Editorial de hoje do ESTADÃO bastante preocupado com o rumo da atual política monetária.
Embora
a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de fixar a mais baixa taxa
Selic na história do organismo (8,5%) não tenha surpreendido o mercado, que a
previa, ela merece reflexões.
O
comunicado final da reunião voltou a repetir o anterior, mas é justamente isso
que traz apreensão. O comunicado considera que, "neste momento, permanecem
limitados os riscos para a trajetória da inflação" e acrescenta que,
"até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor
externo tem sido desinflacionária". Note-se que as duas afirmações são
acompanhadas por duas condicionantes: "neste momento" e "até
agora". Falta, portanto, explicitar o que poderia introduzir mudanças no
quadro atual.
Os
riscos de uma mudança da trajetória da inflação são, certamente, vinculados ao
efeito que poderia ter uma desvalorização significativa da taxa cambial. Até
agora, a causa principal da desvalorização tem sido o voluntarismo do governo,
com medidas restritivas sobre a entrada de divisas estrangeiras. É necessário
saber que a desvalorização poderia tomar uma dimensão maior se, de repente, o
fluxo de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) caísse fortemente e se a
captação de recursos no exterior secasse. Neste caso, o déficit das transações
correntes não sendo mais coberto por fluxos financeiros, poderíamos assistir a
uma magna desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar, o que, numa
economia fortemente dependente da importação, não deixaria de ser transmitida
aos preços. Basta pensar no efeito que teria em nossa economia um reajuste
grande do preço da gasolina.
O
Copom assinala que, até agora, a contribuição do setor externo tem tido efeito
desinflacionário. Uma retomada da atividade em países como os Estados Unidos e
a China poderia mudar totalmente esse panorama. A recuperação norte-americana
pode se acelerar com o fim da campanha eleitoral e a China pode ter sucesso na
sua tentativa de dar novo impulso ao seu mercado interno. Nesses dois casos,
poderá ocorrer uma alta dos preços das commodities, com repercussão sobre a
nossa taxa de inflação.
Assim,
ao verificarmos que a nova política monetária até agora não teve efeitos sobre
a atividade econômica - como comprovam os dados sobre a produção industrial de
abril, divulgados ontem - e que não estamos conseguindo realizar o mínimo de
investimentos públicos necessários como base para o crescimento, podemos nos
preocupar com o desarme atual da política monetária.
Nenhum comentário:
Postar um comentário