Está nas livrarias “Heidegger / Wittgenstein: Confrontos”, do filósofo José Arthur Giannotti. Foram quatro anos de trabalho diário, das oito da manhã às quatro da tarde. Numa época de debates rasteiros, Giannotti produziu uma daquelas obras que engrandecem a condição de intelectual. Apesar da prosa elegante, é um livro de leitura tão difícil como a pronúncia dos nomes dos filósofos Martin Heidegger e Ludwig Wittgenstein. Um, alemão, nazista e reitor da universidade de Freiburg. O outro, austríaco, nascido em família de fortuna, lecionou em Cambridge.
Rindo, Giannotti estima que talvez tenha cem leitores. Ele lidou com o nazismo de Heidegger com o distanciamento de um filósofo e a combatividade de um liberal. Fruiu “sua genialidade” e arrematou: “Durante a desnazificação, teve sua atividade de professor suspensa por um breve período: eu preferiria que tivesse sido obrigado a fazer visitas periódicas a Auschwitz”.
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Se levarmos em conta a trajetória intelectual de José Arthur Giannotti, professor emérito da Universidade de São Paulo, e a natureza espinhosa da discussão proposta no livro, Heidegger/ Wittgenstein é uma obra combativa, a começar pelo título. De um lado do ringue, Heidegger, costumeiramente associado a uma vertente fundacionista da filosofia, na qual a pergunta pelo ser ― por seu significado, por seu fundamento ― tem papel proeminente. Do outro, Wittgenstein, para quem a pergunta pelo fundamento deve ser urgentemente substituída pelas condições em que se dá, se for o caso, a pergunta acima. Os confrontos esperados e as surpreendentes proximidades de ambos os filósofos trazem, por mérito do autor, novos problemas e desdobramentos, que giram em torno de dois polos básicos do que denominamos, por conforto, “filosofia ocidental”: lógica e ontologia. Dos muitos méritos do livro, um deles parece sobressair, talvez o mais simpático ― o convite para que participemos dessas disputas, cuja regra primeira é: não há perdedores.