segunda-feira, 27 de junho de 2011
Universidade brasileira se fecha para o mundo
quarta-feira, 16 de março de 2011
Alerta na USP.
Recebe-se com estranheza a notícia: cresce o número dos alunos que, aprovados no vestibular, não se animam a matricular-se na USP (Universidade de São Paulo).
Estima-se, num cálculo ainda sujeito a correções, que 25% dos estudantes admitidos em primeira chamada não se apresentam para o curso. Eram 13% em 2005.
Vários fatores, segundo os especialistas, influem no fenômeno. Haveria alunos, por exemplo, optando por cursos pagos em faculdades de elite, mais prestigiosos que os da USP em algumas áreas.
Na outra ponta do espectro social, estudantes de poucos recursos podem preferir uma universidade menos reconhecida sob o ângulo acadêmico, mas situada em área mais próxima dos locais de trabalho e moradia. Ou então: a perspectiva de inserção rápida no mercado de trabalho seria mais interessante, para determinados jovens, do que a obtenção de um diploma de excelência.
Observe-se que, nas faculdades particulares, um fenômeno paralelo tem ocorrido: aumentou o número de alunos que desistem de cursá-las, a meio do caminho. A decepção com a qualidade do ensino e a dificuldade em arcar com os custos do curso, nesses casos, são as explicações mais comuns.
Diversos fatores econômicos se acrescentam ao quadro. A vantagem da gratuidade do ensino, na USP, perde importância diante do aumento de vagas nas escolas federais e da disseminação de mecanismos como ProUni (bolsas na rede privada) e Fies (financiamento estudantil do governo federal).
Torna-se difícil, sem pesquisa detalhada, distinguir o que há de positivo e de negativo no fenômeno. Não deixa de ser boa notícia, de ponto de vista mais geral, que alunos se deem ao luxo de dispensar a vaga na USP, preferindo algo ainda melhor. A interpretação inversa não é menos plausível: por necessidade, e não luxo, contentarem-se com ensino inferior.
Em qualquer das alternativas, todavia, um problema de base persiste. É o de uma certa falta de adequação entre demanda e oferta, que a estrutura esclerosada da USP contribui para agravar.
Sem agilidade para criar vagas em cursos mais procurados, reduzindo-as proporcionalmente em outras disciplinas, cria-se em toda a universidade processo de acomodação e falta de criatividade, que a experiência da USP Leste não foi capaz de reverter.
Apesar do prestígio ainda intacto, e de sua colocação no "ranking" nacional (os internacionais, mesmo entre países emergentes, não registram nada de tão alvissareiro), a USP corre, há tempos, o risco da estagnação. Os números agora divulgados podem servir como um novo alerta.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
A EDUCAÇÃO QUE TEMOS E NÃO MERECEMOS.
Editorial de hoje da FOLHA DE S. PAULO cita que instituições de ponta no Brasil, como USP e Unicamp, precisam deixar de olhar só para si próprias e competir de fato na cena internacional.
A comparação das melhores universidades paulistas -USP e Unicamp- com as dez mais bem colocadas no reconhecido ranking Times Higher Education (THE) é reveladora. No cotejamento feito ontem na Folha, salta aos olhos a disparidade entre as verbas de pesquisa que as instituições conseguem atrair.
A Universidade Estadual de Campinas, que amargou um longínquo 248º na classificação, contou em 2009 com R$ 248,1 milhões para financiar investigações científicas. As quatro primeiras colocadas - Harvard, CalTech, MIT e Stanford, todas americanas- obtiveram entre R$ 1,2 bilhão e R$ 3,8 bilhões cada.
A única com cifra comparável, R$ 300,9 milhões, ocupa a quinta posição, Stanford. Mas só tem 7.500 estudantes de graduação e pós, contra 33 mil da Unicamp.
Pior figura faz a Universidade de São Paulo, 232ª colocada no ranking. A principal universidade do país, com mais de 82 mil graduandos e pós-graduandos, não sabe informar qual é a verba de pesquisa que manuseia.
Embora o valor de verbas para pesquisa não seja o critério que mais pesa no ranking (5,25% do escore final), trata-se de excelente indicador de prestígio e competitividade. As universidades brasileiras precisam cuidar melhor da qualidade dos dados que coletam e transmitem às organizações classificadoras, para garantir que recebam destaque merecido.
As mais destacadas instituições universitárias do país são organizações pesadas e burocráticas, acostumadas ao financiamento garantido pelo dinheiro público. No caso das paulistas, pela parcela fixa de 9,57% da arrecadação do ICMS. À USP cabe pouco mais de 5% do arrecadado e à Unicamp, 2,2% (o restante vai para a Unesp).
No ano passado, as duas receberam, respectivamente, R$ 2,89 bilhões e R$ 1,28 bilhões. Para a Unicamp, essa fonte representa 72% do orçamento total. Harvard, em contraste, recebe do Estado menos de 17% de seus recursos.
Várias outras características distinguem as universidades paulistas das que estão no topo do ranking. Estas são bem mais antigas, como a britânica Cambridge, fundada em 1209. Cobram mensalidades de seus alunos e têm entre eles mais estrangeiros -até 38%- do que USP (2%) e Unicamp (4%).
A comparação direta, nesse sentido, pode ser injusta e até inapropriada. Afinal, análise dos próprios autores do ranking THE indica que as instituições de São Paulo, precisamente por contarem com financiamento assegurado, são as universidades sul-americanas com melhor chance de vir a integrar a classificação das 200 melhores do mundo (em outro ranking, o da Universidade de Xangai, a USP está em 143º).
A China tem seis universidades entre as 200 melhores. A Turquia, duas. São países emergentes, como o Brasil, que não têm como escapar da necessidade de gerar tecnologia e inovação. Nossas melhores universidades, USP e Unicamp, precisam tornar-se de fato as instituições de classe internacional de que o país precisa.
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