Na revista América Economia, uma matéria especial sobre o agronegócio brasileiro.
Por Felix Ventura e Nicole Briones, de São Paulo
Diante da
atual conjuntura de retração econômica nacional, o setor do agronegócio vence
sua prova de resistência conservando a integridade de seus resultados. Segundo
dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), seu desempenho
na economia brasileira em 2015 respondeu por 23% do Produto Interno Bruto (PIB)
ante 21,4% no ano de 2014. Denominado “PIB do agronegócio”, que engloba a
geração de riquezas em todas as cadeias do segmento agropecuário, desde a
produção nas fazendas até as de insumos, o percentual de crescimento mesmo
abaixo do esperado, mantém as expectativas e a crença na estabilidade.
De
acordo com o conselheiro e economista do Conselho Regional de Economia
(Corecon) Afonso Baptista, as projeções de expansão para o PIB em 2016 apontam
para um percentual em torno de 24%. “Algumas culturas foram especialmente
prejudicadas como a do milho. Com a alta do dólar, os insumos que são
importados como o adubo, oneram em muito o custo de produção. Outro fator
preocupante para o mercado interno é a crescente exportação deste item. O
Brasil consegue praticar um preço mais atraente que a concorrência
norte-americana e, portanto, tem exportado mais. Tal fato pode causar a falta
do produto para consumo nacional”, explica.
O
economista destaca que a falta de alguns itens tais como o milho, podem causar
um desequilíbrio sistêmico e afetar outras cadeias produtivas como o setor
pecuário (em particular, suínos e aves). Em contrapartida, o cultivo de outros
produtos deve se beneficiar amplamente em relação aos resultados do ano
anterior e com projeções muito animadoras. “A cebola deve alcançar um
crescimento de 116%, a batata 16%, laranja 9%, café 4%, cana-de-açúcar e fumo
1%”, diz Baptista.
No entanto,
vários outros aspectos devem ser considerados e vistos como impeditivos ao
pleno desenvolvimento do agronegócio. Questões concernentes à infraestrutura e
logística de transportes, podem encarecer ainda mais o preço dos produtos
finais ao consumidor. “Temos não só no Mato Grosso, mas como em vários lugares
do Brasil, estradas em péssimas condições de conservação, pedágios caros,
aumento no preço do óleo diesel e também, os problemas de logística e embarque
nos portos de Santos e Paranaguá”, fundamenta o economista, estendendo a
observação aos desperdícios pontuais causados pelo custo elevado do frete que
inviabiliza o escoamento da produção e das consequentes perdas por falta de
armazenamento adequado.
O
agronegócio teve um saldo positivo de 75 mil vagas criadas de janeiro a outubro
de 2015 com uma margem próxima a 40% dos trabalhadores empregados no país
contrastando duramente com a demissão massiva de milhares de pessoas no ramo
industrial. “Desde as épocas da implementação do Plano Real, o agronegócio vem
segurando nossa balança comercial e produzindo resultados positivos, porém,
alguns fatos pontuais como a queda de 9% na taxa de importação de soja pela
China no ano de 2016 desacelera o ritmo do faturamento brasileiro” diz
Baptista.
A
instabilidade cambial dos últimos tempos afetou também o segmento agropecuário
que em períodos de maior solidez nos resultados, fechou contratos de grande
relevância com a Ásia e o Oriente Médio. “O que mais nos preocupa é a oscilação
do câmbio, em especial do dólar. Isso influencia no estabelecimento de
contratos que podem ficar deficitários. O problema é estipular um parâmetro
para a transação e ter que executar uma ação em outro”, avalia o pecuarista e
diretor responsável pelo Programa de Melhoramento Genético das Raças Zebuínas
(PMGZ) Frederico Mendes.
O
pecuarista é candidato à diretoria da Associação Brasileira dos Criadores de
Zebu (ABCZ) com eleições previstas para agosto de 2016. “Sendo uma entidade com
22 mil associados, a ABCZ tem 82 anos de história e presta serviços na área de
registro, melhoramento genético e fomento das raças zebuínas”, expõe. Sobre as
perspectivas de exportação, ele comenta que existe uma grande oportunidade na
consolidação de vendas de carne in natura ao mercado norte-americano.
“Acreditamos que após essa abertura de comércio entre os dois países e seu
estabelecimento efetivo, ganharemos vários outros mercados, justo pelo alto
grau de exigência imposto pelos Estados Unidos”, completa.
Enquanto
houver projeção de queda para o dólar, o custo de produção nas fazendas não
deve ser prejudicado. Como parte dos insumos utilizados pela agropecuária são
importados, existe uma constante preocupação com a flutuação cambial. “As
indústrias frigoríficas devem ser as mais penalizadas por essas variações já
que fecharam contrato sobre determinada base de câmbio e agora terão que
industrializar em outra base”, pontua Mendes.
Um dos
principais desafios empreendidos pela ABCZ é a disponibilização dos recursos de
alta tecnologia para pequenos e médios produtores rurais. “Nossas iniciativas
já são comparáveis as de países desenvolvidos, porém, os grandes produtores são
os primeiros a desfrutar dos benefícios. Acreditamos que o grande impacto se
dará quando atingirmos os pequenos e médios que constituem a base da cadeia
produtiva”, expõe o pecuarista.
A Frente
Parlamentar da Agropecuária (FPA) presidida pelo deputado federal Marcos Montes
do Partido Social Democrático (PSD-MG) obteve vitórias importantes com a
aprovação do código florestal brasileiro que foi internacionalmente
reconhecido. Existe também um trabalho pautado na defesa da comunidade indígena
contra entidades nacionais e internacionais que usam a causa na obtenção de
benefícios próprios. “Várias entidades estrangeiras se infiltram no Brasil para
criar um ambiente de insegurança jurídica com o propósito de tirar o país da
vanguarda do agronegócio”, reporta o deputado.
Segundo
Montes, a produção agrícola nacional já ultrapassa a marca de 210 milhões de
toneladas este ano e mantém seu crescimento mais pelo uso de insumos
tecnológicos do que pela expansão da área plantada. Um dos problemas de maior
intensidade citado pelo deputado foi a questão dos embates políticos que
funcionam como limitadores ao progresso do setor. “Como o governo não tem uma
estratégia de relacionamento com o parlamento para exercer uma governabilidade
forte, fato que em muito prejudica vários segmentos, entre eles, o agronegócio,
observamos um círculo vicioso onde uma crise política alimenta uma crise
econômica”, argumenta.