quarta-feira, 9 de maio de 2012

Delfim explica a nova poupança.


O texto do professor Antonio Delfim Netto hoje na FOLHA é tão didático e esclarecedor que não posso deixar de postar para os meus dois fiéis leitores. Pura utilidade pública. 

A mudança no regime da caderneta de poupança facilitará não apenas o objetivo de trazer a taxa de juro real do Brasil ao nível internacional mas também a vida das famílias que encontram naquele instrumento o refúgio seguro, líquido e certo.

Para entender isso, lembremos que elas abrigam quase 100 milhões de depositantes, 98% dos quais têm poupança inferior a R$ 50 mil, num montante total que em março de 2012 atingia R$ 429 bilhões.

Suponhamos uma família que tem um depósito de R$ 2.000 para atender a uma emergência, pelo qual ela recebe 6,37% ao ano (R$ 128) correspondentes ao juro acumulado mensal de 0,5% (6,17%) somado à Taxa de Referência fixada pelo BC (0,2%).

Suponhamos ainda que essa mesma família tenha uma dívida de R$ 1.000 mantida constante durante todo o ano e pela qual um credor altruísta cobre apenas um juro de 2,84% ao mês (40% ao ano), ou seja R$ 400. Qual é o resultado dessa conta sobre os rendimentos da família? Ela recebe de juros R$ 128 e paga de juros R$ 400. Logo, sua conta de juros é negativa em R$ 272.

Suponhamos, agora, que a taxa Selic, que está hoje em 9%, seja reduzida para 7,5% e permaneça neste nível durante um ano. O que acontecerá com o rendimento da poupança da família?

Com relação ao depósito já feito de R$ 2.000, absolutamente nada! Ele continuará a receber os mesmos R$ 128, com as mesmas garantias. Apenas os eventuais novos depósitos (a nova caderneta) serão creditados pela nova regra (70% da Selic + TR) à taxa de juro de 5,45% ao ano.

Qual a diferença de rendimento anual de R$ 2.000 produzido pela mudança? Na caderneta velha, ele recebe R$ 128. Na nova, R$ 109, ou seja, uma diferença de R$ 19.

A aritmética "terrorista" dirá à família que ela perdeu 14,8% do seu rendimento (R$ 19/R$ 128), exatamente o oposto do que sentirá no bolso no fim do ano, se o credor altruísta tiver de reduzir a sua modesta taxa de juros de 2,84% ao mês (40% ao ano) para 2,21% (30% ao ano) -o que, no fundo, é o objetivo da política do governo quando insiste em pressionar as taxas de juros.

O resultado é simples. Com seu "estoque" de R$ 2.000 na caderneta velha, ele continuará a receber R$ 128, mas o juro da sua dívida cairá, se a política econômica tiver sucesso, digamos, de 40% para 30% ao ano.

Qual o resultado final para a família? Ela economizará R$ 100 no pagamento dos juros, que poderá depositar na caderneta nova ou, eventualmente, ampliar o seu consumo!

Repetindo Pascal, podemos dizer que, "nesses tempos, a verdade é tão obscura e a mentira tão bem estabelecida que não a enxergaremos a menos que nos esforcemos muito". 

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