quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

PESSIMISMO EM FIM DE CICLO

Recebi em 10/01/2010 o texto abaixo de um fiel leitor e como o assunto continua atual,publico para a nossa reflexão. Fernando Canzian, 42, é repórter especial da Folha de S. Paulo. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006. Escreve às segundas-feiras.

NOVA YORK - Volto a este espaço para uma satisfação aos leitores que estranharam (e cobraram) a ausência da coluna nas últimas semanas.

Fui enviado emergencialmente aos EUA pela Folha de S. Paulo logo após a queda do banco Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, para cobrir a turbulência financeira global.

Depois de várias semanas na montanha-russa do último trimestre de 2008, vim para mais 12 meses nos EUA, sempre focado na crise americana e mundial. Agora chega ao fim esse período, que até rendeu um livro.

A coluna permanecerá em recesso (ou será apenas esporádica) por algum tempo. Voltará semanalmente mais à frente a partir do Brasil, com enfoque em economia e eleições.

A ausência recente aqui foi para preparar o desmonte da vida nos EUA e tentar "cheirar" o que vem por aí a partir de dados, notícias e relatórios tão contraditórios.

Ao que parece, são cada vez mais pertinentes as dúvidas sobre a sustentabilidade da tênue recuperação econômica que vemos nas economias desenvolvidas, em especial nos EUA.

E se teremos, ainda em 2010, novos períodos de forte volatilidade nos mercados financeiros. Com a possibilidade de uma recessão nos EUA em forma de W (queda em 2008/09, recuperação em parte de 2010, e queda mais à frente).

Não é exagerado dizer que, nas economias avançadas e em alguns mercados emergentes, estamos no meio de uma nova "bolha" de preços de ativos, principalmente de ações.

É extraordinário, por exemplo, que a Bolsa de Valores de Nova York tenha se valorizado mais de 75% desde do fosso de março de 2009 em um ambiente em que, até tão recentemente quanto dezembro passado, o país tenha perdido 85 mil empregos em um único mês (7,5 milhões nesta recessão).

O que há é uma enxurrada de dinheiro público e barato dos bancos centrais sustentando essa "bolha". O dinheiro não está sendo direcionado para o crédito ao consumo e para investimentos (ambos em queda), mas para a compra de um estoque limitado de opções de investimento --daí o inchaço da "bolha", pois há mais procura do que oferta de ativos.

Nos EUA, após o estrago do estouro da "bolha" imobiliária que detonou esta crise, uma muito maior (a do setor imobiliário corporativo) parece estar a caminho. Há milhares de prédios comerciais vazios e milhões de lojas, todos deixando de pagar dívidas com bancos.

Os EUA saíram da última recessão, no início da década, apoiados em uma gigantesca explosão do volume de crédito, que acabou levando ao boom imobiliário. Isso ajudou na recuperação, já que proprietários de imóveis ou mutuários se sentiam cada vez mais "ricos" com a valorização dos seus imóveis.

Hoje, não há nenhuma fonte de crédito ou dinamismo privado no horizonte que possa vir a substituir, em breve, a extraordinária e trilionária ajuda estatal que o governo Obama (e outros países) vem concedendo para tentar tirar o mundo rico da crise.

Isso tem limite, que está cada vez mais próximo.

Um comentário:

Ibiapina News disse...

veja um blog muito interessante:
http://cearaenoticia.blogspot.com/

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...