Editorial da FOLHA de hoje não poderia deixar de comentar sobre Steve Jobs:
No início do século passado, e
provavelmente até a depressão econômica dos anos 1930, figuras como Andrew
Carnegie (1835-1919), Thomas Edison (1847-1931) ou Henry Ford (1863-1947)
simbolizaram, para o público norte-americano e mundial, o poder quase mítico da
inovação e da riqueza.
Houve
tempo em que o prestígio desse gênero de industriais e visionários, alçados da
pobreza à opulência, rivalizava com o de artistas ou ídolos do esporte -e, a
despeito de visões polêmicas do ponto de vista político, sua energia pessoal,
suas ações filantrópicas e sua capacidade de mudar materialmente a face do
mundo constituíam fonte de inspiração.
A revolução dos computadores pessoais, iniciada por inovadores como Bill Gates, da Microsoft, e o recém-falecido Steve Jobs, da Apple, parece ter enviado a um passado distante o mundo fumarento, ruidoso e cheio de graxa das antigas instalações industriais.
A modernidade criada nos laboratórios do Vale do Silício, na Califórnia, recobre-se de uma superfície lisa, colorida, silenciosa e lúdica -e ninguém como Steve Jobs soube torná-la atraente e ágil para o uso do consumidor.
Ao mesmo tempo, os novos milionários da informática parecem recuperar um pouco a aura dos industriais do passado. Depois de um período de relativo anonimato corporativo, na segunda metade do século 20, reviveu-se com Jobs e outros gurus tecnológicos a ideia do empresário criador, do rapaz que ascende da oficina doméstica para a direção de gigantescas e bilionárias organizações.
Certa informalidade juvenil acrescentou apelo contemporâneo a esses novos magnatas -que, como seus predecessores de cartola, frequentemente esposaram causas beneméritas nos campos da educação e da cultura.
Tornaram-se, sem dúvida, símbolos da flexibilidade do sistema capitalista para absorver e potencializar a criatividade individual; é em grande parte por sua liderança na pesquisa tecnológica e científica, com efeito, que os Estados Unidos ainda mantêm a primazia econômica que as potências emergentes lhe querem arrebatar.
Resta saber, a esse propósito, que condições o ambiente no Brasil oferece ao surgimento do tipo de criador, misto de empresário e cientista, que Steve Jobs simbolizou. As homenagens que lhe são prestadas, por ocasião de sua morte, comprovam o quanto é necessária e inspiradora sua contribuição.