Editorial do Valor Econômico de 04.05.2012 alerta que a atual situação de crise internacional atingiu a balança comercial brasileira.
Apesar de o real ter caído cerca de 10% em
relação ao dólar nos últimos dois meses e do pente-fino nas importações
promovido pela operação Maré Vermelha, a maior já lançada pela Receita Federal,
o saldo da balança comercial em abril foi o menor em dez anos. Não dá para
negar que a crise internacional atingiu em cheio o comércio.
O saldo da balança comercial despencou 52,7%
em comparação com março e 55% frente a abril de 2011, para US$ 881 milhões, o
pior desempenho para o mês desde 2002. As exportações totalizaram US$ 19,6
bilhões e caíram 7,9% em comparação com abril de 2011 e 2,9% em relação a
março, pelo critério de média diária de embarques, divulgada pelo Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). O resultado só não foi
pior porque as importações brasileiras também recuaram 3,1% pelo critério de
média diária em comparação com abril de 2011 e 8,8% em relação a março,
acumulando US$ 18,68 bilhões no mês.
A desaceleração da economia internacional
teve impacto direto na redução do saldo da balança comercial brasileira em
abril ao afetar a demanda de parceiros comerciais importantes como a União
Europeia e até a China.
A diminuição da compra de produtos
brasileiros foi generalizada, atingindo inclusive os primários. Boa parte do
saldo comercial dos últimos anos foi garantida exatamente pelos produtos primários,
cuja participação na pauta das exportações brasileiras aumentou de 32% para 48%
de 2007 a 2011, ocupando o espaço dos manufaturados, cuja fatia foi reduzida de
52% para 36%, informou Alexandre Schwartsman no artigo Datafobia (Valor de
3/5). Como os preços mundiais dos produtos primários dobraram no período, na
esteira da voracidade chinesa, o saldo comercial brasileiro aumentou a reboque.
No mesmo período, o preço dos produtos manufaturados subiu 35%.
Com a desaceleração global, alguns produtos
estão sendo particularmente afetados. A redução de 22,1% das exportações de
minério de ferro no mês passado, por exemplo, teve como principal causa a queda
de 20,8% dos preços do produto no período. Já a queda de 9,7% da soja e de
62,5% do açúcar reflete a diminuição da quantidade exportada. No caso da soja,
houve um fator atípico: a forte antecipação dos embarques nos primeiros meses
do ano quando há entressafra do grão, o que fez com que o produto contribuísse
pouco para o resultado do mês, quando começa efetivamente a safra. De toda
forma, as exportações dos produtos básicos caíram 7,2% em abril, menos do que
os 8,2% dos industrializados.
Do lado das importações, as quedas foram
generalizadas, de 6,6% nas matérias-primas e bens intermediários e de nada menos
que 11,1% no caso de bens de consumo, com impacto forte das restrições aos
automóveis estrangeiros. As importações de bens de capital, máquinas e
equipamentos caíram menos, 0,6%. O comportamento das importações preocupa
porque sinaliza a dificuldade de recuperação da economia brasileira. A produção
industrial caiu 0,5% no primeiro trimestre e deve ter voltado a recuar em
abril.
O próprio governo não está otimista com a
balança comercial deste ano. "Disse e continuo dizendo que este semestre
será o pior para a indústria brasileira em relação ao comércio
internacional", afirmou o secretário-executivo do Mdic, Alessandro
Teixeira.
Os Estados Unidos foram o único grande
mercado do Brasil a aumentar as compras nos últimos 12 meses e, ainda assim, em
meros 5,5%, ampliando sua participação nas exportações brasileiras de 9,3% em
abril de 2011 para 10,7% em abril deste ano. As vendas brasileiras para a União
Europeia caíram 8,5%; e para a China, 2,9%. Mas nada se compara ao baque de
27,1% registado nas vendas para a Argentina, em consequência das fortes medidas
restritivas ao comércio exterior adotadas pelo país vizinho.
Teixeira acredita que, de toda forma, o
Brasil atingirá a meta de ampliar as exportações em 3,1% neste ano, modesta
quando comparada ao crescimento de 26,8% do ano passado. Mas a expectativa do
mercado não é tão otimista e situa em US$ 19 bilhões o saldo comercial esperado
para este ano, US$ 10 bilhões a menos do que o superávit de US$ 29,79 bilhões
de 2011. Já a Funcex conta com apenas US$ 16 bilhões.
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