quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

DA SÉRIE "TEXTO DE QUEM ESCREVE BEM"

Neste começo de ano, nada como ler um texto de um colega ex-presidente do BACEN que de maneira didática resume o mundo hoje e sua perspectiva para 2009. Direto da Folha de S.Paulo, lemos Antonio Carlos Lemgruber em 2009 - Odisséia Econômica. Em 31/12/2009, com certeza, iremos conferir este artigo e ver quem está com a melhor bola de cristal.

O temor dos Estados Unidos: uma nova Grande Depressão. Podem ser 6% negativos no último trimestre de 2008 (PIB real). Já na Europa, sobretudo na Alemanha, há sempre o medo da hiperinflação, que destruiu o país na década de 1920 e gerou Hitler. No Japão, a década de 1990 já teve "pequena" depressão. E o Brasil? Sem dúvida alguma, a memória da "superinflação" de 1954 a 1994 conduz a política monetária de juros altos.

Teoricamente, estaríamos mais próximos das preocupações alemãs do que das norte-americanas. Isso está evidenciado na posição da diretoria do Banco Central, que, por sinal, já está sendo chamado de Bundesbank (Banco Central alemão) pela revista "The Economist".

A chamada base monetária nos Estados Unidos duplicou em seis meses. Estão emitindo dinheiro como nunca, para evitar o pior, depois de terem levado os juros a zero. No Brasil e na Alemanha, isso seria uma heresia, mas o Federal Reserve, liderado por Bernanke, não quer repetir a Grande Depressão e está apelando para o que não foi feito na década de 1930: a emissão de moeda.

Certamente, o Japão vai atrás dos Estados Unidos. Mas a Alemanha não vai. O governo alemão não pretende emitir dinheiro nem sair por aí fazendo gasto público. Tem horror de inflação e rejeita a ideia "keynesiana" de que é possível sair da recessão via gasto público.

O Brasil parece ter alemães no Banco Central e norte-americanos no Ministério da Fazenda. O Banco Central mantém os juros altos. Já o Ministério da Fazenda é keynesiano e quer estimular a economia pelo gasto público, assim como deverá ocorrer neste ano nos Estados Unidos, com o novo presidente Barack Obama imitando o "New Deal" de Franklin Delano Roosevelt.

Os Estados Unidos e o Japão, de um lado, e a Alemanha, de outro, demonstram coerência na condução da política econômica. Os EUA e o Japão se mostram expansionistas para evitar a depressão; a Alemanha não acredita na "capacidade" do setor público de tirar o país da recessão e se mostra conservadora. Já no caso brasileiro há inconsistência entre a política monetária e a fiscal. O aumento do gasto público é financiado por tributos ou pela emissão de títulos. Isso dificulta o gasto do setor privado, sobretudo quando a política monetária não dá um elemento de compensação, mantendo os juros elevados.

Existe solução para o "caminho" brasileiro? Há espaço para o Brasil baixar os juros para um dígito, sem prejudicar as metas inflacionárias. Com a queda nos preços de produtos de comércio exterior em dólar, o impacto da desvalorização do câmbio está mitigado. Além disso, o "hiato do produto" (que reflete o desemprego) vai aumentar em 2009, ou seja, vamos crescer menos do que o produto potencial (no máximo, 2%). O Brasil é capaz de combinar as lições da Alemanha, dos Estados Unidos e do Japão, baixando os juros, sem pressionar a inflação e descongestionando o mercado de crédito para o setor privado.

O ano de 2009 vai ser difícil. Crescimento negativo nos países desenvolvidos. Uma nova Grande Depressão deverá ser abortada via expansão da moeda e das despesas públicas nos Estados Unidos e no Japão. Já o Brasil deverá experimentar baixo crescimento e praticamente nenhuma aceleração da inflação. Do ponto de vista político, mais desemprego e mais inflação em 2009 no Brasil vão ser ruins para o presidente Lula, mas o importante é o seguinte: poderá ser pior se não houver coordenação maior de política econômica. Ou seja: 2% de crescimento do PIB e 6% de inflação serão bons resultados em 2009.

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