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quinta-feira, 30 de março de 2017

Kenneth Maxwell: exemplo de um mestre que faz história!


Inaugurada no St. John’s College, Cambridge University, em 2011, a Kenneth Maxwell Collection é hoje a mais importante coleção de obras sobre as histórias do Brasil e de Portugal na Inglaterra. Com quase 2000 volumes, catalogados pelo próprio doador, a coleção abre múltiplos caminhos para futuros estudiosos das histórias brasileira e portuguesa. Kenneth Maxwell, formado no St. John’s em 1963, dá notícia de suas leituras variadas, e ainda assim profundas, por meio desse legado. A coleção reverbera um conselho que o historiador recebeu de seu tutor, Harry Hinsley, ainda nos tempos de graduação: “Olhe para o Sul”.

A variedade de assuntos, da economia colonial portuguesa à sociedade brasileira contemporânea, faz com que a biblioteca proporcione aos seus leitores um rico panorama. Obras sobre os negócios portugueses e espanhóis no Caribe dividem espaço com volumes sobre a extração de borracha na Amazônia, sobre a constituição da baixa pombalina em Lisboa, o comércio de escravos africanos para a Bahia, a tardia industrialização brasileira, a redemocratização portuguesa, a imigração italiana, a nossa ditadura, e assim por diante. Para além do foco de pesquisa e trabalho de Maxwell, o século XVIII no Brasil e em Portugal, a sua coleção evidencia a necessidade de uma formação intelectual ampla.

Entre os exemplares mais raros da coleção, encontra-se o "Recueil des loix constitutives des États-Unis de l’Amérique”, de 1778, coletânea dos documentos fundadores dos Estados Unidos. O último trabalho de Kenneth Maxwell publicado no Brasil é uma análise da história desta obra que cruzou o Atlântico algumas vezes. No que concerne à história norte-americana, destaca-se outra raridade: o célebre discurso de Abraham Lincoln em Gettysburg, em sua primeira publicação de 1864, e que pertenceu outrora a um vencedor da Medalha de Honra do Congresso que lutou em Gettysburg e viu Lincoln discursar.

Toda a bibliografia do seu “Marquês de Pombal”, assim como de "A devassa da devassa", também podem ser encontrados nas prateleiras da coleção, entremeados por alguma poesia, Oswald de Andrade, Drummond, estudos brasileiros contemporâneos, de Gilberto Freyre a Caio Prado Jr. E ainda há mais livros para serem catalogados: ano passado, Kenneth Maxwell fez mais uma doação de centenas de obras raras, entre as quais figuram os autores britânicos Rudyard Kipling, em suas primeiras edições americanas, o poeta Robert Browning, e Arthur Conan Doyle.

A seção de obras ilustradas, de gravuras e de aquarelas merece uma atenção especial. Vai-se das pinturas de Debret e de Rugendas, no Rio de Janeiro ou nos rincões do país, às gravuras de Alexandre Rodrigues Ferreira, em sua "Viagem Filosófica”. O retrato dos costumes, da vida urbana, da escravidão em todo o seu horror cotidiano, contrastam com a grandeza da mata virgem, e a sua variedade de espécies recém-descobertas. Registros do barroco colonial brasileiro, da nossa arte sacra, estão bem representados em diversos volumes. E, do Rio de Janeiro ao Rio Negro, não faltam ilustrações de nossas paisagens. A coleção, que se abre como um horizonte para os novos pesquisadores do St. John’s College, ilumina retrospectivamente toda uma vida dedicada à valorização do estudo das histórias brasileira e portuguesa, do descobrimento português do Brasil aos nossos tempos atuais.

Por Lucas Bertolo.

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