Neste último dia de 2009, final de uma década, o colega PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. brinda seus leitores na FOLHA DE S. PAULO com um interessante artigo sobre nomes. Boa leitura para vocês.
LEITOR, LEITORA, esta época do ano é verdadeiramente tenebrosa para os colunistas de jornal. Não há assunto que se apresente. É um deserto de temas e ideias. O jeito é apelar. Abundam balanços de fim de ano e perspectivas para o ano novo. Cada um aproveita para reciclar, sem muita convicção, as suas teses e bordões favoritos.
Se eu fizesse um artigo desse tipo, poderia falar do câmbio valorizado em 2009 e dos riscos do desequilíbrio externo em 2010. Ou, ainda, dos juros elevados. Ou, melhor ainda, poderia dar mais um teco na turma da bufunfa. Os bufunfeiros -mais os internacionais do que os locais- bem que andam merecendo algumas descomposturas adicionais.
Mas, não. Vou tentar inovar um pouco. Acontece que tenho um tema guardado há muito tempo na algibeira. É o seguinte. Há mais de dez anos, visitei o ateliê de um artista plástico mineiro,
Aquilo ficou. O tempo foi passando e fui percebendo, aos poucos, o quanto o provérbio romano podia ser verdadeiro. Por exemplo, em 2001, El Salvador adotou o dólar como moeda, tornando-se "ipso facto" colônia monetária dos Estados Unidos. Nome do ministro da Economia salvadorenho: Miguel Lacayo. Em 2003, Walfrido dos Mares Guia foi nomeado ministro do Turismo pelo presidente Lula -convenhamos, é um nome arejado, paisagístico, perfeitamente adaptado ao cargo. Outro exemplo: o diplomata Antônio Patriota era até recentemente embaixador brasileiro em Washington -em nenhum out ro posto o patriotismo é tão indispensável. Um diplomata de nome Patriota estava como que fadado a servir na capital dos Estados Unidos.
Tivemos também o tesoureiro nacional do Partido Liberal na época do "mensalão": Jacinto Lamas -esse parece saído diretamente da coluna do Macaco Simão. E ainda: David Dollar é o atual attaché do Tesouro dos Estados Unidos em Pequim - uma provocação mandar o sr. Dollar logo para a China, país tão preocupado com a solidez das suas imensas reservas aplicadas na moeda americana. Outro caso notável é Bernard Madoff, responsável por uma das maiores, senão a maior fraude financeira da história de Wall Street. "Madoff Madness" virou um chavão na cobertura jornalística americana da crise financeira de 2008-2009. E as iniciais do meu próprio nome? PNB -Produto Nacional Bruto, sigla que predestina à macroeconomia.
Tudo isso, reconheço, pode parecer inteiramente arbitrário, gratuito etc. Mas nem tanto. Consta que os grandes escritores escolhem com cuidado o nome dos seus personagens. O historiador Golo Mann relata que seu pai, Thomas Mann, acreditava na existência de uma ligação íntima entre pessoa e nome. E, no entanto, o seu próprio nome pode ser visto como um contraexemplo irônico ao provérbio romano. Mann (homem, em alemão) tinha tendências homoeróticas, que transparecem claramente em sua obra, em "Morte em Veneza" e "Tonio Kröger", por exemplo.
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