Editorial de hoje na FOLHA alerta para os riscos da atual política cambial.
Um real forte
demais decerto prejudica ao menos parte da indústria brasileira, pois barateia
a compra de produtos importados.
Um real fraco
demais tem efeito inflacionário, pois contribui para elevar ainda mais os
preços domésticos. Na média, eles passam a avançar para um nível próximo do
teto da meta oficial de inflação (ou 6,5%, uma vez que ela é de 4,5% ao ano,
com tolerância de dois pontos percentuais).
A descrição dos
efeitos mais simples e imediatos da variação do preço da moeda brasileira
demonstra os limites da utilização da taxa de câmbio, apenas, como instrumento
para lidar com as dificuldades da economia brasileira.
Alarmado com a
pressão sobre os preços brasileiros de um dólar caro, que chegou a quase R$
2,10, o Banco Central atuou no mercado para fortalecer o real.
Preocupado com a
possibilidade de o dólar descer para um patamar próximo de R$ 1,85, o ministro
da Fazenda, Guido Mantega, informou que intervirá de modo a impedir tamanha
valorização da moeda brasileira.
Dado este cabo de
guerra, o dólar deverá variar em torno de um limite estreito, perto de R$ 2. É
o que indica o Ministério do Desenvolvimento, que denominou o modelo de
"câmbio vigilante", parente muito remoto do regime flutuante, extinto
de fato entre 2011 e 2012.
Na prática, o preço
do dólar não depende apenas das vontades do governo brasileiro. A redução dos
juros, por exemplo, contribuiu para a desvalorização do real, com a queda na
demanda pela moeda brasileira em consequência da saída de investidores estrangeiros
(interessados em lucrar com a diferença entre a alta taxa brasileira e as de
outros países, baixas).
Seja qual for o
determinante da taxa de câmbio, porém, o preço da moeda por si só não é capaz
de dar conta das insuficiências da política econômica. Não é possível controlar
a inflação quando os juros estão baixos e os gastos são altos, ou tentar baixar
custos desvalorizando o real e estimulando altas de salários.
Tais contradições
só não resultam imediatamente em problemas críticos devido a remendos como
controles de preços disfarçados (combustíveis, transportes públicos urbanos,
reduções localizadas de impostos).
Remendos, por
definição, são provisórios, assim como será provisório esse equilíbrio precário
da nova política econômica. A conta chegará, um dia, por meio de juros mais
altos, redução do consumo ou gradual deterioração das condições macroeconômicas
do país.
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