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terça-feira, 10 de março de 2020
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Robert Shiller - Nobel de Economia: entrevista NYT/FOLHA.
Recente entrevista com o Nobel Robert Shiller, aqui publicada pela FOLHA.
Robert
Shiller, professor da Universidade Yale, foi informado na semana passada de que
receberia o Prêmio Memorial Nobel de Ciência Econômica, em companhia de Lars Peter
Hansen e Eugene Fama, da Universidade de Chicago. O comitê do Nobel descreveu
Shiller como fundador do campo das finanças comportamentais e como inovador na
incorporação da psicologia à Economia e citou suas análises pioneiras sobre
bolhas especulativas nos mercados de ações e imóveis.
Ele
também é parte do grupo de eminentes economistas que escrevem a coluna
"Economic View" para o caderno dominical de negócios do "New
York Times", tendo contribuído com 60 colunas de 2007 para cá. Como editor
da coluna, conversei com ele muitas vezes sobre seu trabalho, e na quarta-feira
passada Shiller me ligou do aeroporto, onde estava embarcando para uma palestra
no banco central holandês em Amsterdã. Eis uma versão condensada e editada de
nossa conversa.
*
P.
Bob, parabéns! Que honra.
R.
Obrigado!
P.
E agora, fico imaginando em que você estará pensando como tema para sua próxima
coluna.
R.
Ha. Bem, certamente terei algo a dizer. Não sei, por enquanto. Você sabe que
preciso escrever um discurso para a cerimônia do Nobel, e o prazo para isso é o
dia 10 de dezembro. E tenho responsabilidades letivas pesadas. A pressão será
grande!
P.
É, parece que esse negócio do Nobel é muito difícil. Ninguém ia querer um
prêmio desses.
R.
Verdade, verdade. Mas é maravilhoso. Agora estarei mais e mais envolvido com o
ensino. Vou preparar um novo curso online para a Coursera em janeiro, chamado
"Mercados Financeiros". Fui informado de que 50 mil pessoas já se
inscreveram para ele, e acho que isso é realmente importante. É uma missão para
mim. Também vou lecionar o curso de introdução à Economia para os calouros de
Yale, no semestre que vem, e terei 300 ou 400 alunos nessa classe. De alguma
forma, conversar com os estudantes jovens ajuda a nos reconduzir à realidade.
Ou pelo menos deveria.
P.
Você agora terá de resumir a sua obra e sua pesquisa de uma vida inteira em
algumas poucas sentenças. Sei que é pedir demais. Mas gostaria de tentar?
R.
Bem. Trabalho com isso há muito tempo. Você está interessado em temas? Um deles
é algo que aprendi com meu pai: o apreço pela invenção. Eu sempre quis
desenvolver novos instrumentos. O primeiro trabalho que publiquei era sobre um
"estimador" - era um procedimento estatístico, uma espécie de
invenção. Meu pai conseguiu uma patente e abriu uma empresa; não foi um
sucesso, mas talvez eu tenha algo dele em mim.
P.
Ao longo de sua carreira, você trabalhou muito com métodos de mensuração -
vasculhar dados e decidir o que pode ser mensurado, e como. Você foi um dos
criadores dos índices Case-Shiller, que medem preços de imóveis. E seu trabalho
é conhecido, entre o pessoal das finanças, pelo que eles chamam de "Razão
P/L de Shiller" - uma maneira de utilizar dados sobre preços e lucros a
fim de determinar se o mercado de ações está supervalorizado. Você colabora com
a Fundação Cowles de Pesquisa Econômica há 31 anos, e ela é uma instituição que
trabalha muito com a coleta de dados. Por que essas mensurações são importantes?
R.
Nosso fundador, Alfred Cowles, era um administrador de investimentos que se
desiludiu e se tornou cético. A administração de fundos era uma profissão que
envolvia muita falsidade - pessoas que diziam ser capazes de obter retornos
superiores à média do mercado quando na verdade não o eram. Ele suspeitava de
que seus colegas em Wall Street estivessem simplesmente mentido, que não
tivessem capacidade de prever o mercado. Queria dispor de pesquisas econômicas
verdadeiras, pesquisas genuínas. E coletava dados.
Tenho a mesma natureza cética. Quando era criança, meu professor na escola dominical se queixou aos meus pais que eu tinha uma atitude negativa. Não acreditava em nada do que aquele cara dizia.
Tenho a mesma natureza cética. Quando era criança, meu professor na escola dominical se queixou aos meus pais que eu tinha uma atitude negativa. Não acreditava em nada do que aquele cara dizia.
P.
Bem, você fez isso em companhia de muitas outras coisas - trabalhou no campo
teórico e com dados. Combinou diversos campos.
R.
Sim, parte considerável do meu melhor trabalho teórico surgiu depois de eu me
envolver com projetos de coleta de dados, porque dessa forma você se torna
consciente de outra realidade.
P.
E em companhia de Richard Thaler, da Universidade de Chicago, outro dos
colaboradores da coluna Economic View, você foi uma das pessoas que introduziu
a psicologia na teoria dos mercados. Como isso aconteceu?
R.
Bem, me casei com uma psicóloga [Virginia Shiller, psicóloga com consultório em
New Haven e instrutora clínica no Centro de Estudo da Criança em Yale], o que
certamente influenciou! Também descobri que existiam certas lacunas na teoria
do mercado eficiente, que era a ortodoxia no mundo das finanças, e elas
simplesmente não faziam qualquer sentido.
Os
economistas que desenvolveram essa teoria diziam que todas as pessoas que
participavam dos mercados estavam fazendo cálculos, cálculos sobre valor
presente dos ativos. Isso é loucura, porque você sabe que 90% da população nem
mesmo sabe que esse conceito existe. Não estão fazendo cálculo algum. E a isso
os economistas respondiam que, bem, não é que todo mundo esteja fazendo todos
os cálculos, mas o mercado está se comportando de maneira eficiente porque as
pessoas recebem conselhos de especialistas e de administradores de fundos.
Isso
também está evidentemente errado. Na realidade, algumas pessoas talvez estejam
agindo assim. Mas nem todas, ou nem mesmo uma maioria delas. A coisa se torna
ritual - temos um dado modelo em que as pessoas acreditam porque outras pessoas
acreditam nele, e assim por diante.
P.
Como a "exuberância irracional", título de um de seus livros, afeta o
mercado de ações, e como ela se enquadra à teoria do mercado eficiente?
R. Bem, a teoria do mercado eficiente é uma meia-verdade. A meia-verdade é que não
é fácil ganhar muito dinheiro muito rápido, e que você pode passar anos
perdendo dinheiro, mesmo que seja uma pessoa muito inteligente.
Onde
a teoria erra é em afirmar que você deve presumir que não há interesse em
tentar superar o mercado - ou que a política econômica deveria ser orientada
sob a suposição de que não existem bolhas de mercado.
P.
Portanto, bolhas existem.
R.
Sim, elas acontecem o tempo todo. A maior parte da ação no mercado de capitais,
em termos agregados, consiste de bolhas. Isso não se aplica a ações
individuais, mas se aplica ao mercado como um todo.
P.
Em suas colunas, você já escreveu muito sobre bolhas no mercado imobiliário -
como a que estourou alguns anos atrás e conduziu à crise financeira da qual
ainda estamos nos recuperando. Você constatou que os preços dos imóveis em
geral se movem mais devagar que os das ações. Por que isso acontece?
R.
Isso vem se provando verdade até agora, ao menos. Um motivo é que os imóveis
são no geral um mercado de amadores; não é fácil para as pessoas agir
rapidamente. Mas os profissionais estão chegando, e isso pode mudar.
P.
Eugene Fama é muitas vezes mencionado como fundador da teoria do mercado
eficiente e, como estivemos discutindo, você é um crítico dessa teoria. Não me
surpreende que Fama tenha ganho o Nobel ou que você tenha ganho o Nobel. Mas é
estranho que o tenham feito juntos.
R.
Bem, Gene e eu temos muito em comum. Mais do que você poderia imaginar. Ele
recolhe dados e os divulga, e eu os utiliza o tempo todo, e uso muitas de suas
teorias. Nem todas elas, claro. Mas ele é um ótimo sujeito. É como ter um
excelente amigo que acredita firmemente em uma religião diferente da sua. Você
pode aprender muito com ele, mesmo que não ore em sua igreja.
sábado, 28 de abril de 2012
O capitalismo brasileiro de Shiller.
Felizmente ainda existe luz na direção certa.
Na EXAME que está nas bancas, Robert Shiller, professor de economia da Universidade Yale, faz uma saborosa defesa do capitalismo, especialmente do sistema financeiro, incluindo até o Brasil em seu comentário.
Um pequeno aperitivo do texto que está na página 166.
"Para que progressos ocorram numa nação é preciso haver muito empreendimento, e isso requer organização. É, hoje, o caso do Brasil. Parte do sucesso recente da economia brasileira se deve à evolução do CAPITALISMO no país. Nesse contexto, vemos, por exemplo, esforços de democratização das finanças, como o representado pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Essa evolução começou a ser construída com a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que agiu de modo a promover o CAPITALISMO financeiro - o que se repetiu com Dilma Roussef, sua sucessora. O Brasil é um exemplo, com índices evidentes de diminuição da pobreza, de melhora da educação e de aumento da expectativa de vida. No CAPITALISMO financeiro, se todos estiverem bem, as pessoas não vão achar ruim se uma minoria estiver muito melhor - e é por isso que não há um Occupy Wall Street nas ruas das cidades brasileiras."
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