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Gustavo H. B. Franco, O Estado de S. Paulo
26 de dezembro de 2021 | 05h00
Há uma velha sabedoria de mercado, longamente confirmada pela experiência, segundo a qual todo consenso de mercado sobre o futuro é sempre antecipado, de tal sorte a produzir efeitos imediatos e trazer para o presente o que já se toma como certo para frente.
O futuro está no preço, é o bordão que expressa essa sabedoria.
Pois disso se segue que tudo de ruim que se diz que vai acontecer em 2022, por conta dos radicalismos e incertezas sobre a economia, já está acontecendo.
Portanto, o pior de 2022 é o que estamos experimentando ainda em 2021, bem antes do fato, e mesmo sem a certeza de que vai ser assim mesmo.
Talvez o caminho daqui a outubro seja de convergência e entendimento, pois afinal o Brasil não vai se desmanchar. Ou vai?
Quase sempre, o futuro que se tomava como certo não chega a existir.
Muitos futuros idealizados só vão existir no terreno do pretérito mas, assim mesmo, produzem efeitos, primeiro quando a onda se forma, quando não se sabe se é bolha ou boato e, a seguir, quando a opção retorna ao pó.
Certo mesmo é que as certezas pessimistas sobre o futuro podem não se confirmar. Como, aliás, é comum com as outras certezas sobre o futuro.
Nessa época do ano, e no terreno específico das expectativas sobre a economia, há grande demanda por profecia e por otimismo. Desde sempre a Humanidade manda cartas para Papai Noel e se debruça sobre os oráculos.
Mas, em geral, se admite que o otimismo é para os fracos, e sobretudo para os desinformados. Por isso quem escreve as cartas são as crianças...
E assim, a fim da afastar suspeitas de fraqueza ou desinformação, é sempre prudente profetizar um ano difícil, cheio de volatilidade e de momentos críticos e decisões provavelmente erradas, do que se segue a recomendação, que já foi mais incontroversa, de apertar os cintos.
Andar sem cinto, no carro ou no avião, é um risco desnecessário e tolo, além de interferir na segurança do alheio, assunto que se apresentou diversas vezes em 2021, a propósito da vacina, contrariando vários prognósticos otimistas sobre o avanço da civilização no Brasil.
Bem, mas o que há de diferente nesse fim de ano de 2021?
Há um consenso avassalador que 2022 será uma guerra, pois a polarização política está infernal, e deve apenas se intensificar até as eleições de outubro de 2022.
Com isso, os cintos já estão apertados até o último buraquinho, mal dá para respirar, e assim o que esperávamos para 2022 já está acontecendo.
Para ser otimista, portanto, é preciso apelar para a incerteza: o que realmente vai acontecer em 2022, felizmente, não se tem a menor ideia.