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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Guerra cambial e comércio.

RUBENS RICUPERO, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escreve sobre o assunto do momento: “Guerra cambial e comércio”.



Numa recessão mundial prolongada, o pior risco para o Brasil parece ser o do câmbio e das importações, mais que o da falta de recursos financeiros externos.



Com reservas suficientes, oportunidades de investimento atrativas e sem os problemas de endividamento dos anos 1930 e 1980, as condições para enfrentar uma nova crise de contração são razoavelmente melhores que no passado.



De maneira geral, quase todos os indicadores internos são superiores aos históricos: crescimento e inflação moderados, deficit e endividamento inferiores à média mundial, consumo e crédito em expansão, geração de empregos formais, aumento da massa salarial, redução da pobreza e da desigualdade.



Mesmo o contexto internacional não é uniformemente negativo. Um dos paradoxos atuais é vivermos um momento bipolar na economia em pleno auge da globalização, que deveria unificar as reações dos mercados em escala planetária.



Nos 30 e até nos 80, China, Índia, Ásia, contavam pouco (exceto o Japão) como destino de nossas exportações. A conversão da China no primeiro mercado brasileiro é mutação sugestiva de que somos um dos maiores beneficiários da emergência asiática.



Qual é, então, o perigo no quadro de agravamento da crise mundial? É deixar que o principal motor da economia nessa emergência, a capacidade de expansão do mercado doméstico, ser ocupada por importações favorecidas pela moeda apreciada. A coincidência do aumento do consumo com a estagnação da indústria nacional demonstra que a expansão já está sendo capturada pelas importações.



Recente pesquisa coordenada pela nossa mais atualizada e experiente especialista em Organização Mundial de Comércio (OMC), Vera Thorstensen, professora da FGV, comprova que o real apresenta desalinhamento de 30% para mais. Enquanto isso, o dólar dos EUA está com subvalorização de 10% para menos, e a moeda chinesa vale entre 20 e 30% menos que deveria.



Em consequência, o câmbio anula as tarifas negociadas pelo Brasil na OMC. Vai além: atua como subsídio indireto e estímulo às importações, sobretudo chinesas. É conversa fiada nessas condições falar em negociar acordos, bilaterais ou de qualquer natureza.



Negociar o quê, se as tarifas cuja redução constitui boa parte das negociações já estão sendo eliminadas pelo câmbio?

O Brasil conseguiu que a OMC examine a relação entre câmbio e comércio. Até agora aceitou-se apenas encomendar estudos. São mínimas as chances de obter remédio efetivo em tempo hábil.



Na Rodada Uruguai, apesar de um grupo de negociação especial, não se logrou mais que uma declaração genérica sobre a falta de coerência entre o sistema comercial, de um lado, e o sistema monetário e financeiro, do outro. Para nós não se trata de ameaça hipotética e futura. A invasão de importações favorecidas pelo desalinhamento do câmbio salta aos olhos.



Na falta de quadro legal internacional, temos de achar instrumentos nacionais para neutralizar com urgência efeitos comerciais da anarquia cambial. Não para erigir barreiras novas, mas para manter as mínimas indispensáveis.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Churchill e os governos do PT.


LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 68, engenheiro e economista, escreveu hoje na FOLHA DE S. PAULO.

A coluna de hoje lembrando uma imagem que Winston Churchill usava para caracterizar os americanos na primeira metade do século passado: "A sociedade americana sempre acaba fazendo as coisas certas, mas antes disso experimenta todos os caminhos errados que existem".
Lembrei-me dessa imagem ao ler na imprensa duas notícias relativas à privatização de empresas de serviços públicos no governo Dilma: a primeira descreve o bem-sucedido leilão de privatização de um aeroporto na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte; a segunda especula sobre a possível venda, ao setor privado, das distribuidoras de energia elétrica em seis Estados do Norte e do Nordeste e que são controladas hoje pela Eletrobras.
Na solenidade de encerramento do leilão de privatização do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, tivemos até a cena tradicional de "bater o martelo" na Bolsa de Valores de São Paulo. A foto desse ato simbólico nos jornais levava, há alguns anos, os membros do PT à revolta pública nas ruas.
Agora, passou despercebida mesmo entre seus mais radicais militantes. Mas o tempo passa e o Brasil, felizmente -como os Estados Unidos na imagem de Churchill-, também acaba trilhando o caminho correto depois dos erros cometidos.
Agora a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) promete levar adiante a concessão dos aeroportos de Cumbica e de Viracopos, ambos em São Paulo, e de Brasília. Espero sinceramente que prevaleça, daqui para a frente, a máxima caipira que diz que "em porteira que passa um boi passa também uma boiada" e que a privatização dos aeroportos permita que o cidadão tenha mais respeito quando for utilizar os serviços de um aeroporto no Brasil.
No caso das empresas estaduais de distribuição de energia elétrica, várias reportagens no jornal "Valor" trazem um resumo transparente do caos que domina a gestão dessas empresas, depois de dez anos sob o controle da Eletrobras.
Desde 2008, só em conversão de dívidas para com a estatal federal em capital social já foram gastos mais de R$ 5 bilhões. Mesmo com todo esse esforço de redução de dívidas para manter as empresas funcionando, elas já acumulam prejuízo consolidado de mais de R$ 750 milhões.
Esse estado caótico, aliás, levou os auditores dessas empresas a colocar em seus balanços uma nota em que chamam a atenção para um possível colapso operacional em futuro próximo.
Conheço bem esse quadro -principalmente as razões que levaram a essa situação caótica. Durante os anos em que fui presidente do BNDES, coordenei a privatização de várias empresas estaduais de distribuição de energia elétrica e, nesse processo, pude observar que nem sempre a boa gestão era praticada para o bem do povo e do Estado. Por isso, não me emocionam os números revelados finalmente pela Eletrobras.
Uma das empresas em pior situação quando o BNDES implantava esse processo de privatização nos Estados era a Cemar, a distribuidora de energia elétrica no Maranhão.
Nesse feudo da família Sarney, essa empresa estava sob o comando de um filho do ex-presidente da República. Por motivos políticos, a empresa continuou nas mãos do governo estadual e somente em 2004 foi vendida a um grupo privado.
Nesses últimos sete anos, tudo mudou e transcrevo, a seguir, parte do que foi publicado no jornal "Valor": "Dona de um terço do capital da Companhia Energética do Maranhão (Cemar), a Eletrobras pouco dá palpite em sua administração, pois está feliz com o que acontece por lá. Em sete anos, viu a distribuidora sair de um estado falimentar, com serviço que deixava o cidadão maranhense, na média, 60 horas por ano sem luz, para uma situação em que os dividendos pagos já se aproximam de R$ 1 bilhão e a média de horas sem luz caiu para menos de 20".
Espero sinceramente que a presidente Dilma vença a oposição que sindicatos e políticos ainda fazem às privatizações e siga os conselhos de técnicos da Eletrobras e do próprio Ministério de Minas e Energia e leve adiante a venda dessas empresas.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

As causas estruturais do real forte.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, na Folha de S. Paulo de hoje, e “As causas estruturais do real forte”.

Uma das questões mais relevantes no debate econômico atual tem sido a força do real nos mercados de câmbio. Apesar do esforço do governo, a moeda norte-americana está novamente sendo negociada abaixo de R$ 1,60.
As causas por trás do real valorizado continuam a ser as mesmas que prevalecem há vários anos: entrada maciça de capitais e valorização de produtos primários importantes nos mercados internacionais.
A diferença agora fica por conta de uma mudança na composição dos recursos que estão entrando no país: as aplicações em títulos de renda fixa estão sendo substituídas por investimentos diretos no capital de empresas brasileiras.
Muitos analistas dizem que esse fluxo de investimentos -que, nos últimos 12 meses, chegou a mais de US$ 60 bilhões- não se sustenta no médio prazo e que o real vai voltar a se desvalorizar. Para esses pessimistas, uma nova crise internacional pode ocorrer a qualquer momento e o Brasil enfrentará a fuga desses capitais. A causa mais citada para esse cenário negativo é a de crise na China, seja por questões econômicas, seja por questões políticas.
Mas outro cenário provável é que o crescimento chinês se sustente -como vem acontecendo há mais de 20 anos- e que o mundo emergente atravesse a próxima década crescendo de forma sustentada.
Nessas condições, o Brasil continuará a receber investimentos maciços, principalmente se o governo Dilma resolver trilhar o caminho das concessões de serviços públicos ao setor privado e de outras reformas.
Para um país com taxas muito baixas de poupança -privada e do governo-, a única forma de financiar os investimentos para garantir crescimento anual de 4% será a absorção de poupança externa.
Essa é uma verdade derivada da teoria econômica, e não apenas uma posição ideológica de liberais extremados. Por essa razão é que o real forte é um subproduto natural da onda de investimentos que varre nossa economia e que o governo -corretamente- quer preservar a todo custo. Ou seja, não há como fugir desse fato, a não ser reduzindo os investimentos e, mais à frente, o próprio crescimento econômico.
Outras forças externas estão agindo também na direção do real forte. A principal delas é a valorização das exportações de produtos primários e que têm garantido saldo comercial expressivo, apesar do aumento vigoroso das importações.
Outra fonte externa de demanda pelo real está relacionada com os juros baixos que devem prevalecer no mundo desenvolvido nos próximos anos. A fraqueza da recuperação econômica nos Estados Unidos e em outros países do Primeiro Mundo e o choque deflacionário que ainda virá quando tiverem de lidar com os níveis insustentáveis do endividamento público devem manter esse quadro de juros baixos por um tempo ainda bastante longo. Os mercados, aliás, especulam com um novo movimento do Federal Reserve -que se ria chamado de QE3- no sentido de manter os mercados inundados de dólares em 2012.
Nesse ambiente, os países emergentes vão continuar a receber investimentos internacionais por muitos anos, movimento que deve sustentar as cotações atuais de suas moedas. E o Brasil, que alia um grande potencial de crescimento a juros internos elevados, vai ser uma das economias de maior atração.
Finalmente, podemos observar já há algum tempo uma busca por moedas alternativas por parte dos bancos centrais de países com superavit em conta-corrente -principalmente na Ásia e os produtores de petróleo- e grandes investidores institucionais privados para compor suas reservas e carteiras de investimento de renda fixa.
A gestora de recursos Pimco, a maior do mundo, revelou recentemente que tem hoje um volume de títulos de países emergentes maior do que sua carteira de papéis do Tesouro norte-americano.
Por todas essas razões, acredito que teremos de conviver por muito tempo com o real valorizado e buscar, por outros meios, minorar seus efeitos negativos, entre eles a perda de competitividade da indústria brasileira.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Novas e velhas ideias na economia.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, hoje na FOLHA DE S. PAULO
OS ANALISTAS já têm indicações suficientes para entender que a gestão da economia brasileira vai mudar no governo Dilma. São declarações diárias de membros importantes do governo -inclusive da própria presidente- defendendo novos valores e ideias sobre como deve ser conduzida a política econômica no Brasil. Depois de mais de 16 anos de uma estabilidade de agenda, essa não é uma mudança simples, e os riscos -vistos de hoje- me parecem elevados.
Uma primeira observação precisa ser feita antes de avaliar esse novo rumo do governo: nos últimos 16 anos, a economia brasileira -e o resto do mundo também- mudou muito. Por isso, em principio, não se pode a priori ser contra mudanças propostas pelo governo Dilma. Além disso, as crises que o chamado capitalismo viveu nos últimos anos colocaram em xeque a visão mais ortodoxa de uma economia de mercado.
Por isso, não admitir correções de rumo na política econômica é uma posição retrógrada, burra e que precisa ser questionada.
Mas nessa busca por uma economia de mercado mais eficiente no Brasil -no fundo é disso que estamos tratando nos debates recentes- não podemos deixar de lado lições que permanecem válidas, mesmo com o passar dos tempos. Para mim, uma das mais importantes dessas é a chamada curva de Phillips, que relaciona o desemprego e a inflação. Desenvolvida ainda nos anos 60 do século passado, ela mostra que, a partir de certo nível de desemprego, a inflação passa a crescer de forma não linear quando submetida a choques -internos e externos- de preços.
O auge da fama da curva de Phillips ocorreu nas décadas seguintes à sua formulação por uma razão que poucos analistas entenderam: a força do movimento sindical à época e sua capacidade de manter o valor real dos salários via aumentos nominais indexados à inflação passada. Com o posterior enfraquecimento dos sindicatos nas principais economias do mundo e um aumento da eficiência das ações dos bancos centrais, a curva de Phillips entrou em declínio.
Mas ela voltou agora com toda a sua força original -embora ainda pouco percebida inclusive pelos economistas liberais mais radicais- no Brasil da presidente Dilma. Como a história nunca se repete integralmente, os efeitos de uma taxa de desemprego muito baixa sobre a dinâmica de aumento de preços no Brasil estão mitigados hoje pela combinação de uma moeda forte e um fluxo muito grande de importações. Mas, se olharmos apenas para os setores que não sofrem os efeitos das importações, a velha curva de Phillips se mostra em todo seu vigor.
Como a maioria dos analistas mais ortodoxos tem uma dificuldade imensa de considerar o mercado de trabalho em suas análises, a preocupação com ele fica restrita a economistas que têm uma forte influencia da metodologia keynesiana ao olhar para os problemas econômicos. Por outro lado, o pensamento dominante nas lideranças petistas considera os índices de desemprego baixo um dos êxitos mais marcantes de seu período no governo federal.
Eufóricos e cegos, não acreditam na curva de Phillips porque a vêm como um instrumento agressivo da burguesia contra a classe trabalhadora. Bem ao estilo petista de reagir a críticas.
Uma prova do descaso das autoridades do governo Dilma para com esse problema é a euforia de seu ministro do Trabalho ao anunciar recentemente que ele garante uma criação de mais de 3 milhões de novos postos de trabalho em 2011. Certamente o sr. Lupi não tem a menor ideia do que o economista neozelandês da London School of Economics mostrou meio século atrás e, se o soubesse, usaria expressões de Leonel Brizola, fundador de seu partido, para desqualificá-lo.
Outros economistas depois de Phillips aprofundaram suas conclusões e mostraram com mais profundidade os riscos para a inflação de taxas de desemprego muito baixas em um ambiente de forte demanda. O Brasil será nos próximos meses um terreno fértil para verificar quem tem razão nessa questão.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...