Educação no Valor Econômico de hoje, 03/05/2012.
Apesar de o governo se orgulhar do progresso
social dos últimos anos, o balanço da educação ainda é bastante insatisfatório.
Entre 2000 e 2010, o número de pessoas sem instrução ou com ensino fundamental
incompleto, com dez anos ou mais, diminuiu, mas ainda representa metade da
população, caindo de 65,1% para 50,2%, de acordo com dados do Censo de 2010 que
acabam de ser divulgados. O percentual de pessoas com ensino superior completo
aumentou de 4,4% para 7,9%, mas continua extremamente baixo. Até mesmo na região
Sudeste, 44,8% da população não tem instrução ou não concluiu o curso
fundamental, e apenas 10% têm ensino superior completo.
Não é por outro motivo que a educação
deficiente é sempre apontada como uma das principais causas da falta de
competitividade da indústria brasileira e fala-se até em um apagão de mão de
obra qualificada.
O setor público tem investido nos últimos
anos o equivalente a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação e considera
um grande avanço a meta do Plano Nacional de Educação de aplicar 7% a 8% do
PIB, o que elevaria o país ao patamar das nações da Organização de Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), em que o percentual oscila entre 6% e 8%. A
comparação falha, porém, ao não levar em conta a diferença de tamanho da
população em idade escolar e do PIB de cada país.
As deficiências educacionais influenciam
também o desempenho da produção científica e inovação, que irá igualmente se
refletir na competitividade. Não é por outro motivo que o Brasil estava em 47º
lugar no The Global Innovation Index do ano passado, à frente da Rússia (56º
lugar), mas atrás da China (29º).
O Brasil investe pouco mais de 1% do PIB em
pesquisa e desenvolvimento, dividido praticamente em partes iguais entre o
governo (0,54%) e o setor privado (0,57%), de acordo com o Ministério de
Ciência e Tecnologia. Na China, o investimento é de 1,5% do PIB, sendo 1,1% do
setor privado e o restante do setor público. O caso mais extremo é o da Coreia
do Sul, que investe 3,36% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, dos quais nada
menos do que o equivalente a 2,46% são desembolsados pelo setor privado.
Apesar disso tudo, raramente vê-se o setor
privado investindo em educação, atribuição que é considerada quase que
exclusivamente do setor público. Doações a universidades feitas por empresas e
pessoas, como ocorrem nos Estados Unidos, ainda são raras no Brasil. É mais
provável um brasileiro fazer uma doação a uma universidade americana onde fez
mestrado ou doutorado do que a uma brasileira.
Por isso, foi com relutância que o setor
privado aderiu ao programa Ciência sem Fronteiras, lançado em julho de 2011,
com o objetivo de enviar estudantes de graduação e pós-graduação brasileiros
para estágios no exterior. Têm prioridade as áreas de engenharia e tecnologia,
biologia, ciências biomédicas, computação e ciências exatas.
A meta do Ciência sem Fronteiras é enviar ao
exterior 75 mil estudantes até 2015 bancados pelo governo e mais 26 mil pelo
setor privado, totalizando 101 mil bolsas. O governo deve investir no programa
cerca de R$ 3 bilhões, e o setor privado mais cerca de R$ 1 bilhão.
Conforme reportagem publicada pelo Valor na
edição de 24/4, até abril, o programa público havia cumprido 20% de sua meta.
Foram cerca de 15 mil bolsas de graduação e pós-graduação em áreas de carência
de mão de obra qualificada consideradas prioritárias para o desenvolvimento
técnico. Mas o setor privado não havia fechado uma única bolsa, às voltas com
questões burocráticas e operacionais.
Na verdade, falta ao setor privado a
experiência no assunto do setor público, cujas agências de fomento à pesquisa,
como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), têm
parceria com instituições de ensino estrangeiras há décadas. Nessa primeira
fase do programa, a quase totalidade das bolsas se concentrou nos Estados
Unidos e os alunos não puderam escolher a universidade de preferência, tarefa
executada por uma agência de colocação contratada. A Petrobras, que financiará
5 mil bolsas até 2017, nas áreas de energia, óleo, gás e biocombustíveis,
preferiu repassar os recursos ao CNPq e à Capes.
Já o setor privado preferiu cuidar da concessão
de bolsas à escolha das universidades diretamente e a demora se deve à falta de
experiência no assunto. Como o processo será feito não é relevante. O
importante é que saia do papel.
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