Editorial do carioca O GLOBO em 31.05.2013.
É feliz a coincidência da divulgação do PIB trimestral com uma
reunião do Copom de definição da taxa de juros básica (Selic). Isso pelo
fato de a economia se encontrar em delicado momento, com riscos, como
registrou o jornal inglês "Financial Times", de ficar prisioneira
no pior dos mundos, numa "estagflação", mistura de baixo
crescimento com inflação em alta. A coincidência permitiu ao Banco Central
- a julgar pela decisão unânime de seus diretores, reunidos no Conselho de
Política Monetária - sinalizar que isso não acontecerá, se depender dele. A
elevação da Selic em 0,5 ponto percentual, para 8%, foi a melhor
alternativa que poderiam escolher, independentemente de um PIB trimestral
fraco, divulgado pelo IBGE na mesma quarta-feira.
A importância da decisão do Copom é grande, pois pode ajudar a
melhorar as expectativas de formadores de preços e investidores,
embaralhadas nos últimos tempos por erros do próprio governo, cometidos,
entre outros, em atos cujo resultado foi elevar a insegurança regulatória
diante do futuro. Um exemplo, a intervenção no setor elétrico. Outro ruído
nas expectativas, e em elevados decibéis, foi causado pela perigosa
sinalização (ou má interpretação) de que o governo Dilma é leniente com a
inflação, em nome da ilusória suposição "desenvolvimentista" de
que preços em alta poderiam ajudar no crescimento. Quando é o contrário.
Certo ou errado, Dilma concluirá o mandato, ano que vem, sem ter
mantido a inflação na meta dos 4,5%, até mesmo incluído no currículo o
estouro do limite superior do alvo, 6,5%, em alguns meses. Especulou-se,
inclusive, que haveria uma nova meta, informal, acima dos 5%, próxima dos
6%. Se confirmado, seria algo inflamável num país ainda com vários
mecanismos de indexação e persistente memória da era da superinflação. Ao
primeiro sinal de que o passado pode voltar, a sociedade aciona sistemas de
defesa que levam à mais inflação, no mínimo ao seu enrijecimento. Elevar os
juros no dia em que se sabe que a economia, no primeiro trimestre,
continuou a gerar um "pibinho" é forte e bem-vinda mensagem do
BC. Afinal, por trás do insuficiente 0,6% de expansão de janeiro a março,
em relação ao último trimestre de 2012, identificam-se efeitos da própria
inflação elevada, na faixa dos 6,5%.
O comportamento do setor de serviços, uma desaceleração de 0,7% para
0,5%, é sugestivo, pois a inflação do segmento roda na faixa dos 8%, bem
acima da média de 6,5%. Não é por acaso. A evolução do consumo das famílias
praticamente estagnou (alta de apenas 0,1%), e a relação do resultado com a
alta de preços também é óbvia, além de ser uma reafirmação do esgotamento
do modelo de crescimento.
Boa notícia é a ampliação, acima do consumo, dos investimentos
(4,6%), única alternativa viável de retomada da expansão em bases
equilibradas. Mas, para isso, o BC precisará ser coerente com a decisão que
tomou quarta-feira.
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