seja bem mais simples. Pode parecer paradoxal, mas as importações crescem muito porque o Brasil importa pouco.
Caso reste algum leitor depois desta afirmação eu explico.
domingo, 30 de novembro de 2008
ECONOMISTAS = SOLUÇÃO PARA A CRISE
Amigos da Globo, quero dizer, meus quase dois leitores, lendo alguns blogs de economia localizamos cada texto interessante que não dá para não deixar de divulgar para vocês. O texto abaixo tem muito a ver com a minha inquietação com a provocativa capa da última EXAME que recebi. Está lá para todos lerem: PARA QUE SERVEM OS ANALISTAS? E OS ECONOMISTAS? E OS GURUS DA ECONOMIA? A atual crise mundial escancara nossa incompetência em fazer previsões - e a imprudência do mercado em acreditar nelas.
Acredito que não é bem assim. A crise era previsível, foi detectada por vários colegas e tenho absoluta convicção que o capitalismo passa por mais essa em pouco tempo. E viva o livre mercado.
O texto é do Felipe Schwartzman: a vida dura dos economistas e foi postado no blog do Simon Schwartzman Economia. Êta família danada para entender de Economia. Para ver com o mundo além de plano, como escreve o Thomas Friedman, é pequeno, recordo que uns dois anos passados estava eu buscando entender um problema que estava ocorrendo em uma série temporal que estava analisando, quando via e-mail/orkut tive a colaboração do Felipe em indicar-me caminhos para solucionar meu problema. Hoje, leio seu crítico texto.
Escreve Felipe: É dificil ser economista. Responsabilizados por todos os males do mundo, vistos como pessoas materialistas que só se preocupam em contar dinheiro, de preferencia pagos pelos mais ricos para fazer isso. Acho que nenhuma carreira acadêmica consegue estar tão associada no olhar do público com tudo que está errado com a civilizacao ocidental. Isso tudo é verdade em tempos normais. Em tempos de crise, quando algum culpado tem que ser encontrado, nada melhor do que ir atrás dessa praga.
Neste contexto não existiria nada de surpreendente na declaração do presidente da CAPES se ele não fosse um dos principais responsáveis por gerir a política científica do governo. Além de todos os óbvios problemas desse dirigismo estatal e ameaça à liberdade acadêmica, chama atenção o grau de desinformação que o presidente apresenta acerca do que é o mainstream acadêmico em economia e como ele se relaciona com as políticas liberalizantes que, muitos acreditam, levaram à crise.
Vou conceder que o mainstream acadêmico favorece determinados tipos de visão do mundo. Os modelos são tão mais fáceis de usar quanto menor for o número de fricções que justificariam intervenções governamentais. Mais importante que isso, segmentos importantes e influentes da profissão são ideologicamente propensos a enfatizar soluções liberalizantes. Mas isso não é verdade do mainstream como um todo, e não foram poucos os pesquisadores das áreas de finanças e economia internacional que viram essa crise a caminho. A observação fundamental sobre o mainstream acadêmico da economia é que ele é grande. Uma reunião anual da American Economic Association reúne com facilidade milhares de economistas, todos eles com grau de qualificação e competência comparável ao dos melhores centros de economia deste país. Estes economistas trabalham em temas de uma diversidade enorme, muitos dos quais tem pouco ou nada a ver com regulação do sistema financeiro. Discutem (para ficar apenas nas áreas aplicadas), das relações de trabalho a decisões de consumo e poupança, passando por comércio internacional, saúde, macroeconomia etc. Todas essas discussões fazem uso crescente não só das muitas teorias sobre falhas de mercado, mas também de interfaces com política e psicologia.
Essa máquina produz um enorme volume de estudos empíricos e teóricos que são furiosamente debatidos e avaliados pelos pares. O contraste com a heterodoxia se faz não pela qualidade dos pesquisadores ou das teorias, mas pelo simples tamanho da empreitada e da força competitiva que a move. A existência continuada dessa máquina gerou instrumentos que vão permitir ao mainstream digerir essa crise e usá-la para alterar suposições que tenham informado a política anterior a ela. Acho inclusive que, especialmente em finanças e, em menor grau, em macro, importantes revisões serão feitas nos próximos dez anos. A crise dará para essas áreas o que a elas faltava, que eram exemplos recentes e salientes de como as coisas podem dar errado em grandes proporções sem que a culpa possa ser posta em governos obviamente incompetentes e instituições diferentes das americanas. Será uma discussão interessante de se fazer parte, e será uma pena se, por preconceito ideológico, os brasileiros que, pela nossa experiência, muito têm a contribuir, fiquem de fora.
Endereço: http://www.schwartzman.org.br/sitesimon/?p=904&lang=pt-br
A importância de debater o PIB nas eleições 2022.
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