terça-feira, 5 de abril de 2011

O pêndulo da economia.

Recebi do Professor CARLOS PIO, o texto abaixo escrito pelo ILAN GOLDFAJN para o ESTADÃO edição de hoje. Boa leitura!

Outro dia pensei no pêndulo. Não naquele em que Galileu Galilei desenvolveu os seus estudos, mas sim no campo das ideias e da política econômica. O mundo já favoreceu o câmbio flutuante para depois fixar o câmbio, antes de voltar a gostar da flexibilidade do câmbio. A oscilação pendular ocorre também em outras áreas da economia. E atualmente?

Após a crise internacional, o mundo quer mudar. Observam-se novas medidas e ideias. Todos querem evitar nova crise de tamanha perda de riqueza, produção e emprego, como ocorreu. Acadêmicos estão debruçados em entender as causas do episódio e as lições para a frente. Autoridades querem atuar de forma a evitar excessos e bolhas, precursores da queda, e já atuam de forma diferente. Alguns analistas entendem a situação atual como um marco para a mudança de ideias e políticas econômicas. Mas quais serão as mudanças permanentes e quais não sobreviverão ao teste do tempo? Que tipo de mudança é benéfico e qual é simplesmente uma sobrerreação à crise?

Em vez de especular sobre a direção que as novas ideias e políticas podem tomar, aproveito para listar alguns aspectos de política econômica que me parecem que devam permanecer após o atual brainstorming (livre pensar é só pensar):

Crescimento sustentável é consequência de esforços árduos que levem a ganhos de produtividade, inovações, além de investimentos significativos, inclusive na qualidade da educação. Não há caminho fácil. O crescimento sustentável vai continuar precisando de um ambiente estável, sem inflação nem altos riscos soberanos (dívidas públicas altas), de forma a permitir enxergar o futuro longínquo, fundamental para implementar os projetos de longo prazo.

Inflação de demanda continuará existindo (assim como choques de oferta). Se houver mais demanda de mão de obra do que oferta disponível, o salário vai acabar subindo. Se a demanda de um bem é tal que a oferta não consegue acompanhar, haverá reajustes de preço. Excesso de demanda terá de ser combatido por alguma medida de contenção (fiscal, juros, crédito, etc.) que levará a alguma desaceleração temporária (enquanto dure o excesso) de demanda e nível de atividade.

Não há almoço grátis no combate à inflação. Todos os instrumentos utilizados para combater a inflação têm algum efeito colateral (além do próprio desaquecimento, que não é efeito colateral, é o próprio objetivo de arrumar a casa para o crescimento sustentado). Combater a inflação via subida de juros tem efeitos colaterais, encarece a dívida (não prefixada) dos devedores, em especial dos governos. Combater a inflação via medidas macroprudenciais, entendidas como medidas administrativas que afetam a quantidade e o preço do crédito, pode gerar distorções (setores mais afetados que outros) e desintermediação da economia (busca de canais não regulados de crédito).

A tarefa de combate à inflação é facilitada quando os que reajustam preços e salários acreditam numa trajetória benigna para o futuro. Quanto mais benigna a visão, menor será o desaquecimento necessário para combater uma determinada inflação. Os bancos centrais provavelmente continuarão no seu esforço de convencer todos do plano de ação, independentemente da forma como se medem essas visões (ou expectativas de inflação).

No médio e longo prazos, o juro nominal da economia vai ser tanto menor quanto mais baixa for a inflação da economia. Metas de inflação convergentes para o padrão internacional serão premiadas com juros nominais menores, importantes para ajudar desenvolver o financiamento de longo prazo.

A regulação em vários setores da economia continuará sendo periodicamente reavaliada. Certamente haverá um aumento de medidas de prevenção contra o crescimento exagerado de preços de ativos (como já vem sendo feito). Medidas macroprudenciais têm o objetivo de evitar bolhas e instabilidade financeira que as seguem. Provavelmente, crises iguais à do passado serão evitadas. Mas novas crises poderão surgir, vindas de causas ainda não imaginadas. A História demonstra que novas distorções aparecem e crises são recorrentes.

Controles de capital não serão a solução permanente para os desequilíbrios locais e globais. Independentemente do debate sobre a eficácia dos controles de capital (se há como evitá-los), excessos de fluxos terão de ser combatidos com as políticas macroeconômicas adequadas. Políticas fiscais relativamente expansionistas dos receptores terão de se ajustar (porque pressionam os juros para cima e demandam fluxos), assim como políticas monetárias expansionistas nos países exportadores de capital (porque reduzem juros e induzem saídas). Além disso, os fluxos também tenderão a fluir para os países que apresentem as melhores perspectivas de crescimento, não obstante as medidas de controle de capital.

O investimento total continuará sendo composto de uma parcela pública e outra privada. O investimento público continuará dependendo dos recursos à disposição do governo. O investimento privado continuará sendo essencial e fluirá para as jurisdições que ofereçam as melhores condições, entre elas o respeito aos contratos, regras claras e agências reguladoras com liberdade para trabalhar.

O pêndulo está em movimento, provavelmente haverá sobrerreação à crise. Algumas novas (e renovadas) ideias serão postas em prática, somente para depois serem descartadas. Outras (poucas) novas ideias serão consideradas boas práticas e incorporadas ao conhecimento coletivo, após serem postas à prova. Em seu devido tempo, serão criticadas e questionadas, talvez após uma nova crise futura. Mas há ideias e práticas que permanecerão valendo. Listei apenas algumas que me parecem gerais o suficiente para tal. Importante reconhecer quais são para evitar oscilar aos sabores da última crise.

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