Jim O"Neill é presidente do Goldman Sachs Asset Management e escreveu este artigo para o VALOR ECONÔMICO..
Há
dez anos publiquei relatório intitulado "O Mundo Precisa de Melhores Brics
Econômicos" (brics soa como "tijolos" em inglês), quando lancei
pela primeira vez o acrônimo que usei para descrever o provável alto
crescimento que Brasil, Rússia, Índia e China alcançariam. Está claro agora que
a expansão desses quatro países foi ainda mais forte. Os Bric tornaram-se um
nome familiar tanto na esfera cultural como de negócios, além de ter resultado
na criação de um grupo político.
O
décimo aniversário coincide com preocupações terríveis quanto à economia
mundial, especialmente para os países mais desenvolvidos. Continuo otimista de
que à medida que os quatro gigantes emergentes, e mais alguns, continuarem se
expandindo em tamanho e riqueza, sua prosperidade não apenas fortalecerá seu
papel no mundo, mas também dará a chance de um futuro melhor às economias que
atualmente se deparam com mais desafios pela frente. A ascensão em andamento
dos Bric será boa para esses países e para o resto de nós. Além disso, seu
crescimento ao longo dos últimos dez anos sugere que, enfim, poderemos ver
algumas melhoras consideráveis que deem mais eficiência à formulação mundial de
políticas e a suas instituições.
Meu
estudo de 2001 tinha três mensagens principais.
Primeira,
mostrei que se Brasil, Rússia, Índia e China continuassem com seus altos
índices de crescimento, passariam a representar uma parte muito maior da
economia mundial em 2010. No cenário mais otimista que contemplei, indiquei que
sua participação combinada do Produto Interno Bruto (PIB) mundial subiria de
aproximadamente 8% para, talvez, 14%. No fim deste ano, provavelmente a porcentagem
girará em torno a 20%, com o PIB tendo aumentado de cerca de US$ 3 trilhões
para provavelmente pouco mais de US$ 13 trilhões. Isso representa cerca de
um terço do aumento total do PIB nominal mundial dos últimos dez anos.
O
crescimento real dos Bric, em torno a 8%, ajudou a levar a média mundial para
3,5%, apesar dos imensos problemas vistos em 2001-2002, 2008 e, é claro, desde
então. Se não tivesse
sido pelos Bric, o crescimento mundial teria ficado mais próximo à
decepcionante média de 1,6% verificada no chamado mundo desenvolvido. Como
muitas vezes comento, o aumento combinado, de US$ 10 trilhões, na prática,
criou o equivalente a seis ou sete vezes o que era o Reino Unido em 2001 ou, de
fato, o equivalente a toda uma economia dos Estados Unidos.
Ao
olharmos para o futuro, nos próximos dez anos, os quatro países provavelmente
verão desaceleração em seus índices de crescimento, mas sua participação no PIB
mundial quase certamente aumentará.
A China parece encaminhada a crescer de 7% a 8%, já que terá de enfrentar
vários desafios, mas a Índia pode ter aceleração e por fim atingir taxas de
crescimento no estilo chinês, especialmente se persistir em seu
recém-descoberto zelo por reformas, como a importante decisão de dar boas
vindas ao controle majoritário estrangeiro em empresas do setor de varejo. Em
poucos anos, o PIB nominal combinado dos quatro países superará tanto o dos
Estados Unidos como o da Europa.
Com
base em seu provável crescimento, a segunda parte de meu relatório de 2001
argumentava que os Bric precisavam assumir papel mais central na formulação
mundial de políticas econômicas.
Eles continuaram excluídos por muitos anos, o que os levou a promover seus
encontros políticos conjuntos anuais. Na verdade, foi necessária uma crise
total como a de 2008, para os países avançados finalmente perceberem a
importância central dos Bric para a economia mundial moderna, sendo que a
decisão de colocar o G-20 no centro da formulação política global foi
basicamente uma iniciativa para incluir os Bric. Em 2001, argumentei que cada
um dos Bric deveria juntar-se aos EUA, Japão, região do euro e talvez Canadá e
Reino Unido para formar algum novo "G", talvez um G-9 ou um novo G-7,
se Reino Unido e Canadá ficassem excluídos.
A
terceira ideia no relatório de 2001 indicava que, tendo em vista sua moeda
comum, França, Itália e Alemanha deveriam abandonar sua representação nacional
nos órgãos mundiais e no G-7, permitindo uma governança global muito mais
eficiente. Que melhor forma de demonstrar seu verdadeiro compromisso com a
União Monetária Europeia (UME) do que um passo tão firme de verdadeira
liderança? Nos anos subsequentes, como percebemos recentemente, tal liderança
firme da UME não marcou presença. Quem sabe, a escala da crise que se desdobra
atualmente leve os líderes europeus a dar passos mais ousados.
Enquanto
isso, à medida que os países do Bric continuem a ver sua sorte melhorar,
proporcionarão mais e mais oportunidades para que o resto de nós aprimore seus
padrões de vida e prosperidade. De fato, para que o mundo continue crescendo
frente aos desafios que se apresentam a muitas economias desenvolvidas,
precisamos da argamassa econômica dos Bric, algo que, por sorte, eles têm de
sobra.