ROBERTO PADOVANI, mestre em economia e estrategista-chefe do Banco WestLB, escreveu na FOLHA DE S. PAULO sobre o que o “governo terá de fazer sua parte para evitar a explosão das CONTAS EXTERNAS.”
O deficit externo deverá mais que dobrar neste ano, saindo dos cerca de US$ 24 bilhões em 2009 para algo próximo de US$ 52 bilhões.
Os números obviamente preocupam. Mas será que a atual trajetória será mantida em 2011? Muito provavelmente, não.
O resultado em conta-corrente vem sendo explicado em grande medida pelo diferencial de crescimento interno e externo.
Como a economia cresce bem mais que a média mundial e, principalmente, acima de sua própria capacidade, a contrapartida ao crescimento local é o aumento das importações de bens e serviços.
O câmbio reforça esse movimento, ainda que tenha um papel secundário.
Diante desse cenário, há duas alternativas. No curto prazo, é preciso que o país dose o ritmo de crescimento e acione as políticas fiscal e monetária. O BC tem feito sua parte. Além de ter retirado vários estímulos monetários, elevou a taxa de juros em dois pontos percentuais.
O comportamento dos gastos públicos, porém, ainda é uma incógnita. Superado o ano eleitoral e os piores momentos da crise global, não se pode descartar um cenário em que as despesas cresçam a um ritmo mais moderado.
Nosso regime cambial também ajuda. Caso a política fiscal continue a todo o vapor e a piora das contas externas seja significativa, o câmbio se desvaloriza e contribui para a correção do desequilíbrio externo.
O deficit em conta-corrente em 2011 deverá piorar, mas a um ritmo bem mais moderado. O consenso de mercado é que o número alcance cerca de US$ 64 bilhões no próximo ano.
Ainda que os valores sejam altos, o deficit se mostra mais bem comportado quando comparado ao PIB: o número pode alcançar 2,6% do PIB neste ano e dificilmente superará 3% em 2011.
O país tem, assim, instrumentos capazes de dosar o ritmo de crescimento e, com isso, evitar trajetórias explosivas nas contas externas.
Como resultado, o mundo deverá continuar financiando o Brasil e o balanço de pagamentos não deverá ser fonte de maiores turbulências.
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