FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores, escreveu hoje na FOLHA DE S. PAULO sobre o atual momento econômico.
Quando se divulgam os dados do PIB, o leitor pode facilmente se perder numa selva de números.
Correndo o risco de desanimar os corajosos exploradores que chegaram até aqui, confesso que também vou apresentar alguns números, na esperança de que ajudem a esclarecer como anda a atividade econômica.
Os dados do IBGE revelam os seguintes aspectos:
a) o PIB cresceu bastante em 2010 como um todo (7,5%), mas pouco na segunda metade do ano (quando a produção foi apenas 1,6% maior do que no 1º semestre);
b) o período de menor dinamismo foi o 3º trimestre, quando várias indústrias de bens duráveis (como a automobilística) seguraram a produção para reduzir estoques, o que limitou a alta do PIB, sobre o 2º trimestre, a 0,4% (ou 1,6% ao ano);
c) no 4º trimestre, o PIB se acelerou moderadamente, superando o do 3º trimestre em 0,7% (pouco menos de 3% ao ano);
d) ao longo do ano, a demanda interna se desacelerou aos poucos, mas cresceu bem mais do que a produção.
Contraste os números de PIB que acabou de ler com os seguintes, relativos à demanda interna (que é a soma de consumo das famílias, do governo e investimento): no ano, a demanda interna cresceu 8,7%; no 2º semestre, ela foi 3,4% maior do que no 1º; e do 3º para o 4º aumentou 1,6% (ou 6,4% ao ano).
Esse "descolamento" persistente entre a demanda e a produção se traduziu, naturalmente, em forte alta da importação de bens e serviços.
O volume de importações subiu 36,2% (ante 11,5% do volume de exportações), e elas abocanharam uma fatia bem maior do mercado brasileiro de manufaturados.
A queda do saldo comercial só não foi dramática porque, mais uma vez, os preços daquilo que exportamos subiram muito mais do que os das importações.
Falemos de 2011. Se o PIB se mantiver estagnado -ou seja, se repetir, nos quatro trimestres, o patamar verificado no trimestre final de 2010-, ao encerrar-se o ano ele terá crescido 1,1%. É um "carregamento estatístico" bem menor do que os 3,4% que 2009 "legou" a 2010.
A LCA considera que neste 1º trimestre a economia está crescendo em ritmo similar ao do final de
Parece provável que as autoridades tenham êxito - com "ajuda" do forte encarecimento dos alimentos -, limitando a expansão do PIB no ano a algo como 3,6%.
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